Em 1882, em Nova Iorque, a inauguração da primeira central elétrica, “Pearl Street Station”, marcou o arranque da distribuição de eletricidade para iluminação. Daí, foi um passo até que os primeiros motores elétricos começassem a acionar as engrenagens das fábricas.
As casas e ruas iluminavam-se e as cidades tornavam-se mais respiráveis. Pouco a pouco as máquinas elétricas transformaram a vida doméstica e ofereceram mais conforto e tempo às pessoas e famílias.
O início da eletrificação da sociedade transformou profundamente a vida quotidiana, a economia e impulsionou a tecnologia, mas, mesmo mais de um século e meio depois, a energia elétrica – agora maioritariamente gerada a partir de fontes renováveis – continua a ocupar um lugar central rumo a um dos grandes e urgentes desafios civilizacionais: a descarbonização.
De todos os vetores energéticos à disposição, a eletricidade continua a revelar um grande potencial de descarbonização oferecendo níveis elevados de eficiência energética e a baixos preços face ao decréscimo que os custos de produção de eletricidade, a partir das tecnologias renováveis, têm sofrido nos últimos anos.
A eletrificação, baseada em fontes de energia renovável, é uma das abordagens mais eficientes para cumprir a neutralidade carbónica, que exige a redução de emissões como forma de travar as severas alterações climáticas que continuam a intensificar-se um pouco por todo o planeta.
As renováveis oferecem uma multiplicidade de opções que se complementam e conjugam – da eólica onshore e offshore à solar, passando pela hídrica – e que serão otimizadas e maximizadas pelo armazenamento de energia em massa. Outras oportunidades de eletrificação indireta abrem-se com o desenvolvimento do hidrogénio e dos combustíveis renováveis de origem não biológica, que permitirá a descarbonização de muitas indústrias pesadas e consumidoras intensivas de energia.
A neutralidade carbónica oferece vantagens que vão muito além da dimensão ambiental. Há crescentes oportunidades de emprego verde e múltiplos benefícios económicos com vantagens para consumidores e empresas envolvendo, paralelamente, impactos muito positivos para o sistema de Segurança Social e finanças públicas.
Falar de eletrificação não é falar apenas da troca de um motor de combustão ou de uma caldeira a gás por outros sistemas alimentados a eletricidade proveniente de fontes renováveis. Evoca-se uma transformação que permitirá grandes mudanças a um ritmo muito mais acelerado do que até aqui.
Ao mesmo tempo esta é uma forma de salvaguardar a soberania europeia numa época de instabilidades geopolíticas que obrigam a acautelar a autonomia e segurança energética sem descurar preocupações de índole social.