À primeira vista, o confinamento parecia ter trazido o paraíso. “No início, sentimos que havia uma resposta ambiental positiva. Nas zonas urbanas houve uma diminuição da poluição e melhoria da qualidade do ar, e as pessoas relatavam que animais vinham das florestas para as zonas urbanas”, recorda Carmen Lima, coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus, na conversa semanal da VISÃO VERDE.
Mas depois olha-se com mais atenção e… “A pandemia trouxe uma onda de poluição, principalmente de materiais descartáveis. É uma consequência grave na produção de resíduos que não são recicláveis”, lamenta,
A ambientalista diz, no entanto, que quando a poeira assentar vamos retirar boas lições para o futuro. “Muitas pessoas refletiram sobre as suas vidas. Há uma necessidade de retirar das suas vidas o que não é importante para viver. Estão a perceber que podem viver de uma forma mais simples.”
Entre os pontos positivos está a descoberta do mundo na sua própria rua. “As pessoas têm vivido mais as cidades de uma forma suave. Há uma descoberta da bicicleta na deslocação de lazer e provavelmente na de trabalho.”
Amianto: um risco silencioso
Carmen Lima espera outras heranças da Covid, nomeadamente na necessidade de algumas viagens de negócios. “No futuro, vamos perceber que não precisamos de viajar de avião para estar uma hora e meia numa conferência, que podemos ter os mesmos resultados ficando no nosso país, sem precisar da deslocação.”
O teletrabalho é outra vantagem, se colar. “Permite diminuir o fluxo dos transportes públicos nas horas de ponta, tornando a sua utilização menos stressante.”
A ambientalista falou igualmente do amianto, tema que a preocupa há anos e a levou a criar o SOS AMIANTO – Grupo de Apoio às Vítimas de Amianto. “É um material carcinogénico, que tem um risco acrescido de inalação. Foi proibido na União Europeia… As pessoas têm razões para estarem preocupadas com esta questão. Eu estou preocupada sobretudo com a falta de informação. Devia haver mais responsabilidade e rigor técnico de quem tem poder de decisão.”
Em Cascais, recentemente, verificou-se que em duas salas de uma escola secundária os valores de contaminação estavam acima do que é considerado seguro, e as autoridades de saúde fecharam essas salas. Essa situação que pode estar a acontecer noutros estabelecimentos de ensino, sem que se saiba? Sim, responde. “Devíamos ter feito um diagnóstico exaustivo nas escolas para identificar o amianto, e não só no fibrocimento, para saber onde há crianças e professores em risco. Como é que garantimos que não há escolas como a de Cascais espalhadas pelo País?”
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