A ingovernação, palavra e circunstância pouco comum, é a incapacidade de governar. Quando se transforma em total ingovernabilidade não há como fingir. E pode acabar mal. Não estamos lá, ainda, mas já se vê ao longe. Do outro lado do espelho.

Ninguém subestima a capacidade das democracias para encontrar soluções, nem os mecanismos institucionais para ultrapassar a fragmentação do poder, mas mesmo assim, o Governo está metido num sarilho: tudo o que faça, ou pretenda fazer, perde-se nas maiorias absolutas da AR, que se erguem à medida das vontades e interesses partidários. Indistintamente e sem ideologias.

O PM não aceita essa nulidade governativa, nem poderia, mas quem está preocupado, inquieto e a pressentir mau desfecho é o Presidente da República. Não há linhas vermelhas partidárias na AR, e a justificação faz todo o sentido: cada um está a cumprir o que prometeu, sem querer saber da arte de governar.

Assim sendo, não precisamos de um Governo. É uma peça a mais. Que sobra. Constitucionalmente descartável. E dispensável. Portugal não pode ter dois Governos: um empossado, e o outro embuçado.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O universo das coincidências faz-nos pensar. Este ano, calham no mesmo dia o tradicional Dia da Mãe e o mais recente Dia Mundial da Língua Portuguesa.
De formas muito diferentes, seja Pessoa, seja Wittgenstein, já muito foi dito para que seja quase da cultura popular que a língua é o principal leite materno que bebemos, a principal fonte de organização mental. É com a língua que aprendemos a pensar. A língua é a nossa mãe, uma mãe que nunca conseguiremos afastar da nossa essência.
Curiosa esta junção que o calendário nos coloca à frente: Mãe e Língua, de forma muito justa muitas vezes designada como “língua-mãe”
Seja a biológica, seja a linguística, a maternidade marca-nos de forma ímpar, como mais nada o pode fazer. É com esse leite, que bebemos sem o saber, porque nos é colocado à frente para suprir as nossas necessidades de sobrevivência, que nos formamos. Dá-nos o cálcio, dá-nos a relação com o outro, que da infância mais tenra nos marcará a nível dos afetos para o resto da vida, dá-nos o mar em que pensamos e agimos, como nos expressamos e como somos.
Neste dia, recordamos esse complexo, entre o biológico e o que está para lá do físico, que nos completa.

Olá, bom-dia 
Passou Abril, entrámos agora no Maio, Maduro Maio (link com sugestão de banda sonora, pois), mas o ambiente continua a ser de festa e de celebração da liberdade. Aproveitando o facto de o Presidente da República ter estado, na última semana, em Cabo Verde, para participar nas comemorações da libertação dos presos políticos do Tarrafal, recordamos, nesta Arquivo VISÃO – a newsletter que tem como objetivo lembrar os melhores artigos publicados na VISÃO desde 1993 –, um texto sobre o campo de concentração criado, em 1936, pelo regime de Salazar. 
Antes de nos dedicarmos ao fio da memória, apenas uma nota para destacar as palavras proferidas por Marcelo Rebelo de Sousa, na última quarta-feira, 1 de maio, no museu do Tarrafal. “Onde houve a morte, queremos a vida. Onde houve a repressão e a tortura, nós queremos o respeito pela liberdade, a construção de uma democracia, a tolerância e a busca da paz e da concórdia”, disse o Presidente da República, num discurso que, no meu modesto entender, passou mais despercebido do que devia. E prosseguiu: “A democracia e a liberdade constroem-se todos os dias, todos os meses, todos os anos. É esse o nosso compromisso, lutarmos em conjunto por esse futuro que queremos, para que não mais se regresse ao passado que rejeitamos.” Classificada como património nacional desde 2004, prepara-se agora a candidatura da antiga prisão a Património Mundial. Portugal, Angola e Guiné-Bissau são parceiros de Cabo Verde na iniciativa que, em breve, seguirá para a UNESCO.

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A escassez de produção de azeite, desde logo na vizinha Espanha, maior produtor mundial, tem provocado um aumento do preço em toda a União Europeia, com Portugal a sofrer um impacto bastante forte. Não haverá, por isso, alguém habituado a ir às compras a surpreender-se com o facto de o azeite virgem extra ser o produto que viu o seu preço disparar mais ao longo do último ano. Na primeira semana de maio de 2023, o custo de uma garrafa de 75 cl fixava-se nos €6,67 e agora é preciso pagar €11,21 – uma subida de €4,54 (ou 68%).

Os dados são da Deco Proteste, que desde 2022 monitoriza, com periodicidade semanal, os preços de um cabaz alimentar que inclui 63 produtos essenciais, recolhidos nos principais supermercados com loja online. Numa comparação com o período homólogo do ano passado, constata-se que, a seguir ao azeite, os alimentos cujo preço mais subiu são o atum posta em azeite (34%), a pescada fresca (28%), a couve-flor (27%), a laranja (25%), a maçã gala (22%), os brócolos (16%), a dourada (16%), o esparguete (15%) e a curgete (15%).

Em relação ao custo total do cabaz, verifica-se um aumento de €12,57 (5,65%) para €235,19, entre maio de 2023 e maio de 2024, inferior ao de €16,63 (8,07%) registados no ano anterior, traduzindo uma descida da inflação.

A Deco justifica a inflação dos últimos anos com “a invasão da Rússia à Ucrânia, de onde era proveniente grande parte dos cereais consumidos na União Europeia (e em Portugal)”, o que “veio pressionar o setor agroalimentar”, já antes “a braços com as consequências da pandemia e da seca”. Tudo somado, “a limitação da oferta de matérias-primas e o aumento dos custos de produção, nomeadamente dos fertilizantes e da energia, necessários à produção agroalimentar” acabou por refletir-se “num incremento dos preços nos mercados internacionais e, consequentemente, nos preços ao consumidor de produtos como a carne, os hortofrutícolas, os cereais de pequeno-almoço ou o óleo vegetal, em 2022”.

A decisão foi anunciada na rede X, anteriormente conhecida como Twitter, mas os detalhes sobre quando a medida entraria em vigor ou se seria permanente não foram imediatamente avançados, de acordo com a agência norte-americana de notícias AP.

O voto surge no contexto do conflito entre Israel e o canal, que piorou durante a guerra com o Hamas, e surge também numa altura em que o Qatar está a tentar ajudar a mediar um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na guerra em Gaza.

A Al Jazeera é dos poucos meios de comunicação internacionais que continua em Gaza durante a guerra, transmitindo cenas sangrentas de ataques aéreos e hospitais sobrelotados, acusando Israel de cometer massacres, ao passo que Israel acusa a estação de televisão de colaborar com o Hamas.

A Al Jazeera, fundada pelo governo do Qatar, não comentou imediatamente a decisão, escreve a AP, notando que na versão árabe, a notícia do encerramento da redação já foi difundida, enquanto a versão inglesa continua a transmitir de Jerusalém, minutos após o anúncio de Netanyahu.

com Lusa

Nunca ouviu dizer que o mundo está todo interligado, e que temos sempre um amigo que é amigo de um amigo de outro amigo? A teoria dos seis graus de separação aborda isso mesmo: é a ideia de que qualquer pessoa no mundo pode estar ligada a uma outra através de uma cadeia de conhecidos com, no máximo, seis ligações intermediárias. De forma mais simples, de acordo com esta teoria, qualquer indivíduo está apenas a seis pessoas de distância de um outro indivíduo.

A teoria existe desde a década de 1920 – foi enunciada na obra Chains, do húngaro Frigyes Karinthy -, mas foi formalizada na década de 60 pelo psicólogo Stanley Milgram, que liderou uma experiência denominada “experiência dos seis graus de separação” ou “pequeno mundo” ( The Small World Problem, originalmente).

Nesta investigação, o especialista pediu a 296 voluntários dos EUA para escreverem e enviarem postais a uma pessoa específica em Massachusetts, apenas através de conhecidos. O resultado mostrou que, em média, eram necessárias apenas cerca de seis ligações para que a carta chegasse ao destinatário pretendido.

Mais tarde, esta teoria foi revista por investigadores, num estudo realizado pela rede social Facebook. Através de algoritmos preparados por uma equipa da Universidade de Milão e baseando-se nas interligações entre mais de 700 milhões de utilizadores do Facebook, foi concluído, depois de uma experiência de um mês, que os seis graus desceram para 4,74.

“Estamos todos perto, de certa forma, de pessoas que não gostam de nós, que não simpatizam connosco e que não têm nada em comum connosco”, disse, em 2011, em entrevista ao The New York Times, Jon Kleinberg, professor de ciências da computação na Universidade de Cornell, acrescentando que “são os laços fracos que tornam o mundo pequeno.”

Inspirado nesta teoria, que pretende demonstrar que o mundo é ainda mais interligado do que pensamos e que, mesmo com grandes distâncias sociais ou geográficas, há sempre um pequeno número de conexões que nos pode ligar a qualquer outra pessoa, existe, desde os anos 90, o icónico jogo Six Degrees of Kevin Bacon, que tem como objetivo conectar qualquer ator de Hollywood a Kevin Bacon em seis passos ou menos, através de filmes em que atuaram juntos.

O jogo surgiu como uma brincadeira entre estudantes de cinema na Universidade Albright, na Pensilvânia, EUA, depois de terem observado que Kevin Bacon tinha aparecido numa grande quantidade de filmes com vários colegas, e ficou conhecido após o lançamento de um artigo na revista francesa Premiere, em 1994, que mencionou a capacidade de conectar qualquer ator ao ator norte-americano Kevin Bacon em seis passos ou menos.

O jogo ganhou tanta popularidade que foi criado, inclusive, um site oficial, o The Oracle of Bacon, onde os jogadores podem inserir o nome de qualquer ator para descobrirem qual é a sua ligação a Kevin Bacon, em seis graus ou menos.

O próprio Kevin Bacon “abraçou” este conceito, criando inclusive a organização sem fins lucrativos SixDegrees.org.

O Rei Carlos III regressou às funções públicas na terça-feira passada após um afastamento de três meses devido ao diagnóstico de cancro do monarca, que celebra amanhã, segunda-feira, um ano desde a coroação. Foi o primeiro compromisso público formal do rei desde 06 de fevereiro, quando o Palácio de Buckingham anunciou que iria fazer uma pausa para se concentrar no tratamento de um tipo de cancro não especificado.

Simbolicamente, a visita foi ao University College Hospital Macmillan Cancer Centre, em Londres, onde Carlos e a Rainha Camila se encontraram com doentes e funcionários do centro de tratamento ao cancro. O monarca partilhou com um doente o impacto do diagnóstico: “É sempre um pouco chocante quando nos dizem”.

O Rei deverá voltar a estar presente em mais eventos públicos antes de uma visita de Estado do Imperador Naruhito do Japão e a mulher, a Imperatriz Masako, em junho. Mas não é claro em quantos dos eventos reais tradicionais do verão, como o desfile militar em junho para marcar o aniversário do rei e as corridas de cavalos em Royal Ascot, irá participar enquanto o tratamento médico continua.

O Palácio de Buckingham disse na semana passada que os médicos estavam “muito encorajados” pelo progresso do Rei, mas que a agenda seria ajustada conforme necessário para proteger a recuperação. Durante a ausência, Carlos III suspendeu as atividades públicas, mas prosseguiu as funções constitucionais de monarca constitucional, que incluem a assinatura de leis, reuniões regulares com o Primeiro-Ministro e a aprovação de determinadas nomeações.

Nove meses após a coroação, em maio de 2023, o anúncio da doença constituiu, em si mesmo, uma pequena revolução, rompendo o secretismo que rodeou a saúde dos membros da família real até então. Além de constituir uma oportunidade para se aproximar dos súbditos ao assumir a sua vulnerabilidade enquanto mortal, a decisão de partilhar as notícias aumentou a sensibilização para os benefícios do diagnóstico precoce e do tratamento do cancro e de outros problemas de saúde.

O Serviço Nacional de Saúde de Inglaterra revelou que o número de pessoas que procuraram aconselhamento sobre problemas de próstata aumentou 11 vezes nas semanas que se seguiram ao anúncio de Carlos de que estava a ser tratado. O Rei, que sempre foi muito ativo, estava aparentemente impaciente por retomar as suas atividades públicas. Mas o cancro, do qual não está curado, vai continuar a ensombrar um reinado pelo qual Carlos III, de 75 anos, esperou a vida inteira.

O ano de 2024 tem sido particularmente difícil para a monarquia britânica. Para além do Rei, também a Princesa de Gales, Catherine, sofre de cancro, detetado após uma cirurgia abdominal em janeiro. A princesa de 42 anos, considerada a “estrela” da família real, só confirmou sofrer da doença a 22 de março, após semanas de especulação.

Foto: Mark Case/Getty Images

Num vídeo emotivo, Kate confiou que estava a ser submetida a quimioterapia preventiva, mas não especificou a natureza do seu cancro e, desde então, o Palácio de Kensington, que gere as suas comunicações e as do marido, o príncipe William, herdeiro do trono, não deu mais notícias.

Sarah Ferguson, 64 anos, ex-mulher do príncipe André, irmão do Rei, já tinha revelado a 21 de janeiro que sofria de melanoma maligno, um cancro de pele.

Antes dos problemas de saúde na família real, os primeiros meses do reinado de Carlos III já tinham sido perturbados por outros dramas familiares. No ano passado, o filho Harry, que deixou a família real para se instalar na Califórnia com a mulher Meghan, escreveu uma autobiografia muito crítica, “O Suplente”, criando tensões.

O irmão mais novo do Rei, o Príncipe André, continua impedido de desempenhar qualquer papel oficial e já não pode usar o seu título de Alteza Real devido à acusação por uma mulher de agressão sexual quando ela tinha 17 anos. O caso terminou num acordo financeiro, que evitou um julgamento embaraçoso, mas deixou André manchado e a família real exposta.

Coroado a 06 de maio de 2023, Carlos III tem-se esforçado por dar uma imagem mais moderna a uma monarquia que ele quer mais adaptada aos tempos, um desafio para um rei muito dinâmico mas idoso, menos popular do que a sua mãe, a quem falta o brilho e a dimensão histórica. Algumas das suas primeiras visitas foram marcadas por manifestações antimonárquicas, inimagináveis no tempo de Isabel II.

Conhecido pelas paixões pelo ambiente, desenvolvimento sustentável, medicina alternativa, vida rural e religião, durante anos as crises da sua vida privada ofuscaram as ações deste homem rico, de voz baixa, sempre impecavelmente vestido. O divórcio com a Princesa Diana em 1996 foi notícia em todo o mundo, amplificado pela morte da ex-mulher num acidente de viação em Paris, um ano depois.

Teve de esperar quase uma década até casar com o amor da sua vida, Camila, em 2005, numa cerimónia civil na Câmara Municipal de Windsor, sem a presença da mãe. Ironicamente, a Rainha, de 76 anos, que também foi coroada em 06 de maio, tornou-se nos últimos meses um baluarte da monarquia.

Os sucessivos problemas de saúde reduziram para quase metade o número de membros ativos da família real, e Camila passou a estar na linha da frente, com numerosos compromissos todas as semanas. A abdicação surpresa da rainha Margarida II da Dinamarca no início deste ano gerou alguma especulação sobre se tal seria possível no Reino Unido tendo em conta a idade de Carlos III, e, agora, o estado de saúde. Outros monarcas europeus abdicaram na última década: o Rei Juan Carlos de Espanha em 2014, a Rainha Beatriz dos Países Baixos e o Rei Alberto II da Bélgica, ambos em 2013. Mas a atual situação da nora torna improvável que decida passar já o testemunho ao filho William.

Com Lusa