“A pandemia levou a outras pandemias dentro dela. Levou ao pandemónio. Temos hoje o pandemónio da long-covid.” Filipe Froes, pneumologista e especialista em medicina intensiva no Hospital Pulido Valente (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte), falou este domingo de manhã no VISÃO Fest, a decorrer no Planetário de Marinha, em Lisboa, e alertou para o que se passa nos hospitais atualmente. Recebe dezenas de doentes com sintomas de covid longa. “Precisamos de um programa nacional para a long-covid”, reforçou.
Com a temática “A próxima pandemia” em fundo, o médico refletiu sobre o que a Covid-19 nos trouxe, também, em termos de aprendizagem. “Aprendi muito com outros colegas e isso engrandeceu o meu conhecimento.”
Porque é o conhecimento que, muitas vezes, é posto em cheque. “Há muitos fatores que aumentam o risco de novas pandemias. Um deles é a desvalorização do conhecimento através da nova ignorância que não sabe que não sabe.”
“O risco de politização do conhecimento é extremamente preocupante”
Filipe Froes
E reflete que, fora da área da Saúde, houve outras palavras que se impuseram e que são preocupantes, como a “pandemia da desinformação” e a “politização do conhecimento”, como se pudéssemos escolher a verdade do conhecimento que nos “dá mais jeito” em termos político-partidários.

Em 2019, antes da pandemia de Covid-19, a Organização Mundial da Saúde elencou dez ameaças à saúde global, ou seja, “razões para pandemias”. A primeira tinha como rampa de lançamento as alterações climáticas, a segunda as doenças crónicas não transmissíveis, “sendo a obesidade um tema que dava para um VISÃO Fest inteiro”, e a terceira a pandemia de gripe ou outros vírus respiratórios. O que veio a verificar-se, já todos sabemos.
“Há um risco maior” de surgirem doenças que se propagam rapidamente, “a interconexão global é muito grande”, viajamos de um lado ao outro do mundo em pouco tempo. A inevitabilidade de outra pandemia tem, também, como ajuda, as alterações climáticas, a destruição de habitats naturais, a desflorestação, os fluxos migratórios e as desigualdades extremas.
As pandemias, nota Filipe Froes, acontecem ciclicamente, já vamos na “segunda deste século”. Esta vai acabar, “todas acabam” e, depois, “vai surgir outra”. A próxima pode acontecer em qualquer altura e “vai depender da nossa resposta”, do equilíbrio entre “o que aprendemos e o que fizemos”, o que aprendemos com esta.
O especialista acredita que há três hipóteses reais para a pandemia que se segue. “Será o vírus influenza, sobretudo de origem aviária, talvez o H2; um novo coronavírus; ou um agente X, um micro-organismo que ainda não identificámos”, recordando que o SARS-CoV-2 também foi, quando surgiu, um agente X, uma vez que era, até então, um patogénio desconhecido.
