A ceitei dar o meu testemunho porque quero acabar com o tabu que ainda existe relativamente aos transtornos mentais. O meu blogue [transtornoansiedade.pt] nasceu há quase um ano com o intuito de ajudar pessoas como eu, que têm ataques de pânico e procuram respostas na internet.

Hoje, falo abertamente sobre tudo isto. Não sou um profissional de saúde, mas conto a minha história e, no fundo, digo às pessoas que elas não estão sozinhas. Online, não precisam de estar cara a cara com alguém, pode ser mais fácil.

Tive o meu primeiro ataque de pânico aos 22 anos. Seguiram-se muitos outros e a agorafobia foi desencadeada por eles. Cheguei a estar três meses fechado em casa.

Lembro-me bem desse dia. Estava sozinho no carro, a caminho do trabalho, quando fiquei parado no trânsito, na Avenida da República, em Lisboa. Comecei com a sensação de morte iminente: o coração a bater muito, picadas no peito, suores, tremores, parecia que ia desmaiar.

Era um jovem adulto saudável, sem indícios de ter problemas do foro físico ou psicológico, mas só pensava “Vou morrer aqui”. Foram os piores cinco minutos da minha vida, pareceram-me uma eternidade.

Nessa altura, trabalhava como vigilante numa empresa no Saldanha, consegui chegar lá, mas estava tão confuso que só aguentei umas duas horas.

Já em casa, tive outro ataque de pânico, mais forte. Fiquei petrificado, sem conseguir abrir as mãos e com a sensação de desrealização. Via-me de fora, como se fosse um filme.

Não sabia que esse era mais um sintoma clássico de um ataque de pânico e fui logo para o Hospital de Santa Maria, onde a primeira coisa que uma médica me perguntou foi que drogas tinha tomado. Fizeram-me exames e análises e acabei por ser encaminhado para a Psiquiatria.

A minha confusão mental era brutal, mas lembro-me de que pensei: “Como assim, Psiquiatria?!” Por um lado, estava descansado por não ter nada físico, mas o diagnóstico mandou-me abaixo. Nessa altura, ninguém falava abertamente de ataques de pânico nem de outros transtornos mentais.

Comecei então um longo caminho de ansiolíticos e antidepressivos, como se não houvesse amanhã. Tornei-me num zombie. Tinha os sentimentos bloqueados, não ria, não chorava, nada. Na altura, já namorava com a Carla, a minha mulher e a minha âncora, e passei de muito brincalhão a… nada.

Mesmo com a medicação, tinha mais de sete ataques de pânico diários. Depois daquele primeiro a conduzir, tive ataques ao deitar-me, ao levantar-me de manhã, no meio de um centro comercial, num estádio de futebol… A partir daí, fiquei com medo até de acordar e de adormecer.

Desenvolvi a agorafobia devido aos ataques de pânico constantes. Acabei por me sentir incapaz de sair de casa, porque tinha medo de tudo. Morava num bairro pacífico, mas nem sequer conseguia ir ao café, para me encontrar com amigos. Saía do meu quarto só para ir à casa de banho.

Ao fim de três meses fechado em casa, cheguei a pesar 60 quilos para 1,80 m de altura, porque quase não comia. O meu corpo estava numa tensão tão grande que a comida não descia.

A única altura em que saía de casa era para ir ao psiquiatra, em Santa Maria. Era um sofrimento, porque o médico se atrasava sempre várias horas. Quando estava na sala de espera, pensava: “Para quê?” Não via melhoras e só lá ia para a baixa e a medicação, não tinha psicoterapia.

“Não descontraio”

Um ataque de pânico é um grande sofrimento, mas com o tempo aprendi que não vale a pena lutar quando está a acontecer. O pior que podiam dizer-me era: “Isso passa-te, não é nada.”

Na altura, só queria que me deixassem sossegado, no meu canto. Uma pessoa refugia-se no nada, no vazio… Quanto mais me diziam que não era nada, mais raiva me dava.

Para os meus pais, coitados, era difícil perceber o que estava a acontecer-me. Sei que procuraram respostas em todo o lado, até nas ciências ocultas. Eu nunca irei descobrir o que desencadeou tudo isto, mas acredito que tenha sido devido a traumas de infância que consegui desbloquear através da psicoterapia que fiz uns anos depois.

A fase da incompreensão é a pior. Mas acho que nem se pode exigir que os outros compreendam, porque um transtorno mental não é uma doença palpável, não é um braço partido.

Mesmo com a medicação, tinha mais de sete ataques de pânico diários. Tive ataques ao deitar-me, ao levantar-me de manhã, no meio de um centro comercial, num estádio de futebol… A partir daí, fiquei com medo até de acordar e de adormecer

Naqueles meses em que sofri de agorafobia, cheguei a pensar que não valia a pena estar aqui, estive para desistir. A medicação demora tempo a fazer efeito, até acertarem a dosagem…

Tomei ansiolíticos e antidepressivos durante um ano e depois entrei no carrossel dos desmames. Quando parava completamente, os ataques voltavam. Pensei que ia ter de tomar remédios o resto da vida, que seria sempre um zombie.

A medicação bloqueava os sintomas e também os sentimentos. Deixei de chorar, tornei-me frio perante as adversidades. Sou mais realista, terra a terra, e às vezes corto os sonhos dos outros, talvez por causa daquilo com que tive de lidar. Mas voltei a ser um bocadinho palhacinho.

Quando saí do poço, percebi que não vale a pena esconder nada disto, mas foi só quando consegui falar sobre o assunto que procurei a ajuda de um psicólogo. Demorei a aceitar que precisava de ser apoiado emocionalmente.

Foi muito importante saber que tinha pessoas ao pé de mim, desde que não falassem [Risos]. Hoje, já consigo rir-me com isto, mas na altura era sobretudo importante ter alguém a quem pedir ajuda.

Ultrapassei a agorafobia, mas estou sempre em estado de alerta, não descontraio. Quando entro numa sala, fico atento aos pontos de fuga. Todos os dias, faço a ronda da casa, tenho de ser o último a sair. Felizmente, a minha mulher acha ótimo, porque é muito distraída [Risos].

Mas continuo ansioso e hipocondríaco. A verdade é que mascaro a ansiedade muito bem. Aprendi a escondê-la para não causar apreensão nos outros. E construí mecanismos para saber viver com ela. A minha principal estratégia é tentar fazer aquilo de que gosto mais – caminhadas em família e andar sozinho de moto.

Logo a seguir à longa fase dos ataques de pânico, fiz uma tatuagem no pescoço. É em Mandarim e significa “saúde”, aquilo que eu mais queria ter.

Depoimento recolhido por Rosa Ruela

Quando tiveres tempo, tenta ler um romancezinho chamado Cândido, escrito há 265 anos pelo escritor e filósofo francês Voltaire. Não te vais aborrecer. A certa altura, o herói da história, o tal Cândido, anda em viagem e desembarca em Lisboa, onde apanha logo dois grandes sustos: a terra começa a tremer (era o terramoto de 1 de novembro de 1755…) e é preso pela Inquisição!

Voltaire era adepto do Iluminismo, uma doutrina que defendia a democracia, o progresso, a liberdade, a fraternidade e a tolerância. Nesse tempo, o Sul da Europa, incluindo Portugal, era visto pelos povos do Norte como um mundo de terror e superstições.

Mas o que era a Inquisição? Uma espécie de polícia com métodos terríveis. Já existia em Espanha há mais de 50 anos quando cá se instalou, em meados do século XVI. As pessoas suspeitas de não cumprirem as regras da Igreja Católica eram torturadas até confessarem os seus “crimes” e, muitas vezes, condenadas à morte na fogueira.

Os carrascos vestiam-lhes um trajo com um chapéu bicudo, chamado sambenito, e atavam-nas a um poste sobre uma pira de troncos a que ateavam fogo. Em Lisboa, estas execuções – a que davam o nome de autos de fé – ocorriam no Rossio e no Terreiro do Paço.


A perseguição aos judeus

Em Portugal, o Tribunal do Santo Ofício (que era o nome oficial da Inquisição) perseguiu sobretudo os judeus. Estes nem sempre eram mandados para a fogueira, mas ficavam-lhes com o dinheiro e outras propriedades que possuíssem.


Não foi fácil para os reis portugueses instalarem por cá o Santo Ofício. Como era um tribunal religioso, dependia da Santa Sé, em Roma, e era necessário obter a autorização do Papa. D. Manuel I pediu-a, mas não lha deram. Só o seu filho, D. João III, a conseguiu. E porque queriam os reis a Inquisição em Portugal? Porque era um poderoso instrumento de poder.

Os judeus eram as vítimas prediletas da Inquisição por serem, normalmente, comerciantes ricos ou grandes pensadores e cientistas, portanto demasiado poderosos e independentes para o gosto dos reis. Foi para evitar serem presos pela Inquisição que os judeus portugueses emigraram para outros países. Isso enfraqueceu Portugal e fortaleceu os locais onde se instalaram – a Holanda, por exemplo.


Como viste no início, só em meados do século XVIII é que deixou de haver condenações à morte pelos tribunais do Santo Ofício. E apenas o Liberalismo, já em pleno século XIX, acabou de vez com aquele terror.


O padre Malagrida

A última pessoa morta na fogueira, no tal dia 21 de setembro de 1761, foi o padre jesuíta Gabriel Malagrida. Nasceu em Itália, mas passou grande parte da vida no Brasil, a doutrinar os índios. Como o Brasil era uma colónia portuguesa, veio por mais do que uma vez a Lisboa pedir dinheiro ao rei para gastar lá.


Quando cá esteve no tempo de 
D. José, por altura do terramoto de 1755, quem na verdade mandava no País era o ministro Carvalho e Melo, o célebre Marquês de Pombal. Ora, este não gostava dos jesuítas e ficou zangadíssimo quando Malagrida começou a dizer que o sismo tinha sido um castigo divino. Pombal tinha mandado distribuir um folheto no qual explicava às pessoas que o terramoto tinha tido causas naturais.

Entretanto, Malagrida começou a conviver com figuras da alta nobreza, e isso foi a causa da sua perdição. Quando o Marquês condenou à morte essas figuras sob a acusação de terem mandado disparar contra o rei (o atentado existiu, e D. José ficou ferido num braço), Malagrida foi também na onda…


Enquanto estava preso, falava e escrevia sobre anjos e santos que lhe diziam ao ouvido que o terramoto tinha sido uma punição divina e foi assim acusado de heresia, ou seja, de desvio da linha oficial de pensamento religioso. Pombal não gostava da Inquisição e, pouco depois, acabou com ela, mas naquele caso achou que a condenação pelo Tribunal do Santo Ofício ainda era o modo mais fácil de se ver livre de Malagrida…

Este artigo foi originalmente publicado na edição n.º 184 da VISÃO Júnior e editado a 21 de stembro de 2024

O último painel da 3ª edição da ESG Talks, em Leiria, centrou-se na discussão do tema “Capitalismo Humano, Inovação e estratégias ESG”, nos setores dos Plásticos, Moldes e Cerâmicas. Com a moderação da subdiretora da VISÃO, Margarida Vaqueiro Lopes, António Poças – Presidente da direção da Associação Empresarial da Região de Leiria/Câmara de Comércio e da Indústria – Henrique Figueiredo – Diretor da Políticas Públicas de inovação da ANI – e Paulo Pires – Administrador do Grupo Vista Alegre Atlantis – foram os convidados do último painel da iniciativa, promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC.

O debate começou pela intervenção de Paulo Pires, Administrador do Grupo Vista Alegre Atlantis, que falou sobre a dinâmica entre as várias gerações de trabalhadores da companhia. A celebrar os 200 anos de existência, o grupo Vista Alegre possui seis fábricas – cinco de cerâmica e uma de cristal – em Portugal, exportando 75% da sua produção para mais de 100 países. Com cerca de 2 500 funcionários, Pires defende que a empresa – desde a sua fundação em 1824 – demonstra uma grande preocupação com a componente “S” (social) da sigla inglesa ESG – Ambiente, Governança e Social. “É no intercâmbio geracional e na multiplicidade de culturas e conhecimentos que está o valor acrescentado da empresa Vista Alegre”, refere.

Uma ideia complementada por António Poças, Presidente da direção da Associação empresarial da região de Leiria/ Câmara de comércio e da Indústria (NERLEI/CCI), que defende que todas as indústrias podem beneficiar de uma maior ligação entre trabalhadores. Uma característica que se tem procurado implementar em Leiria, através de diversos projetos. “Leiria é uma região muito inovadora e as empresas inovam muito. Mas nós precisamos de ecossistemas que funcionem”, explicou.

Anónio Poças. Foto: José Carlos Carvalho

Na opinião de Henrique Figueiredo, Diretor da Políticas Públicas de inovação da ANI, a palavra-chave para responder aos desafios sociais, ambientais e de governança é “Inovação”. “A inovação é a chave para criar valor. É a inovação que faz avançar este processo [ESG]”, defendeu. Um termo relacionado com os recursos tecnológicos e, sobretudo, com as pessoas, que criam o conhecimento e formas de o aplicar. “Pessoas informadas e empresas que possuem tecnologias avançadas produzem os tais ESG”, refere.

Uma palavra que também se encontra na agenda do grupo Vista Alegre. “Na Vista Alegre temos a missão de entregar uma empresa melhor às gerações futuras. Uma empresa mais rentável, mais sustentável e melhor do ponto de vista social”, defendeu. Para tal, Paulo Pires defende que a estratégia da empresa assenta na internacionalização e na inovação, aplicada em três pontos fundamentais: os produtos, os processos e na gestão – onde estão as pessoas como parte fundamental.

Também António Poças – Presidente da direção da NERLEI/CCI – acredita que “uma empresa inovadora é sempre uma empresa mais atrativa. Uma empresa que tem uma estratégia de ESG é sempre mais atrativa”, refere. Desse modo, as empresas devem agilizar os processos de inovação e ser mais rápidas na sua implementação. Para o Presidente, o aspeto da Governança deve “devia ser mais valorizado quando se fala do tema”, uma vez que a melhor gestão das empresas permite que sejam mais ágeis a nível da inovação.

Henrique Figueiredo encerrou o debate referindo que falta nas empresas uma vontade de arriscar. “Este esforço coletivo tem de ser feito e a inovação é a chave do sucesso”, concluiu.

Gonçalo Lopes. Foto: José Carlos Carvalho

O encerramento do evento ficou a cargo de Gonçalo Lopes, Presidente da Câmara Municipal de Leiria, local onde decorreu a terceira conferência da 3ª edição das ESG Talks. O autarca elencou várias iniciativas que a região tem em curso no âmbito da sustentabilidade, nomeadamente ambiental, e salientou a força económica de Leiria, com impacto nacional.

O Instituto Politécnico de Leiria recebeu esta quinta-feira mais uma conferência da 3º edição das ESG Talks, com foco na sustentabilidade nas áreas do Plástico, Moldes e Cerâmica. Nuno Filipe Cordeiro, Risk & Regulation Partner da PwC, foi um dos principais intervenientes do evento ao refletir sobre o papel do ESG e a mais recente Revolução Industrial – 4.0. O partner da PWC, começou por destacar a ideia de que “não há crescimento económico sustentável sem uma economia baseada na produção de bens transacionáveis”, explicou. Um modelo que, segundo o próprio, se encontra na região de Leiria. “O que o ESG traz é uma discussão à volta deste modelo e os desafios de ajustamento que o modelo tem”, acrescentou. 

Na sua opinião, quando se fala em ESG deve perceber-se, primeiramente, o cenário de alterações climáticas e de aumento da temperatura global porque atravessa atualmente o planeta e as implicações – como incêndios, secas ou outras catástrofes naturais – que esse aumento terá nas próximas décadas. De forma a combater este cenário a União Europeia tem lançado um conjunto de medidas legislativas – como o acordo de Paris – para limitar o aumento da temperatura global.

Para além disso, “o ESG é, na prática, reconhecermos que nas últimas décadas a Europa cometeu três grandes erros estratégicos”, refere. De acordo com Cordeiro, entre esses erros estratégicos estão a segurança – dado que Europa necessita da força fornecida pela NATO, muito dominada pelos Estado Unidos -, as indústrias – localizadas essencialmente na Ásia – e as fontes energéticas – concentradas num único fornecedor, a Rússia. “O ESG é, portanto, o ´embrulho´ para termos motivação política para tentar resolver pelo menos dois dos três erros estratégicos das últimas décadas”, acrescentou.

Assim, de forma a cortar as relações energéticas que possui com a Rússia, a Europa terá de começar a produzir a sua própria fonte de energia – as renováveis. Um cenário ao qual se acrescem várias dificuldades relacionadas a limitação de recursos e que obrigam a que o seu consumo seja o mais eficiente possível. “Este é o cenário que temos pela frente e passa por medidas de eficiência energética”, refere o partner PwC.

ESG Talks no Instituto Politécnico de Leiria 19 Setembro 2024 Foto: José Carlos Carvalho

Segundo Cordeiro, a transição – a curto prazo – exige custos elevados para as empresas, que incluem os preços da energia, a eficiência energética, o investimento ou os gastos operacionais. No entanto, este é um cenário que, a longo prazo, traz mais benefícios para a Europa. “Se conseguirmos fazer isto, vamos beneficiar de energia mais barata, de processos mais eficientes e o que as projeções mostram é que estes ganhos compensam os custos no curto prazo”, começou por explicar. O especialista mostrou dados de um estudo – e citou outros – que apontam que os custos de curto prazo serão largamente compensados com poupanças duradouras mais à frente, tornando a transição atrativa para as empresas.

“É esta a revolução industrial 4.0. A Europa precisa de dar um salto diferente a olhar para a indústria para suportar a transição energética e a pensar que é decisiva para o nosso modelo de crescimento. E o ESG acaba por ser o grande argumento para conseguirmos justificar estas mudanças”, concluiu.

Mais clubes, mais adversários, mais jogos, mais jornadas, mais dinheiro. Três décadas depois da introdução da fase de grupos, em vez de um mero sistema de eliminatórias, que viria a ditar o abandono da designação original – Taça dos Clubes Campeões Europeus –, está em marcha uma nova revolução na Liga dos Campeões de futebol. Desta vez, a UEFA decidiu levar à letra o nome da prova e criar uma verdadeira liga para encontrar os clubes que seguem para a tradicional fase a eliminar, com duelos a duas mãos até à final.

Não se trata de um simples campeonato, no entanto. Nem as equipas jogam todas contra todas, por exemplo, nem se defrontam no seu estádio e no do rival, como é costume. É todo um novo tratado: a inovação do organismo máximo do futebol europeu chegou a tal ponto que o sorteio das oito jornadas, com a definição dos oito adversários (e não três) e da condição de equipa visitada ou visitante, teve de realizar-se com recurso a Inteligência Artificial.

Comecemos pelo simples: as 36 equipas participantes (mais quatro do que na defunta fase de grupos), entre as quais o Sporting e o Benfica, vão jogar oito partidas cada nesta liga peculiar (em vez das anteriores seis), e a classificação será determinada pelo total de pontos, três por vitória e um por empate.

Numa tentativa para nivelar o grau de dificuldade, a UEFA optou por colocar no caminho de cada clube dois rivais por pote de potenciais adversários (com um duelo a ser jogado em casa e o outro fora de portas), distribuídos de acordo com o ranking europeu.

Assim, ao Sporting saiu em sorte o Manchester City (casa) e o RB Leipzig (fora) do pote 1, o Arsenal (c) e o Club Brugge (f) do 2, o PSV Eindhoven (f) e o Lille (c) do 3, e o Sturm Graz (f) e o Bolonha (c) do 4; já o Benfica terá pela frente o Barcelona (c) e o Bayern Munique (f) do pote mais cotado, o Atlético de Madrid (c) e a Juventus (f) do segundo, o Estrela Vermelha (f) e o Feyenoord (c) do terceiro, e o Mónaco (f) e o Bolonha (c) do quarto.

Parece mais complexa a tarefa dos encarnados do que a dos leões, mas a passagem de ambos à próxima fase é um cenário realista. Tendo em conta as simulações da UEFA ao novo formato, 8 pontos somados será suficiente para garantir um lugar entre os 24 melhores classificados e a consequente qualificação para a fase a eliminar. A fasquia do apuramento está colocada, por isso, em obter duas vitórias e dois empates ou três vitórias. Nos casos de empate pontual, o desempate é feito pela maior diferença entre golos marcados e sofridos, depois pelo total de golos marcados e a seguir pelo número de golos marcados fora de casa.

Nesta liga, os oito primeiros classificados apuram-se automaticamente para os oitavos de final e os 12 últimos são eliminados das competições europeias, não havendo lugar a repescagens para a Liga Europa. Os 16 clubes “do meio”, entre o 9.º e o 24.º lugares, qualificam-se para um playoff entre si a duas mãos, do qual os oito vencedores vão completar o quadro dos “oitavos”. Quadro é a palavra certa, uma vez que daí em diante os jogos são a eliminar e o emparelhamento após sorteio é feito à moda do ténis ou da NBA. Significa isto que a classificação do ranking ou da fase regular, neste caso da liga inicial, determina que o primeiro nunca medirá forças com o segundo antes da final, assim como o terceiro e o quarto classificados também nunca se poderão encontrar antes do jogo decisivo.

Expectativas agridoces

Com estas alterações, a UEFA espera oferecer aos adeptos “mais jogos de topo” numa fase inicial e proporcionar “um melhor equilíbrio competitivo”, mantendo tudo em aberto até à última jornada, o que, no formato antigo, muitas vezes não se verificava. Já vários jogadores, porém, vieram expressar o seu desagrado pela sobrecarga de jogos, como o guarda-redes brasileiro do Liverpool Alisson Becker ou o defesa suíço do Manchester City Manuel Akanji.

Afetado por uma onda de lesões no Real Madrid, Carlo Ancelotti diz que “o problema é um calendário que é demasiado exigente”. “Pode vir a ser uma competição mais entretida do que a do ano passado, mas o único dado, de momento, é que vamos ter mais dois jogos”, sublinha o treinador italiano. “Se os organizadores não começam a pensar que os jogadores se lesionam porque jogam demasiado, temos um problema. É preciso parar para pensar e reduzir o número de jogos para termos competições mais atrativas.”

Segundo as simulações da UEFA, oito pontos devem ser suficientes para garantir um lugar entre os 24 melhores classificados da liga e a passagem para a fase a eliminar

Thiago Motta, da Juventus, e Unai Emery, do Aston Villa, mostram-se mais entusiasmados com o novo modelo competitivo, porque vai trazer “mais jogos interessantes”, enquanto Luis Enrique, do Paris Saint-Germain, diz manter-se “calmo” perante o “calendário mais intenso”, uma vez que é apologista de rodar todo o plantel. “Claro que os jogadores podem lesionar-se, mas estou confiante de que conseguiremos gerir tudo isso”, comenta o técnico espanhol. O seu compatriota Pep Guardiola, do Manchester City, prefere esperar para ver.

Já Ruben Amorim não escondia, na véspera da estreia do Sporting, frente ao Lille, na terça-feira, 17, a convicção de que a nova fórmula se tornaria “mais apelativa e emotiva”, no sentido em que acabará com os “jogos finais de grupo onde já está tudo decidido”. O Benfica arranca esta quinta-feira, 19, com a visita ao Estrela Vermelha, numa semana exclusivamente dedicada à Champions.

Na próxima, será a vez da Liga Europa, cujo formato será uma réplica da nova Liga dos Campeões e terá o FC Porto e o Sporting de Braga como representantes nacionais. Em ambos os casos, as duas jornadas adicionais serão disputadas na segunda quinzena de janeiro.

Palavras-chave:

O tempo menos quente deu oportunidade aos bombeiros para respirarem e descansarem, ainda que tenham muito trabalho pela frente.

Os incêndios no concelho de Castro Daire, no distrito de Viseu, eram, esta manhã, os únicos incêndios em curso e por dominar em Portugal continental, disse à Lusa fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

+ Testemunho: “Disseram-me ‘Tens de cá vir porque vai haver tragédia ’”

Sete pessoas morreram e 161 ficaram feridas devido aos incêndios que atingem desde domingo sobretudo as regiões Norte e Centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga, Viseu e Coimbra, e que destruíram dezenas de casas.

A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 121 mil hectares, de acordo com o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas regiões Norte e Centro já arderam mais de 100 mil hectares, 83% da área ardida em todo o território nacional.

O Governo declarou a situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias e sexta-feira dia de luto nacional.

Uma equipa de investigadores guardou todo o genoma humano num ‘cristal de memória 5D’ para, em caso de extinção da humanidade, poder passar essa informação para quem quer que apareça depois, mesmo que só surjam após milhões de anos.

Este material é identificado como o mais resistente enquanto meio de armazenamento de dados. Uma nanoestrutura de disco de vidro desenvolvida em 2014 pela equipa liderada pelo professor Peter Kazansky, na Universidade de Southampton, consegue armazenar 360 terabytes de informação e mantê-la estável durante 300 quintiliões de anos e só reduz esse tempo de vida para 13,8 mil milhões de anos (a idade atual do universo) se for aquecido a 190 graus centígrados. Além de sobreviver em temperaturas extremas, este material consegue resistir a forças de até 10 toneladas por centímetro quadrado e a exposições prolongadas à radiação cósmica. Todas estas características tornam este material o indicado para guardar informação sensível e que tenha de resistir durante muito tempo.

É aqui que entra a ideia de codificar os três mil milhões de caracteres do genoma humano e colocá-los num destes discos que sobreviva à extinção da humanidade. A equipa usou lasers ultra-rápidos para escrever o ADN nos vazios que o disco ostentava e que tinham até 20 nanómetros de largura, avança o website Popular Science.

A vantagem desta abordagem face a outras de guardar informação é que o cristal pôde ser gravado em cinco dimensões em vez de 2D como o papel ou fita: duas dimensões óticas e três coordenadas espaciais, no que é descrito tecnicamente como 5D.

O disco contém as instruções sobre como pode ser usado, ilustrações de seres humanos femininos e masculinos, descrições de elementos universais como oxigénio, carbono e nitrogénio, a estrutura molecular do ADN e outros dados necessários para recriar artificialmente uma pessoa.

Kazansky explica que “sabemos a partir do trabalho de outros que o material genético de organismos simples pode ser sintetizado e usado numa célula existente para criar um espécime vivo viável em laboratório. O cristal de memória 5D abre novas possibilidades para outros investigadores construirem um repositório alargado de informação de genoma a partir do qual organismos complexos como plantas e animais possam ser restaurados, se a ciência futura o permitir”.

O cristal 5D está atualmente guardado no arquivo Memory of Mankind, na Áustria.