Os hábitos sustentáveis têm-se vindo a infiltrar no nosso quotidiano, incluindo na intimidade: os copos menstruais serão o melhor exemplo dessa tendência. Agora, chegou também à vida sexual. Há cada vez mais oferta de brinquedos eróticos que prometem uma vida sexual vegana e com uma curta pegada ecológica.
A aposta do setor é disponibilizar produtos sem plástico nem origem animal, biodegradáveis, produzidos localmente e com embalagens ecológicas. Esta preocupação com um nicho de mercado crescente – de pessoas preocupadas com o seu impacto no planeta – não é nova. Há 15 anos que existe um vibrador que se carrega com energia solar. Mas a oferta, entretanto, multiplicou-se.
Este vibrador, por exemplo, chamado Gaia Eco, com um preço de €9, é apresentado como “o primeiro vibrador biodegradável do mundo”. Parece-se com os outros, mas é fabricado com um material não poroso, um bioplástico à base de amido de milho. No fim de vida, o vibrador pode ser totalmente reciclado.
Uma opção que já requer um maior investimento (cerca de €100) são os vibradores da Leaf, uma marca vencedora do prémio para melhor brinquedo ecológico dos Sexual Health Expo Awards de 2015, em Los Angeles. Tem apenas 4 vibradores, todos sem ftalatos (compostos químicos com efeitos negativos na saúde) e com baterias recarregáveis.
Estes produtos estão disponíveis em sites internacionais. Mas o mercado nacional não está a passar ao lado desta tendência.
Chicote à base de plantas
Este lado ecológico da indústria erótica tem vindo a crescer, diz Cláudia Sousa, diretora-geral da Maleta Vermelha, um projeto de produtos eróticos gerido por mulheres. “Nota-se uma preocupação cada vez maior das empresas em arranjar materiais mais amigos do ambiente, desde os silicones aos lubrificantes”.
A empresa tem várias opções sustentáveis no seu site, como algemas ou chicotes de “couro” vegano, à base de plantas. Opções que vieram facilitar a vida de algumas clientes, como a vegana H. D., 39 anos. “Volta e meia, descobrimos que o produto X tem algo animal que nem imaginávamos”, lamenta. “Se a nível alimentar e no vestuário escolhemos não usar nada animal, no sexo essa opção também é válida.” H. D. possui um chicote à base de plantas.
Há também dildos feitos de outros materiais sustentáveis e recicláveis. Um dildo de vidro pode ser vantajoso, diz Cláudia Sousa, , pois “pode dar uma sensação de frio ao início, mas rapidamente se habitua à temperatura do corpo, enquanto que no aço já não é assim”. Sensações diferentes com estes brinquedos são possíveis, acrescenta, aquecendo-os em banho-maria ou deixando-os algum tempo no congelador. É um artigo com muita longevidade, reciclável e higiénico, porque tem uma superfície não porosa e fica rapidamente à temperatura da atmosfera, tornando-se pouco propício ao desenvolvimento de bactérias.
Há também quem opte por madeira, mas estes Cláudia Sousa não aconselha, devido aos tratamentos para o material perder a porosidade.
De olho nos millennials
Até nos preservativos há oferta um pouco mais “verde” – apesar de, por definição, serem sempre descartáveis e não biodegradáveis, pelo que dificilmente podem ser considerados sustentáveis. A solução passa por diminuir a pegada na embalagem e escolher materiais supostamente mais ecológicos, com latex vegano (o látex comum tem substâncias de origem animal), como estes da Lovability, que vêm dentro de uma lata.
O selo verde também já chegou aos lubrificantes. Uma exigência do mercado, tendo em conta o aparente aumento do seu consumo, de acordo com Meika Hollender, cofundadora da Sustain Natural, uma marca que também faz preservativos ecológicos. “43% dos millennials relatam usar lubrificantes”, diz ao The Guardian, citando estatísticas do grupo de pesquisa Mintel.
Para ir ao encontro da grande procura entre uma geração ecologicamente mais consciente, a Pjur oferece lubrificantes 100% naturais, veganos, em embalagens de amido de milho. Com as mesmas características, são os da YES, uma marca de lubrificantes e hidratantes vaginais, isentos de parabenos ou glicerina.
Algumas sex shops vão ao ponto de disponibilizar purpurina biodegradável, para ser usada em fantasias sexuais. Existe na Other Nature, uma sex shop feminista, amiga do ambiente e vegana.