Quase um ano depois da viagem a Marrocos (relembre todas as aventuras no Diário de Viagem “Em Marrocos Sem Trocos”), chega a vez de Myanmar. Eu, o Bernardo e o Francisco vamos partir à descoberta do país dos pagodes dourados, dos crepúsculos, das cidades perdidas, da sua cultura, história e tradições.
Encravado entre o Bangladesh, China, Laos e Tailândia e banhado pelo Golfo de Bengala e Mar de Andamão, o país abriu verdadeiramente as portas ao turismo há cerca de quatro anos. Foi a atração pela descoberta que nos levou a escolher este destino. Esperam-nos 18 dias de paisagens verdejantes, praias paradisíacas mas também percursos difíceis e muitos contrastes sociais e económicos que envolvem as povoações por onde vamos passar. O progresso conquistado tem conseguido preservar os cenários idílicos e as características culturais das regiões e o turismo em franca expansão tem ajudado a divulgar o país ao mundo.
A rota que traçámos começa em Yangon e termina na mesma cidade no sul do país e pelo caminho teremos oportunidade de visitar Mandalay, Lashio, Bagan, Ngapali, entre outros locais. As ligações serão feitas por terra, mar e ar. De mochilas às costas, levamos boa-disposição, curiosidade e vontade de ir. Estamos habituados a longas caminhadas e queremos trazer uma história para contar.
Conscientes das transformações políticas, sociais e económicas que o país sofreu no passado mais recente, não podemos esquecer a evolução desde a sua independência.
MYANMAR – ANTES E DEPOIS
Antiga Birmânia, hoje Myanmar. Foi colónia britânica até 1948. Reconquistada a independência aos ingleses, o país mergulhou a partir de 1962 numa ditadura militar que só viria a terminar ao fim de 50 anos. Durante esse período os jornais passaram a ser submetidos a censura prévia e a informação ficou cingida à instrumentalização estatal, sem margens de manobra para esclarecer e ser esclarecido. A liberdade de expressão, a isenção, o contrapoder e a independência da imprensa foram durante cinco décadas absolutamente inexistentes. Os jornalistas estrangeiros eram vigiados e a muitos era negado o direito de entrada no país.
A chancela do autoritarismo político-militar foi votando o território ao isolamento e expô-lo às mais variadas sanções internacionais durante anos a fio. Críticos, vozes dissonantes e opositores à situação foram perseguidos, muitos deles presos e outros tantos exilados. Hoje a realidade é diferente e a génese da mudança de ciclo começou com a libertação da líder da oposição e ativista Aung San Suu Kyi, em 2010.
Considerada como um dos grandes símbolos da resistência política no país e da defesa dos direitos humanos, fundou a Liga Nacional pela Democracia em 1988 e acabou por ser detida depois do partido conquistar a maioria absoluta nas legislativas de 1990. Foi distinguida com o Nobel da Paz em 91 e eleita deputada em 2012. Mas foi a queda da Junta militar que dominava o país e a chegada de Thein Sein à Presidência, em 2011, que alteraram a sorte e a sina de Myanmar. O atual Chefe de Estado parece estar decidido a proporcionar maior abertura política, ao implementar reformas estruturais para democratizar país.
Em 2013 foi anunciado o ressurgimento da imprensa escrita privada, foram emitidas 16 novas licenças para publicações diárias e as mudanças não ficaram por aqui: o Governo procedeu também à libertação de presos políticos e as legislativas de 2015 podem ser as primeiras eleições livres em mais de meio século.
Ainda assim, as mudanças são consideradas insuficientes no caminho que pode conduzir o país à democracia e ao entendimento entre povos separados por religiões e etnias diferentes (principalmente entre budistas – religião dominante – e muçulmanos, que representam uma minoria no território).