Depois de San José de Gracia dirigimo-nos para Zacatecas, uma grande cidade encaixada entre as colinas. Foi fundada em 1546 e, desde essa altura, é conhecida como capital mundial da prata.
No primeiro dia dedicámo-nos a explorar o centro histórico desta cidade que é património da UNESCO. A Catedral Metropolitana impressionou-nos com a sua fachada extremamente elaborada, decorada com anjos, flores, frutos, colunas e vários nichos. Este edifício, de estilo churrigueresco, começou a ser construído em 1730 e só foi concluído em 1904. Ao lado encontra-se a Plaza de Armas, onde está localizado o Palácio do Governo. Zacatecas é uma cidade bonita, com ruas estreitas, bonitos edifícios coloniais, igrejas, templos (destacamos o templo de Santo Domingo) e vários museus entre os quais o Museu Pedro Coronel (importante pintor e escultor zacateca), que não pudemos visitar porque se encontrava em remodelação.
Em cada esquina da cidade encontra-se alguém a vender doces típicos; as lojas de doçaria abundam por aqui. Por curiosidade, de forma a conhecermos os afamados doces, entrámos numa loja pequena. Fomos muito bem recebidos pela senhora que lá se encontrava, dona da loja e doceira por paixão e profissão. Fez-nos experimentar meia loja. Degustámos queijo de tuna (tuna é um fruto de cacto), bombons de doce de leite com noz, cocada, chocolate artesanal, licor de ananás e licor pitaya (fruto de cacto). Encantámo-nos com os sabores do deserto de tal forma que acabámos por fazer algumas compras muito apetitosas.
A cidade está rodeada por antigas minas. A mais famosa, El Éden, está localizada no Cerro del Grillo. Daqui parte um teleférico para uma colina chamada Cerro de la Bufa, palco de várias batalhas, que também tem um museu dedicado a Pancho Villa e à sua vitória de 1914.
Subimos a pé o Cerro de la Bufa. Quando nos encontrávamos no topo, a apreciar uma vista fantástica de 360º da cidade, resolvemos tentar fazer uma foto panorâmica que ficou bastante boa! Mas foi a última fotografia tirada por aquela máquina…Caiu-nos das mãos e nunca mais quis funcionar!
Tentámos saber se seria possível reparar o equipamento junto de um agente da marca, mas a reparação demoraria cerca de mês. Resolvemos comprar uma nova máquina fotográfica, melhor que a anterior. Ficámos felizes com a nossa nova compra!
No dia seguinte, uma vez que estávamos na capital mundial da prata, fomos até aos arredores de Zacatecas, porque queríamos visitar o lugar onde estão os artesãos nos seus ateliers, a criar as afamadas jóias zacatecas. Um lugar tranquilo, onde inexplicavelmente não chegam turistas. Os artesãos, simpáticos e disponíveis, responderam sempre com prontidão às nossas questões e à nossa curiosidade. Entendemos o processo de criação e as técnicas por eles utilizadas. Estando num lugar como aquele, é quase impossível não ceder à tentação de comprar algo. Assim, acabámos por comprar dois pares de brincos com pedras semi-preciosas mexicanas. Podemos avançar que esta compra não foi uma extravagância, pois ficou-nos por pouco mais de cinco euros! Aqui as peças são mais originais que aquelas que se encontram no centro da cidade e incrivelmente mais baratas.
De Zacatecas iniciámos o nosso caminho rumo ao deserto. Partimos para San Tibúrcio, de onde tencionávamos posteriormente partir para chegar à peculiar cidade de Real de Catorce.
Apanhámos um autocarro e, ao fim de três horas, o condutor parou subitamente no meio da estrada e informou-nos que estávamos em San Tibúrcio. Saímos do autocarro e não avistámos mais que um pequeno “restaurante” de beira de estrada e uma capelinha. Perguntámos à senhora do restaurante onde se encontrava a cidade, visto que não avistávamos nada, e perguntámos se eventualmente teria algum lugar para dormir.
Prontamente nos respondeu que havia um pequeno hotel, mas que se encontrava completamente ocupado. Resolvemos, ainda assim, caminhar até à cidade para averiguar a hipótese de pernoitar por ali. Caso não houvesse nenhum quarto para dormir, a opção seria dormir na capela que se encontrava na beira da estrada, sem porta, e suportar o frio nocturno daquela região semi-desértica não estava nos nossos planos.
Partimos de mochilas às costas em busca do centro de San Tibúrcio. Durante o caminho os habitantes da cidade olhavam para nós como se fossemos alienígenas. Quando chegámos ao centro perguntámos na mercearia (tal como nos indicou a senhora do restaurante) se haveria algum quarto disponível. Aí estava o dono do hotel, que antes de responder à nossa pergunta, interpelo-nos com o objectivo de saber a nossa nacionalidade e ocupação. O facto de um de nós ser biólogo fez-lhe brilhar os olhos. Perguntou imediatamente se acreditávamos na teoria da evolução e se concordávamos com Charles Darwin. Quando respondemos afirmativamente, disse-nos que era testemunha de Jeová e que acreditava na teoria criacionista. Uma simpática discussão, sobre um tema inesperado. Espantou-nos, verdadeiramente, o vasto conhecimento que aquele senhor tinha sobre as várias teorias evolutivas.
Havia quartos, muitos! Não era um hotel, mas sim uma extensão da casa dele. Deixámos as mochilas e fomos procurar algo para jantar. Estava tudo fechado. Fomos até à entrada da cidade em busca de uns hambúrgueres que nunca chegaram a aparecer. Resolvemos então ir até à mercearia do nosso amigo criacionista. Comprámos pão, maionese, queijo, fiambre e iogurtes. Acabámos por fazer um agradável piquenique no nosso quarto.
No dia seguinte fomos até à entrada da cidade, onde apanhámos um autocarro. Atravessámos a fronteira entre o estado de Zacatecas e San Luís Potosi, demarcada por uma pequena casinha e controlada por um velhote. Aqui não encontrámos o excesso de policiamento de outros lugares, estávamos no deserto. A comprovar, os remoinhos de pó na planície e os arbustos secos a voar.
O autocarro deixou-nos num cruzamento a cerca de 27km de uma cidade muito ansiada por nós: Real de Catorce.