Quase metade das grandes empresas mundiais reduziu as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) nas viagens aéreas, depois da covid-19, indica um estudo divulgado pela associação Zero, segundo o qual três empresas portuguesas aumentaram as emissões.
O estudo divulgado hoje pela associação, da campanha global “Viajar Responsavelmente”, dirigida pela organização ambientalista internacional “Transportes e Ambiente” (T&E, na sigla original), aponta com mau desempenho três das sete empresas portuguesas abrangidas, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o grupo Jerónimo Martins SGPS e a EDP.
As três empresas, segundo o documento, já ultrapassaram os níveis de emissões pré-covid-19. A CGD teve em 2022 emissões 55% acima desse nível, seguida pela Jerónimo Martins, 46%, e depois pela EDP, 22%.
“No grupo geral de todas as empresas analisadas, a CGD e a Jerónimo Martins estão mesmo nos piores lugares”, diz a Zero, que considera “lamentável estas empresas não terem ainda incorporado nas suas políticas de viagem os ensinamentos do período covid e não tenham sido capazes de, até ao momento, acompanhar outras empresas globais que reduziram as suas emissões na ordem dos 80%”.
De forma positiva, com emissões de viagens em trabalho abaixo de 50% dos níveis de 2019, a Zero exemplifica com o Banco Comercial Português (69% abaixo), a Redes Energéticas Nacionais (REN) (66% abaixo), e a GALP Energia (62% abaixo).
A campanha “Viajar Responsavelmente”, sobre as emissões das viagens aéreas em trabalho das grandes multinacionais, da qual a associação ambientalista faz parte, indica que as emissões em 2022 diminuíram 51% face a 2019 (pré-pandemia).
Das 217 empresas analisadas, 104 mantiveram as emissões de viagens aéreas abaixo de 50% dos níveis de 2019. A Zero destaca entre os que mais reduziram os voos a tecnológica SAP (menos 86%), a financeira Lloyds Banking Group (menos 80%) e a consultora PwC (menos76%).
As restantes 113 apresentam níveis de emissões de viagens superiores a 50% dos níveis de pré-covid. A financeira JP Morgan Chase reduziu 13% em relação a 2019 e a farmacêutica Merck 17%.
Do total das 113 há 21 que já ultrapassaram os níveis de voos pré-2019. Nenhuma das 113 tem metas para reduzir as emissões de viagens em trabalho. As empresas portuguesas analisadas também não definiram metas de redução.
Segundo o estudo, se as 113 empresas tivessem reduzido para metade os níveis de voos em 2022 (relativamente a 2019) ter-se-ia evitado emissões de mais de 1,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera, o equivalente às emissões de cerca de um milhão de automóveis durante um ano.
A Zero considera positivo que muitas empresas não tenham voltado aos níveis de emissões de 2019, mas diz ser preocupante que outras estejam a regressar a níveis de 2019, “ou, no caso português, que inclusivamente já ultrapassaram em muito esses níveis”.
No caso de Portugal a associação apela à responsabilidade climática por parte das empresas e ao Governo para legislar sobre o tema.
A análise, acrescenta, mostra que é possível as empresas fazerem uma transição para métodos de trabalho que implicam menos viagens aéreas, substituindo-as por viagens de comboio ou prescindindo mesmo de viajar, fazendo reuniões por meios digitais.
As outras, ao não o fazer, estão a contribuir para o aumento de GEE e a frustrarem expectativas de clientes e acionistas, “colocando a sua reputação em risco”.
O estudo analisou os dados disponíveis sobre as emissões em 2019 e 2022 das 322 empresas.
FP // ZO