“Acabámos de testemunhar o dia mais quente de janeiro desde que há registos em muitos países da Europa. Verdadeiramente sem precedentes nos registos modernos.” Foi assim que o meteorologista escocês Scott Duncan qualificou o primeiro dia deste ano, numa publicação no Twitter.
Por seu lado, o climatologista Maximiliano Herrera, que se especializou em detetar eventos meteorológicos extremos, chamou a esta vaga de calor invernal “o evento mais extremo alguma vez visto na climatologia europeia”.
As temperaturas na última semana de dezembro já haviam estado muito acima da média, com várias estações de medição em França e na Alemanha a registarem, no dia 29, a sua noite mais quente de dezembro. As previsões apontavam, nesse dia, para que os termómetros continuassem a subir, e foi o que aconteceu. A 1 de janeiro, foram batidos os recordes de temperatura máxima para o primeiro mês do ano em pelo menos sete países europeus: Holanda (16,9º C), Dinamarca (12,6º C), Letónia (11,1º C), Lituânia (14,6º C), Polónia (19º C), República Checa (19,6º C) e Bielorrúsia (16,4º C). No dia seguinte, foi batido o recorde na Áustria, com 18,9º C.
As duas vilas polacas que registaram 19º C têm temperaturas médias para a época de 1º C, mas o caso da Bielorrússia (na vila ocidental de Visokaye) é talvez mais espantoso: o recorde anterior foi ultrapassado em 4,5º C, quando o habitual é os recordes serem batidos por algumas décimas de grau centígrado. E na capital polaca, Varsóvia, onde os termómetros atingiram 18,9º C, a diferença foi ainda maior (5,1º C), embora tenha falhado o recorde nacional por uma décima de grau centígrado.
“Mais cedo ou mais tarde, todos os recordes são batidos, mas alterações como essa são de facto grandes”, comenta Tiago Domingos, professor de Ambiente do Instituto Superior Técnico. “Como não há a mínima dúvida de que o clima está a aquecer – a média global é pouco mais de um grau centígrado, mas nas regiões terrestres é superior a isso –, recordes da ordem de grandeza de umas décimas de grau são expectáveis. Mas, quando os recordes caem por valores superiores a 1,5º C ou 2º C, aí sim, é notícia.”
Há, no entanto, outra circunstância digna de nota, acrescenta Tiago Domingos: terem sido batidos recordes em milhares de estações de medição na Europa em três dias, entre 31 de dezembro e 2 de janeiro, para os respetivos meses (só na Alemanha, foram registados novos máximos em quase 950 estações). “Destacaria as duas coisas: serem muitos recordes e por valores muito elevados.”
Entre as bizarrias meteorológicas, é de realçar, mais uma vez, a situação na Polónia, onde o recorde nacional foi batido antes de o sol nascer, no primeiro dia do ano, e ainda a de Bilbau, onde os termómetros chegaram aos 25,1º C, igualmente um recorde para esta região espanhola.
Começam ainda a ser conhecidos alguns dados nacionais para o ano que passou. Segundo avançou o Met Office (o instituto de meteorologia britânico), 2022 foi o ano mais quente no Reino Unido desde que há registos.