Poucos nomes de artistas se transformam em adjectivos instituídos. Ainda menos durante a vida dos que dão origem a essas novas palavras.
Mas lynchiano já tem um signifi cado muito claro (ou deveríamos, antes, dizer «escuro»?) e David Lynch vai apenas nos 61 anos, está em plena forma criativa. Se quiséssemos dar um início lynchiano a este texto, diríamos ao leitor para imaginar um ruído como um zumbido eléctrico contínuo e profundo, deixando ecoar, lá ao fundo, uma velha canção popular norte-americana dos anos 50, baixávamos um pouco a intensidade das velhas lâmpadas que iluminam a cena, e abríamos, lentamente, uma pesada cortina vermelha. Por detrás da cortina, encontrávamos David Lynch, sentado num velho sofá azul-escuro e comprido, olhando na nossa direcção mas como se focasse um ponto lá atrás, algures num horizonte longínquo. Estava vestido com uma camisa branca, com o botão do colarinho apertado, e um fato preto. E fumava.
Provocava mesmo uma densa nuvem de fumo que se movimentava lentamente sobre a sua cabeça. A música aumentava de volume e sobrepunha-se ao ruído.
David sorria, levemente, depois de lançar mais uma baforada de fumo para o ar.
Este homem é um artista, no sentido mais completo que a palavra pode ter.
Acção-Reacção