O abacate é a fruta da moda. É amada por muitos pelo seu sabor leve e cremoso, pela sua versatilidade – pode ser usado em molhos, como spread em tostas, em sobremesas e até em máscaras faciais e outros tratamentos de beleza – e por ser, claro, altamente instagramável. E também tem inúmeros benefícios para a saúde: os abacates são uma fonte de proteínas vegetais e de gorduras boas, contém vitamina C, ómega 3 e um alto teor de fibras. No entanto, o fruto, que viu um boom na sua popularidade e consumo nos últimos anos, esconde um problema de sustentabilidade.
O abacate é das colheitas com uma maior pegada de carbono, além de necessitar de grandes quantidades de água para a sua produção. Nos países latino-americanos como o México e o Chile, dois dos maiores exportadores de abacate a nível global, o clima pode ser quente e seco, aumentando ainda mais o gasto de água com estas colheitas. Nestas regiões, produzir um único abacate pode requerer até 320 litros de água. Em comparação, a produção de um tomate ou uma laranja requer, em média, 5 e 22 litros e água, respetivamente.
O fruto é indígena das regiões da América Central e do Sul, onde é consumido há milhares de anos. O abacate entrou na dieta dos europeus por volta de 1600, quando os colonizadores espanhóis o trouxeram das suas viagens ao continente americano. Apesar de ser produzido hoje noutros locais do mundo, ainda é na América Central e do Sul que se encontram os principais países produtores do fruto. O abacateiro, no entanto, precisa de condições meteorológicas específicas para crescer, e é altamente sensível a alterações e eventos meteorológicos, como chuvas ou ventos fortes – o que o torna uma colheita especialmente ameaçada pelas alterações climáticas.
Uma pegada gigante
Por um lado, o abacate é uma vítima das alterações climáticas, que estão a tornar ainda mais difíceis as condições da sua produção. Por outro, o transporte do fruto acaba por piorar o problema. Devido às grandes distâncias que os abacates importados têm de percorrer até chegarem aos supermercados na Europa e outras regiões do mundo, têm uma pegada de carbono muito elevada. A consultora ambiental Carbon Footprint estima que uma embalagem com dois abacates pequenos tenha uma pegada de carbono de 846,36 gramas – quase o dobro da de um quilo de bananas.
Além do mais, o comércio do abacate tende a ser negativo para as comunidades de países como o México, onde a produção intensiva do fruto tem um impacto a nível da segurança alimentar local. A crescente procura a nível global provoca um aumento dos preços, o que impossibilita as comunidades locais de adquirirem um produto fortemente associado à sua cultura e que tem sido desde sempre uma parte fundamental das suas dietas.
A produção intensiva de abacate também tem recebido críticas por acelerar o processo de desflorestação – são abatidas grandes áreas de floresta para dar espaço a estas plantações. Nas produções industriais de abacate são ainda frequentemente utilizados químicos agrícolas em excesso, que degradam a qualidade dos solos.
As alternativas
Estes dados podem ser desoladores para os amantes mais entusiásticos do fruto. Mas nem tudo são más notícias, porque vários chefes de restaurantes um pouco por todo o mundo estão a testar receitas com outros frutos ou vegetais com sabor e textura próximos do abacate.
Uma delas é Thomasina Miers, cofundadora da cadeia de restaurantes mexicanos Wahaca, no Reino Unido. Depois de muitos testes e várias receitas, a vencedora parece ser uma mistura com favas, chili verde, lima e coentros, que recebeu o nome de “Wahacamole”. As favas provêm de culturas no Reino Unido que conseguem produzir as leguminosas de maneira sustentável, com índices muito baixos de carbono libertado para a atmosfera, o que constitui uma “vantagem adicional”, de acordo com Miers.
A mistura tem uma tonalidade verde e uma textura semelhante à do abacate. Embora o sabor seja apenas uma aproximação ao do conhecido fruto verde claro, Miers garante que o feedback nos seus restaurantes tem sido positivo. “Temos dado às pessoas o Wahacamole para experimentarem gratuitamente quando vêm jantar connosco – e no geral parecem genuinamente interessadas em experimentar. A maioria está a gostar e muitos estão a pedir mais”, afirma.
Outras tentativas têm sido feitas utilizando curgete e sementes de abóbora, pistáchios e groselha, e ainda alcachofras. Todas almejam produzir uma pasta semelhante à guacamole, que, mesmo não replicando exatamente o sabor do abacate tradicional, evoque o seu aspeto, textura, aroma e sabor.
Influencers nas redes sociais também têm experimentado receitas à base de ervilhas. A escritora culinária Bettina Campolucci Bordi, conhecida por utilizar amplamente abacates nas suas receitas (que publica na página de Instagram Bettina’s Kitchen), explicou ao jornal britânico Guardian como substitui os abacates no guacamole: “A minha receita favorita até à data usa ervilhas inglesas. Fervo as ervilhas antes de as esmagar e de as misturar com natas azedas à base de plantas, sal e pimenta, um pouco de alho ralado e sumo de limão.”
O elevado impacto ambiental dos abacates pode levar-nos a reconsiderar as nossas escolhas alimentares e a equacionar as suas contrapartidas. Os abacates são “o exemplo perfeito do que acontece quando um alimento exótico se torna normalizado, sem qualquer consideração pelas consequências”, explica Tim Lang, professor de políticas alimentares na Universidade de Londres, ao Guardian, que enfatiza ainda os efeitos negativos que as culturas intensivas têm nas populações locais e na biodiversidade.