Esta semana, passamo-la por inteiro na Alemanha, assim como, com toda a certeza, a próxima! Neste viagem – e para quem não a acompanhou desde o início – tentamos usar ao máximo o sistema de couchsurfing e hospitalityclub, que tem funcionado, salvo uma ou outra excepção, na perfeição! Passamos, nestes 3 meses e pouco, por mais de 50 casas diferentes e esta escolha prende-se não só pela questão orçamental, mas também pela quantidade de pessoas que conhecemos, o que nos possibilita ter uma visão muito mais real acerca de um país, discuti-lo, conhecê-lo melhor, saber dos seus locais escondidos, aqueles a que quase nenhum turista tem acesso, aqueles a que realmente queremos aceder, viver, sentir! Não é todos os dias que se entra num bar em Burgos e que sorrindo dizemos “é mesmo disto que vimos à procura!”, onde pessoas de todas as idades convivem, cantam, tocam instrumentos e nós, no meio de todos, desenrascamos o castelhano; não é todos os dias que se sobe clandestinamente à torre da antiga fábrica de cerveja Stella Artois, à noite, para se apreciar a cidade de Leuven; não é todos os dias que se fura um pneu e que se pede ajuda numa quinta perdida entre Hannover e Goslar e, 5 minutos passados, em vez de se estar a arranjar o pneu, estamos a tomar café com meia dúzia de pessoas que não conhecemos de nenhum lado e que não compreendemos, rodeados de cabras, cavalos, galinhas, patos, um cão e um gato! É a primeira viagem que fazemos de bicicleta e sentimos cada vez mais que as pessoas ao ver-nos chegar assim, tornam-se muito mais receptivas, querem ajudar, questionam, contam histórias e, tem acontecido demasiado na Alemanha, falam connosco mesmo percebendo que não entendemos nada do que nos dizem! Aconteceu há uma semana num dia de calor inacreditável, sentar-se um senhor dos seus 75 anos ao nosso lado, que conseguiu manter um diálogo connosco de pelo menos 10 minutos, mesmo não falando uma palavra de inglês e nós, uma palavra de alemão! Era disto que vínhamos em busca!
Na Alemanha, a ideia era de pedalar até Berlim. No entanto, como vínhamos da Holanda, todo o trajecto teria de ser feito até lá e pelo meio teríamos de procurar locais que de alguma forma fossem também interessantes de visitar. Depois de muito questionarmos as pessoas pelas quais íamos “passando”, demos por nós a visitar o site da UNESCO e procurar locais aos quais tivesse sido atribuída a distinção de Património Mundial da Humanidade. Ao olharmos para o mapa do país, e se tomarmos como ponto de partida a cidade de Hannover e de chegada a de Berlim, reparamos que existem 10 locais que foram considerados de máximo interesse histórico pela UNESCO. Se fizermos ainda outro exercício e com um lápis ligarmos todos os pontos desse mapa, podemos reparar que a linha que fazemos se assemelha a um sorriso! Por esta razão, o nome que demos a esta pequena viagem dentro da Alemanha foi: Smile Tour! Passamos a cidade de Hildesheim quase a correr. O clima nestes dias não tem ajudado, a chuva tem sido uma constante, o vento tem-nos apanhado sempre pela frente e, mal habituados que vínhamos da Holanda, já não nos lembrávamos como era subir uma montanha! Na pequena cidade, fizemos apenas uma paragem para comer qualquer coisa entre o pequeno-almoço e almoço! Estava um frio de morrer e esta foi, infelizmente, a única coisa que sentimos nesta cidade. De lá, seguimos para Goslar e se há cidades que nos ficam na memória – Burgos, Bordéus, Lille, Bruges, Gent, Antuérpia – esta é mais uma delas! Costumamos chamar-lhes cidades postal, face à beleza que têm, mas também ao facto de estarem extremamente bem cuidadas, limpas e serem autênticos museus ao ar livre! Goslar foi, em tempos, extremamente rica. Depois de descobertas as minas de prata, que foram consideradas os maiores depósitos na altura, os Reis da Saxónia decidiram mudar-se para Goslar. Olhando para as diversas fachadas das casas que serpenteiam as ruas da pequena cidade, podem ver-se esculpidas na madeira, inscrições douradas em latim, além de outras autênticas obras-primas, que nos deixa imaginar o que terá sido esta cidade no seu auge. A mina de Rammelsberg, a fonte de toda esta riqueza e onde, além de prata, foram posteriormente extraídos outros minérios, operou durante 1000 anos seguidos, tendo sido encerrada em 1988 e posteriormente transformada em museu. Percorrer as ruas da cidade é fazer uma viagem na história, vendo casas datadas de 1500. Não é um local visitado por muitos jovens. O turismo, na sua maioria, é feito por pessoas com mais idade, pois este não é um sítio onde se encontram os normais entretenimentos que se podem encontrar em cidades próximas, como por exemplo, Hannover. No entanto, foi dos locais onde mais nos divertimos, mais uma vez, devido às pessoas que nos acolheram e que fizeram com que a nossa estadia se tornasse inesquecível!
De Goslar seguimos para Quedlinburg, onde nos encontramos neste momento. O mau tempo veio para ficar. Estamos quase a meio de Julho e questionamos constantemente se será este o clima normal nesta zona…dizem-nos que não. Uma esperança renasce…mas só isso. Quedlinburg fica situada na antiga Alemanha de Leste e só por esta razão, já nos fica a ideia que é muito mais pobre. A ideia comprova-se. É uma cidade também classificada pela UNESCO, no entanto não tão vistosa como a anterior. Uma volta pela cidade, mostra-nos que existem mais de 1300 casas construídas com a técnica timber-framed, uma técnica que utiliza o sistema de encaixe entre barrotes de madeira que, visto de fora, se parece com uma casa dividida em pequenos moldes. Mas Quedlinburg não é só razão de visita pela zona da antiga cidade medieval, mas também por conter ainda alguns exemplos do que foi a Alemanha de Leste, com as suas casas pintadas com cores que variavam entre o castanho e o cinzento-escuro, pelas telhas escuras e, marca inabalável da Alemanha Comunista, os tão famosos automóveis Trabant, que ainda se podem ver passar, embora muito raramente! De Quedlinburg seguiremos para Dessau, onde visitaremos a Bauhaus e começaremos a subir rumo ao norte, até Berlim! Aí, terminaremos a Smile Tour e estaremos próximos da Polónia, país que se segue! Na bagagem, estão já 4000km pedalados! Ainda faltam 6 meses!