Não gosta que lhe chamem “restauracionista”, por querer anular boa parte das políticas do seu antecessor. Joe Biden garante com veemência que não acredita ser possível voltar atrás no tempo e nega a intenção, enquanto futuro Presidente dos EUA, de fazer regressar o país e o mundo a 2017, quando Donald Trump se instalou na Casa Branca. E rejeita igualmente o vaticínio de que pode estar a preparar um “terceiro mandato de Barack Obama”, por incluir na sua equipa de assessores vários elementos que integraram a administração de que foi o número dois. O antigo senador do Delaware tem uma agenda própria bem definida e tudo indica que quer cumpri-la à risca, mal entre em funções. Eis as suas prioridades.
1 Combater a pandemia
Os habitantes dos EUA representam menos de 5% da população mundial mas quase 20% do total de infetados com a Covid-19 no planeta. Com a agravante de a revista Nature já admitir que o novo coronavírus pode fazer mais mortos no país do que a Segunda Guerra Mundial (400 mil). E não será fácil ao 46º Presidente dar a volta a esta tragédia – pelo menos até 20 de janeiro, data em que Joe Biden assume oficialmente o cargo. “Por razões óbvias, muitas pessoas estão preocupadas com o que Trump poderá fazer nas próximas dez semanas. Mas há também motivos de preocupação com o que ele não fará. Na data da tomada de posse, é muito possível que cerca de dois mil americanos estejam a morrer diariamente”, escreveu, no Twitter, Richard Hass, um dos mais prestigiados analistas do país, referindo-se à possibilidade de o ainda chefe de Estado apostar na passividade – ou num deliberado imobilismo – como modo de vingança sobre os seus compatriotas por não o reelegerem para um segundo mandato. Este é um cenário tão verosímil que Joe Biden definiu o combate à pandemia como a sua principal prioridade. Na última segunda-feira, 9, anunciou que o seu plano para minimizar os efeitos da doença estão a ser ultimados: massificação dos testes e rastreios, aumento exponencial da produção dos equipamentos de proteção para os profissionais de saúde e, sobretudo, ter em conta a opinião dos especialistas antes de se tomarem decisões drásticas como, por exemplo, a obrigatoriedade do uso de máscara ou a imposição de confinamentos. Além de querer manter como seu conselheiro Anthony Fauci, o mais conhecido infecciologista do país, o Presidente eleito nomeou três reputados clínicos para liderarem a task force anti-Covid: Marcella Nunez-Smith, professora na Universidade de Yale, Vivek Murthy, ex-diretor médico nacional (Surgeon General) na administração Obama, e David Kessler, antigo diretor da FDA (a agência federal responsável pela proteção da saúde pública) nas administrações de George H. W. Bush e de Bill Clinton. Ou seja, os cientistas voltam a ter voz nesta crise sanitária.
2 Unir a América
Não há desafio com um enunciado tão simples como este – embora seja, na realidade, o mais difícil de cumprir, apesar de Joe Biden ter feito dele o centro de todas as intervenções e discursos desde a eleição. É um desafio difícil, porque a América é hoje um terreno onde crescem e se multiplicam muitas clivagens. Não se trata apenas da divisão entre democratas e republicanos; é também a divisão entre os habitantes das grandes zonas urbanas e os dos imensos espaços rurais, entre o 1% de supermilionários e os 99% do resto da população, entre brancos e negros, entre latinos e novos imigrantes, entre os que acreditam no aquecimento global e os que o negam. A diferença face a muitos outros países onde este tipo de divisões também possa existir é que, na América de hoje, tudo se tornou um campo de batalha. Qualquer tema é de tal forma fraturante que nenhuma das partes tem o mínimo de disponibilidade para ouvir a outra. As posições são extremadas em tudo e… por tudo. Ao contrário do que sucedeu, por exemplo, com Franklin D. Roosevelt, em 1932, e com Ronald Reagan, em 1980 – que tomaram as rédeas do país, com vitórias categóricas que pintaram o mapa dos EUA de quase uma só cor, após períodos de grande tensão e também de muitas clivagens –, Joe Biden encontra uma Nação que quis vincar, nas urnas, ainda mais essa divisão. De uma coisa, porém, Joe Biden não deve ter dúvidas: unir a América não poderá ser o trabalho de um homem só. Vai ter de estabelecer pontes com os republicanos (e os parabéns que já recebeu por parte de figuras ilustres como George W. Bush e Mitt Romney podem ser o início de um caminho), mas também vai precisar de apaziguar as várias alas do Partido Democrata. Só há uma forma de o fazer: com grandes e inspiradores projetos que, de facto, demonstrem que o país está a mudar para melhor. Para já, como trunfo, tem apenas o seu estilo de liderança: alguém que, ao contrário de Trump, não está interessado em lançar sempre mais gasolina para a fogueira, mas antes um Presidente que tem como objetivo apagar o fogo que consome a América.
3 Reconhecer as mudanças climáticas
Entre os decretos presidenciais que Joe Biden pretende assinar, mal entre na Sala Oval, ao início da tarde de 20 de janeiro, há um que se destaca: o regresso dos EUA ao Acordo de Paris, sobre as mudanças climáticas. Trata-se de uma promessa de campanha que dispensa qualquer validação do Congresso e que permite reafirmar o seu compromisso com a Ciência e com o multilateralismo. A sua administração deverá ainda iniciar um ambicioso plano de transição energética para a maior economia do mundo e segundo maior emissor de CO2 do planeta. Dos cofres federais terão de sair mais de dois biliões de dólares (quase 10% do PIB), nos próximos quatro anos, para que a produção elétrica não tenha impacto ambiental em 2035 e a neutralidade carbónica seja uma realidade em 2050. A agenda ecológica do 46º Presidente pode ter grandes implicações globais, pois abre caminho para que seja alcançada a meta de limitar em 1,5 graus Celsius o aumento da temperatura terrestre até 2100, além de prever a normalização das relações dos EUA com as agências especializadas da ONU – incluindo as contribuições financeiras de Washington para a OMS e até para o Green Climate Fund, programa com o qual Trump também cortou e impediu a transferência de dois mil milhões de dólares desde 2017. Mais polémica, no plano doméstico, promete ser a sua pretensão de reduzir gradualmente os subsídios à indústria petrolífera e à perfuração hidráulica (fracking).
4 Enfrentar o crescimento da China
O grande elefante na sala do mundo chama-se China e, a bem ou a mal, Joe Biden não pode ignorar o crescimento do seu poder e influência. Nem a ambição cada vez mais declarada de Pequim, onde, poucas semanas antes de os americanos irem a votos, o comité central do Partido Comunista Chinês aprovou o seu novo plano quinquenal, em que, por exemplo, já definiu a data de 2035 como o ano em que o país se solidificará como a maior potência mundial. O mais extraordinário é que isso representa uma antecipação de década e meia, face ao que os dirigentes chineses tinham anteriormente previsto. E, segundo alguns observadores em Pequim, este encurtamento do prazo fica, em certa medida, a dever-se ao confronto e à guerra de tarifas dos últimos quatro anos. “Os esforços de Trump para derrotar a tecnologia chinesa podem ter, ironicamente, feito acelerar o desenvolvimento da China em tecnologias de ponta, como a Inteligência Artificial, o fabrico de chips, as redes 5G e a biotecnologia”, notou um colunista da revista Wired. Por isso, muitos esperam que Joe Biden, em vez de isolar a China, como tentou Trump, opte por tentar conter ao máximo o seu avanço – até porque vai precisar de contar com a colaboração de Xi Jinping em temas fundamentais como a pandemia e o combate às alterações climáticas. A estratégia deverá passar, assim, pelo restabelecimento de muitas alianças na zona da Ásia-Pacífico, mas também com a Europa, de forma a criar um soft power de inspiração democrática, capaz de inspirar outros países. Noutro plano, nomeadamente o interno, Joe Biden poderá marcar as diferenças com Pequim através de apelos ao respeito pelos Direitos Humanos, algo que Trump nunca fez, apesar dos conflitos que mantinha com Pequim. Finalmente, ninguém sabe se Kamala Harris não pode ter, neste dossier, um papel importante, ao ajudar a estabelecer uma parceria inédita com a Índia, da sua família materna.
5 Mitigar a crise económica
Desde o final de julho que muitas famílias norte-americanas não sabem como sobreviver. Há quatro meses, acabaram-se os auxílios federais de 600 dólares para quem perdeu o trabalho na sequência da pandemia, mas o Congresso, devido à permanente guerrilha entre democratas e republicanos, não se entende quanto à aprovação de um novo pacote de estímulos que permita injetar liquidez na economia para salvar empresas e trabalhadores. Joe Biden promete aumentar a receita fiscal, fazer investimentos massivos em infraestruturas, duplicar o salário mínimo (para 15 dólares/hora) e promover consensos políticos em Washington D.C., embora nada disto possa ser suficiente caso o Senado permaneça sob controlo do partido de Donald Trump – o que só ficará definido a 5 de janeiro, após a repetição do escrutínio para a câmara alta, no estado da Geórgia. Wall Street está confiante no sucesso do novo Presidente e alguns indicadores económicos até parecem animadores: a taxa de desemprego baixou para 6,9% no final de outubro, após ter chegado a 14,7% em abril. No entanto, 54 milhões de norte-americanos dependem agora de senhas e dos bancos alimentares para não passar fome e muitos mais podem vir a perder as suas casas e tornar-se sem-abrigo. Um cenário explosivo, se tivermos em conta que a fortuna dos 643 bilionários dos EUA cresceu 845 milhões de dólares entre março e setembro.
6 Eliminar a fratura racial
Depois dos grandes protestos do movimento Black Lives Matter, a América não pode continuar a ser a mesma perante a divisão racial, exatamente como também foi obrigada a mudar, nos anos 60 e 70, após os grandes movimentos pelos direitos cívicos. Joe Biden sabe que tem, neste campo, um dos maiores testes ao seu eleitorado, pois os votos dos afro-americanos foram decisivos para a sua vitória. E sabe também que continua a ser visto com alguma desconfiança entre alguns setores, por ter apoiado, em 1994, uma lei penal que levou ao encarceramento em massa de negros norte-americanos e ao exacerbar das clivagens raciais na sociedade dos EUA. Biden já se confessou arrependido e não se cansa de sublinhar que pretende abordar o racismo como um problema sistémico, que precisa de ser enfrentado através de uma reforma profunda do sistema criminal, mas também com programas económicos e sociais de apoio às minorias, no valor superior a 50 mil milhões de dólares. Este é, no entanto, um dos desafios em que a dupla Joe Biden – Kamala Harris vai ser mais importante, como já se viu nos primeiros discursos de vitória. E, no caso de serem bem-sucedidos, Kamala verá aumentar as suas hipóteses de ser a candidata democrata à presidência, daqui a quatro anos.
7 Mudar a política de imigração
Muitos dos documentos que a equipa de Joe Biden irá colocar em cima da secretária Resolute, na Sala Oval, vão ter impacto imediato nas políticas migratórias norte-americanas. Um dos primeiros que o 46º Presidente quer assinar tem por objetivo resolver urgentemente a situação das 545 crianças hispânicas que foram separadas à força dos seus pais, na fronteira entre os EUA e o México, e que a administração Trump não foi sequer capaz de repatriar e devolver às famílias. Mas não só. No artigo que escreveu para a revista Foreign Affairs, em março, Biden revelou que pretende também anular, no seu primeiro dia de trabalho, várias decisões do seu sucessor: conceder a cidadania a 11 milhões de pessoas que vivem e trabalham ilegalmente no país; acabar de vez com as deportações dos dreamers (filhos de imigrantes que nasceram ou cresceram sem nunca se terem regularizado, estimando-se que sejam quase 700 mil); anular a interdição de entrada de nacionais de países muçulmanos e de outros estados que Trump descreveu como shitholes (“sítios de merda”) – alguns deles quadros essenciais das grandes tecnológicas de Silicon Valley; fixar em 125 mil o número máximo anual para a admissão de refugiados e, claro, a decisão simbólica de suspender as obras do famoso muro ao longo do rio Grande, cujo financiamento se fez, nos últimos três anos, à custa do orçamento do Pentágono.
8 Retomar o diálogo com os aliados
Depois de quatro anos de “America first”, percebe-se a rapidez com que os governantes dos aliados dos EUA felicitaram a eleição de Joe Biden. Essa sensação de alívio foi particularmente eloquente na Europa e nos países da NATO, que acreditam que Biden irá encetar um regresso às origens, voltando a pôr os EUA num papel de liderança, como ele próprio escreveu, recentemente, num artigo para a revista Foreign Affairs: “Como Presidente, farei mais do que apenas restaurar as nossas parcerias históricas; liderarei o esforço de as reimaginar de forma a poderem enfrentar os desafios do mundo de hoje.” Biden sabe que este regresso a uma visão multilateralista é essencial para outro dos seus principais objetivos: restaurar a imagem da América. Mas é também fundamental para a política externa do país e para a manutenção do seu poderio económico, cada vez mais ameaçado pela China. Para isso, vai precisar de desfazer as desconfianças que nasceram nos últimos quatro anos e, nomeadamente, aprofundar a cooperação com a União Europeia (abandonando a parceria estratégica que Trump queria privilegiar com Boris Johnson), retomar o diálogo com a Coreia do Sul e o Japão, além de, no mínimo, mudar o tom das conversas com os vizinhos Canadá e México. A maior dificuldade no meio disto tudo? Vai precisar de tempo para fazer a mudança e esperar que, do outro lado, em cada país, os seus interlocutores se mantenham interessados nas alianças.
9 Apagar as chamas no Médio Oriente
Há 47 anos, a primeira grande viagem do jovem senador Joe Biden teve o Cairo e Telavive como destino. Na altura, as coisas não lhe correram de feição. Um mês depois de se reunir com o Presidente Sadat, do Egito, e com a primeira-ministra israelita Golda Meir, numa missão em que deveria convencer ambos da necessidade de resolver pacificamente o conflito israelo-árabe e a questão palestiniana, eclodiu a guerra do Yom Kippur. Agora, o 46º Presidente não será traído pela sua ingenuidade nem pelos complexos e inconfessáveis interesses dos dirigentes regionais. A embaixada dos EUA vai continuar em Jerusalém, como Donald Trump sempre quis, mas o Governo de “Bibi” Netanyahu vai deixar de ter um aliado incondicional na Casa Branca. A Arábia Saudita continuará a ser um parceiro estratégico de Washington, mas a administração Biden não vai tolerar os desmandos do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, apostando na contenção deste último e dando sinais de que vai deixar de lhe vender armas, para que prossiga com o conflito no Iémen. A Autoridade Palestiniana pode acreditar que o “acordo do século”, promovido por Jared Kushner, o genro de Trump, já faz parte do caixote do lixo da História e que, de agora em diante, não haverá novos colonatos na Cisjordânia, mas dificilmente conseguirá as boas graças dos EUA se não fizer concessões e não negociar de boa-fé. Na Síria e no Iraque, os curdos talvez se sintam aliviados com a saída de cena do homem que prometeu fazer regressar os marines a casa e acabar com as “guerras intermináveis” no Médio Oriente, na Ásia Central ou no Norte de África, mas não é garantido que Joe Biden queira gastar o seu capital político para alterar o statu quo e habilitar-se ao Prémio Nobel, como sucedeu com Barack Obama…
10 Reinventar a relação com os vizinhos do Sul
Não é por acaso que vários governantes latino-americanos se apressaram a felicitar Joe Biden pela vitória eleitoral, enquanto outros se remeteram ao silêncio. Por razões óbvias, Jair Bolsonaro, o Presidente do Brasil, é um dos líderes que mais saudades irão ter de Donald Trump, mas são muitos os que aguardam com enorme expectativa – entenda-se, esperança – a entrada em funções do novo Presidente dos EUA. É o caso dos dignitários da América Central, a quem Joe Biden promete um apoio especial de quatro mil milhões de dólares, até 2024, a troco de reformas democráticas e de empenho na luta contra a “corrupção, a violência e a pobreza endémica que leva as pessoas a abandonarem as suas casas” na Guatemala, nas Honduras e em El Salvador. A 8 de novembro, o Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, escreveu no Twitter que “o povo americano escolheu um novo rumo” e que o seu país acredita, agora, “numa relação bilateral construtiva [com os EUA] e respeitadora das diferenças”, como que a recordar as 132 medidas e sanções que Donald Trump impôs à ilha nos últimos quatro anos, de acordo com a contabilidade do El País. Em Havana, espera-se que a nova administração em Washington siga o exemplo de Obama – que promoveu o degelo diplomático a partir de 2014 e visitou a ilha dois anos depois – e se criem as condições para a normalização política entre os dois Estados separados pelo estreito da Flórida. Algo de semelhante se passa com outro regime socialista do subcontinente, a Venezuela, cujo líder, Nicolás Maduro, já veio admitir que pode existir um diálogo “sincero e direto” com Joe Biden. Como têm explicado alguns comentadores, a América Latina pode ser o primeiro barómetro da diplomacia global do novo Presidente americano – com grande probabilidade, uma versão renovada do Lead from behind (liderar discretamente e a partir dos bastidores), já protagonizada por Barack Obama.
11 O que fazer com o nuclear
Ninguém espera que Joe Biden e Kim Jong-un possam vir a trocar cartas e palavras românticas, como sucedeu entre Donald Trump e o líder norte-coreano. O Presidente eleito dos EUA jamais aceitará viajar meio mundo para uma mera sessão fotográfica ao lado do ditador, cujo arsenal bélico continua a crescer a olhos vistos, perante a impotência da comunidade internacional. Por esse motivo, não se espera que Washington aposte, para já, numa nova estratégia de contenção de Pyongyang. Em contrapartida, a equipa de Joe Biden pretende, quanto antes, regressar à mesa das negociações sobre o programa nuclear do Irão, após a administração Trump ter rasgado o JCPOA – o histórico acordo celebrado, em 2015, entre o regime de Teerão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (a que se associou também a União Europeia). Tal como já afirmou publicamente um dos principais conselheiros de Joe Biden – Antony Blinken – a “América está de volta” porque “o mundo não se organiza sozinho” e Washington se arroga o direito de manter a pax americana que vigora desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O problema é que a proliferação nuclear é uma ameaça real e o mundo corre o risco de entrar numa nova e desenfreada corrida aos armamentos. Daí a urgência de Joe Biden querer negociar, depressa e bem, com a Rússia o prolongamento do tratado conhecido como New START, documento que formalizou, em 2010, o fim da Guerra Fria entre os dois países e permitiu a redução significativa dos respetivos arsenais atómicos. Pormenor: o acordo expira a 5 de fevereiro, duas semanas depois da tomada de posse da nova administração norte-americana.
A transição de todas as incertezas
Trump, o mau perdedor
Com o 45º Presidente dos EUA barricado na Casa Branca e a twittar de forma torrencial que houve fraude nas eleições presidenciais, os próximos dois meses e meio prometem fazer história, se Donald Trump não aceitar uma transição pacífica como, de resto, ele próprio admitiu mais do que uma vez ao longo da campanha. O facto de ter recolhido mais de 70 milhões de votos e de ter perdido estados decisivos, como o da Pensilvânia, por margens mínimas está a fazer com que invente pretextos e conspirações para que a justiça o proclame vencedor.
Bons e maus exemplos
Em 1932, o Presidente Herbert Hoover não conseguiu ser reeleito para um segundo mandato, perdendo de forma humilhante para o candidato democrata, Franklin Delano Roosevelt, devido à forma como geriu o país durante a Grande Depressão. E, no período de transição, enredou-se em manobras dilatórias para condicionar o programa de resposta à crise dos democratas, o New Deal. Em 2000, Al Gore aceitou o veredicto do Supremo Tribunal e deu-se como derrotado por George W. Bush, mas a equipa do então vice-presidente – e demais colaboradores da administração Clinton – decidiu pregar uma partida ao futuro 43º Presidente dos EUA: removeram as teclas com a letra W de todos os computadores da Casa Branca.
Corrida do tira-teimas
A 5 de janeiro, realiza-se na Geórgia aquela que já é descrita como a “segunda volta das presidenciais”: nenhum dos candidatos às duas vagas no Senado federal, em Washington D.C., obteve 50% dos votos exigidos pela lei estadual e, por isso, dois dirigentes democratas e outros tantos republicanos vão disputar os lugares de ouro em aberto. Se os primeiros baterem os segundos, Joe Biden e o seu partido passam a controlar a câmara alta na capital norte-americana, porque a vice-presidente, Kamala Harris, de acordo com a Constituição, dispõe do voto decisivo por inerência de funções.