Entre 14 e 15 de Maio, a VISÃO VERDE esteve no Congresso Europeu de Energia, em Bruxelas, que reuniu os grandes produtores e operadores de eletricidade, gás e petróleo, empresas de engenharia e tecnologia especializadas, associações representativas destes setores, decisores políticos e investigadores para discutir os desafios que se colocam a esta área industrial.
Quatro grandes temas dominaram de forma transversal os diferentes painéis do encontro: a inexistência de uma política energética comum, na Europa; a inutilidade prática do sistema de Comércio Europeu de Licenças de Emissões, no combate à emissão de CO2; o elevado preço da energia, com forte destaque para a subsidiação das renováveis e o papel que o gás – nomeadamente o gás de xisto – pode ter na chamada “reindustrialização” da Europa.
Sobre uma das mais polémicas energias da atualidade, o gás de xisto, falámos com o homem que representa o lobby europeu do gás, Jean-François Cirelli. Preside à associação europeia que junta os operadores de gás – Eurogás – e à GDF Suez, a maior empresa privada a produzir energia, no mundo.
Qual é a posição da Eurogás em relação à extração do gás de xisto? É sermos cautelosos. Sabemos que há uma série de mal-entendidos em relação ao gás de xisto, há um problema de aceitação. Os decisores políticos não têm as mesmas visões sobre o assunto. Por exemplo, a França proibiu totalmente a exploração, a Alemanha está a tentar definir as zonas onde se poderá ou não fazer a extração e, por enquanto, os resultados na Polónia não são muito satisfatórios. Se há de gás de xisto na Europa pelo menos uma coisa deveríamos tentar saber: se esse potencial é real ou não. No final, o que é que é melhor? Termos a nossa própria produção de gás ou importá-lo?
E os custos ambientais? Parece-me que é isso que preocupa as populações e os políticos. De facto, isso é um verdadeiro problema. É claro que tem de haver preocupações ambientais e alguma coisa tem de ser feita nesse campo, mas temos todas as tecnologias para poder lidar com essa questão.
Portanto, considera que o custo-benefício deve levar os políticos a definir uma política no sentido da extração do gás de xisto? Sabe, o que eu vejo é que para os Estados Unidos da América é uma enorme vantagem, em termos económicos, nas atuais circunstâncias…
Também há diversos relatos de danos causados ao ambiente, às pessoas e à sua saúde… Não quando olha para os relatórios oficiais. Naturalmente não há relatórios de todas as explorações… No início do processo, o gás de xisto não foi descoberto por grandes empresas e talvez as preocupações ambientais não tenham sido tidas em conta, de forma adequada. Penso que essa não é mais a questão quando se trata de grandes empresas. Tenho a certeza que, se um dia fizermos esse tipo de trabalho, na Europa, todas as preocupações serão tidas em conta. Pode sempre dizer-me que são perfurados lençóis freáticos e se danificam aquíferos… Mas todos os poços para obter gás natural ou petróleo convencional perfuram os lençóis de água. Temos de ter muitas precauções, perfurar bem e há imensas empresas que sabem fazer isso. Para mim, a verdadeira questão é a água [a que é utilizada no processo de extração, designado fraturação hidráulica: contém areias e dezenas de produtos químicos, alguns cancerígenos, que rebentam a rocha de modo a libertar o gás e a poder enviá-lo para a superfície], o seu uso e tratamento, mas já há tecnologias para resolver isso. Comparando com outros processos de mineração este não é mais prejudicial.