O Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, lançou o mês passado uma cadeira dedicada às bases das alterações climáticas. O objetivo é dar aos alunos uma visão crítica sobre a ciência climática, proporcionar uma perspetiva transversal sobre o seu impacto na sociedade, analisar os mecanismos de uma transição justa e fornecer capacidades de decisão aos estudantes face à ação individual, profissional e coletiva.
A criação da cadeira era uma das exigências dos estudantes do Técnico que participaram nas grandes manifestações de novembro, em que jovens bloquearam várias escolas e universidades, a pedir o fim dos combustíveis fósseis até 2030.
A disciplina, opcional, é coordenada e lecionada pelo professor de Ambiente Tiago Domingos, mas o programa foi montado com a participação dos alunos de mestrado que pertencem ao núcleo de ambiente da faculdade, o AmbientalIST. E rapidamente se revelou um sucesso: começou por estar planeada para 40 vagas, mas a procura levou a faculdade a aumentar para 60. “A nossa vontade era que fosse uma cadeira obrigatória, mas encontrou-se uma solução para avançar dentro dos equilíbrios do Técnico, uma vez que hoje os alunos têm de escolher seis créditos de cadeiras opcionais na área das humanidades, artes e ciências sociais”, explica Tiago Domingos. Ainda não está descartada a hipótese de tornar a cadeira obrigatória, mais tarde.
Rita Santos, estudante de física tecnológica e um dos elementos do AmbientalIST que colaborou na realização do programa, diz ser fundamental proporcionar esta formação aos estudantes, de modo a dar-lhes as fundações certas que lhes permitam agir mais tarde, quando eventualmente se encontrarem à frente dos centros de decisão. “Há muita gente do Técnico que se torna gestora ou política. É importante estas pessoas terem este background e a consciência do que está a acontecer”, sublinha. O próprio António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, foi aluno do Técnico, lembra Tiago Domingos.
A cadeira passa pelas bases da história e da ciência climáticas, com uma componente de debate muito significativa. “Vamos discutir vários modelos económicos como o decrescimento. e falar de soluções mais específicas para cada setor, ajudando os alunos a desenvolver trabalhos sobre eventuais soluções para a transição energética, energia, transportes…”, diz Rita Santos.
Os jovens que reivindicaram esta cadeira inspiraram-se numa iniciativa da universidade de Barcelona, que anunciou no final do ano passado que iria avançar com uma disciplina de crise climática. Mas essa disciplina só estará disponível no próximo ano letivo.