Com dados recolhidos em todo o país, um novo estudo dos EUA calculou os gases com efeitos de estufa associados ao consumo energético necessário para cultivar canábis no interior, “dentro de quatro paredes”. A conclusão foi que, por cada quilo da flor de cannabis seca, produzida no interior, são emitidos entre 2 e 5 mil quilos de dióxido de carbono. De acordo com os investigadores, citados pela Nature, uma possível solução seria passar as plantações para o exterior, ou para estufas.
O problema é que para cultivar esta planta dentro de casa é necessária uma quantidade generosa de eletricidade e gás natural, que varia conforme as fases de crescimento. Na criação de um clima artificial interno, é preciso luz própria e abundante, e ar condicionado, para manter uma temperatura confortável para o crescimento das plantas. Esse gasto energético está por trás das enormes emissões.
O estudo também mostrou que as emissões são mais altas nas montanhas do oeste do país e no Alasca. Uma das razões para isto acontecer é que as regiões da costa têm climas mais amenos, pelo que não precisam de gastar tanta energia a controlar o clima.
Outra conclusão do estudo indica que cada porção de THC (o tetra-hidrocanabinol, que dá a sensação de “moca”), que equivale a cerca de 10mg de cada flor seca, emite mais gases com efeito estufa do que uma porção de cerveja, vinho, café ou tabaco, independentemente do sítio onde a canábis foi cultivada.
Existem alguns estudos que exploram os impactos deste setor na natureza. A maior parte foca-se no cultivo ao ar livre, como qualquer outro produto agrícola, avaliando, além da energia consumida, o uso de água, de pesticidas ou a ocupação do solo.
Para mudar as leis
A legalização, descriminalização e/ou regulamentação da canábis em vários estados fez com que esta indústria crescesse exponencialmente. A VISÃO falou com uma das autoras do estudo, Hailey Summers, que lamentou haver ainda pouca legislação para limitar os impactos ambientais da canábis. “Há muito espaço para melhorias na regulamentação no que toca ao impacto ambiental de sistemas de produção interna de canábis.” A investigadora deu, no entanto, o exemplo de uma lei na Califórnia, que obriga a que as luzes utilizadas nas produções sejam LED, e de outra no Illinois, que limita a quantidade de luz por área.
Outro autor do estudo, Jason Quinn, tem a expectativa de que o estudo sirva para mudar mentalidades e leis, sobretudo numa altura em que o consumo (medicinal e recreativo) começa a ser permitido em muitos estados e países. “Esperamos que, ao divulgar a informação, e visto que a canábis continua a ser legalizada, os políticos considerem o impacto ambiental das práticas de cultivo”, diz, à VISÃO. “Além disso, esperamos que os consumidores comecem a fazer perguntas sobre as práticas ambientais dos produtores e incorporem isso nas suas tomadas de decisão.”
Em Portugal, há mais de 40 empresas que estão de alguma forma ligadas ao negócio (para fins medicinais) e existem vários hectares de plantações espalhadas de norte a sul. Destas empresas, apenas uma foi autorizada a comercializar a flor seca, a multinacional canadiana Tilray. A VISÃO não encontrou estudos sobre o impacto ambiental deste setor no nosso país, para plantações no interior ou no exterior.