Está à procura de auscultadores de qualidade, bem construídos e com uma excelente relação qualidade/preço? Os HyperX Cloud III surpreendem pela positiva e são uma opção a considerar para os entusiastas de videojogos.


Design confortável

Os auscultadores são maioritariamente fabricados em aço e alumínio, o que lhes confere uma elevada resistência e uma sensação agradável ao toque. São flexíveis e podem ser dobrados, o que minimiza os danos em caso de acidentes. O conforto também é notável. As almofadas generosas em pele não causam desconforto, mesmo após longos períodos de utilização. Existe ainda uma almofada adicional no aro para maior conforto. Contudo, é possível que as almofadas em pele apresentem sinais de desgaste após algum tempo de uso.

Embora o peso dos HyperX Cloud III seja ligeiramente superior ao de outros modelos que já testámos, as almofadas robustas garantem que não se sente cansaço durante um uso prolongado. O sistema de ajuste é compacto, com vários pontos de paragem para um ajuste personalizado. Estes auscultadores de gaming apresentam três botões no casco: um para desativar o microfone, um botão de ‘power’ que, ao ser pressionado uma vez, indica o nível da bateria (em inglês), e uma roda para ajuste de volume.

Em termos de conectividade, os HyperX Cloud III são exclusivamente compatíveis com wireless (através de uma pen USB-A) e ligação de 3,5 mm, as opções mais estáveis e rápidas para consolas de videojogos ou computadores.

Veja os HyperX Cloud III

Qualidade Sonora

A experiência sonora com os HyperX Cloud III é muito positiva. O microfone destacável oferece comunicações nítidas, estáveis e com pouco ruído, sendo facilmente removível quando não é necessário. A qualidade sonora é impressionante, com ênfase nos graves, que proporciona uma experiência envolvente tanto em jogos como em músicas mais exigentes. Durante os testes, em jogos como Valorant, os auscultadores mostraram-se altamente competentes, permitindo detetar os movimentos dos inimigos com precisão, mesmo sem necessidade de aumentar demasiado o volume.

Um dos grandes destaques é a autonomia, com mais de 120 horas de utilização com um único carregamento. Durante os testes, a autonomia anunciada revelou-se realista. No que diz respeito ao preço, consideramos que é totalmente justo, tendo em conta a qualidade sonora, a construção robusta e a impressionante autonomia.

Os HyperX Cloud III são uma escolha sólida para quem procura auscultadores de gaming de alta qualidade. Com um desempenho competente em jogos, música e chamadas, combinam resistência, conforto e excelente autonomia. Um verdadeiro “todo-o-terreno” do som.

Tome Nota
HyperX CLoud III – €119,99
row.hyperx.com

Autonomia Excelente
Som Muito Bom
Construção Bom
Conforto Muito bom

Características ○ Frequências: 10Hz-21kHz ○ 2x Driver: 53mm ○ Impedância: 64 ohm ○ Microfone: -42dBV/Pa ○ Tempo de carregamento: 4,5 horas ○ Conectividade: Wireless ○ PS5, Xbox, PC  ○ Peso: 342 g  

Desempenho: 4
Características: 4
Qualidade/preço: 4

Global: 4

A China está a expandir o FAST, que já é o maior radiotelescópio do mundo, para o tornar ainda maior e mais poderoso. A solução passa por instalar 24 novos radiotelescópios, cada um com um diâmetro de 40 metros, ao longo de um diâmetro de 10 quilómetros. Ao funcionarem em conjunto, irão replicar um único telescópio gigante.

A expetativa dos mentores do projeto é que esta expansão aumente a resolução do FAST, tornando-o 30 vezes mais poderoso do que é hoje. O telescópio já é o radiotelescópio mais sensível da atualidade, mas perde em resolução. Com estas adições, o FAST vai ser capaz não só de detetar os sinais cósmicos mais ténues e distantes, mas também de analisá-los em detalhe, avança o website Interesting Engineering.

Jiang Peng, diretor de operações do FAST, conta que esta melhoria vai permitir ao radiotelescópio localizar o ponto exato de sinais de rádio no universo, aumentando a capacidade observacional e explorar fenómenos cósmicos como rajadas rápidas, buracos negros e ondas gravitacionais com maior detalhe.

Os cientistas chineses querem, com esta movimentação, adiantar-se à concorrência que está a ser desenvolvida em projetos como o SKA (Square Kilometre Array) no hemisfério sul ou o Next Generation Very Large Array dos EUA.

Os desafios para esta expansão ser possível passaram por desenvolver recetores que operem à temperatura ambiente (para se evitar que o calor produza ruídos que interfiram com os sinais de rádio) e melhorar a tecnologia de processamento de dados para aberturas sintéticas, de forma a permitir criar imagens mais claras e com maior resolução.

O FAST e os dados recolhidos vão ser importante para apoiar futuras missões de exploração espacial.

O responsável pelo Comité de Relações Internacionais do Senado dos EUA, Ben Cardin, foi vítima de uma tentativa de fraude com recurso a deepfakes, ou seja, conteúdo gerado artificialmente para se fazer passar por outra pessoa. No caso agora tornado público, Ben Cardin recebeu um email na semana passada que parecia ter sido enviado por Dmytro Kuleba, o ex-ministro ucraniano para os Negócios Estrangeiros, a solicitar uma reunião via Zoom.

Durante a reunião, a pessoa que se fez passar por Kuleba, colocou várias questões políticas relacionadas com as eleições dos EUA, segundo um email enviado pelo gabinete de segurança do Senado. Durante a conversa, o cibercriminoso tentou obter a opinião de Cardin sobre vários temas, incluindo a sua posição sobre o disparo de mísseis de longo alcance para território russo.

Cardin acabou por desconfiar do teor da conversa e reportou-a ao Departamento de Estado que, avançado com a investigação, concluiu ter-se tratado de um esquema com recurso a deepfakes. Por e-mail ao The New York Times , o senador confirma que “nos últimos dias, um ator maligno tentou ludibriar-me para ter uma conversa fazendo passar-se por um indivíduo conhecido”, sem revelar que se tratava de Kuleba. Esta última informação acaba por ser confirmada na comunicação do gabinete de segurança.

“Embora estejamos a assistir a um aumento de ameaças de engenharia social nos últimos meses e anos, esta destaca-se pela sua técnica sofisticada e credibilidade”, alertam os especialistas do Senado.

Recorde-se que, na iminência das eleições presidenciais nos EUA, têm surgido múltiplas demonstrações do uso de Inteligência Artificial onde se manipulam conteúdos de vídeo e áudio para replicar celebridades ou figuras políticas: uma chamada automatizada feita por consultores políticos onde se faziam passar por Joe Biden a apelar à não comparência dos eleitores às mesas de voto, Musk a mostrar um vídeo deepfake na X onde vemos Kamala Harris a autoproclamar-se “a última contratação de diversidade” e que teve “quatro anos na tutela de um fantoche do Estado, um grande mentor, Joe Biden” e um vídeo publicado por Trump onde uma Taylor Swift gerada por IA lhe manifesta apoio.

As instituições, especialmente quando são do Estado e são cimeiras na sua área de atuação, são literalmente legitimadoras, criadoras de patamares de oficialidade e de oficialização. Uma Biblioteca Nacional, ao ter como função central a recolha e a conservação do património editado, tem o condão de definir o que é relevante nesse campo. No caso português, a Biblioteca Nacional de Portugal encetou, há já vários anos, uma aproximação ao legado e herança islâmica na cultura portuguesa através de um grupo de exposições temáticas, em que “A mil e uma noites em Portugal”, em 2018, deverá ter sido a que teve mais visibilidade mediática.

Muito foi tratado nessas exposições mas, com a exposição inaugurada no passado dia 25 de setembro, deu-se um salto de valorização cultural muito significativo. Do passado distante, o objeto agora são as comunidades hoje existentes e a sua produção escrita. Na nossa cultura, dar foro de legado escrito é hipervalorizador e implica o assumir, pelo coletivo, através desta importante instituição, de uma dignidade que só atribuímos ao que é letrado.

O comissariado desta “Publicações Islâmicas em Portugal” é de Pedro Soares, Fabrizio Boscaglia e AbdoolKarim Vakil, que nos apresentam um quadro sistemático e muito bem organizado da produção impressa das comunidades islâmicas portuguesas contemporâneas, desde 1968 até 2024.

Como afirmam os comissários no texto de apresentação da exposição, “Ao longo deste período, mais de meio século, essa presença foi acompanhada por uma expressiva atividade editorial, materializando em livros, revistas, panfletos e outras publicações as transformações por que passaram os muçulmanos em Portugal. Esta mostra/exposição pretende olhar, de forma transversal, o conjunto dessas publicações, na medida em que traduzem o percurso da presença islâmica no Portugal contemporâneo, sendo dele reflexo e contribuindo, simultaneamente, para o moldar.

A atividade editorial dos muçulmanos tem, por um lado, funcionado como pedagogia, criando um lugar de diálogo entre muçulmanos e não-muçulmanos e abrindo espaço para o Islão numa sociedade que só recentemente começou a conviver com a diversidade religiosa. Por outro, ela é também um retrato de dinâmicas internas, de uma comunidade que, enquanto procura uma voz e uma identidade comuns, também se diversifica e se multiplica: segundo diferentes origens étnicas e nacionais, diferentes escolas doutrinais, diferentes formas de se ser muçulmano e de expressar essa religiosidade, inclusivamente através da literatura e da poesia.”

Contudo, além da exposição, em si, que é um marco no olhar para o Islão português, merece destaque a pessoa do académico, do homem de cultura e do cidadão que, ao longo dos últimos anos, tem estado no centro de cerca de uma dezena de exposições sobre aspetos da cultura, da literatura, da poesia e da arte islâmicas em Portugal. Seja na Biblioteca Nacional de Portugal ou no Museu Calouste Gulbenkian, Fabrizio Boscaglia tem levado a cabo um trabalho de estudo e de comunicação da cultura muçulmana que é, acima de tudo, um trabalho consistente de interface entre a erudição e a cultura popular, a cidadania conhecedora e crítica, trazendo para a visibilidade dimensões que muitos de nós nem imaginávamos.

Num labor recatado, mas sólido e contínuo, Fabrizio Boscaglia criou um lugar da cultura islâmica na cultura portuguesa, especialmente através do trabalho que desenvolve a partir da Universidade Lusófona, onde organiza, há cinco edições, o “Seminário Permanente de Estudos Islâmicos”, um espaço de debate único no panorama nacional e raro a nível internacional.

O questionamento, acompanhado do conhecimento, tem sido sempre a tónica do que nos tem apresentado o Fabrizio Boscaglia. Assim, desejamos que o seu trabalho frutifique e que seja, como está a ser, uma pedra importante no edifício do diálogo e de conhecimento das culturas que nos tornam únicos, valorizando o diálogo e a diferença, conseguindo encontrar aí a capacidade para ser mais e melhor.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

“Temos de combinar!”. A frase fica assim pendurada em dezenas de contactos do meu WhatsApp. É um desejo. É uma promessa. É uma falha. A vontade de nos vermos fica enterrada debaixo de horas de trabalho que se multiplicam, da forma como nos dividimos para garantir que estamos com os nossos filhos, da subtração que temos de fazer a cada dia para dormir. É uma matemática complicada. Um jogo de soma zero, em que alguma coisa fica sempre a perder e normalmente são os amigos.

Porque é que a amizade fica sempre para trás? Podíamos dizer que é porque achamos que os amigos estarão sempre lá, quando for preciso. Mas sabemos bem como se deslassam as relações quando não temos tempo para elas. Talvez seja também porque encontrámos nas redes simulacros que nos dão a ilusão de estarmos próximos. Pegamos no telefone e mandamos uma mensagem a partilhar a última frustração, ligamos para desabafar, partilhamos a fotografia do lugar aonde queríamos estar juntos, enviamos links de notícias e podcasts para trocar comentários. E com isso maquilhamos um pouco a solidão.

Mas estamos sozinhos. Demoramos meses a conseguir combinar um café ou um almoço. Temos de consultar agendas. Desmarcamos à última hora. Aparecem imprevistos. Há um esforço de contorcionismo por detrás de cada encontro e há também um esforço financeiro, que faz com que nem sempre seja possível juntar todos os amigos com quem gostaríamos de estar, mas que já não podem ir a mais um jantar e muito menos fazer uma viagem.

Ter amigos custa tempo e o tempo é dinheiro, mas também custa mesmo dinheiro. Tudo custa dinheiro e raramente se fala disso. Talvez porque só pensa verdadeiramente nisso quem o não tem.

Num artigo da revista The Atlantic li sobre um estudo que mostra como os mais ricos conseguem manter mais amizades do que os mais pobres. Um inquérito feito a 6500 adultos americanos, citado pela The Atlantic, revela que americanos com educação superior têm mais probabilidades de receber amigos e vizinhos em casa pelo menos uma vez por mês do que aqueles que só acabaram o liceu.

Reparem que se está a falar de receber em casa. Então, porquê esta disparidade? O mesmo estudo indica que esses americanos privilegiados têm mais probabilidades de viver em zonas nas quais se cruzam repetidamente com as mesmas pessoas, como bibliotecas públicas, jardins e cafés, e que, assim, fazem mais amigos. Também ajuda o facto de não terem de acumular empregos nem trabalharem por turnos.

E isto fez-me pensar em Lisboa. Nos últimos anos, os meus amigos espalharam-se pelas franjas da cidade. E isto já para não falar dos que foram viver para o estrangeiro. Vivendo no centro e tendo o hábito de frequentar os jardins que me rodeiam e de ir quase sempre aos mesmos sítios, comecei a dar-me com as pessoas com quem aí me cruzo. Mas há uma ameaça permanente que paira sobre estas relações, tantas vezes construídas mais em cima da oportunidade de nos vermos com frequência do que de afinidades sólidas. A habitação.

O tema tornou-se numa obsessão coletiva. Quase não há quem não esteja em risco de perder a casa, insatisfeito com a casa que tem, sem conseguir encontrar uma melhor, ou a admitir mudanças de até centenas de quilómetros para ter um espaço que sirva à família que tem. E isso precariza todas as relações.

Não é só já muito difícil encontrar os amigos por causas das agendas incompatíveis. Não é só já muito difícil viver perto das pessoas com quem ao longo dos anos se foram construindo relações. É também extremamente angustiante perceber que os laços desenvolvidos em torno da proximidade podem quebrar-se a qualquer instante.

Quando fizermos uma equação que traduza a dificuldade de ter e manter amigos devemos juntar às horas de trabalho infindáveis e desreguladas, às exigências da família, aos custos da vida social, à emigração forçada de quem procura uma vida melhor, o facto de termos casas incomportavelmente caras e serviços públicos degradados.

Ter uma má rede de transportes, que faz com que atravessar a cidade seja uma dor de cabeça, é parte do problema. Ter escolas públicas transformadas em guetos, que fazem com que os vizinhos de um mesmo prédio dividam os filhos por não sei quantos colégios diferentes em vez de os inscreverem na escola da residência, é seguramente também parte do problema. Assim, como não ajuda ter espaços públicos degradados ou rendas tão altas que tornam impossíveis os pequenos negócios de bairro onde as pessoas se conhecem.

Sim, os “temos de combinar!” vão continuar a pairar nas mensagens de WhatsApp. Mas eles não são tanto o símbolo do nosso fracasso individual como o reflexo de uma estrutura profundamente errada. E, sim, isso também é política.

Ao contrário de vários escritos sobre a recente guerra no Médio-Oriente priorizando, por vezes algo doentiamente, ‘o estado ao que as coisas chegaram’, não é propósito neste artigo tecer considerandos críticos sobre a razia que vai ocorrendo contra povo palestiniano na Faixa de Gaza, por obra do Governo de Benjamin Netanyahu ( t.c.p. “Bibi”).

A tónica é avaliar a credibilidade ética de um Estado e, por tabela, de todo um estrato populacional (exceções aparte), ao qual historicamente se tem atribuído foros de ‘povo eleito’. Urge sublinhar a este respeito que semitismo diz respeito tanto a árabes como a judeus, pois, em termos bíblicos, ambos descendem de Abraão (os árabes – descendentes de Ismael, 1º filho de Abraão, nascido da escrava Agar, e os judeus – descendentes de Isaac, 2º filho de Abraão, nascido da esposa Sara).

A Resolução 181 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CS/ONU) de 28 de novembro de 1947 intitula-se Plano de partilha de Palestina em um Estado Árabe e um Estado Judeu com união económica e regime especial para Jerusalém. Em apreço estava uma reivindicação anterior, bem ou mal assente na ideia-força de que o povo judaico tinha o direito a um espaço em terra palestina. Assim nasceram os alicerces do que hoje conhecemos como o Estado de Israel. O seu reconhecimento viria a ser impulsionado pela tragédia genocida dos cerca de 6 milhões de judeus no Holocausto levado a cabo pelo nazismo alemão. A sua vez, o previsto Estado palestiniano, ficaria a marcar passo, fruto de confluência de três circunstâncias diferenciadas: a oposição dos Estados Árabes à existência de um Estado Judaico, a firmeza do sionismo em sentido contrário e a inexistência de uma unidade palestina visando a constituição de um Estado próprio, o que só viria a conhecer a luz do dia em 1964 com a OLP (Organização de Libertação de Palestina) sob a liderança de Yasser Arafat.

De então para cá, a questão Israel-Palestina viria a conhecer uma vasta gama de acontecimentos, sendo de destacar os dois Acordos de Oslo (1993). Porém, o seu deturpado cumprimento veio a viabilizar a prática de Colonatos Israelitas, traduzidos na anexação de terrenos palestinianos e inerente expulsão dos habitantes destes. Deste procedimento resultaria um acréscimo territorial israelita superior a 22% quando comparado com os 56% da terra palestina que a Resolução havia alocado aos judeus. A Resolução 2334 do CS/ONU(2016) afirmou a ilegalidade dos colonatos (‘settlements’) israelitas em território palestiniano ocupado, incluindo os de Jerusalém Oriental tendo em conta as fronteiras de 1967.

Voltando à atualidade, não se pode dizer, por isso, que Israel esteja inocente de tudo quanto se está passar na Faixa de Gaza. Estivesse em funcionamento um Estado de Palestina e, porventura, no dizer do Professor Yuval Noah Harari na Universidade de Te-Aviv, “os israelitas (não) estariam a pagar o preço pelos seus anos de arrogância, durante os quais os seus governos e muitos israelitas comuns sentiram que eram muito mais fortes do que os palestinianos” (Público 12.10.2023, pgs 5).

É puramente quimérico estar-se a negar a existência do Estado de Israel de pleno direito. Fazê-lo seria um retrocesso da história, como estar a interrogar sobre as realidades existenciais dos EUA ou duma Austrália. A história não espera por nós, mas nós fazemos parte dela. É o avanço da civilização que o exige. Houve historicamente ocupações e usurpações de terras que a realidade consagrou como definitivas com o passar do tempo – uma espécie de usucapião histórico político. Foi a época de deslocação e fixação definitivas de povos dos séculos transatos. Mas se a história não retrocede, podem evitar-se os seus erros e abusos para o futuro. Daí que, no presente – 2º metade do seculo XX e XXI – a ocupação forçada de terras alheias qualifica-se, nem mais nem menos, como usurpação por falta de qualquer título de legitimidade. E qualquer ideia de facto consumado ou prescrição jurídica é afastada, dada a permanente contestação e repúdio a que a ONU vota tais colonatos. Neste domínio, e nesta parte, a lei internacional e a nacional regem-se pelos mesmos princípios.

Ora, é patente que os palestinianos não estão num processo de luta ou de guerra de libertação face ao Estado de Israel já que ninguém pode ser prisioneiro na sua própria casa. É tão simples quanto isto. Por isso, se não tem justificação o barbarismo do ato pratico pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, também certo é que nada pode justificar a barbárie cometida pelas Forças Armadas Israelitas, sob o comando do Governo de Benjamim Netanyahu. Neste quadro, não podem deixar de merecer o mais veemente e profundo repúdio a posição dos políticos americanos e europeus, que sob a cobertura das sua angélicas posturas políticas, acabam por patrocinar, fomentar e sustentar a continuação desta barbárie sob a capa de que estão a defender a liberdade e a democracia.

Não está em causa o direito ao exercício de autodefesa contra a investida do Hamas. A boa hermenêutica jurídica (nacional ou internacional) exige, porém, que a mesma seja exercida num imediatismo razoável e seja proporcional. Ora o que está a acontecer até ao presente, pelo menos até à data deste escrito, é uma deliberada e programada eliminação física de dezenas de milhares de palestinianos civis, a destruição de edifícios, hospitais e escolas do ativo, eliminação física de crianças e idosos em campo de refugiados e a deslocação territorial de mais de um milhão de pessoas carentes de alimentação e de saúde.

Posto isto, o que dizer de Israel? A razão apresentada para este procedimento é de que os combatentes do Hamas se escudam nos hospitais, nas escolas e misturam-se no meio da população. É …. vá daí, elimina-se tudo e todos. Certo, porém, é que a máscara caiu, o Kipá merece mais respeito e de pouco valem as “fantasias messiânicas”, as ortodoxias estéreis ou as lamentações junto ao muro, não o de apartheid da Cisjordânia, mas o de lamentações.

Israel é tido como um país bastante avançado e desenvolvido no contexto do Médio Oriente, dispondo de uns serviços secretos ultra-eficientes e havendo mesmo notícias que algumas das suas ações militares tem já dispositivo instrumental operado por Inteligência Artificial. Neste contexto, é pertinente a indignação quanto à grandiosidade de umas Forças Armadas que para desarticular um grupo armado demonstra não ter capacidade para os individualizar do resto da população tendo, para tanto, necessidade de dizimar mais de 40.000 civis para além de milhares de feridos! Neste afã de ataque e destruição não é de pôr de parte que estas forças possam ter atingido os 6 reféns israelitas.

Como se referiu, não está em causa o direito de autodefesa por parte de Israel. A legitima autodefesa pressupõe que a parte que a alega não crie situações de insustentabilidade que levem a parte contrária a reagir. Dito ‘alio modo’, o ‘auto-defendente’ não pode gerar contextos para depois, com base nestes, invocar este instituto. Nestes termos, a alegada autodefesa por Israel esgotou-se na resposta à intervenção de 7 de Outubro do Hamas pelo seu imediatismo e por tal ocorrer no seu território (não contemplando os excessos cometidos e que continuam a cometer-se em Gaza).

MAS, Israel parece estar a tentar contornar todo o contexto político, procurando estender a sua autodefesa a toda a problemática do conflito israelo-palestino em jeito de uma guerra. “Numa guerra, se um lado é mau, não significa que o outro seja bom……Basta ser guerra para não ter lados bons” (Eduardo Aqualusa – VISÃO 31 e Março de 2012, pgs 96). É aqui que perde toda a sua inocência e assinala a má-fé que rege o seu estofo ético histórico e político. Assumindo-se um Estado democrático, assente não numa Constituição escrita, mas em Leis Fundamentais avulsas, viu em 1 de setembro deste ano o seu Supremo Tribunal determinar a suspensão de uma greve geral “por motivos políticos” (ou seria, suspensão ‘por motivos políticos’ uma greve geral?)

A continuada política de colonatos ilegais por terras palestinianas, com a consequente expulsão dos donos das casas e das terras, sob a complacência das autoridades, nomeadamente dos tribunais, a conivência da população israelita neste processo e a perseguição de cidadãos palestinianos que rondam as dezenas de milhares – prática esta que tem vindo a ser condenada por n Resoluções das Nações Unidas, (organismo do qual Israel faz parte), mas que tem sido obstinadamente desrespeitadas demonstra ser a principal e basilar razão material deste conflito. Um tal comportamento poderia justificar a expulsão de Israel da ONU, porém a solução seria contraproducente, pois deixar o Estado de Israel ainda mais em roda livre, agravando o estatuto de “rogue-country” que já aparenta ser. Com qualificar um ‘leader’ político que tenta desacreditar a ONU, por o seu secretário-geral criticar veementemente Israel pela eliminação física e indiscriminada de uma população, já quase equiparada a um genocídio e desrespeita a decisão do Tribunal Internacional de Justiça de 19 de julho, por configurar a presença de Israel em território ocupado palestiniano como ilegal e apelando à imediata suspensão de construção de colonatos?

Dando o merecido crédito e respeito às recentes manifestações do povo israelita, a verdade é que Netanyahu foi eleito três vezes para primeiro-ministro, com a agravante de ser bem evidente que desta vez beneficiava do declarado apoio do setor ultraortodoxo do sionismo. Afere-se assim, que uma parte significativa do eleitor israelita tem a sua quota parte de responsabilidade no que esta a acontecer. A questão dos “reféns”, apesar da sua gravidade, assume neste âmbito a natureza de um “falso problema”, salvo se se entender que a vida de um refém israelita vale mais que a vida de 100 palestinianos!

Tudo leva a crer que a questão mediata se relaciona com o fanatismo e/ou chauvinismo doutrinário. A frase “religião é o ópio do povo” parece ter aqui toda a pertinência, de parte a parte, não no sentido da sua eliminação ou superação, mas como um ‘prius’, um agente intolerante de convivência entre povos e Nações, apelidando-se de “Estados religiosos”. A eliminação desta confusa mancomunação política/religião passa por uma abordagem conciliatória entre os responsáveis das religiões mais tradicionais. É de saudar por isso a Declaração Conjunta de Isteqlal de Jacarta – agosto 2024 – subscrita pelo Papa Francisco e o Grande Imã Nasaruddin Umar, ao reconhecer a existência de “valores comuns a todas as religiões para “derrotar a cultura de violência e de indiferença.

Numa altura em que, pelo mundo fora, se clama cada vez com mais ressonância por uma maior solidariedade e humanismo entre os povos e nesta dinâmica uma generalizada repulsa pelas atrocidades de que o povo palestiniano é vítima, eis que surge a deliberação da Assembleia Geral da ONU de 18 de setembro, votada por uma maioria de 2/3 dos seus membros (124, quando a ONU tem 193 membros), no sentido de exigir que Israel ponha termo à sua presença ilegal em Gaza, na Cisjordânia ocupada e Jerusalém Oriental, a cessação de novos colunatos, a restituição de terras e propriedades usurpadas e o regresso de palestinianos deslocados, no prazo de um ano.

Um prazo, diga-se de passagem, algo dilatado para Israel continuar com as suas investidas, havendo por isso quem interrogue pela não utilização do dispositivo de intervenção da Força Militar de Paz da ONU no caso presente, postura que contrasta com a prontidão com que agiu noutras paragens como o Ruanda, Kosovo e outros.

Os EUA foram um dos 14 países que votou contra a deliberação. Assumido que as constantes visitas de Anthony Blinken ao Médio Oriente não são de recreio, as mesmas mais se revestem de vendedor de promessas angélicas, permitindo incessantes adiamentos para a solução do conflito, sempre propícias para as Forças Armadas continuarem com as atrocidades (os tais 10% do acordo que ainda falta atingir) e a propulsão da indústria armamentista.

Do contexto gerado, há três situações desastrosas a temer e que despontam no horizonte: o sofrimento e dizimação do povo palestiniano, um crescente antissemitismo israelita e o alastramento de uma guerra generalizada pelo Médio Oriente.

Quo Vadis Israel?

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

À 13ª edição, a Fundação de Serralves volta a abrir as portas do Parque de Serralves, no Porto, neste sábado e domingo, 28 e 29, para dois dias de celebração do outono, de fruição com a Natureza e de regresso às nossas tradições.

“A temática é sempre ligar a ruralidade ao público urbano e à contemporaneidade da Fundação de Serralves. Vamos ter as raças autóctones, os saberes mais antigos e rurais, para que o público citadino tenha esse contacto direto, ao mesmo tempo que celebramos a sazonalidade e a entrada no outono”, resume à VISÃO Se7e, Ricardo Bravo, coordenador da área de Gestão e Manutenção do Parque de Serralves.

Ana Lua Caiano atua neste sábado, 28, no Parque de Serralves. Foto: Luís Barra

Por todo o Parque – em especial na zona do Prado – não faltam os produtos de outono: castanhas, abóboras, milho, ou os míticos fardos de palha, onde os mais novos gostam de mergulhar em brincadeiras, e uma programação intensa com uma série de atividades gratuitas para todas as idades.

Durante os dois dias, conte-se com várias oficinas a decorrer em contínuo, para adultos e crianças: tecelagem e lã, brinquedos, olaria, costura e bordado, marcenaria, ciência, bonecas marafonas, reciclagem, pintura e, este ano, de tapetes de flores açorianos (Tapetes ao Largo, sáb-dom 10h-13h, na Horta), fruto de uma colaboração com o município de Ponta Delgada, Açores. 

Na música, sempre no Prado, o destaque vai para os concertos de Samba sem Fronteiras com Luca Argel (sáb, 15h); Ana Lua Caiano (sáb, 17h15) no qual a artista junta a música tradicional portuguesa com a eletrónica; Sons no Parque com a Banda Sinfónica Portuguesa (dom, 11h30), ou o espetáculo Branco toca Marco Paulo (dom, 18h) do trio de jazz formado por Pedro Branco (guitarra), João Sousa (bateria) e Carlos Barretto (contrabaixo), numa reinterpretação das músicas do cantor popular. 

O espetáculo de trampolim Back2Classics, pela Planeta Trampolí. Foto: DR

No circo contemporâneo e artes performativas, salientam-se os espetáculos Carmim-Coração nas Mãos (sáb 18h15, no Jardim Maria Nordman), Back2Classics, pela Planeta Trampolí (sáb 16h, dom 12h30, 17h, no Prado), um espetáculo de trampolim familiar que combina circo clássico com dança urbana, música e acrobacias. Haverá ainda teatro de marionetas: Histórias da Terra, pelo Teatro de Marionetas de Mandrágora (sáb, 10h45, dom 14h30, Jardim Maria Nordman), Caminho do Burro, pela Historioscópio (dom, 13h, 16h15, Clareira da Presa), além da peça de teatro Quatro Estações, pelo coletivo Teorema (dom 15h, Clareira da Presa). 

Exposição Corpo, uma Topografia Sonora, de Fernando Mota. Foto: Inês Sambas

Nas exposições, destaque para as visitas guiadas a Corpo, uma Topografia Sonora, de Fernando Mota (no Celeiro e Lagar), Uma Cidade Inspirada na Natureza (no Prado) ou para instalações relacionadas com o festival Boil Climate, que está a decorrer também em Serralves até domingo, 29, como “Critically Extant de Entant de Entangled Others em Diálogo com Espécimes da Coleção de Insetos do Museu de História Natural e da Ciência do Porto”.

Ainda em parceria com o Boil serão exibidos filmes sob a temática do ambiente, no auditório da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, como Nine Earths (sáb 11h, 14h, 15h, dom 12h, 15h, 16h), o documentário OceanXplorers, do realizador James Cameron (sáb 17h, dom 13h) ou Lectionen in Finisternis, de Werner Herxog (dom, 17h).  

O Burro de Miranda é uma das raças autóctones em destaque. Foto: DR

Ao ar livre, junto ao Prado, observam-se as raças autóctones que moram em Serralves – os dois burros de Miranda, o porco bísaro, as quatro vacas (arouquesa, barrosã, jarmelista e marinhoa) às quais se vai juntar uma nova cria de raça maronesa acabada de chegar de Trás-os-Montes.

Saídas de campo ao encontro de insetos, aves e anfíbios; das árvores e líquenes; jogos de tabuleiro, e dois mercados (um deles biológico) incluem o extenso programa.  

Festa do outono > Parque de Serralves, Av. Marechal Gomes da Costa e Rua Bartolomeu Velho, 141, Porto > 28-29 set, sáb-dom 10h-19h > grátis > programa completo em serralves.pt

Dizer que cozinhar é um ato social significa que os temas da sociedade estão presentes na cozinha: o género, a idade, a diversidade cultural, a saúde mental. Estes foram, aliás, os temas abordados nas últimas edições do anteriormente denominado de Congresso dos Cozinheiros, agora Congresso de Cozinha.

“Enquanto organizadores, sempre estivemos atentos ao equilibrio de géneros e, desde há alguns anos, que temos no congresso metade homens e metade mulheres. No entanto, usávamos a designação “cozinheiros” como genérica. Resolvemos afinar essa designação”, esclarece Paula Amado das Edições do Gosto, que há 20 anos organiza este encontro.

Desta vez, e quando se celebram os 50 anos do 25 de Abril, falar-se-á de Comida e Liberdade, tendo como referência que a gastronomia não existe isolada. Diz Paulo Amado: “Todos os grandes movimentos, nas artes ou nas ciências, tiveram pessoas que se destacaram e pensaram o seu tempo. Na gastronomia, também temos pessoas que interpretaram e interpretam este tempo, e o tempo atual é de consciência do presente, de olhar para a saúde, para a cultura do País, para a tecnologia, preparar o futuro e dar sensações às pessoas. Há uma nova geração que tem esta consciência, que quer regressar às tascas, que quer mais informalidade no restaurante.”

Foto: Ana Viotti

Nos Nirvana Studios, em Oeiras, neste domingo e segunda-feira, dias 29 e 30, vão estar cerca de 70 oradores, entre chefes de cozinha, produtores e gastrónomos, vindos de diferentes países, como Brasil, EUA, França, Espanha, Angola, Cabo Verde, além de Portugal.

Cabo Verde é o país convidado deste ano (depois de São Tomé e Príncipe, em 2023). “É o nosso contributo e uma forma de dizermos que a gastronomia não pode ser só homens brancos e novos. É também um universo de mulheres e outras origens. Portugal tem uma diversidade cultural e humana gigante, ainda que isso não se veja no mundo dos chefes e na maneira como eles se apresentam. Queremos dar esse sinal, a partir do Congresso de Cozinha”, afirma Paulo Amado.

Durante dois dias, haverá demonstrações de cozinha, degustações, entrevistas, debates, apresentações, masterclasses e ainda concertos e instalações artísticas. Mais do que destacar alguns dos nomes presentes, Paulo Amado prefere falar do grande objetivo do congresso: “Reunir um bom conjunto de casos práticos que podem influenciar positivamente o mundo da comida”.

A lista de chefes que passarão pelos três palcos do Congresso (Palco INTER, Palco Produto e Palco Música/Nós As Pessoas) é longa e inclui, por exemplo, Vicky Sevilla, do Arrels (Valência), que abriu o seu primeiro restaurante aos 25 anos e é a mais jovem mulher em Espanha a ter recebido uma Estrela Michelin.

De Copenhaga, vem Christian F. Puglisi, reconhecido pelo trabalho ligado à sustentabilidade gastronómica que fez no Relae, que será entrevistado por João Ferraz. Pepe Solla, um dos grandes nomes da cozinha espanhola à frente do Casa Solla (uma Estrela Michelin), em Pontevedra, lançará um desafio: “Deixa para trás os teus medos e sê livre”.

Portugal estará representado por Rodrigo Castelo, do Ó Balcão (Santarém); Lara Espírito Santo e George Mcleod, do restaurante despedício zero Sem (Lisboa); Marcella Ghirelli (projeto Cella); Paulo Carvalho (O Zagaia, Sesimbra); Renato Cunha e Anabela Rodrigues (Ferrugem, Vila nova de Famalicão); João Sá (Sála, Lisboa); Inês Pando (Mafalda’s e Urraca, Matosinhos e Porto), Rita Magro (Blind, Porto), João Magalhães Correia (Bar Alimentar e Tricky’s, Lisboa), entre muitos outros.

Esta edição conta com uma novidade: masterclasses por parte do chefe David Jesus (Mapa, no L’And Vinyards, em Montemor-o-Novo) e da investigadora Catarina Prista.

Neste domingo, 29, será exibido o documentário Comida & Liberdade, de Frank Saalfeld, que reúne uma série de entrevistas realizadas a chefes a falar do seu trabalho que vai muito além de técnicas.

Durante os dois dias, os almoços, incluídos no bilhete, vão ser confecionados por chefes como David F. Jesus (Seiva), Elísio Bernardes (Sea Me – Peixaria Moderna), Francisca Dias, Nuno Mota (DamnPastry), Dhirendra Bam (Musa Marvila), Nuno Matos (Aethos Ericeira), João Simões (Casta 85), António Carvalho (Brasão) e Diogo Novais Pereira (Porinhos).

Foto: Ana Viotti

É já tradição que durante o Congresso se realize a final da prova O Melhor Pastel de Nata, criada em 2009 pelo gastrónomo Virgílio Gomes. Acontece na segunda-feira, dia 30, às 15h, e o vencedor sairá da lista dos 12 estabelecimentos finalistas.

Em 2025, o Congresso de Cozinha terá como tema Uma Só Saúde, para falar da atenção que temos de ter ao que se cultiva, à forma como se criam os animais, como se transformam os produtos e o impacto que tudo isto tem na nossa saúde.

Congresso de Cozinha > Nirvana Studios > €60 (1 dia), €20 (estudante, 1 dia), €100 (2 dias), €180 (pack 6, 1 dia) > programa completo aqui

Há uns meses, quando voltámos a ser felizes ao balcão da Cevicheria, o chefe Kiko Martins avisou-nos de que iria abrir um restaurante de peixe e marisco, em Campo de Ourique, que nada teria que ver com aquilo a que estamos habituados.

Agora, já à mesa do Le Bleu, começamos a perceber o significado das suas palavras, mal nos trazem um amuse-bouche de gelado de escabeche com marinada de cavala – a técnica está lá, sem que se deixe de desconstruir as convenções culinárias.

“Nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo o que brilha é diamante”, veio-nos imediatamente à cabeça. Tomem nota deste provérbio, que ele será transversal a toda a refeição. Deliciosa, diga-se já, em abono desta aposta, concretizada no bonito prédio de Art Déco, com interiores em azul e motivos marítimos, quer nas fotos a caminho da casa de banho quer nos relevos em gesso das paredes da sala. Até os cocktails são gastronómicos e levam nomes de sobremesas, como o crème brulée que provámos. E o couvert também serve para nos surpreender, pois lá encontramos espargos prontos a serem mergulhados num dip de anchovas.

O desfile de snacks pode ir variando por entre um nigiri de lírio e marshmallow, inspirado no clássico japonês, mas sem o típico arroz a servir de cama ao peixe (€7,20), um par de ostras da ria Formosa (€8,30) assentes em lindas pedras azuis e só essas regressam à cozinha, pois de resto tudo se come, “concha” incluída, ou uma sanduíche de barriga de atum, em que o “pão” é feito de suspiro (€12,30).

Para a experiência ser mais completa, o melhor é pedirmos as duas unidades de bacalhau à Brás, que aqui se comem de uma dentada (€8,40), ou a tapioca com gamba do Algarve (€7,40), que talvez ganhe em apresentação, culpa da “espinha” negra que decora esta tapa. 

No campeonato dos pratos principais, há polvo, bacalhau, salmonete, lagostim, pregado, gamba violeta e barriga de atum. Mas, já se sabe, nada do que aqui escrevemos vai depois ter a correspondência esperada no prato. Brinquemos então às adivinhas, de cada vez que nos servem. É isso que espera o cozinheiro que idealizou estes pratos inusitados.

Le Bleu > R. Saraiva de Carvalho, 131 > T. 21 137 0107 > ter-qui 19h-23h; sex-sáb 12h-15h30, 19h-23h