Cerca de 40 elefantes-marinhos foram “contratados” por cientistas para recolher informação importante do Oceano Antártico, um dos locais mais frios e inacessíveis ao ser humano. Escondem-se alguns dos segredos mais valiosos sobre o futuro da Terra – para tentar compreender as dinâmicas das alterações climáticas -, mas descobri-los não é tarefa fácil. Sendo um dos locais mais frios do planeta, este oceano dificulta estudos detalhados sobre as suas profundezas.
Mas, embora um mistério para o ser humano, são um local muito frequentado por elefantes-marinhos. E isso faz deles os ajudantes ideais. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) recrutou cerca de 40 elefantes-marinhos para ajudarem na tarefa de recolher “informações vitais” sobre os mistérios do oceano, anunciou a organização.
É na Ilha Kerguelen, um pequeno território francês no sul do Oceano Índico e a poucos passos da Antártida, que podemos encontrar estes seres vivos. A sua paisagem inóspita garantiu-lhe o apelido de “Ilhas da Desolação” pela agência NASA, mas é neste local que muitos elefantes-marinhos vêm repousar.
A recolha de dados, que ajudará a compreender a situação atual dos oceanos, prever o seu futuro e o impacto das alterações climáticas, será feita através de dispositivos leves – com apenas cerca de 0,1% da massa corporal do elefante-marinho – que são presos ao cabelo das maiores focas do mundo (os machos chegam a medir seis metros de comprimento e a pesar 4 toneladas).
Clive McMahon membro da rede Animal-Borne Ocean Sensors (AniBOS), responsável por supervisionar a instalação dos dispositivos e especialista em elefantes-marinhos, garante que o que estão a fazer não prejudicará os animais. Serão estes dispositivos os responsáveis por recolher a informação de cerca de 80 mergulhos profundos diários e enviá-la à equipe da AniBOS.
“Se soubermos o que está a acontecer no Alto Oceano Antártico, teremos uma compreensão muito melhor dos processos climáticos globais”, explicou McMahon. “A obtenção de observações de alta latitude é fundamental. Os elefantes-marinhos podem mergulhar até 2 mil metros e têm a fantástica capacidade de aceder a locais como plataformas costeiras que não se conseguem alcançar facilmente.”
Os dados serão depois analisados pelo Global Ocean Observing System (GOOS), um grupo liderado por algumas das principais agências ambientais do mundo como a Comissão Oceanográfica Intergovernamental e a Organização Meteorológica Mundial e pertencente à rede AniBOS.
Esses dados incluirão informações como a temperatura e salinidade de regiões tradicionalmente difíceis de alcançar nos polos norte e sul do planeta, explica, em comunicado à imprensa, Emma Heslop, especialista em programas do GOOS, acrescentando que “também são usados para análise de alterações climáticas”.
Além de uma compreensão mais aprofundada dos oceanos e de como estes estão a reagir às alterações climáticas, os dados recolhidos serão também uma mais-valia na aprendizagem do modo de vida dos elefantes-marinhos.
“As informações que os elefantes-marinhos fornecem também aumentam nosso conhecimento de seu comportamento, por exemplo, como, o que e onde eles procuram comida”, disse Heslop. “Este e os dados oceanográficos fornecem ferramentas poderosas para conservação e gestão.”
Este tipo de recrutamento não é novidade para a UNESCO que já teve, no passado, outros mamíferos marinhos a serem promovidos a oceanógrafos, mostrando ser uma ajuda fundamental no conhecimento científico.