Valorizar o que não tem valor: é este o objetivo das ideias que concorrem ao Ecotrophelia, um prémio europeu que premeia a inovação para a sustentabilidade ambiental do setor agroalimentar. Entre criar produtos transformados com alimentos que os consumidores não costumam comprar a aproveitar subprodutos da indústria alimentar, tudo vale para reduzir os impactos negativos da alimentação.
A 6ª edição da versão portuguesa (cujo vencedor concorre depois ao prémio europeu) teve o seu tiro de partida esta terça-feira, 1 de fevereiro. “Os alunos do ensino superior da área alimentar são, a partir de hoje, desafiados a desenvolver um alimento ou uma bebida ecoinovadores e sustentáveis”, explica Deolinda Silva, diretora-executiva da PortugalFoods, a associação que organiza o Ecotrophelia Portugal. “A criatividade e a imaginação são o limite.”
Na Conversa Verde desta semana, Deolinda Silva recordou alguns vencedores das edições anteriores, que têm contado sempre com candidatos de todo o País. “Houve um que utilizava cavala, um peixe pouco valorizado, para fazer um salame feito de cavala e legumes. Chamava-se Salamar e era consumido como um snack, como se fosse fiambre. Houve também uma conserva com um sabor muito agradável feita de cabeças e rabos de salmão. Uma bebida fermentada de morango que suscitou muito interesse do retalho… O ano passado, ganhou umas bolachas, a que chamaram Baguitas, à base de bagaço de uva, um subproduto da uva que não é usado na produção de vinho, com propriedades antioxidantes. São alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento que têm aqui uma oportunidade de validar a sua veia empreendedora e criar um produto de A a Z.”
O papel da PortugalFoods passa por “ajudar a amadurecer as ideias”, para que elas cheguem ao mercado. O potencial é enorme, diz. “Portugal é um novato no Ecotrophelia, mas na 4ª edição, em 2020, o vencedor da competição nacional, da Universidade de Aveiro, convenceu o júri europeu com um produto quase perfeito: a OrangeBee, um fermentado de aquafaba, que resulta da cozedura de leguminosas, extremamente nutritiva, valorizando subprodutos e resíduos da indústria alimentar; o produto tinha uma camada de geleia polvilhada com pólen apícola e comia-se como se fosse um iogurte, uma sobremesa ou um snack.”
O sucesso é parcial: em Portugal, admite Deolina Silva, “é extremamente difícil avançar com este tipo de projetos”. “Vão existindo alguns sistemas de apoio. Estamos a tentar dar o salto, levar estas ideias a avançarem para a criação de empresas e produtos prontos para o mercado.”
Estes projetos fazem parte de um conceito defendido pela diretora da PortugalFoods: a inovação é o caminho para a sustentabilidade do setor agroalimentar. “A questão da sustentabilidade na cadeia como um todo, nesta indústria, passa muito por aqui. E a inovação, por sua vez, está presente nas empresas que se mantêm competitivas no mercado. Por exemplo, a tecnologia tem contribuído muito para a redução do desperdício alimentar.”
O consumidor, por seu lado, premeia este caminho, garante Deolinda Silva. “O consumidor procura cada vez mais produtos sustentáveis. As empresas do agroalimentar nacional estão muito atentas e têm a perfeita noção no dia a dia da importância de criar produtos mais saudáveis. A nível global, as tendências mostram que o consumidor tende a valorizar produtos e empresas que tenham a preocupação da sustentabilidade.”
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