“É a paz para o nosso tempo”, clamava, com entusiasmo, agitando um papel na mão, o primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, ao descer do avião, no aeródromo londrino de Heston, em 30 de setembro de 1938, depois de ter obtido, em Munique, garantias da parte do Führer alemão, Adolf Hitler, de que não desejava a guerra, deixando subentendido que, no futuro, iria deixar de fazer chantagem nas relações internacionais. O mundo não tardaria a verificar que o político inglês estava iludido.
Havia sido meses antes, na primavera desse ano de 1938, que Hitler dera início à sua política expansionista, a qual, em setembro do ano seguinte, desembocaria na II Guerra Mundial, a maior hecatombe bélica de sempre. Veio a saber-se, mais tarde, que expusera os seus objetivos numa reunião secreta que tivera, no outono anterior, com os colaboradores mais chegados: tratava-se de concretizar a chamada “Grande Alemanha”, ou seja: de reunir, numa só comunidade política, os povos de língua e cultura alemãs, da Alemanha propriamente dita (o III Reich, como lhe chamava, sendo que os outros dois prévios impérios teriam sido o Sacro Império medieval e o Reich de Guilherme II, existente de 1870 a 1918), da Áustria e da região checa dos Sudetas. A Áustria e a Checoslováquia seriam, assim, as duas primeiras presas. Racista e paladino da supremacia ariana, quando se tratava de anexar territórios, Hitler agia sempre do mesmo modo: apoiando as suas reivindicações em considerandos de ordem étnica, histórica e linguística, utilizava como quintas-colunas os partidos nazis, satélites do seu, existentes nos territórios cobiçados e formulava as suas exigências num clima de violência pontuado com discursos ameaçadores.