Visão
Na sua primeira declaração pública desde a confirmação da vitória de Donald Trump nas eleições de terça-feira, a candidata derrotada agradeceu a confiança que os democratas nela depositaram e apostou numa mensagem de esperança. “O resultado não foi o que eu queria”, admitiu, ao mesmo tempo que assegurava que “a luz da América vai continuar presente”.
Dizendo-se “orgulhosa” da campanha e da forma como a fizeram, Kamala fez questão de dizer aos milhares de democratas na Universidade Howard, em Washington, que o caminho é “aceitar os resultados destas eleições”.
“Quando perdemos uma eleição, aceitamos os resultados. Este é o princípio que distingue a democracia da monarquia ou da tirania”, insistiu, sublinhando que aceitar a derrota não é desistir da luta que alimentou a sua campanha: pela liberdade, pela igualdade de oportunidades, pela justiça e pela dignidade de todos, ideias que, considera, “refletem a América no seu melhor”.
“É normal estarmos tristes e desapontados. E eu sei que disse, durante a campanha, que quando lutamos, ganhamos. Mas às vezes a luta demora tempo. E não significa que não ganhemos”, defendeu, antes de deixar a multidão a reagir entusiasticamente com uma ovação à tirada: “Não é altura de baixarmos os braços, mas de arregaçarmos as mangas.”
A declaração, que estava agendada para as 21h00 desta quarta-feira mas começou com quase meia hora de atraso e foi marcada para Universidade Howard, em Washington, no mesmo local onde os seus seguidores se reuniram na noite de terça-feira na esperança de celebrar uma vitória, acabando por ser mandados para casa por um dos coordenadores da campanha. A instituição foi escolhida por ser uma instituição histórica da comunidade afro-americana nos Estados Unidos, onde se licenciou em Ciência Política em 1986.
Antes, a candidata democrata telefonou ao seu adversário republicano para o felicitar pela vitória nas eleições de terça-feira e falar de uma transferência pacífica de poder.
O procurador-geral adjunto Rui Cardoso vai ser o próximo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) – o departamento do Ministério Público onde são investigados os casos mais complexos –, em substituição de Francisco Narciso.
Francisco Narciso, que só terminava o mandato de três anos em setembro de 2025, pediu a demissão ao novo Procurador-geral da República, Amadeu Guerra, que já a aceitou. De acordo com o Correio da Manhã, o agora ex-diretor do DCIAP enviou um email, na tarde desta quarta-feira, a despedir-se de todos elementos do DCIAP, informando que “logo após a tomada de posse” de Amadeu Guerra, em outubro, comunicou ao novo PGR que o seu lugar “ficava à disposição, uma vez que, tendo sido escolhido e indicado pela anterior Procuradora-geral [Lucília Gago] e dadas as características das funções, considerava que a mudança era natural”.
O novo diretor do DCIAP será Rui Cardoso, 53 anos, depois de ter sido aprovado por unanimidade pelo Conselho Superior do Ministério Público. Durante três anos, foi presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público e é presença assídua na comunicação social, como comentador. Já foi professor no Centro de Estudos Judiciários (CEJ) e, durante o último ano, esteve em Timor a dar formação a magistrados locais.
A Motorola anunciou uma colaboração com a Corning Incorporated, combinando a inovação dos smartphones com a experiência da Corning em tecnologia de vidros. As duas empresas realizaram uma expedição ao Polo Norte para testar a durabilidade e o desempenho de dois dos modelos mais recentes da Motorola: o motorola razr 50 ultra e o motorola edge 50 ultra.
Ruben Castano, vice-presidente de design e experiência do consumidor da Motorola, destacou que esta colaboração com a Corning reflete o compromisso das duas empresas em criar dispositivos não só resistentes, mas também funcionais e elegantes. “Esta parceria é uma prova do que podemos alcançar em termos de desempenho, mesmo em ambientes extremos”, explicou Castano.

Durante o período em que estiveram no Ártico, os smartphones foram submetidos a condições exigentes, incluindo temperaturas extremamente baixas, ventos fortes e terrenos gelados. A expedição foi acompanhada por Po Ki Yuen, ex-engenheiro da Corning e entusiasta da fotografia de aventura. Po Ki testou a resistência dos dispositivos, que estavam equipados com o resistente Gorilla Glass da Corning, desenvolvido para proteger os aparelhos contra quedas e arranhões.
“Quero capturar a beleza de qualquer lugar, mesmo nas condições mais difíceis”, afirmou Po Ki, em comunicado de imprensa.
Dave Velasquez, Vice-Presidente da Corning, sublinhou que a missão no Pólo Norte é um exemplo de como o Gorilla Glass pode resistir tanto ao uso diário como a aventuras extremas. “Quer esteja a sair para o trabalho ou a embarcar numa jornada única, como o Po Ki, o Gorilla Glass está pronto para o desafio”, afirmou Velasquez.
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Não há nada mais compreensível do que a indignação dos que sofrem. Só um coração empedernido não se comove com as imagens de Valência, perante a dor dos que perderam os seus entes queridos, dos que não têm sequer um corpo para velar e que, por isso, são obrigados a fechar um ciclo ‒ a fazer o luto ‒ sobre o vazio. Por ora, são duas centenas de vítimas mortais, poderão vir a ser muitas mais, escondidas em garagens e parques de estacionamento, num cenário demasiado cruel para o que a nossa compreensão consegue aceitar.
Nas localidades de Chiva e de Paiporta, o ground zero das cheias provocadas pela DANA (acrónimo em espanhol do fenómeno Depressão Isolada em Níveis Altos), que na semana passada assolou a costa leste de Espanha, entende-se o choque, a raiva e a revolta. Estão vivos, ao contrário de muitos dos seus familiares, amigos e vizinhos. Mas tudo ruiu à sua volta. Como enterrar os mortos e cuidar dos vivos, quando só resta o caos e a devastação? Uma das pessoas que, no domingo, 3, se dirigiu a Felipe e a Letizia argumentava que, se a grande Espanha sabia “fazer a festa”, também tinha de estar preparada para lidar com a grande catástrofe. Perante o desespero, como contrapor com a razão?
Em Valência, reconhece-se bem um célebre verso da grande epopeia de Camões: “Mais do que prometia a força humana.” Entre o êxodo de cidadãos solidários, armados com vassouras e baldes, e os inúmeros saques que logo se seguiram, já se sabe que é nos momentos decisivos que se revela o melhor e o pior do ser humano. Epidemia é a tragédia que se segue? Os especialistas consideram pouco provável. Mas, perante tanta dor, como não entender a indignação? Não são apenas as pessoas, as casas e os bens que ficaram destruídos. No meio de tanta lama, desapareceu também a esperança, qualquer réstia de esperança, de que o Estado e as instituições os pudessem acudir na hora da aflição. Abandonados, sem água, sem luz, sem comunicações, como prosseguir com a vida? Por onde recomeçar?
O mar Mediterrâneo está a tornar-se uma ameaça, e não apenas para os povos subsarianos que anseiam atravessá-lo em busca de uma vida melhor. As chuvas de Valência (e nos dias seguintes de Barcelona também) não só foram impiedosas como foram persistentes. O sentimento é o de uma enorme impotência, incluindo para as autoridades, não há como estar preparado para este tipo de catástrofes, tal a força com que a “Natureza-Golias” se impõe, quais pactos, quais metas, quais quê. Chegámos tarde à contenção de danos e, agora, só nos resta mitigar os efeitos das alterações climáticas. Elementos da Proteção Civil têm explicado que também é preciso ensinar as populações a protegerem-se das inundações como, entre nós, se ensinam as crianças a protegerem-se em caso de incêndio ou de terramoto.
Um português olha para as imagens terríveis de Valência ‒ carros amontoados, submersos num mar de lama, abalroados pela força das águas, capotados uns por cima dos outros ‒ e não consegue deixar de recordar as imagens igualmente terríveis dos carros queimados de Pedrógão Grande: os automóveis, outra vez os automóveis, esse bem essencial para a classe dos remediados; os automóveis a transmitirem uma falsa sensação de segurança e a servirem de suposta tábua de salvação no momento da fuga e do desespero. E, tal como nos incêndios de Pedrógão, também a triste sensação de que, enquanto comunidade, falhámos às populações afetadas. A Agência Estatal de Meteorologia espanhola, a AEMET, decretou o risco máximo para toda a província de Valência logo na manhã de terça-feira, 29 de outubro, mas, quando, ao princípio da noite, o governo regional enviou os SMS, já muito estava inundado. Seis dias depois, houve finalmente 7500 militares nas zonas atingidas.
Na corajosa visita que fez a Paiporta no fim de semana, o rei soube manter-se calmo e determinado. O impensável aconteceu quando alguém o mandou calar aos gritos: “Pare de falar e pegue na porra de uma pá!” Disseminaram-se críticas à democracia. “Que país é este?”, escutou o monarca. Entre lágrimas, um grupo de rapazes pediu-lhe até que assumisse o governo de Espanha. Felipe VI respondeu com firmeza e alertou para os perigos da desinformação, num diálogo que em boa hora foi captado pelas câmaras da Antena 3: “Não prestem atenção a tudo o que se publica, porque há muita intoxicação. Há pessoas interessadas em que a raiva cresça, que haja caos. Há muitas pessoas interessadas nisso.”
A tragédia aconteceu num país dividido, há muito que o sabemos. O grave não é gritar com o rei nem ter a veleidade de lhe dar ordens. O que não tem perdão é haver quem, num momento particularmente difícil, se aproveite do sofrimento dos outros. Para lama, já chega a que ainda se impregna nos bairros construídos no leito dos rios de Valência.
Breviário
Endossos e jornalismo
No artigo em que fundamentou o seu bloqueio à tradição do Washington Post de apoio a um dos candidatos à Casa Branca, Jeff Bezos defende que o endorsement é um dos motivos por detrás da perda de confiança nos media tradicionais, verificada em alguns inquéritos e sondagens recentes. O que o fundador da Amazon (e dono do Post, desde 2013) prefere ignorar é que o endorsement não só não é realizado pelas redações (mas sim pelos editorial boards) como nada tem que ver com isenção, independência e rigor jornalístico. Há jornalismo engajado e pouco credível? Pois claro que há. Assim como há argumentos que não colhem: onde está a correlação entre o endosso presidencial e o mau jornalismo?
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Numa das mais emblemáticas cenas da série House of Cards, a personagem de Kevin Spacey, Frank Underwood discute com a mulher como pode ganhar as eleições, estando em grande desvantagem na corrida. E é Claire (Robin Wright) quem lhe dá a solução, infalível e implacável: “Se vamos fazer isto, vamos fazê-lo para nosso proveito.” “Criando o caos?”, pergunta Frank. “Mais do que caos. Medo”, responde Claire.
Na altura em que o leitor estiver a ler estas linhas, já saberemos se a estratégia é vencedora na vida real (na série foi tiro e queda). Porque o delírio desta última semana de eleições na América teve os dois ingredientes – caos e medo – servidos em doses magnânimas.
A ciência do medo diz-nos que, perante uma situação que consideramos ameaçadora, uma crise económica ou social, as pessoas tendem a ficar mais conservadoras. “O conservadorismo político é motivado pela cognição social [o processo de interpretar, analisar e armazenar informações sobre relações sociais]. E há muitas evidências, já estudadas, de que os liberais políticos se tornam mais conservadores, politicamente e psicologicamente, depois de ameaças”, lê-se no estudo Threat causes liberals to think like conservatives, publicado no Journal of Experimental Social Psychology.
Ao sentirem-se vulneráveis perante uma situação que não controlam, em períodos de incerteza, as pessoas tendem a recolher a uma posição de cautela, de aversão ao risco. E a eficácia da criação de um inimigo está por demais demonstrada ao longo da História – dos judeus na Alemanha nazi à “guerra ao terror” no Iraque. Vamos agora chegar à deportação em massa de imigrantes, ilegais e legais, que promete Donald Trump, de forma tão veemente que eleva o tópico à categoria de primeira prioridade, prometendo a deportação para o “Dia 1” do seu próximo mandato como Presidente dos Estados Unidos da América.
É o jogo do medo contra aqueles que, segundo Trump, andam a “comer os nossos cães, os nossos gatos, os nossos animais de estimação”. Pode dizer-se tudo, não é verdade? A liberdade de expressão é intocável nos EUA e, debaixo das suas asas protetoras, ouviram-se as piores coisas.
Um racismo sem travão (segundo Donald Trump, os imigrantes estão a “desencadear uma violenta onda de assassínios em toda a América”), um machismo irrespirável (o candidato diz que vai “proteger” as mulheres norte-americanas, “quer as mulheres gostem ou não”), um ódio traduzido em insultos à sua oponente, sempre com entrelinhas baseadas em preconceitos racistas, chamando-a de “preguiçosa”, “lenta”, “estúpida”, com “baixo QI”. “Ela bebe ou mete-se nas drogas?”, perguntou num comício.
São as ruínas de uma liberdade de expressão que inclui incitamentos declarados à violência contra um grupo. “Para me matar, alguém deveria disparar através dos jornalistas presentes, e isso não me desagradaria tanto assim.” Palavras de Trump, outra vez.
Neste caos, que nada estanca, semeia-se livremente o medo de tudo o que não é norte-americano, branco e conservador. Na narrativa dos últimos dias domina a ideia de que, se Kamala ganhar, é porque houve fraude eleitoral. Voltamos a 2020. Prepara-se o terreno para uma eventual perda e provavelmente o ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, foi apenas um ensaio para a violência. Se for Trump a ganhar, pacifica-se esta gente? De todo! Caos, medo e ódio são grandes motores da vida, com raízes profundas que não quebram ao vento.
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Os sinais acumulam-se e só não os vê quem não quer: as inundações, devastadoras e repentinas, já não são apenas desastres que associamos a povoações desfavorecidas do Terceiro Mundo, matam também cada vez mais pessoas nos países desenvolvidos. Até porque se tornaram muito maiores e mais frequentes, conforme avisam, há muitos anos, os cientistas que estudam as consequências do aquecimento global.
A tragédia a que assistimos, nos últimos dias, na Comunidade Valenciana, em Espanha, é o culminar apocalíptico de uma sucessão de outros acontecimentos desastrosos que se têm repetido pelo mundo. As situações dramáticas, que na voragem das notícias e da informação em contínuo continuamos a ver, tantas vezes, como casos isolados, precisam de passar a ser olhadas por um mesmo prisma: o sinal de que as alterações climáticas estão mesmo a ocorrer, de forma perigosa, e que negar essa emergência é abrir caminho à destruição e à morte de inocentes.
Há um mesmo fio condutor a unir o que se passou em Valência com, por exemplo, o facto da região italiana de Emilia-Romagna ter sido atingida por três vagas de grandes inundações em apenas um ano e meio, causando quase duas dezenas de mortes, obrigando à deslocação de milhares de pessoas e provocando prejuízos de milhões de euros. Ainda em setembro, inundações severas espalharam também a destruição e a morte em diversas regiões da Áustria, República Checa, Polónia e Roménia. No verão, milhares de pessoas tiveram de sair das suas casas no Sul da Alemanha devido às chuvas fortes que provocaram cheias de enormes dimensões. Na memória de muitos, estão também as imagens das grandes inundações provocadas pelas maiores chuvadas jamais registadas nas paisagens desérticas dos Emirados Árabes Unidos e do Omã, bem como as enchentes que, durante semanas, obrigaram ao deslocamento de mais de meio milhão de pessoas no Brasil. E, já menos fora dos holofotes mediáticos, não podemos ignorar as centenas de mortes provocadas pelas enxurradas e inundações no Quénia, no Sudão e no Afeganistão.
Todos estes fenómenos de inundações estão ligados a chuvas intensas, com níveis de precipitação que, como aconteceu em Valência, descarregam num dia a quantidade de água que, em condições normais, deveriam ocorrer num ano. E sabemos, de ciência certa, que o aumento da temperatura global, devido à emissão de gases com efeito de estufa, faz aumentar a humidade na atmosfera e provoca chuvas mais frequentes e severas na maior parte do planeta – com particular incidência na bacia do Mediterrâneo, onde a temperatura da água do mar tem ultrapassado valores recorde, ano após ano.
O mais dramático, no entanto, é que este acumular de sinais, associado aos avisos repetidos dos cientistas, ainda não provocou a mudança de mentalidades que o assunto exige. Nem alterou o sentido de emergência, por parte de muitos decisores públicos, que o acumular destas tragédias mais do que justificavam.
Se há algo que a catástrofe de Valência demonstra é que o urbanismo e a organização das cidades precisam de se adaptar, rapidamente, aos novos desafios climáticos. Fenómenos que até há pouco tempo julgávamos ser excecionais, apenas repetíveis uma vez por século, podem agora bater-nos à porta com muito mais frequência e intensidade. Já começámos a perceber isso com os fogos florestais e, nos últimos meses, uma tendência semelhante tornou-se mais notória e presente em relação às tempestades, com grandes chuvadas e consequentes inundações.
Neste contexto, um negacionista do clima não é apenas aquele que diz, contra toda a Ciência, não acreditar no aquecimento global. Ser negacionista do clima é também quem, no exercício do poder, não toma as medidas necessárias para minimizar o impacto dos fenómenos extremos ou, perante a iminência de uma catástrofe, desvaloriza os sinais e demora a acionar os meios de proteção civil essenciais para salvar vidas. Ser negacionista do clima é igualmente quem permite a construção de habitações nas linhas de escoamento de águas ou, na ânsia de facilitar a vida aos condutores de automóveis, manda pavimentar, com material impermeável, arruamentos e avenidas que, em dias de chuva intensa, se transformam em rios, com uma força descomunal.
A emergência climática não exige apenas medidas de transição energética para evitar o aquecimento global. Exige, além do mais, planeamento urbanístico, ordenamento do território e meios preventivos para fazer frente às ameaças da Natureza. O negacionista climático é muito mais vasto do que aparenta – e o custo de vítimas cada vez mais elevado.
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