A indústria dos combustíveis fósseis está em peso na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP26). A afirmação, em tom de alerta, foi feita pelos ativistas da Global Witness, que revelam que há 503 pessoas com ligações à indústria dos combustíveis fósseis, um número que é maior do que o total de delegados brasileiros, que são 479 – o Brasil é o país com o número mais elevado de participantes.
Diz a Global Witness que na cimeira que decorre em Glasgow estão mais de 100 empresas ligadas aos combustíveis fósseis e ainda 30 associações comerciais e organizações associativas. O número de delegados associados a este setor – que está no centro das discussões e apelos por mudanças – é maior do que o total combinado das oito delegações dos países considerados por algumas análises os mais afetados pelas mudanças climáticas nos últimos 20 anos (Porto Rico, Mianmar, Haiti, Filipinas, Moçambique, Bahamas, Bangladesh, Paquistão).
Após analisarem a lista provisória das cerca de 40 mil acreditações das Nações Unidas para esta cimeira, os investigadores, que contaram com a ajuda da Corporate Accountability e da Corporate Europe Observatory (CEO), detetaram que as pessoas ligadas a esta indústria são membros das delegações do Brasil, do Canadá e da Rússia – de lembrar que Vladimir Putin, presidente russo, não compareceu na COP26, o que fez com que fosse alvo de críticas por parte de Joe Biden, presidente dos EUA, que também comentou a ausência da China na cimeira do clima.
Para Murray Worthy da Global Witness, a presença de lobby da indústria dos combustíveis fósseis é o motivo pelo qual as 25 cimeiras do clima até agora realizadas “não levaram a cortes reais nas emissões globais”, até porque “a indústria de combustíveis fósseis passou décadas a negar e a atrasar uma ação real sobre a crise climática, e é por isso que este é um problema tão grande”.
Os combustíveis fósseis e a urgência de encontrar alternativas têm sido temas recorrentes na COP26 e ,na primeira semana da cimeira, mais de vinte países e instituições – incluindo Portugal – comprometeram-se a deixar de financiar projetos de combustíveis fósseis no estrangeiro até ao fim do ano de 2022. De fora desta resolução ficaram países como a China ou a Rússia.