As alterações climáticas já estão a alterar as vidas de vários animais. Um deles é a tartaruga-de-couro (a maior tartaruga do mundo): com o aumento da temperatura dos oceanos e a mudança das correntes marítimas, os espécimes de Dermochelys coriacea estão a fazer viagens do ninho até aos campos de alimentação duas vezes maiores. Depois de depositarem os seus ovos em algumas praias, as tartarugas precisam de mudar para águas mais frias para se alimentarem, mas as temperaturas mais altas – atingiram níveis recordes nos últimos cinco anos, os mais quentes desde que há registos – significam que algumas estão a ter de nadar muito mais para alcançar áreas adequadas, de acordo com uma investigação da Greenpeace e do Instituto Pluridisciplinar Hubert Curien, em Estrasburgo.
As rotas de migração após a nidificação na Guiana Francesa são agora estendidas até à Nova Escócia, revelam as pesquisas. Os investigadores marcaram dez tartarugas fêmeas na nidificação do ano passado nas praias de Yalimapo e Remire-Montjoly, na Guiana Francesa. Ao acompanharem a sua migração pelo Atlântico Norte verificaram que algumas das tartarugas nadaram até à Nova Escócia, no nordeste do Canadá, e mesmo até França, para encontrarem alforrecas, ingrediente principal da sua dieta. As praias da Guiana Francesa já foram abundantes áreas de nidificação de tartarugas, mas agora os ovos ali depositados são apenas uma pequena fração do que acontecia há 30 anos. Em 2019, a ausência total de tartarugas-de-couro de uma praia numa reserva natural na Nicarágua também chamou a atenção para as mudanças de comportamentos.
Tambem os pikas (Ochotona princeps), pequenos mamíferos herbívoros nativos da América do Norte – animais que serviram de inspiração ao Pikachu dos Pokémon –, se estão a deslocar. Neste caso, das montanhas rochosas alpinas para florestas adjacentes. O aumento das temperaturas faz recuar a altitude permanente da neve nas montanhas forçando estes animais a subir cada vez mais para os frios cumes montanhosos. Um estudo publicado no Journal of Mammology observou que o habitat frio, húmido e rochoso que necessitam está a ficar mais quente, seco e com menos neve.
A época de migração das borboletas-monarcas (Danaus plexippus) está a sofrer alterações também devido às temperaturas mais altas. O aquecimento global está a causar um atraso de até seis meses nas viagens periódicas destes insetos, dos poucos capazes de fazer travessias transatlânticas. Segundo o Instituto da Terra da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, o calor está a fazer com que as migrações fiquem dessincronizadas com o tempo de floração das plantas produtoras de néctar, essencial na sua alimentação, contribuindo para a diminuição de 95% dos exemplares da espécie nos últimos vinte anos.
A alimentação dos papagaios-do-mar (Fratercula arctica) no Golfo do Maine, o grande golfo do Oceano Atlântico na costa nordeste da América do Norte, está igualmente a ser alterada. Carnívoros habituados a comerem pescada e arenque, com a subida da temperatura das águas esses peixes estão a deslocarem-se para norte. A alternativa mais fácil seria os papagaios-do-mar, uma espécie de ave semelhante aos pinguins, comerem os jovens peixes-manteiga, mas não conseguem engoli-los. Nos últimos 20 anos, os conservacionistas calculam que as incipientes taxas de sobrevivência caíram 2,5% ao ano.
Também a dieta dos ursos polares está em mutação. Segundo a Associação Escocesa de Ciências Marinhas o derretimento do gelo do mar está a afetar a cadeia alimentar mais ampla, pois o zooplâncton alimenta-se das algas que crescem no gelo do mar. Essas criaturas microscópicas são comidas por peixes e camarões, que são comidos por focas, formando a base de 70% da dieta dos ursos polares, de acordo com outro estudo científico.