As garrafas de plástico são atualmente o segundo tipo de poluição plástica mais comum, a seguir aos sacos de plástico, provocando um impacto severo sobre a vida selvagem e uma poluição generalizada. Esta investigação, realizada na Universidade de Edinburgh, e publicada na revista Green Chemistry, surge com o intuito de mitigar a poluição ambiental e elevar a economia circular, que visa eliminar resíduos, e manter produtos e materiais em uso.
De forma a alcançar este objetivo, os investigadores desenvolveram uma enzima mutante que pode decompor o politereftalato de etileno encontrado nas garrafas em vanilina – constituinte essencial para fornecer o sabor e o aroma de baunilha.
Joanna Sadler, a primeira autora e investigadora do Conselho de Investigação em Biotecnologia e Ciências Biológicas da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Edimburgo, referiu, citada pelo The Guardian, que “[este] é o primeiro exemplo de utilização de um sistema biológico para transformar resíduos plásticos num valioso produto químico industrial (…)”.
Durante o processo, foram utilizadas bactérias E coli artificiais (Escherichia coli) para transformar o ácido tereftálico (TA) em vanilina. Os cientistas aqueceram um caldo microbiano a 37 graus Celsius durante um dia, a mesma temperatura utilizada no fabrico de cerveja, convertendo 79% do TA em vanilina, disse Stephen Wallace, também da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Edimburgo, citado pelo The Guardian.
Um primeiro passo
A vanilina é utilizada maioritariamente na indústria alimentar e cosmética, tornando-se um importante produto químico a granel utilizado no fabrico de produtos farmacêuticos, de limpeza e herbicidas. Cerca de 85% da vanilina é atualmente sintetizada a partir de produtos químicos derivados de combustíveis fósseis.
“Este é um uso realmente interessante da ciência microbiana para melhorar a sustentabilidade”, disse Ellis Crawford, da Royal Society of Chemistry. “A utilização de micróbios para transformar resíduos plásticos, que são prejudiciais ao ambiente, numa substância importante, é uma boa demonstração da química verde”, sublinha.
Atualmente, apenas 14% das garrafas de plástico produzidas em todo o mundo é reciclada, e mesmo as garrafas que são recicladas só podem ser transformadas em fibras opacas para vestuário ou tapetes. Esta investigação demonstra que através de processos de investigação pode haver novas formas de reciclagem de garrafas de plástico.
“O nosso trabalho desafia a perceção de que o plástico é um resíduo problemático e, além disso, demonstra a sua utilização como um novo recurso de carbono, do qual podem ser obtidos produtos de alto valor”, realça Wallace.
O passo seguinte para estes cientistas é trabalhar para progredir ainda mais, afinando as bactérias para aumentar a taxa de conversão. “Temos aqui uma espantosa instalação robotizada de montagem de ADN”, sublinha Wallace, explicando que o objetivo passa também por ampliar o processo para converter maiores quantidades de plástico e criar outras moléculas importantes a partir de TA, tais como algumas utilizadas em perfumes.