Num abrir e fechar de olhos, passaram-se quatro anos de liderança da Juventude Socialista. Da próxima vez que um jovem socialista assinar esta rubrica, já terá sido eleita uma nova liderança desta organização, a que dediquei tanto tempo, amor e convicção. Não pretendo com este artigo ensaiar um discurso de despedida, mas, sim, refletir convosco sobre a evolução da participação política dos jovens neste período.

Afinal, na narrativa da bolha político-mediática, os jovens continuam a ser, ao mesmo tempo, desinteressados e obreiros de grandes tendências ideológicas (o wokismo e o novo conservadorismo, o slow-quitting e a sociedade do burnout). Nas organizações políticas, o jovem continua a ser simultaneamente desejado e desprezado, e raramente por falta de capacidade ou de ação. Os jovens fazem falta no presente mas são sempre e apenas futuro, o que concede a esses responsáveis políticos o álibi perfeito para haver poucos jovens envolvidos na construção deste Portugal de Abril.

Em 4 anos, muito mudou sobre as formas de participação dos jovens. Com exceção de uma sede por convívio presencial no longo desconfinamento da Covid, a pandemia criou o hábito da participação por ecrã. Essa realidade não é só na política, também se vê por exemplo no ensino superior, mas tem consequências em especial para a troca de ideias, formação de quadros e criação de comunidades.

Com menos deslocações a outras realidades, vem menos empatia, menos solidariedade e outras formas de laços sociais. Nunca um jovem sentiu que fosse tão fácil chegar a titulares de cargos políticos. O digital veio acabar com essa distância. Por outro lado, mesmo que falem com muitas pessoas, os algoritmos poderão colocar-nos a falar sobretudo com quem pensa como nós. Menos expostos à pluralidade e mais expostos à vaidade, os jovens nunca se sentiram tão sós e ansiosos.

Por outro lado, os últimos anos revelaram um impasse na organização da intervenção cívica. Se alguns achavam que os partidos estavam esgotados e o movimento associativo envelhecido, eles não foram substituídos por movimentos inorgânicos. Pelo contrário, estes têm-se revelado sempre como pais ou filhos das velhas formas associativas. Pior, ao contrário do que aconteceu com o movimento Occupy, Que Se Lixe a Troika e 15-M, nenhum movimento popular, liderado por jovens ou não, ganhou massa crítica neste período particular. É certo que novas e meritórias iniciativas têm surgido, desde a academia Próxima Geração à plataforma EuVoto, mas com que alcance? Nas massas, saem-se como ganhadores novos canais mediáticos que permitem ao jovem assumir um papel de cidadão-consumidor.

Os partidos políticos não podem, por isso, apostar apenas nas fórmulas tradicionais. Precisamos de mais protagonistas jovens, mas os jovens não votam num partido por causa da composição etária das suas listas. Precisamos dos problemas dos jovens no centro do discurso político, mas tanto António Costa como Luís Montenegro o fizeram, sem impacto que se visse. Até há quem entenda que os jovens se mexem mais por causas do que ideologias, esquecendo o quão efémero se torna essa simpatia partidária. Quantos jovens hoje deixarão de votar no PSD porque ele (até há bem pouco tempo) agiu contra a IVG ou a adoção homossexual?

Nestes 4 anos, tenho acreditado numa geração que quer ser consequente com o que defende. Acredito que uma organização juvenil será tanto mais aliciante se, mais do que abanar bandeiras, transformar o mundo por suas mãos. Como sempre, muito falta ainda fazer para resolver os problemas estruturais da nossa geração, a começar pelos baixos salários e a acabar pelo afastamento entre os jovens e a política. Todavia, orgulho-me de, neste balanço de mandato, poder apresentar não só várias dezenas de conquistas legislativas, desde o trabalho à habitação, sem esquecer a igualdade e o ensino superior, como também uma organização mais próxima do território e do associativismo e com atividades onde a voz de quem participa é ouvida. Fazer um tempo de agir era e foi, aliás, a vocação e obrigação da organização de juventude do partido que estava no poder.

Hoje, porém, é a forma mais que a substância que importa e o orgulho no que fizemos não nos dá o luxo de ignorarmos a realidade ou sermos complacentes. O mundo não é como achamos que deveria ser. A questão é o que fazer – adaptar ou resistir?

Seguramente os socialistas, não só JS mas sobretudo PS, terão de investir ainda mais e melhor na comunicação. Está visto que é a única coisa que funciona. Devemos, todavia, fazê-lo mantendo-nos fiéis a quem somos, comunicando sempre com substância e valores. Sábias, afinal, são as palavras do poeta Dylan Thomas: “não entres tão docilmente nessa boa noite. Clama, clama contra a morte da luz.”

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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A partir das 11h, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, estará no coro baixo da igreja do Mosteiro dos Jerónimos para apresentar o “programa evocativo” dos 500 Anos da morte de Vasco da Gama, junto ao túmulo do navegador português. No mesmo ano em que Camões nascia, 1524, partia o homem que ao longo dos séculos seguintes, e até hoje, seria recordado como  o responsável da “descoberta do caminho marítimo para a Índia.”

Se celebrar o poeta d’Os Lusíadas parece sedutor e relativamente fácil, evocar Vasco da Gama nos dias de hoje sem entrar em polémicas pode ser quase tão difícil como dobrar o Cabo das Tormentas. E tudo começa com a escolha das palavras… Será aceitável continuarmos a insistir nos termos “descobrimentos” e “descobertas”, que têm feito parte da nossa identidade histórica, para falar de movimentações comerciais, científicas e militares, num planeta que já era habitado por muitos povos e culturas? Faz sentido continuarmos a glorificar um passado que abriu caminho para séculos de opressão e exploração, com o argumento de que os contextos históricos eram, então, completamente diferentes?

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Até 2026, a Skoda irá lançar mais cinco modelos totalmente elétricos, o que para Luís Mateus, diretor-geral da Skoda em Portugal, representa “a maior ofensiva da história da marca em termos de produto”. A grande aposta será nos formatos SUV, mas, como refere o gestor em entrevista à VISÃO, “sem abdicar de outros formatos” como é o caso da Octavia, um dos seus best-sellers, que representa 40% das vendas na mercado nacional.

Como está o mercado automóvel português?
O mercado está agora, sobretudo neste segundo semestre, a voltar às dinâmicas existentes antes da pandemia. Está a tornar-se mais agressivo, com as marcas a ficarem muito combativas. O que, no final, acaba por beneficiar os clientes.

Podemos dizer que já saímos do período conturbado?
Vivemos quatro anos de exceção. Tivemos dois de pandemia e outros dois de efeitos colaterais. Na primeira fase não se venderam carros e, na segunda, a procura disparou e não havia carros para entrega devido à escassez de componentes. Tudo isso provocou uma enorme pressão nos preços. Depois, o Banco Central Europeu aumentou as taxas de juro, para tentar controlar a inflação, e as famílias ficaram com menos dinheiro disponível para comprar carro.

A recente descida das taxas de juro já está a ajudar o mercado?
Na Skoda temos sentido que a procura está a aumentar gradualmente no final deste ano. Digamos que começa a existir mais espaço para as famílias poderem respirar.

Recentemente, disse que a marca precisava de chegar mais ao consumidor. Qual tem sido a estratégia?
Em Portugal, o trabalho tem sido o de reposicionar a marca. A Skoda tem, hoje, um objetivo muito claro: elevar o valor da marca. Acho que, atualmente, é inquestionável a qualidade, a segurança, o nível de equipamento e o design que os nossos carros apresentam. Mas sabemos também que temos algo que vem do passado. No início, fomos posicionados como uma marca de entrada. O que a Skoda ambiciona hoje é ser uma marca racional.

O mercado está em transformação e os clientes estão mais digitais, O perfil de compra está a evoluir e o digital, seja na pesquisa, seja na compra, assume cada vez mais importância

Racional? Pode explicar?
A Skoda tem de ser a resposta a um cliente que quer aceder a tudo o que o Grupo Volkswagen oferece, mas a um preço mais comedido. E isto nada tem a ver com marca low-cost. Estamos a falar de acessibilidade. Queremos dar aos nossos clientes o melhor da tecnologia, o melhor da segurança e o melhor da qualidade por um preço mais justo. E, de facto, hoje a Skoda está num patamar completamente diferente. Ainda há um caminho a percorrer porque nem todo o nosso público se apercebeu da mudança da Skoda.

E qual será o vosso trajeto para percorrer esse caminho?
Na minha opinião, a fórmula do sucesso passa por oferecer um carro premium sem ser pretensioso. Temos carros de muita qualidade, seguros, bem desenhados e com uma boa oferta de equipamento, mas com um preço acessível, que as famílias podem acomodar no seu orçamento. Quando falamos de marcas premium, algumas pessoas compram uma determinada viatura por uma questão de status. E este conceito está a perder relevância, sobretudo nas novas gerações.

Qual o peso da Skoda dentro do Grupo Volkswagen?
É muito importante. No plano estratégico delineado, o chamado Skoda Next Level, ficou definido, entre outros parâmetros, que a marca deveria estar entre as cinco mais vendidas na Europa até ao final desta década. Se olharmos para este ano de 2024, em termos acumulados, a Skoda está em número quatro. Não podemos dizer que é uma posição consolidada, mas é um sinal claro desta evolução. Conseguimos atingir em 2024 um objetivo que estava definido para 2030.

Mas em Portugal, a vossa quota de mercado anda nos 2%?
Queremos crescer. Queremos mais que duplicar a nossa quota de mercado. Isso está planeado para os próximos anos porque temos uma ofensiva de produtos que é a maior da história da Skoda. Mas temos de fazer este crescimento no caminho certo, porque entendemos que, em prol da marca e dos nossos clientes, tem de ser feito com bases sólidas e duradouras.

Quer dizer…
… Que em Portugal é fácil comprar quota de mercado. O rent-a-car representa 30% das vendas, mas poderia representar mais. É um canal muito importante para as marcas, mas não deve exceder um certo limite. Existe a pressão para vendermos mais, mas nós não estamos dispostos a ceder para conquistar quota. É um compromisso.

Foto: José Carlos Carvalho

Mas poderia alavancar as vendas.
Crescer de repente para, daqui a uns anos, percebermos que o valor da marca não é aquele que nós queríamos e que os clientes não apreciam a marca como nós gostaríamos, o que nos obrigaria a refazer tudo? Não é isso que queremos. Para mim, neste momento, o mais importante não é a quota de mercado, mas sim a perceção que os clientes têm da marca. Isso é que nos dá confiança e que mostra que estamos no caminho certo. Os nossos clientes terão satisfação da experiência no ato de comprar o carro, na sua utilização e no momento da venda. Poderíamos ter uma estratégia mais agressiva, esmagando as margens, mas, a prazo, perderíamos valor.

Em termos de comércio, o digital já tem alguma expressão?
O mercado está em transformação e os clientes estão cada vez mais digitais, O perfil de compra está a evoluir e de facto o digital, seja na pesquisa, seja na compra, assume hoje cada vez mais importância. Num estudo que fizemos em Portugal, verificámos que 60% dos nossos clientes usam o telemóvel como meio preferencial para procurar informação. Mas 73% continuam a valorizar a ideia física do concessionário para fechar o negócio.

Isso significa?
Que começa a haver alguma tendência para comprar os carros em vendas online. Nós tivemos a oportunidade de experimentar isso durante a pandemia. Nessa altura lançámos o programa que ainda hoje temos que é o Skoda Online Market. Foi um programa muito importante em termos de aprendizagem. Percebemos quais as motivações e as objeções das pessoas para comprar um carro online.

Em termos de eletrificação qual é a vossa estratégia?
A transição para a mobilidade elétrica é inevitável. E, ao contrário de outras marcas, a Skoda tem uma visão muito “pés assentes na terra”. Percebemos que os mercados evoluem a velocidades diferentes. Há mercados onde a eletrificação vai a voar e outros que oferecem uma grande resistência. E nós não podemos abandonar os nossos clientes. Ao mesmo tempo que percorremos o nosso caminho estratégico em termos de eletrificação, a Skoda continua a investir em motores de combustão ultraeficientes e em híbridos plug-in de segunda geração, com autonomias reforçadas.

Mas ainda existem entraves para a transição para a mobilidade elétrica, nomeadamente, a capilaridade da rede de carregamento?
Na minha opinião, estas dificuldades já estavam previstas. Hoje já temos uma rede alargada e com velocidades de carregamento muito elevadas. O que os construtores não esperavam era o valor das retomas. Quem “puxou” pelos carros elétricos, sobretudo em Portugal, foram as empresas. Estas geralmente têm contratos de renting a quatro ou cinco anos e, ao fim desse período, o cliente devolve o carro à estrutura de frotas. O que não se esperava é que não houvesse clientes para comprar os carros elétricos em segunda mão.

Quem ‘puxou’ pelos carros elétricos, em Portugal, foram as empresas. O que não se esperava é que não houvesse clientes para comprar os elétricos em segunda mão

E qual é a razão?
O perfil do cliente do carro elétrico é algo diferente. São pessoas que querem a última novidade em termos tecnológicos. A parte da conectividade e do digital é uma componente muito importante num carro elétrico. E um fator de decisão fundamental.

Vê os híbridos plug-in como uma tecnologia de transição para a mobilidade 100% elétrica?
Havia essa ideia inicialmente, mas o que a prática está a mostrar é que estão a ter uma preponderância acima do que era esperado. Lançámos este ano o novo Skoda Kodiaq e o novo Skoda Superb com versões híbridas plug-in com baterias de segunda geração, e vamos continuar a lançar os nossos carros elétricos. Lançámos o Enyaq, já apresentamos o Elroq, um SUV do segmento abaixo do Enyaq e, até 2026, iremos ter mais cinco modelos totalmente elétricos.

Ficam com um leque de oferta muito alargado?
Vamos ter uns anos muito animados em termos de novos produtos. Vamos lançar um SUV compacto citadino, o Epiq, que ficará no segmento abaixo do Elroq. É um carro que terá um preço a rondar os 25 mil euros. Vamos ainda lançar uma carrinha, que nós chamamos uma cross combi, um segmento onde temos um historial muito forte. Teremos ainda a Octavia 100% elétrica e um SUV de sete lugares, com um conceito totalmente diferente daquele que nós conhecemos. Estes produtos irão ajudar-nos a crescer de forma sustentada, utilizando uma ofensiva de produto para conquistar novos clientes.

Pelos modelos que enumerou, há uma grande aposta nos formatos SUV?
Atualmente, os SUV representam metade do mercado. E esta é uma tendência em toda a Europa. Na Skoda continuamos a evoluir fortemente nos SUV e vamos acompanhando o que os nossos clientes nos pedem. Mas isto não quer dizer que iremos abdicar de outros formatos. A carrinha Octavia continua a ser um dos nossos best-sellers.

Qual o peso da Octavia nas vossas vendas?
Neste momento, vale 40% das nossas vendas em Portugal. É um carro que está muito bem conseguido. Junta o melhor de dois mundos em termos de habitabilidade e espaço de bagageira, ideal para famílias.

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Volodymyr Zelensky não se cansa de assegurar que a guerra na Ucrânia terminará em 2025. Não demonstra dúvidas nem hesitações, o que só pode ser explicado por três possibilidades:

  1. Ceder o território conquistado à Rússia, perder a Crimeia para sempre, renegar tudo o que afirmou e esquecer os milhares de mortos e feridos neste conflito. Esta não será, certamente, a via que Kiev pretende seguir.
  2. A segunda hipótese é acreditar que Putin está à beira de um colapso interno, algo que já foi mais evidente e quase se concretizou. No final de 2022 e início de 2023, o Kremlin estava sem rumo, tal era a dimensão da derrota e da tragédia militar em que se envolveu. Contudo, ao aproximarmo-nos de 2025, o presidente russo conseguiu assegurar alguns apoios importantes, tanto em armamento como em homens. Putin conseguiu globalizar um conflito que tem o potencial para se transformar numa guerra mundial.
  3. Zelensky tem um trunfo na manga, que não é Trump. Esse trunfo só pode ser de natureza militar, colocando a Ucrânia numa posição de força para negociar. Por outras palavras, Kiev pode estar a recriar armas nucleares, sem grandes dificuldades no que diz respeito ao conhecimento ou à experiência, e com materiais físseis ao seu alcance. Este alerta já foi dado por Kiev, não há muito tempo, e coincide com o esforço interno de militarização da sua indústria pesada, com apoio externo.

Para além desta terceira hipótese, haverá outra que permita terminar a guerra instantaneamente? O receio que se está a instalar nos aliados da NATO na Europa de Leste não é uma fantasia. Nunca como agora se discutiu e se tornou tão banal a possibilidade do uso de armas nucleares.

Três anos é tempo suficiente para os ucranianos construírem as suas próprias armas nucleares. É importante não esquecer que eles possuem toda a infraestrutura que remonta aos anos 90, quando a URSS desapareceu. As ogivas nucleares foram devolvidas à Rússia – presume-se que todas, embora ninguém possa garantir –, mas os mísseis balísticos e os silos de lançamento equipados permaneceram na Ucrânia, na confusão que marcou o colapso da União Soviética.

O trunfo de Zelensky é poderoso, capaz de acabar com a guerra em 2025, mas só ele, e um punhado de fiéis, poderá decifrar o enigma.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves deslocou-se, esta segunda-feira, ao bairro do Zambujal, na Amadora, para se encontrar com os familiares de Odair Moniz.

“A iniciar a sua missão a Portugal”, o Presidente da República, José Maria Neves, deslocou-se ao Zambujal “para se inteirar da situação da família enlutada (a viúva Mónica Moniz, os dois filhos rapazes de 20 e três anos de idade, e a irmã de Mónica, Sílvia Silva) e expressar, de viva voz, o seu profundo pesar e apoio neste momento difícil”, lê-se num comunicado da Presidência de Cabo Verde, divulgado nas redes sociais.

A nota refere que “a visita foi marcada por um ambiente de respeito e empatia, refletindo o compromisso do Chefe de Estado [de Cabo Verde] em estar presente e solidário com os cidadãos cabo-verdianos, especialmente em momentos de dor e perda”.

O encontro, no interior da casa da família Moniz, não teve registos fotográficos. Presente estiveram também a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Cabo Verde, Miryan Vieira, e ainda o embaixador cabo-verdiano em Portugal, Eurico Correia Monteiro.

Recorde-se que Odair Moniz, 43 anos, morreu na madrugada do dia 21 de outubro, na sequência de uma intervenção da PSP, no bairro da Cova da Moura, na Amadora. A polícia garante que Odair Moniz não respeitou um sinal de paragem, o que deu início a uma perseguição. Na primeira notícia sobre o caso, no site da CNN, contava-se que Odair Moniz era suspeito de furto de viatura, mas a informação seria desmentida pela VISÃO.

O relato da PSP explicava que, “pelas 05h43” daquela noite, os agentes da PSP procederam “à interceção” deste homem, que terá resistido à detenção. “Na Rua Principal do referido bairro [Cova da Moura], quando os polícias procediam à abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”, versão que os próprios polícias envolvidos na operação acabariam por desmentir. A situação terá mesmo levado a PJ a investigar uma eventual “falsificação de provas” pela PSP.

Nessa altura, um dos polícias, de apenas 21 anos – e com apenas um ano de farda –, recorreu à arma de fogo e atingiu o suspeito com, pelo menos, dois tiros. A PSP indicou ainda que, após os disparos, foi prestada “prontamente” assistência à vítima, mas o relato voltaria a ser desmentido por um vídeo, filmado por um morador, a partir de uma janela próxima, e divulgado pela VISÃO.

Odair Moniz ainda seria transportado para o Hospital São Francisco Xavier, mas acabaria por falecer “pelas 06h20”.

O agente da PSP autor dos disparos foi constituído arguido. O Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) a abertura de um inquérito “com caráter de urgente” para apurar o que aconteceu naquela noite. A PSP também anunciou uma investigação interna para apurar as circunstâncias do caso.

A morte de Odair Moniz provocou revolta no bairro onde este residia, resultando em motins. Nas noites seguintes, os incidentes espalharam-se pela Área Metropolitana de Lisboa, havendo o registo de autocarros, veículos ligeiros e caixotes do lixo incendiados, dos quais resultaram seis pessoas feridas, umas das quais ficou em estado grave (o motorista de um autocarro); cerca de duas dezenas de pessoas foram detidas.

Se outubro é rosa, novembro é azul. Neste que é o mês dedicado à saúde do homem, um pouco por todo o mundo são realizadas ações de sensibilização para a importância de um diagnóstico precoce das doenças que o afetam, sobretudo o cancro da próstata e do testículo.

Deixar crescer o bigode durante estes 30 dias é um desafio lançado a todos os homens, como símbolo do apoio a esta causa e ao movimento que ficou conhecido como Movember.

Cancro da próstata

O cancro da próstata é o mais frequente e a terceira principal causa de morte nos homens na Europa, com importantes consequências individuais e para os sistemas de saúde.

Em Portugal, estima-se que hajam cerca de seis mil novos casos por ano e a sua incidência tem vindo a crescer, com o aumento da esperança de vida da população.

Embora a idade média do diagnóstico do carcinoma da próstata seja de 69 anos, mais de 10% ocorrem em homens com menos de 55 anos, pelo que não se deve assumir que se trata de uma doença do idoso sem risco de vida. A deteção precoce e do tratamento eficaz são fundamentais para garantir a longevidade e uma maior qualidade de vida .

Como é detetado o cancro da próstata?

Estes tumores desenvolvem-se lentamente e, numa fase inicial, não causam sintomas, o que significa que queixas como jato urinário fraco e aumento da frequência miccional diurna ou noturna são causados maioritariamente por outras doenças, tais como o aumento benigno da próstata (HBP).

Sendo assim, a sua deteção precoce é efetuada através da conjugação de uma análise de sangue com doseamento do PSA e do toque retal realizado pelo urologista. Consoante estes resultados, poderão ser necessários outros exames como o RNM multiparamétrica da próstata e, por fim, a biópsia prostática, que confirma o diagnóstico.

Qual o tratamento?

Atualmente, o carcinoma da próstata é uma doença curável quando detetado na sua fase inicial. Existem vários tratamentos disponíveis, cuja escolha depende de fatores como o estadio e a agressividade da doença, o estado geral de saúde e a preferência do doente.

Os tratamentos clássicos incluem a cirurgia radical, que consiste na remoção da totalidade da próstata, e a radioterapia, na qual as células cancerígenas são destruídas por feixes de radiações ionizantes. Embora possam garantir o controle oncológico da doença, estes tratamentos implicam, em muitos casos, efeitos adversos importantes, tais como a disfunção eréctil e a incontinência urinária, podendo assim ter um impacto negativo na qualidade de vida do homem.

De forma a minimizar estes efeitos indesejados, têm sido desenvolvidos tratamentos não radicais, que permitem tratar o cancro da próstata evitando a mobilidade associada aos tratamentos convencionais.

Tratamento não-radical do cancro da próstata

Consiste no tratamento do carcinoma da próstata de forma precisa e menos invasiva, tratando apenas a área da próstata afetada pelo cancro, com preservação dos tecidos circundantes, o que garante a integridade das funções urinária e sexual. Este método reduz significativamente os efeitos secundários dos tratamentos radicais, evitando-os ou adiando-os, mantendo assim a qualidade de vida dos doentes, sem comprometer a sua eficácia oncológica.

Para serem elegíveis para o tratamento não-radical, os doentes com cancro da próstata devem ser diagnosticados numa fase inicial da doença, quando este ainda está localizado a uma zona da próstata, e devem aceitar a necessidade de uma estreita vigilância ao longo do tempo.

O diagnóstico precoce e preciso do cancro da próstata é obtido mediante biópsias de alta tecnologia que permitem delimitar com exatidão a localização e extensão do mesmo, o qual é posteriormente alvo da terapia robótica avançada, que utiliza ultrassons de alta intensidade para tratar diretamente o tecido cancerígeno, poupando o circundante.

Após este tratamento, é fundamental manter um protocolo de vigilância rigoroso, ajustando o tratamento conforme necessário, de forma a garantir os melhores resultados a longo prazo.

Duas horas antes de começar a sessão solene do 25 de novembro, já Paulo Núncio andava pelos corredores do Parlamento. Espreitando para o hemiciclo, confirmou que os serviços da Assembleia da República tinham seguido a sua sugestão de decoração. Uns arranjos discretos de rosas brancas foram dispostos no púlpito e na bancada da Presidência da Assembleia. Mas essas flores, que Núncio justificava por acreditar poderem ser símbolos da “pacificação” que defende ter sido trazida pelo 25 de Novembro, tiveram de disputar a atenção com os cravos vermelhos.

A guerra das flores

Joana Mortágua, a única deputada do BE presente na sessão, trouxe cravos. Em cada um dos lugares deixados vazios à esquerda, pôs essas flores. E ainda guardou uma para entregar a Marcelo Rebelo de Sousa, quando o Presidente da República passou em frente da bancada bloquista à chegada à cerimónia. Mas houve mais cravos: à lapela de deputados socialistas que vieram à sessão e na bancada do Livre, a única da esquerda que não tinha lugares vazios, uma vez que foram muitos os eleitos pelo PS que faltaram.

Paulo Núncio, o líder da bancada do CDS, foi o primeiro a subir ao púlpito. Esta foi uma vitória do seu partido. Há 24 anos que os centristas apresentavam moções a defender que o 25 de Novembro fosse celebrado no Parlamento. Uma iniciativa que só este ano encontrou maioria, com os votos a favor de PSD, Chega e IL e abstenção do PS, curiosamente talvez o único partido que pode reclamar ter tido uma vitória nesta data histórica, com o chamado Grupo dos Nove a conseguir afastar do poder militar as alas mais à esquerda.

“Com o 25 de Abril, ganhámos a liberdade. Com o 25 de novembro, evitámos que a liberdade se perdesse”

“Com o 25 de Abril, ganhámos a liberdade. Com o 25 de novembro, evitámos que a liberdade se perdesse”, começou por defender Paulo Núncio, apresentando este dia como uma espécie de fim do PREC e derrota do PCP, apesar de os comunistas não só não terem sido ilegalizados (como pretendia a extrema-direita), como terem continuado a fazer parte do Governo de coligação que os juntava ao PPD e ao PS.

De resto, e apesar da pacificação de que Núncio falou no seu discurso, o País continuou atribulado. O Padre Max e a estudante Maria de Lurdes, duas das vítimas dos bombistas da extrema-direita, por exemplo, morreram em 1976. A constituição aprovada em 1976, com o voto contra do CDS, continuou a afirmar a via para o socialismo e para uma sociedade sem classes. E as nacionalizações prosseguiram, apesar dos saneamentos de jornalistas conotados com a esquerda e das despromoções de militares de esquerda, alguns dos quais tinham feito o 25 de Abril.

Paulo Núncio quis, contudo, demarcar-se desse passado em que a direita defendeu a ilegalização de todos os partidos à esquerda do PS. “Não se enganem. Celebramos o direito de todas as forças políticas estarem aqui, por vontade do povo. Mesmo as forças políticas que decidiram não estar aqui”, afirmou, numa alusão ao PCP.

“Novembro não se fez contra Abril”, vincou Núncio, que defende a tese de que esta data serviu para travar um golpe comunista que poderia ter feito de Portugal uma ditadura de estilo soviético, apesar das várias declarações em sentido contrário de Álvaro Cunhal, o então secretário-geral comunista que lançou o famoso “olhe que não”, quando num debate, Mário Soares acusou o PCP, precisamente, de querer levar o País para uma deriva autoritária.

“Uma coisa é ter respeito pelo 25 de Novembro, outra muito diferente é ter respeito por aquilo que estão a tentar fazer ao 25 de Novembro”

Filipa Pinto, do Livre, também encontra razões para celebrar uma data que, segundo vários relatos históricos, ajudou a travar uma guerra civil que estaria iminente, também graças às ordens que Cunhal deu aos militares afetos ao seu partido para não avançarem. “Evitou-se uma guerra civil. Não pela mão dos herdeiros do fascismo, mas pela mão de quem nos trouxe a liberdade”, declarou a deputada.

“Uma coisa é ter respeito pelo 25 de Novembro, outra muito diferente é ter respeito por aquilo que estão a tentar fazer ao 25 de Novembro”, insistiu Filipa Pinto, defendendo que seria mais interessante o Parlamento celebrar os 50 anos do voto universal, que permitiu que todas as mulheres, independentemente do seu estado civil ou de serem ou não escolarizadas, pudessem votar.

“Esta data que fez 50 anos é que nos devia ter juntado numa sessão solene”, argumentou, num discurso recheado de referências à defesa dos direitos das mulheres, mas também das pessoas LGBT e trans, desencadeando protestos particularmente ruidosos da bancada do Chega.

“A atual mistificação sobre o significado histórico do 25 de Novembro é uma manobra dos derrotados de Abril”

Também debaixo de grandes protestos do Chega, falou Joana Mortágua, que defendeu que “as palavras que a Revolução escreveu, o 25 de novembro não apagou”. E que essas palavras foram: “liberdade, democracia, socialismo.”

“A atual mistificação sobre o significado histórico do 25 de Novembro é uma manobra dos derrotados de Abril. Daqueles que, como lembrou o ex-líder parlamentar do PSD, Pacheco Pereira, em 74 e 75 eram partidários da ditadura que oprimiu os portugueses”, disse Mortágua, numa alusão às movimentações de extrema-direita que procuraram aproveitar a sublevação dos paraquedistas para fazer um contragolpe.

“Podem repetir a vossa lenda sobre o 25 de Novembro e nós continuaremos a responder com a história do 25 de Abril e com o texto da Constituição”, frisou a bloquista, lembrando a forma como o texto aprovado pela Constituinte manteve, por exemplo, a irreversibilidade das nacionalizações.

De resto, Joana Mortágua garantiu que assim que houver uma maioria de esquerda, deixará de haver uma evocação do 25 de Novembro. “Esta sessão e as que se realizarem nos próximos dois ou três anos serão lembradas no futuro como o momento folclórico de um tempo bizarro, em que o PSD e a extrema-direita se aliaram no revisionismo histórico, num exercício espúrio e sem duração na memória do País”, atirou.

“Fascismo e comunismo nunca mais”

“Fascismo e comunismo nunca mais”, gritou Rui Rocha, no final de uma intervenção, na qual o líder da IL lembrou a forma como os liberais se têm batido por fazer parte das celebrações populares do 25 de Abril, desfilando no final do cortejo que desce a Avenida da Liberdade em Lisboa, mas também como começaram a comemorar “sozinhos” o 25 de Novembro, uma data que veem como a garantia da liberdade.

“Também agora é preciso combater radicalismos em torno da verdade”, defendeu Rui Rocha, que se disse pronto a lutar contra “as políticas identitárias, a teoria da justiça social, o wokismo” que, em seu entender, “incorporam, sob a capa das boas intenções, uma deriva coletivista e inapelável: a de definir se és bom ou és mau”. 

“Podem sair todos, fica mais agradável ainda”

André Ventura descreveu o País durante o PREC como “um país sem rei nem roque” e insistiu na importância de celebrar o 25 de Novembro. “Sem esquecermos o 25 de Abril, este é o verdadeiro dia da liberdade de Portugal”, afirmou Ventura, num discurso que aproveitou para tentar associar os dados revelados esta segunda-feira sobre o número de violações ao que considera ser uma “imigração descontrolada”, uma relação que não é possível de confirmar através de nenhum relatório ou estatística, havendo pelo contrário vários dados que mostram que na maior parte dos casos as mulheres são vítimas de pessoas que lhes são muito próximas, como os seus próprios companheiros.

Esta passagem do discurso do líder do Chega fez mais alguns deputados do PS abandonarem a sala. “Podem sair todos, fica mais agradável ainda”, reagiu Ventura do púlpito.

“O 25 de Novembro não foi uma vitória da direita sobre a esquerda”

A Pedro Delgado Alves coube a defesa do 25 de Novembro como uma data na qual o PS foi central, mas que apesar disso nunca teve a iniciativa de celebrar no Parlamento, tendo mesmo Mário Soares achado por bem acabar com as cerimónias militares evocativas da data, precisamente por entender que era um momento histórico divisivo.

“O 25 de Novembro não foi uma vitória da direita sobre a esquerda, foi uma vitória da esquerda democrática do Portugal de Abril, militar e civil”, começou por dizer Delgado Alves, que acredita que “o 25 de Novembro não só repôs o espírito e o programa do 25 de Abril, como também impediu as tentações revanchistas da direita radical”.

“Os elementos da direita extremista e radical que pretendiam aproveitar para erradicar parte da esquerda da vida política nacional fazem parte inequivocamente parte dos derrotados”, afirmou, com a promessa de que os socialistas não ajudarão ao apagamento da revolução que fez cair a ditadura. “Não viraremos Novembro contra Abril”, disse, lembrando como o próprio General Ramalho Eanes, um dos protagonistas deste dia (que foi, aliás, várias vezes ovacionado pelos deputados), chegou a dizer que o 25 de Novembro não era para ser celebrado, mas sim estudado, analisado e debatido.

“O 25 de Novembro cumpriu Abril”

“Nem todos os representantes do povo estão presentes nesta cerimónia. Fazem mal”, declarou Miguel Guimarães, o deputado escolhido pelo PSD para discursar na cerimónia. Para Guimarães, esta data “é a continuação do 25 de Abril” e “o 25 de Novembro cumpriu Abril”.

“Muito obrigado, senhor general Ramalho Eanes por ter protegido a liberdade e a democracia e nos ter devolvido a esperança de viver num mundo melhor”, agradeceu, provocando uma das várias ovações de que foi alvo o antigo Presidente da República que, ao contrário de Vasco Lourenço (outro dos protagonistas do 25 de novembro), foi ao Parlamento assistir à cerimónia.

Depois de vários momentos crispados, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e o Presidente da República, tentaram fazer discursos pacificadores.

“O 25 de Abril não é desvalorizável, não é equiparável, não é substituível”, garantiu Aguiar-Branco, antes de Marcelo ter dado uma verdadeira aula de História, que assumiu ter tentado que fosse “o mais objetiva possível”.