A casa que hoje ali existe começou por ser um albergue. E, em certa medida, ainda há lá qualquer coisa desse espírito inicial. Um albergue, por definição, acolhe os necessitados. Não é que a serra seja uma ameaça, mas a verdade é que, uma vez dentro da Casa das Penhas Douradas, um pequeno hotel de charme na serra Estrela situado a 1 500 metros de altitude, temos a sensação de estar protegidos.
Protegidos do vento, da chuva, do frio (ou do calor, nos meses mais quentes), sim, mas sobretudo protegidos da própria serra, cuja monumentalidade tem a capacidade de nos inquietar o corpo e o espírito.
A montanha não é agressiva, antes pelo contrário. Relativamente perto há sítios como o Vale Glaciar do rio Zêzere (lá em baixo) e a Lagoa do Vale do Rossim, ambos merecem a visita. O problema é que a montanha é mágica, grande, enorme, distante da nossa pequena escala.
Dentro da Casa das Penhas Douradas um projeto turístico de um advogado e da sua mulher, João e Isabel Tomás, que um dia resolveram ir viver para a serra da Estrela, deixando casa e trabalho em Lisboa tudo tem a medida humana: nem quartos nem zonas comuns são demasiado grandes nem demasiado pequenos. Não nos sentimentos num salão de um baile, sem conseguir ocupar o espaço disponível, embora também não nos sintamos num cubículo apertado, movimentamo-nos à-vontade. Parece redundante dizê-lo, mas não é: nas salas de estar, apetece simplesmente estar. Ler um livro, conversar, olhar a paisagem.
REINVENTAR O BUREL
O antigo albergue de montanha foi adaptado segundo um projeto do arquiteto Pedro Brígida. Linhas direitas, despojamento do traço. Foram utilizados materiais como a cortiça e a madeira de bétula. Estamos na serra e aqui a ecologia é realmente importante. Como equipamento turístico, a Casa das Penhas Douradas foi inaugurada em 2006, apenas com nove quartos. João e Isabel começaram por viver no piso superior, no espaço que hoje corresponde à suite. Entretanto, depois de em 2009 terem estado encerrados, o hotel foi reaberto em 2010, com dois edifícios novos e um total de 18 quartos.
Tanto pode visitar-se a casa no inverno como no verão. À volta, nos meses frios, é o branco da neve que impressiona. Nos meses quentes, pelo contrário, a pedra predomina da paisagem. Pelas janelas dos quartos, do restaurante, das duas salas de estar ou até da piscina do spa, perde-se de vista toda a extensão da serra. Cá dentro, do equilíbrio entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, nasce o conforto.
O bom gosto domina a escolha do mobiliário, algumas cadeiras Hans Wegner, móveis dos anos 50/60, bonitos objetos vintage relacionados com a prática do ski, adquiridos ao longo do tempo pelos donos da casa sem grandes preocupações colecionistas. A carta do restaurante tem a assinatura do chef Luís Baena.
A Casa das Penhas Douradas estabeleceu uma parceria com uma fábrica de Manteigas com o objetivo de “reinventar” o burel, uma espécie de um feltro em lã utilizado pelos pastores e muito conhecido na região. Com a colaboração de um conjunto de designers, são produzidos individuais, cestos do pão, almofadas, mochilas, malas, banquetas, entre outros.
Além disso, a marca PDFood desenvolve uma linha de pequenas coisas boas: chutneys, mel, pesto, geleias, biscoitos… Todos estes produtos estão à venda na receção do hotel e, desde o último natal, na loja da Casa das Penhas Douradas em Lisboa (no Chiado, na Rua Nova do Almada). Também podem, claro, ser provados durante as refeições servidas na casa.
A propósito, todos os dias, há bolo caseiro à hora do lanche. Os hóspedes são amavelmente convidados a servirem-se, não pagam nenhum extra por fazê-lo.
Já está dito nas entrelinhas deste texto, mas vale a pena sublinhá-lo: na Casa das Penhas Douradas, o alberguista é mesmo bem tratado.
CONTACTO
Casa das Penhas Douradas
Penhas Douradas, Apartado 9
6260-200 Manteigas
Tel: 963 384 026. 275 981 045
www.casadaspenhasdouradas.pt