…e assim foi. Em Béziers vimos o seu centro, com carrosséis e toda uma parafernália de cores e bugigangas montada para a época festiva. Em Perpignan vimos um pouco mais, mas não muito. O frio tem dominado a viagem. A chuva. A neve até. “As temperaturas vão baixar bastante” – dizem-nos alguns familiares em Portugal – e nós, com a vontade de regressar que estamos, com a pasmaceira do Sul de Espanha, que se aproximava, acrescentámos o clima e começava a construir-se um “bolo” não nos agrada nada. Se antes de sair para esta viagem, a possibilidade de atravessar o Sul do país vizinho foi uma proposta em aberto que, mais tarde, na Grécia, se voltou a falar, então à saída de França, ela ganhou um peso como nunca antes havia ganho. Quando partimos para esta volta na Europa quisemos, acima de tudo, que fosse uma viagem pelo prazer! Só assim, para nós faz todo o sentido. Sabíamos que iríamos apanhar dias em que as condições climatéricas, a nossa condição física ou qualquer outro elemento, nos iriam fazer ter menos prazer em pedalar. É normal. Nunca, nem agora, nos arrependemos por um minuto que fosse, ter começado esta viagem desta forma! É tudo muito simples: queremos, vamos! Não queremos, não vamos! E neste momento, atravessar o sul de Espanha, é uma coisa que…não queremos!
Assim sendo, depois de Perpignan, pedalámos Pirinéus acima, na sua parte mais baixa, para encontrar neve logo a 300 metros de altura. O frio nem se fala, mas lembramo-nos de ter parado a meio, já no cimo daquela pequena elevação e ter visto meia dúzia de raios de sol a tentar escapar pelo meio das nuvens expessas. Lembramo-nos de ter parado, convencidos de que seria o melhor sítio para almoçar! Estava mesmo muito frio, as mãos mal conseguiam segurar a faca que cortava o pão e riamo-nos com a situação. Vinte minutos depois, pegávamos nas bicicletas e fazíamos o resto da montanha que faltava para entrar em Espanha. Do outro lado vento, muito vento, mas nenhuma neve. Parámos logo ali, num posto duma gasolineira portuguesa para beber um café e por ali ficámos, a aquecermo-nos um pouco. Até Figueres foi um instante e se a princípio tínhamos pensado na hipótese de ficar duas noites, quando conhecemos a pessoa que nos receberia e de termos ficado com a impressão da sua prepotência, logo mudámos de ideia. Figueres, é uma pequena cidade, desconhecida para a maior parte das pessoas, até se falar no nome de Salvador Dali. Foi ali que nasceu, viveu e morreu um dos maiores pintores surrealistas de todos os tempos. Ali se encontra o Museu-Teatro Dali, onde este viveu nos últimos anos de vida e a casa museu Salvador Dali. Passamos pelo Teatro e esperavamos visitá-lo no dia seguinte, mas há presenças que nos enchem logo ao início e não aguentávamos outra noite ali.
Partimos para Tordera e esperámos o Benito, senhor com os seus 56 anos, homem de muitas viagens, um apaixonado por Marrocos, onde volta todos os anos, com uma grande casa para receber os amigos que vêm sempre que querem e onde vive com o seu irmão mais novo e a mãe, uma senhora dos seus 70’s e muitos, com uma energia descomunal e uma vida dividida entre Marrocos e Espanha! Uma estadia de uma noite que nos encheu de energia!
Barcelona! É sempre bom ver Barcelona a aproximar-se! Uma cidade que adoramos mas onde éramos, talvez, incapazes de viver. É demasiado grande, só por isso. Foi também a primeira vez nesta viagem que ficámos na casa duma pessoa que não conhecemos (e continuamos a não conhecer, pois não estava em Barcelona) mas que nos convidou para lá ficar por ser seguidora do nosso blog! Não sei como chegou até ele, mas o que é certo é que a Edite nos disponibilizou completamente a casa, para quanto tempo quiséssemos! Nós, aceitámos, pois claro e, apesar de não estar presente, fomos recebidos pela Catarina, uma companheira de casa. Em Barcelona, foram algumas as exposições que percorremos, a maioria de fotografia, mas também uma presente no CCCB, sobre a visão das mulheres da arte, hoje. Gratuita e muito interessante. Já na parte de cima do mesmo espaço, uma visão sobre Barcelona, no futuro, que para nós foi pouco cativante, mas que acreditamos que para engenheiros e/ou arquitectos, seja das exposições mais importantes que se encontrem hoje nesta cidade espanhola. Depois, Barcelona, é gente, muita gente, seja em que altura do ano for. No entanto, pensamos que visitá-la em época natalícia, não é a melhor escolha. Aliás, visitar qualquer cidade, com mais de 20 lojas, em época natalícia, não é a melhor escolha. Para nós, pelo menos. Queremos depressa que passe. Não nos agrada o consumismo, a quantidade de energia gasta em luz, as campanhas às dezenas que só aparecem nesta altura – apesar de percebermos que é nesta altura que as pessoas estão (?) mais sensíveis e, infelizmente, só nesta altura – , não nos agrada o espírito que, temos a certeza, não é o verdadeiro, não nos agrada o Natal, da maneira como o dinheiro o transformou. Já o vimos doutra forma, em nossas casas e noutros países pelos quais passámos e aí sim, o Natal é o verdadeiro Natal!
Quando saímos de Barcelona, a ideia de atravessar Espanha rapidíssimo, continuou na nossa cabeça e a força que ganha, dia para dia, é cada vez maior! Não nos admiramos nada que o comboio nos leve a algum lado nos próximos tempos…