O nosso planeta constitui um sistema com vários subsistemas: a atmosfera, a hidrosfera, a litosfera e a biosfera, que inclui o conjunto de todos os seres vivos. Este sistema terrestre tem evoluído desde o início da formação da Terra há cerca de 4 500 milhões de anos. As alterações globais, em sentido lato, são as mudanças que se dão à escala planetária no sistema terrestre e que podem ser naturais ou antropogénicas, isto é, provocadas por algumas atividades humanas.
As escalas de tempo destes dois tipos de alterações são muito diferentes. Enquanto as naturais se dão tipicamente em intervalos de tempo superiores a dezenas de milhares de anos e que chegam às centenas de milhões de anos, as antropogénicas só se manifestaram após a Revolução Industrial em meados do século XVIII. O movimento lento das placas tectónicas, que determina a configuração dos continentes, dá origem à formação das montanhas e altera as bacias e as correntes oceânicas, e é um exemplo de uma alteração global natural. A alternância dos períodos glaciais frios com os interglaciais quentes que se dá com um período de aproximadamente 100 mil anos é outro exemplo. Atualmente estamos num período interglacial que teve início há cerca de 12 mil anos.
Anteriormente o mundo era muito diferente: na Europa, a Escandinávia estava completamente coberta por campos de gelo e o nível médio do mar estava cerca de cem metros abaixo do nível atual. Portugal tinha uma área maior! O período desde o final da II Guerra Mundial até à crise financeira e económica ocidental de 2008-2009 foi de grande crescimento da população global, da economia global, do uso dos recursos naturais, da mobilidade, dos fluxos de comunicação e informação, do conhecimento científico, das aplicações tecnológicas e da globalização. Foi um período notável da história da humanidade que libertou centenas de milhões de pessoas da pobreza e da fome. Mas foi também neste período que se aceleraram as alterações globais antropogénicas.
MAIS DE METADE DOS RECURSOS HÍDRICOS que nos são acessíveis com relativa facilidade estão a ser intensamente utilizados e os aquíferos são explorados de forma insustentável em muitas regiões do mundo. Cerca de 50% da superfície emersa da Terra foi transformada pelas mais diversas atividades humanas com consequências frequentemente adversas para a biodiversidade, os solos, os rios, os lagos, as zonas húmidas e as zonas costeiras.
Os ciclos do carbono, do azoto e do fósforo foram profundamente alterados. Há uma perda generalizada de biodiversidade e as taxas de extinção de espécies nos ecossistemas marinhos e terrestres estão a aumentar perigosamente.
Estamos a alterar a composição da atmosfera ao aumentar de forma significativa a concentração de alguns dos seus componentes minoritários, especialmente o dióxido de carbono e o metano, que são gases com efeito de estufa, ou seja, gases com a capacidade de absorver e emitir radiação infravermelha. Aquele aumento intensifica o efeito de estufa, que existe naturalmente na atmosfera, e provoca uma alteração climática antropogénica que se caracteriza por um aumento da temperatura média global à superfície e por eventos extremos mais intensos e frequentes, tais como ondas de calor, secas e eventos de precipitação elevada em períodos de tempo curtos.
Bibliografia recomendada
- THE OXFORD COMPANION TO GLOBAL CHANGE
Andrew Goudie e David Cuff
(Oxford University Press) - HUMANS ON EARTH. FROM ORIGINS TO POSSIBLE FUTURES
Filipe Duarte Santos
(Springer) - IPCC 4TH ASSESSMENT REPORT
Intergovernmental Panel on Climate Change
(Cambridge University Press)
www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_and_data_reports.shtml
Quem é Filipe Duarte Santos?
Nascido em 1942, Filipe Duarte Santos é professor catedrático de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Coordenador do Livro Branco sobre o Estado do Ambiente em Portugal, publicado no princípio da década de 90 do século passado, tem realizado a maior parte da sua investigação na áreas do ambiente, das alterações climáticas e das mudanças globais