1. Ainda Estou Aqui

O regresso em grande de Walter Salles, realizador conhecido por filmes como Central Brasil, Terra Estrangeira e Diários de Motocicleta. Em Ainda Estou Aqui, Salles mergulha nos fantasmas da ditadura militar brasileira para contar a história de uma mulher cujo marido desaparece subitamente, deixando-a sozinha com os seus cinco filhos. Baseado no livro homónimo de Marcelo Rubens Paiva, conta com Fernanda Torres (Globo de Ouro de Melhor Atriz num Filme Dramático) e Fernanda Montenegro nos principais papéis e é um dos favoritos à nomeação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Estreia 16 jan

2. O Brutalista

Nomeado para sete Globos de Ouro (ganhou nas categorias de Melhor Filme Dramático, Melhor Realização e Melhor Ator num Filme Dramático), e vencedor do Leão de Prata do Festival de Veneza, O Brutalista, de Brady Corbet, ganha terreno como um dos grandes candidatos aos Oscars. Numa altura em que os EUA se preparam para oficializar uma política xenófoba a uma escala nunca dantes vista, Corbet traz-nos uma história de imigração pós-guerra. Ao longo de mais de três horas, o filme acompanha László Tóth, um arquiteto húngaro de origem judaica, que decide mudar-se para a América, juntamente com a sua família, em busca de uma vida melhor. No principal papel está Adrien Brody (Globo de Ouro de Melhor Ator num Filme Dramático), que será o mais sério candidato ao Oscar de Melhor Ator.​ Estreia 23 jan

3. Banzo

Numa altura em que se discute a reparação histórica e a necessidade de uma visão abrangente da História colonial, Margarida Cardoso faz um filme sobre a escravatura portuguesa, já depois da abolição oficial, nas roças de São Tomé e Príncipe. Um filme duro e cativante, importante mergulho na História de Portugal do século XX, que cumpre a missão de não deixar apagar a memória. Um filme de época, com Carloto Cotta no papel de um médico que se depara com a realidade de São Tomé e não encontra solução para curar a melancolia de um grupo de escravos moçambicanos. Uma obra tão rara como necessária no cinema português, Banzo não deixará ninguém indiferente. Estreia 23 jan

4. Um Completo Desconhecido

Talvez não seja a escolha mais óbvia, mas é também por isso que a expectativa é grande. Timothée Chalamet, um dos meninos bonitos de Hollywood, encarna a personagem de Bob Dylan neste biopic centrado na ascensão da carreira de um dos maiores mitos da música norte-americana. No filme de James Mangold somos levados pelos primeiros passos do grande escritor de canções, até se tornar uma das grandes figuras do folk-rock. O filme debruça-se sobre o seu lado político, a sua permanente irreverência, mas sobretudo a construção artística de uma linguagem musical e poética inconfundível. Estreia-se três semanas depois de A Cantiga é uma Arma, documentário sobre Joan Baez, realizado por Miri Navasky, Karen O’Connor e Maeve O’Boyle. Estreia 30 jan

5. Parthenople

Paolo Sorrentino regressa à sua Nápoles natal para fazer o retrato de Parthenople, uma jovem italiana com traços de femme fatal, pela qual os homens vulgarmente se apaixonam. Um filme estival, assente numa só personagem, que acompanha sem heroísmo nem dramatização, fazendo o retrato de um tempo, de um espaço e da própria natureza humana, através de paixões desencontradas. Um filme leve de um realizador habituado a surpreender com filmes como A Grande Beleza, Juventude ou A Mão de Deus. Parthenople é também o momento de grande revelação da atriz italiana Celeste Dalla Porta. Estreia 27 fev

6. On Falling

A longa de estreia de Laura Carreira tem sido um verdadeiro papa-prémios de festivais internacionais, incluindo San Sebastian e Londres. A ação situa-se em Edimburgo, onde a realizadora frequentou a escola de cinema. Com uma estética neorrealista, próxima de Ken Loach, conta a história de uma portuguesa que trabalha como recoletora de encomendas num grande armazém, lutando pela sobrevivência num contexto hostil, que põe em causa os modelos laborais contemporâneos. Falado em inglês e português, o filme aposta bem em Joana Santos, atriz que conhecemos melhor de séries televisivas, mas que aqui tem uma atuação memorável. Estreia 27 mar

7. Mickey 17

Em 2019, o mundo rendeu-se à irreverência e à qualidade do guião de Parasitas, do sul-coreano Bong Joon-ho, que chegou tão longe quanto um filme pode chegar: ganhou a Palma de Ouro em Cannes e seis Oscars, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Realizador. Aguarda-se assim com expectativa a estreia da sua longa seguinte. Mickey 17 é o primeiro filme de Joon-ho em língua inglesa, produzido pelos estúdios Universal, com um orçamento de 150 milhões de dólares, e um elenco que inclui Robert Pattinson no principal papel. Baseado no livro de Edward Ashton, é um filme de ficção científica, que imagina a revitalização de um corpo e parte das memórias de um emissário para a colonização de um planeta gelado. O género afasta-o de Parasitas, aproximando-o de obras mais antigas do realizador, como Expresso do Amanhã, de 2013, que foi recentemente adaptado ao formato de série. Estreia 6 mar

Ingredientes (2 pessoas)

400 g de filetes de peixe branco, sem pele, finamente picados

3 c. de sopa de pão ralado panko

3 c. de sopa de coentros finamente picados

2 c. de sopa de molho sweet chilli tailandês

2 c. de sopa de maionese

1 ovo, batido

Sal marinho e pimenta-preta acabada de moer

Pulverizador com óleo de coco

2 quartos de lima, para servir

Molho sweet chilli tailandês, para servir

Preparação

Numa tigela, junte o peixe, o pão ralado, os coentros, o molho sweet chilli, a maionese, o ovo batido e um pouco de tempero, e mexa até ficar bem misturado.

Forme com esta massa 4 pastéis de peixe de tamanho idêntico.

Borrife o cesto da air fryer com óleo de coco. Borrife também ligeiramente os pastéis de peixe e, de seguida, disponha‑os no cesto da air fryer, bem separados.

Regule a temperatura da air fryer para 200 °C e marque 9 minutos no temporizador.

Cozinhe os pastéis até ficarem tostados e a sua temperatura interior, medida com termómetro, atingir pelo menos 75°C.

Regue com o sumo dos quartos de lima imediatamente antes de servir e acompanhe com o molho sweet chilli tailandês.

Sugestão: use pão ralado sem glúten

A fritadeira de ar quente – que permite fritar, mas também assar e até cozer alimentos – parece ter ganhado um lugar cativo nos balcões de cozinha. Em Tudo na Air Fryer (ArtePlural Edições, 144 págs., €16,60), a britânica Valentina Harris apresenta 60 receitas para confecionar refeições económicas e práticas. Desde grelhados e assados, até snacks, petiscos, acompanhamentos, sugestões para o pequeno-almoço, doces e sobremesas.

Palavras-chave:

Perto do hotel, debruça-se sobre as areias, como se quisesse estender-se nelas, ou então jogar-se ao mar, um colossal embondeiro. Caiado, o tronco confunde-se com uma grande parede branca. Também as raízes, que aparentam ter nascido em tentacular erupção do meio do passeio de cimento, foram pinceladas com cal. É para evitar pragas, dir-me-iam, em São Tomé como no Alentejo, quando o meu ceticismo questionasse a prática e o respetivo sustento científico. Mas não vou por aí. De que vale a ciência num país em que, numa das vezes em que admiro o embondeiro, que alberga à sombra, além do próprio vendedor, deitado no chão para uma sesta, um quiosque de cartões de telemóvel recarregáveis, que toda a gente compra a todo momento, e que anuncia em letras inclinadas Turbo Net dá mais power aos teus dias, de que vale a ciência, perguntava, se mesmo ali ao lado passa, a grande velocidade, um rapaz sem pernas, deitado de borco sobre o assento de uma cadeira de rodas, usando as palmas das mãos como plantas dos pés, para fazer mover os pneus sobre a gravilha da berma, como quem puxa uma carroça, ou um riquexó?

Quando cheguei a São Tomé, fui recebido, às cinco da tarde, por um céu escuro como nunca vira, uma espécie de noite antes da noite, mas de tons plúmbeos, e por um ar colante, que me esforcei por interpretar como um primeiro afago das forças naturais que comandam a atmosfera equatorial africana. Depois, percebi, o que pousava em mim era mesmo chuva e era quente, pois apesar de estarmos a entrar na gravana, o período frio e sem precipitação, o termómetro do meu telemóvel marcava 28 graus. Subi para a pick-up de um dos funcionários do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que me deu conta de que o céu escuro era mesmo o princípio da noite, e me transportou pela marginal mal iluminada. Cães vadios ziguezagueavam, embriagados, senhoras pediam boleia na beira da estrada, com os pés enlameados, uma placa da Delta Cafés tremeluzia e, logo depois, chamava a atenção uma da Super Bock. De muitos em muitos metros, a escuridão dava lugar a pontos de luz que anunciavam construções: a sede do Sporting de São Tomé; Diogo Vaz, a casa do melhor chocolate do mundo; a Igreja do Poder de Deus; e, finalmente, o hotel.

Felicidade “Em São Tomé e Príncipe tudo acontece com uma ou duas horas de atraso, mas corre bem. Esse ritmo leve-leve mudou toda a minha conceção de vida”

Nos dias seguintes, constato que, se nos afastamos do centro, em direção às roças, não temos forma de conduzir senão com as mãos bem firmes no volante e de olhos muito abertos. Não é somente o ondeio e o esburacado das estradas a tornar as viagens pouco tranquilas e a obrigar a mil cuidados, é também o deambular das pessoas pelas bermas, sobretudo crianças, cujas brincadeiras e correrias nos retesam os músculos, e a circulação incessante dos mais variados animais, que aparentam procurar caminho para uma salvífica Arca de Noé. Tal como as pessoas mais jovens, porque os mais velhos já só esperam, e pouco, vemo-los sempre à procura de qualquer coisa que não encontram: uma solução, uma vereda, um atalho. A todo o instante, evitamos cães vagabundos e maltratados, porcos e bacorinhos enfileirados, além de galinhas e respetivas descendências. A todo o instante, crentes ou não, rezamos para não os atropelarmos, não só pelas razões óbvias, mas também pela nossa carteira, dado que de imediato nos surgiriam vinte pessoas a declararem-se donas das vítimas da nossa condução desadequada daquele viver e a cobrarem pelo abate.

Garotos de beira de rua

Quando se circula por São Tomé, muito mais do que os animais, que sem dificuldade supomos poderem bastar-se a eles próprios e ser tão felizes ali como em qualquer outro lugar, o que impressiona mesmo – e reitero-o para que melhor se veja – são as crianças. Na cidade e fora dela, há sempre meninos de beira de rua, garotos em trânsito por todos os caminhos e estradas, a todas as horas. Passa-se por entre caroceiros e outras árvores de grande porte, cruzam-se bananais, vai-se ao lugar mais remoto, de carro ou a pé, e eles estão sempre lá. Foi a dois deles, tão obstinados quanto famintos, que acedi a comprar, depois de perseguido durante quilómetros, um porta-chaves de madeira em forma de tartaruga, que mais tarde, entre regateios e insistências, troquei por um outro que representava um peixe pintado com as cores da bandeira de São Tomé e Príncipe. Sempre que passava naquele local, cruzava-me com miúdos de várias idades, arquétipos dos dois únicos tipos de rapazes que conheço durante os dias que passo no país: os que, a mando ou por vontade própria, lutam pela sobrevivência e os que se encostam, já derrotados, ou de sustento garantido por gente maior ou mais pequena, como a que tanta vez me puxa o braço e diz: senhor, dá dinheiro para comida. Chego a perguntar-lhes se é para comida ou para um telemóvel. Como os daqueles – e aponto para os rapazes alojados em curvas e outros aconchegos do tronco do embondeiro. Não estão a ver a vista, limitam-se a aproveitar a hospitalidade da árvore, que os recebe no primeiro ou no segundo andar, para mexerem no telemóvel, um vício nacional que impressiona mais do que noutras geografias, provavelmente pelo contraste entre a beleza natural e a tecnologia, mas sobretudo entre a miséria e a tecnologia.

Um país sem livros nem leitores

Perto dali, encontrar-me-ei com os representantes dos escritores locais e à mesa não faltarão os mesmos ingredientes. Será mesmo ao lado do edifício onde Mário Soares esteve exilado, durante oito meses, em 1968, defronte do clube náutico, por ter passado ao jornal britânico Sunday Telegraph informações relativas ao escandaloso caso Ballet Rose, que envolvia prostitutas, membros do governo e homens próximos do regime de Salazar. A sede da União Nacional dos Escritores e Artistas Santomenses (UNEAS) está instalada, com um alpendre apontado à praia, numa moradia bonita, mas tristemente decrépita. Hoje, estamos sem energia, começa por dizer o presidente Albertino Bragança, depois de me estender a mão grande e ossuda. Conduz-me, com mais dois convidados do VII Festival de Literatura de São Tomé, para uma sala de janelas abertas sobre o mar e recebe-nos, faz questão de dizer, com um amplexo de irmãos, antes de se desculpar dos graves problemas de índole financeira que o impedem de acender a luz do teto. Têm dívidas de mais de 500 mil dobras (cerca de 20 mil euros) e não as conseguem pagar. Lamenta a falta de apoio do governo – já apelámos ao ministro da Cultura, explica, mas nada aconteceu. Apesar daquilo a que chama contexto desanimador, o escritor de 80 anos, engenheiro eletrotécnico de formação, com estudos feitos em Coimbra, ex-ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, qualidade na qual participou na criação da CPLP, diz ser bom partilhar as dificuldades connosco, e cito, porque isso oferece esperança. Acompanhado à mesa, sobre a qual pousaram os smartphones de última geração, por Jerónimo Salvaterra, secretário-geral da UNEAS, e Francisco Costa-Alegre, Bragança recebe-nos lendo um texto que constitui um retrato lúcido do mundo em que vivemos e dos dramas são-tomenses. Instantes depois, chega Conceição Lima, a figura mais conhecida da literatura do país. Tem vestida uma t-shirt azul, com o logótipo do Centro Cultural de Belém e o nome do festival literário Felicidade, no qual participou dias antes.

Legado Em 2019, quando os pais morreram, Jacques-Dominique Benoist decidiu usar a herança para criar uma editora – a única em São Tomé e Príncipe

Pede a palavra e todos lhe devotam a mesma atenção oferecida ao presidente. Tem a voz colocada pelo hábito de falar na rádio e na televisão, uma vez que foi jornalista, ou de ler a poesia que escreve em eventos literários. Começa por evocar Alda Espírito Santo, a matriarca das letras da nação, e logo depois lamenta a falta de hábitos de leitura. Em São Tomé e Príncipe, explica, não há editoras, não há livrarias, quase não há livros. Trocamos experiências sobre edição, procuro dar ideias de possíveis apoios vindos de Portugal (está presente na sala uma representante do Camões), falamos da Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno, cuja autoria é atribuída a Baltasar Dias, também do Auto da Floripes, entre outros assuntos, mas a conversa desemboca de novo nas dificuldades que o país atravessa, na falta de acesso aos livros e na ausência de quem publique. É nessa altura que pede a palavra um indivíduo sentado numa das cadeiras que, um pouco mais atrás, numa segunda fila, rodeiam a mesa. Terá uns setenta anos, o cabelo claro como a pele, que se avermelha quando ele fala. É baixo e veste-se como um turista. Da boca, sai-lhe um português carregado de RR, que lhe denuncia a origem francófona. Discursa sobre o preço dos livros, mas pouco, não sei se por timidez, se por falta de atenção, dado que, naquela fase da reunião, já se conversa sem cerimónias. No final, trocamos contactos e tiramos fotografias no alpendre da UNEAS, com o olhar dos visitantes a preferir facilmente a praia às lentes dos telemóveis. Sobre a areia, dorme um barquinho de pesca de casco furado. Não tem cor, é uma massa informe em tons de castanho, com todas as arestas boleadas pelas chuvas caídas ao longo de muitos anos de espera por quem o levasse para o mar. Também as paredes, portas e portadas da UNEAS esqueceram já o que é a tinta, o telheiro que ensombra janelas e alpendre parece estar para cair sobre nós ou em direção ao jardim inculto que circunda a casa. Tudo ali tem um ar triste de esquecimento ou impossibilidade, contrastando com o horizonte, no qual os são-tomenses veem as únicas hipóteses de futuro; não são poucos os que, durante estes dias, me falam na vontade que têm de se mudar para Portugal. Talvez por isso me intrigue, à saída, a presença naquele encontro do homem que fala um português afrancesado. Aproximo-me, para lhe perguntar o que faz em São Tomé, mas ele antecipa-se e diz-me: o mais importante é criar estratégias para pôr os são-tomenses a ler. A conversa segue esse caminho e, como o assunto me interessa, combinamos encontrar-nos, no dia seguinte, no Centro Cultural Português, para falarmos daquele país em que não há livros, nem leitores, mas há escritores.

Somos todos primos, até os estrangeiros

Recuemos até 10 de junho de 1994, não para invocarmos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, mas porque, nesse dia, há trinta anos, um socioeconomista francês, de Grenoble, aterrou pela primeira vez em São Tomé. Tinha 47 anos e, enquanto suposto (a palavra é dele) perito internacional, ali trabalharia para o Banco Africano de Desenvolvimento, durante quatro anos, e cumpriria ainda uma missão para a Comissão Europeia. Apesar de já ter morado noutros países, algo de muito forte terá ligado Jacques-Dominique Benoist a São Tomé e Príncipe, visto que, aos 68 anos, depois de se reformar, decidiu voltar. Procuro saber o que terá sido e recebo como primeira resposta a beleza natural do país. Pouco convencido, alego que há muitos países bonitos. Benoist sorri e diz que fez muitas amizades e que isso pesou no momento de decidir onde passar o resto da vida. Eu continuo insatisfeito com a explicação e não desisto. Bom, é sempre interessante mudar o ponto de vista, diz, e aqui ganhei a capacidade de não dar tanta importância a coisas que, se virmos bem, nos provocam stresse. Refere-se aos horários, às programações, aos planos e conta-me alguns episódios. Aqui, explica, tudo acontece com uma ou duas horas de atraso, mas corre bem. No início, isso mexia comigo, mas hoje já começo a ter a capacidade de não me sentir nervoso e de beneficiar dessa situação. Esse ritmo – refere-se à tão conhecida filosofia leve-leve de São Tomé e Príncipe – mudou toda a minha conceção de vida, conclui. Mas, ressalva, erguendo o indicador, é preciso dizer que as pessoas são extraordinárias. Em quê?, pergunto. Benoist hesita, parece procurar as palavras certas para explicar algo que sabe apenas de modo intuitivo, até que, por fim, avança: a educação que os pais dão é mais livre, cada miúdo toma conta do irmão mais novo e até das crianças vizinhas. Os olhos brilham-lhe, à medida que se explica: há uma solidariedade, uma gentileza e uma fraternidade notáveis. Aliás, São Tomé e Príncipe é normalmente abreviado por STP e isso poderia querer dizer somos todos primos. Quando há brigas, há sempre alguém que lembra: atenção, somos todos primos, paz, paz, paz. Foi por tudo isto que Benoist quis voltar para o segundo país menos populoso de África, mesmo sabendo que os cuidados de saúde não são como na Europa. Acredita que o leve-leve compensa esse facto: acha que, mesmo com menos médicos e hospitais, a ausência de tensão e ansiedade lhe oferece a mesma esperança de vida que teria em França. Mas, se lhe pergunto se são os cuidados de saúde aquilo que mais falta lhe faz, responde como um bom francês: não, não, são os queijos! Ou alguns tipos de queijos que ali não se encontram, mas que, concede com simpatia, diz ter conseguido substituir por alguns queijos portugueses, que também considera muito bons. Em São Tomé e Príncipe, os produtos portugueses – arroz, massas, azeite, cerveja, café, etc. – dominam as prateleiras das mercearias e dos supermercados, e Jacques-Dominique habituou-se a eles mais facilmente do que a outras coisas, como as constantes falhas no abastecimento de água ou de eletricidade. Como a água faltava muitas vezes, fez uma captação para resolver o problema. Mas quando faltava a luz, ficava furioso, por não ter alternativa. Depois, dizia para si mesmo, tentando acostumar-se: calma, leve-leve, leve-leve. E se a força do hábito ajudou, a verdade é que as circunstâncias também melhoraram: hoje, já só há apagões uma vez por semana, durante apenas uma hora, ou uma hora e meia.

Benoist tem uma pensão de reforma que, segundo me confidencia, lhe permite viver muito bem em São Tomé. Ainda assim, quando chegou, montou um pequeno empreendimento turístico. Partilha os dias com os clientes, mas também com um gato, ao qual chamou Sem Stress. Marcou 105 quilómetros de percursos pedestres pela ilha e, aos 77 anos, continua tão apaixonado pela exuberante paisagem são-tomense – uma erupção verde de cinquenta quilómetros por trinta, ocorrida no período terciário, em pleno golfo da Guiné – como quando chegou. É um homem de passo curto e gestos ágeis, que não perde o fôlego enquanto fala, e eu não consigo evitar imaginá-lo de mochila às costas, mato adentro, como os primeiros exploradores, a marcar trilhos sem parar.

Clássicos a preço de cerveja

Jacques-Dominique Benoist diz-me que gosta de livros e que sempre foi um bom leitor. Esta última consideração deixa-me, amiúde, de pé atrás, dado que, ouvidos os exemplos quantitativos e qualitativos, não raras vezes acabo desiludido ou até a discordar dos meus interlocutores. Mas não foi o caso, pelo contrário. Ainda imbuído de uma postura comparativa, que o levou a avaliar a vida em São Tomé e Príncipe em paralelo com a que teve noutros lugares, diz-me que os franceses são muito fechados. E explica: talvez saibam quem é Shakespeare, mas nunca Camões. Depois prossegue: apercebi-me desse facto muito cedo, por isso, aos dezoito, decidi que, a cada ano, teria de ler mais livros estrangeiros do que francófonos. Animado com aquele comportamento cosmopolita, pergunto-lhe o que conhece da literatura portuguesa. Benoist responde que conhece alguns autores e, de seguida, exemplifica precisamente assim: Gil Vicente, Padre António Vieira, João de Barros, Bocage, Camilo, Eça, Garrett, Herculano, Lobo Antunes, Maria Judite de Carvalho, Saramago, Gonçalo M. Tavares. E eu, claro está, fico tão impressionado como o leitor deverá estar. Conversamos, então, sobre alguns daqueles autores, até que me conta que, quando se mudou, trouxe a sua biblioteca, mas que hoje lê sobretudo livros digitais, porque essa é a única forma de comprar fácil e rapidamente. Os livros demoram a chegar a São Tomé e não há cá livrarias. Em rigor, diga-se, há uma, que existe desde 2021. É verdade: a primeira livraria são-tomense abriu apenas no final do primeiro quartel do século XXI. Antes, quem por aqui quisesse adquirir um livro tinha de esperar pela feira organizada pelo Centro Cultural Português, ou de tentar encomendá-lo do estrangeiro. Hoje, pode dirigir-se à Livraria Nón e, com a ajuda de Mirita Nicolau, que também ali trabalha na promoção da leitura junto de crianças de escolas e de centros de acolhimento, procurar os livros desejados. Benoist usa a livraria e recorre à internet para encomendar os livros que quer ler, mas sente falta de ter, salvo algumas exceções, com quem falar de leituras. Como aqui não se tem acesso a livros, explica, e é assim há várias gerações, as pessoas não sentem necessidade ou falta. Nesta altura, o rosto torna-se-lhe severo e ele exclama: aqui ninguém lê! De seguida, algibeira a mão e, apontando para o objeto que dela retira, concretiza: ninguém lê outra coisa que não o telemóvel! Por isso, senti que tinha de fazer alguma coisa. Nos anos 90, eu ficava chocado, porque as pessoas referiam-se a uma revista ou a um jornal como livro. Para elas, era a mesma coisa! Um jornal ou uma revista eram livros! Ninguém lia nada, muito menos livros.

São Tomé e Príncipe
é normalmente abreviado por STP e isso poderia querer dizer somos todos primos. Quando há brigas,
há sempre alguém
que lembra: atenção,
somos todos primos,
paz, paz, paz

Foi por tudo isso que, em 2019, quando os pais morreram, Jacques-Dominique Benoist decidiu usar a herança para criar uma editora. Começou por fazer livros bonitinhos, explica, com bons acabamentos, como os que se publicavam em França, ou em Portugal, mas ficavam caros e ninguém os comprava, lamenta, baixando a cabeça e fitando o chão. Um dos problemas era, portanto, o preço. Instala-se entre nós o silêncio da desilusão, até que aquele homem que escolheu viver num país em que cerca de 13% da população é extremamente pobre (dados de 2023 da Direção da Proteção Social são-tomense), me olha nos olhos e prossegue: o salário normal aqui é de 300 euros; um professor efetivo ganha 400; como é que pode comprar livros de 20 ou 25 euros? Quando, há uns anos, chegou a essa conclusão, o francês de Grenoble, cidade universitária, e berço de Stendhal, pôs-se a fazer experiências, a fim de baixar o custo de impressão e, consequentemente, o preço de venda. Foi diminuindo a qualidade das edições, até conseguir encontrar um formato que lhe custasse 100 dobras, cerca de quatro euros, o preço de quatro cervejas. Aqui, esclarece, é normal as pessoas guardarem 100 dobras para beberem quatro cervejas quando chega o fim de semana. Aposta, sobretudo, na publicação de livros que estejam em domínio público, para poupar também os direitos de autor. E, assim, de simplificação em simplificação, foi chegando ao formato atual das Publicações Quatro Cervejas: uns livrinhos com capa de cartolina banal, sem badanas, agrafados em vez de cosidos ou colados e impressos on demand, à medida das necessidades – vinte exemplares hoje, vinte amanhã, dez ou quinze uns dias depois. Benoist vende-os diretamente, ou em papelarias, e a oferta é de qualidade: A Metamorfose, de Kafka, os Sonetos, de Camões, ou Contos, de Machado de Assis, só para dar alguns exemplos. Mas também publica livros sobre a História de São Tomé e Príncipe, com especial atenção ao tema da escravatura, porque, ao chegar ao país, ficou em choque não só pelo facto de aquela ser uma terra social e culturalmente morta, mas também pela total ausência de conhecimento do passado e por um enorme revisionismo histórico. Segundo ele, a escola não compensa nem ajuda a esse nível. Talvez por isso tenha decido fazer um mestrado dedicado à História Económica de São Tomé e Príncipe. Ainda ingressou num doutoramento, em França, a cuja tese chamou Nascimento de um Povo, mas não conseguiu terminar a tese dentro do prazo estipulado, uma vez que vivia na Mauritânia e no Camboja e tinha pouco tempo livre. No entanto, recentemente, decidiu aproveitar os milhares de notas e páginas resultantes desses anos de estudo e fazer um livrinho, que publicou na Quatro Cervejas com um pseudónimo aportuguesado: o francês Jacques-Dominique Benoist, reformado, empresário, editor e mecenas, transformou-se num mui são-tomense Joaquim Domingos Bento

Um batel para um futuro melhor

Antes de dar conta do maior vício dos são-tomenses, estava convencido de que a bebida talvez pudesse ser o grande problema de quem, por mais voltas que dê à cabeça e à ilha, não encontra um caminho num país quase cem vezes menor do que Portugal. Naquelas terras férteis, cobertas de grandes árvores carregadas de frutos, até a bebida nasce das árvores e não é preciso ter dinheiro para a consumir. Historicamente, a bebida alcoólica mais consumida em São Tomé e Príncipe é o vinho de palma. Mas o nome engana, dado que o processo necessário à respetiva preparação é também cem vezes mais simples do que a vinificação que conhecemos na Europa. Para se beber vinho de palma, não são precisos grandes processos ou ferramentas. Com o mesmo maxim, ou facão, com que se abre caminho pelo mato, em direção aos palmeirais, faz-se um furo no tronco de uma palmeira, encaixa-se-lhe uma garrafa ou um garrafão de plástico, ou qualquer outro recipiente que ali se consiga prender, e aguarda-se que o sangramento aconteça, isto é, que a seiva da árvore escorra lá para dentro. Depois, há que deixar o líquido fermentar, mas não se pense que a espera é longa. Bebedores sôfregos não aguardarão mais do que umas horas. Em São Tomé, e ao contrário do que acontece noutros países africanos, o vinho de palma bebe-se logo nas 24 horas posteriores à recolha, o que permite a manutenção do sabor doce e ainda que o teor alcoólico seja baixo, na ordem dos três ou quatro graus. Embora seja necessário subir a grandes árvores e saber fazer a incisão nos troncos e a colocação dos recetáculos, não existe no processo mais ciência nem técnica. É recolher, esperar e beber. Também há, claro, quem prefira bebidas mais fortes, como a cacharamba, uma aguardente de cana. Ou a cerveja, tanto a nacional, que existe e é agradável, como a portuguesa. Mas, no mato, onde os ágeis vianteiros trepam às palmeiras para colher a seiva esbranquiçada e doce, o que mais se bebe é mesmo vinho de palma, muitas vezes a acompanhar búzios do mato – uns caracóis enormes, alguns em vias de extinção, por serem dos petiscos mais apreciados por ali. É frequente vê-los servidos, estufados, com um molho e uma aparência a lembrarem as nossas moelas, juntamente com banana prata ou fruta-pão fritas em palitos, como por cá fazemos com a batata. Os nomes dos alimentos que a natureza oferece em São Tomé são fruto de uma simplicidade criativa no uso da língua que me interessa muito. Aprendi alguns deles com João Carlos Silva, uma das figuras mais conhecidas do país, quando os funcionários do Camões me levaram a concretizar um desejo que levava na bagagem: visitar a Roça São João dos Angolares, conhecer o famoso chefe, popularizado em Portugal, há cerca de vinte anos, pelo programa de televisão Na Roça com os Tachos, da RTP, do qual eu e tanta gente éramos fãs, e almoçar no seu restaurante. A degustação, antecipo-o já, foi extraordinária. Depois de uma preparação do palato feita naquilo a que João Carlos Silva chama SPA degustativo, um balcão diante do qual provámos cacau fresco seguido de uma mistura de pimenta, gengibre e cacau, que regámos com vinho tinto português, sentámo-nos num alpendre com vista para um vale em que explodia o verde, provámos pratos que incluíam ingredientes como a erva-mosquito, a papaia-fogo, ou – o meu favorito, em termos de nome – o picante fura-cueca. A cozinha é aberta e separada da sala de refeições apenas por uma bancada que expõe os belíssimos produtos que a terra dá – frutos e legumes das mais variadas formas e tamanhos. Certa vez, João Carlos Silva pediu um pepino a um dos elementos da sua equipa, quase todos jovens que ali aprendem as artes da culinária e muito mais, mas não para o confecionar. De seguida, lavou as mãos, tirou um preservativo do bolso do avental e explicou àqueles seus jovens colegas de cozinha de que forma deviam colocá-lo e porquê. Tenho dúvidas de que seja possível haver maior apaixonado pela cultura são-tomense e pelo país em que nasceu do que aquele homem.

Livros baratos O salário normal aqui é de 300 euros; um professor efetivo ganha 400; como é que pode comprar livros de 20 ou 25 euros?

Tudo o que faz – e tem projetos em várias áreas, do turismo à arte contemporânea, da reabilitação do património à educação, passando pela recuperação e manutenção das tradições – está condimentado com a energia e a alegria com que aparenta ter nascido e com as quais por certo acorda todas as manhãs. É um daqueles indivíduos inspiradores, que, sozinhos, conseguem mudar a vida de muitas pessoas. É também um sonhador num país que precisa tanto deles como de concretizadores, coisa que, tal como Jacques-Dominique Benoist, João Carlos Silva é sem qualquer dúvida. Mais do que aquando de visitas a outros países pobres, parti muito impressionado com a miséria que vi em São Tomé e Príncipe. Trata-se de um território que parece ter sido largado à pressa há décadas e repovoado recentemente. Tudo o que foi construído está decadente, quase tudo está sujo, muita coisa está abandonada. Se dissessem a um forasteiro mais distraído que a população inteira tinha fugido do país, há cinquenta anos, com medo de uma erupção, ou de um desastre natural semelhante, e voltado há meses, o mais provável é que ele acreditasse. E tudo isto mexe connosco. Talvez mexa ainda mais por falarem a nossa língua, por sonharem em português e com Portugal – algumas pessoas chegaram a dizer-me que gostariam que São Tomé e Príncipe fosse uma região autónoma de Portugal, como os Açores e a Madeira. Não é possível não nos compadecermos daquela gente, não é possível que não brotem do mais granítico dos corações compaixão e vontade de ajudar. Talvez tenha sido por isso que viajou comigo, quando olhava pela janela do avião e via aquelas ilhas pequenas tornarem-se minúsculas, uma vontade de regressar. Não apenas pela beleza natural, ou pelo leve-leve, sobre o qual já tanta gente escreveu. Fiquei a querer voltar pelo exemplo das pessoas que, nascidas ali ou feitas são-tomenses, como os escritores da UNEAS, os funcionários do Camões, o exótico editor francês ou o chefe que cozinha no meio do mato, trabalham para construir um futuro para aqueles milhares de miúdos que se veem nas bermas, longe da escola, desinteressados dos livros, desejosos de se agarrarem a um telemóvel ou a um qualquer outro batel que os leve para um futuro que imaginam melhor.

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A Casa Branca, se fosse um hotel, teria dez estrelas. É o local mais seguro, requintado, espaçoso e bem localizado do mundo. Toda a gente sabe onde fica, mas poucos imaginam que o Presidente, a Primeira-Dama e todos os seus filhos, netos e amigos são obrigados a pagar as suas próprias despesas privadas. Não há descontos para ninguém.

Tudo o que é utilizado ou levado para a residência oficial tem um custo potencialmente muito elevado: comida, chefs, mordomos, ajudantes, roupa lavada e passada, sapatos engraxados, bebidas, cabeleireiro e tudo o mais que uma família consome ou utiliza diariamente.

No final de cada mês, o Presidente recebe uma fatura com todos os serviços discriminados e respetivos valores. Esses custos podem ser tão altos que alguns Presidentes, sobretudo em épocas passadas, chegavam a levar os seus próprios empregados e cozinheiros para tentar reduzir despesas. O peso da fatura varia consoante a dimensão da família e a frequência com que recebe convidados, mas estima-se que ronde entre 15 e 30 mil dólares por mês. Ainda assim, estes gastos não são divulgados oficialmente.

Deste modo, o Presidente dos EUA paga tudo o que seja de uso pessoal ou familiar, enquanto o Governo federal assume apenas os custos indispensáveis ao desempenho das funções presidenciais e à representação oficial do país. O resultado é que quase todo o salário presidencial se esvai a pagar os serviços do hotel mais caro do mundo.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Olá, bom-dia  
A efeméride não passou despercebida na semana que passou: o atentado terrorista na redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo, que matou 12 pessoas, incluindo oito cartoonistas, aconteceu há dez anos, a 7 de janeiro de 2015. Era uma quarta-feira, um “dia morto” na VISÃO, para usar a gíria jornalística das publicações semanais. Neste contexto, a expressão “dia morto” pode até ser um pouco infeliz, embora sirva para falar de uma realidade muito concreta que, apesar de toda a evolução tecnológica, continua a existir: o “dia morto” é o período que vai desde o momento em que a edição já está fechada, mas ainda não chegou aos leitores – o que significa que, aconteça o que acontecer, de um terramoto a um cataclismo, nada mais se pode acrescentar ao que se escreveu.  

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Quantas chávenas de café bebe por dia? E em que altura? A resposta a estas questões – sobretudo a esta última – tem diferentes consequências para a saúde. Há muito que são conhecidos os benefícios – e malefícios – que o consumo de café tem no organismo humano, estes últimos especialmente quando ingerido em excesso. Agora, investigadores norte-americanos sugerem que não basta estar atento à quantidade de café que é ingerido por dia, mas também ao período em que esta ingestão acontece.

Um novo estudo conduzido por uma equipa de investigadores da Universidade de Tulane, no estado norte-americano do Louisiana, revelou que beber café no período matinal resulta em vários benefícios para a saúde, incluindo um menor risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de morte por qualquer causa. Para o estudo, publicado recentemente na revista científica European Heart, foi utilizada uma amostra de 40 mil pessoas – participantes no Inquérito Nacional de Exame de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos- e motorizada a sua saúde, hábitos alimentares e estilo de vida durante uma década. Da amostra utilizada cerca de 36% bebiam café apenas de manhã e 14% ingeriam café ao longo do dia.

A partir da sua análise, os investigadores conseguiram verificar que, a longo prazo, o maior consumo de café estava “significativamente” associado a um menor risco de morte e doenças cardíacas, mas apenas em pessoas que apenas bebiam café só de manhã. Foi possível concluir que as pessoas que bebiam café apenas neste período tinham 16% menos probabilidade de morrer por qualquer causa e 31% menos probabilidade de morrer por doenças cardiovasculares, comparativamente às que não bebiam café. Os mesmos benefícios não se verificaram em pessoas com o hábito de beber café ao longo do dia, não existindo qualquer redução da mortalidade para estas pessoas comparativamente àqueles que não ingeriam a bebida. “Os nossos resultados indicam que não é apenas o facto de se beber café ou a quantidade que se bebe, mas a altura do dia em que se bebe café que é importante”, referiu Lu Qi, especialista em nutrição e epidemiologia e um dos autores do estudo.

De acordo com o especialista, ainda não é possível explicar a razão para a ingestão de café durante a manhã estar relacionada com a redução do risco de morte e desenvolvimento de doenças cardiovasculares. No entanto, o epidemiologista refere que uma possível explicação poderá estar no facto de o café, durante a tarde, perturbar os ritmos cardíacos e os níveis de hormonas como a melatonina – associada ao sono, pressão arterial e inflamação. 

O “pingo do nariz”, corrimento nasal ou ranho são expressões sinónimas e vulgarmente usadas para nos referirmos à rinorreia – termo médico que designa o excesso de secreções nasais ou muco nasal.

O muco nasal é um fluido corporal, produzido pelas células existentes nas mucosas do nariz e das fossas nasais, que tem como função primordial proteger as vias respiratórias de eventuais agentes agressores. 

Assim, a produção em excesso da secreção de muco nasal surge como reação a diversos estímulos, pelo que devemos estar atentos à sua duração, consistência e coloração do muco.

Poderá existir uma reatividade exagerada a estímulos ambientais, como variações súbitas de temperatura e de humidade, exposição ao fumo do tabaco, inalação de odores intensos ou agentes irritativos, como lixívias ou agentes de limpeza.

A rinorreia é um dos sinais de rinite (inflamação da mucosa nasal), que pode ser aguda ou crónica e ter múltiplas causas. Na forma aguda, a causa mais frequente é de origem infeciosa, provocada normalmente por um vírus. Já a causa mais comum de rinite crónica é alérgica, afetando cerca de 25% da população portuguesa. Existem ainda outras causas, nomeadamente a rinite idiopática ou vasomotora, rinite induzida por medicamentos, rinite gustativa, rinite hormonal, entre outras.

Independentemente da causa, há alguns cuidados gerais que podemos ter, para diminuir esta sensação desagradável e incómoda:

• Hidratação: é importante ingerir líquidos, nomeadamente água, chás ou caldos quentes (como a canja de galinha), para ajudar a fluidificar o muco e, desta forma, facilitar a drenagem.

• Lavagem nasal: é essencial fazer uma correta higienização das fossas nasais. A lavagem nasal ajuda a remover as substâncias que possam estar a causar a produção excessiva de muco, como agentes patogénicos ou alergénios. A lavagem deve ser efetuada através da utilização de irrigadores nasais com solução salina ou sprays com “água do mar”.

• Assoar o nariz: deve usar lenços de papel suaves, descartáveis e assoar-se sempre que necessário. Deve também assoar-se após a lavagem nasal. Não se esqueça de lavar as mãos, depois de se assoar.

• Elevação da cabeceira: deverá elevar a cabeceira da cama, cerca de 30º, por forma a facilitar a drenagem das secreções e ajudar a respirar.

• Humidade: o vapor de água do banho ajuda também a fluidificar as secreções e, consequentemente, a drenagem.

O tratamento farmacológico das várias formas de rinite varia conforme o quadro clínico em concreto. Os doentes não devem automedicar-se, devendo procurar aconselhamento médico.

Existem vários medicamentos que ajudam a tratar a rinorreia, nomeadamente:

• Os anti-inflamatórios em forma de spray (corticoides nasais);

• Anti-histamínicos, em forma de spray nasal ou comprimidos orais;

• Descongestionantes nasais;

• Antibióticos;

• Anticolinérgicos.

No caso de doentes com alergia, o médico poderá orientar o doente quanto às medidas preventivas e indicar um tratamento específico, designado por imunoterapia específica, vulgarmente conhecido como “vacina antialérgica”.

Reitera-se, uma vez mais, que a utilização correta dos medicamentos (dosagem e duração) depende de uma adequada abordagem diagnóstica, o que previne também possíveis complicações, pelo que é essencial que consultar o seu médico.

Nada como uma frase laudatória para entusiasmar uma audiência: “A Polónia assume o comando da União Europeia no momento mais oportuno. Na realidade, a vitalidade da democracia polaca e o sentido de identidade reforçam o conjunto da União Europeia.” Eis as palavras de António Costa, na cerimónia de gala de 3 de janeiro, na sala do Grande Teatro Wielki, em Varsóvia, que assinalaram o início formal da presidência rotativa da UE pela Polónia e mereceram um forte aplauso. A começar pelo anfitrião do antigo primeiro-ministro português e atual presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. O governante liberal-conservador que lidera desde o final do ano passado uma geringonça de largo espectro ideológico (socialistas, democratas-cristãos, ambientalistas, nacionalistas católicos…) quer que a Polónia seja um “exemplo” para o clube comunitário, por ter a “experiência” e a “sabedoria” para o fazer. António Costa concorda e, em declarações ao diário belga Le Soir, considera um “privilégio” contar com “os conselhos e a amizade de Donald Tusk” – por este último ter desempenhado, em Bruxelas, entre 2014 e 2019, as mesmas funções que o antigo líder do PS.   

Como escreveu Marc Bassets no El País, “a natureza sente horror ao vazio (…) e o vazio que França e a Alemanha estão a provocar com as suas respetivas crises políticas começa a ser preenchido pela Polónia, talvez chamada a ser a potência central da nova Europa. Para reivindicar a liderança – ou ‘assumir responsabilidades’, como preferem dizer em Varsóvia – este país fronteiriço com a Ucrânia em guerra exibe vários trunfos”.

Aliados António Costa foi um dos convidados de honra da cerimónia inaugural da presidência rotativa da UE,em Varsóvia, e considera Tusk um “amigo”. Trump dizque Meloni é uma “mulher fantástica”, mas pode mudarde opinião na cimeira da NATO, em junho

O primeiro é económico e resulta, em boa parte, da sua entrada na União Europeia há duas décadas (ver caixa). Desde o fim da era comunista, em 1989, até aos dias de hoje, o PIB per capita polaco passou de pouco mais de seis mil dólares para 54 mil, uma das maiores subidas alguma vez registadas a nível mundial e apenas ultrapassada, no mesmo período e no que toca à melhoria nos padrões de vida, pela República Popular da China. Principal beneficiária, nas últimas duas décadas, dos fundos estruturais e de coesão e do acesso ao mercado único europeu, a Polónia tem registado das melhores taxas de crescimento económico da UE, com médias anuais a rondar os 4%. Um verdadeiro milagre, se comparado com a estagnação de outros Estados-membros, como Portugal ou Itália. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, esta tendência deverá manter-se nos próximos anos: o PIB polaco pode crescer acima de 3% até 2029, enquanto o português, por exemplo, se ficará pelos 1,9% ou abaixo desse valor. Cereja no topo do bolo: a modernização económica e os investimentos públicos fizeram-se sem comprometer a trajetória de convergência com os parceiros mais ricos da UE e sem um endividamento significativo – a dívida portuguesa representa agora 97,4% do PIB nacional, enquanto a polaca está nos 52,3%.

DIAPASÃO MILITAR

Deixemos a economia e passemos a outros trunfos que o antigo presidente do Partido Popular Europeu (2019-2022) tem ao seu dispor. Com 37 milhões de habitantes e uma localização estratégica na Europa Central, a Polónia de Donald Tusk assume-se como um “ator incontornável” nos desafios geopolíticos do Velho Continente, como o próprio afirmou em junho, na sequência das eleições para o Parlamento Europeu. O velho eixo franco-alemão está completamente empenado. Em França, o Presidente Emmanuel Macron vê o seu poder esboroar-se a cada dia que passa e sem garantias de manter a estabilidade governativa até terminar o mandato no Eliseu, em 2027. Na Alemanha, haverá legislativas antecipadas a 23 de fevereiro, que, a acreditar nas sondagens, vão ditar o afastamento do social-democrata Olaf Scholz da chancelaria e a previsível vitória dos cristãos-democratas de Friedrich Merz, sem que se saiba quando tomará posse um novo executivo (necessariamente de coligação). Itália pode ser a terceira maior economia da Zona Euro, só que a primeira-ministra Giorgia Meloni, apesar dos supostos esforços em matéria de pragmatismo e moderação, cultiva uma relação privilegiada com aquela que pretende ser a dupla mais poderosa e imprevisível do planeta (Donald Trump e Elon Musk), fazendo com que o governo populista de Roma não seja reconhecido, em Bruxelas e noutras capitais, como um interlocutor fiável, por ostensivamente integrar a “nova internacional reacionária”, para usarmos a expressão de Emmanuel Macron. Face a estes cenários, a Polónia é uma peça fundamental do novo xadrez da UE e da NATO. Em editorial, o diário Le Monde chamou-lhe o “diapasão da Europa”, com “um papel crucial na logística de ajuda à Ucrânia” e empenhada em “fortificar” as fronteiras externas dos 27 e da Aliança Atlântica, contra os perigos vindos de leste.

Poucos dias antes do Natal, Donald Tusk advertiu os seus aliados para a necessidade de haver uma “ofensiva política” conjunta e um “despertar absoluto” para as novas ameaças. Antes, a 14 de outubro, o primeiro-ministro assistiu ao início da construção do apelidado “Escudo Oriental” que está a nascer nas fronteiras que a Polónia partilha com a Bielorrússia e com o enclave russo de Kaliningrado, cuja conclusão está prevista para 2028. Trata-se de um dispositivo militar de alta tecnologia com cerca de 700 quilómetros de extensão e que é um projeto comum com os três países bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) e a Finlândia. As vedações especiais, os bunkers, os hospitais de campanha, as fossas antiblindados, as bases furtivas de reconhecimento, as plataformas para armazenamento e lançamento de drones ou os túneis por onde podem circular veículos e tropas vão custar qualquer coisa como 2 300 milhões de euros. Tusk considera que os dinheiros comunitários podem e devem contribuir para o financiamento desta nova fronteira contra ameaças convencionais e híbridas – incluindo a contenção dos fluxos migratórios que Moscovo e Minsk continuam a usar como arma desde 2021, ao permitirem a chegada diária de mais de 600 migrantes, oriundos de África e do Médio Oriente, ao conhecido corredor de Brest, na zona ocidental da Bielorrússia, motivo pelo qual o governo de Tusk suspendeu há três meses o direito de asilo.   

A Polónia quer ter o maior exércitoda Europae é o únicodos 32 países da NATO a gastar mais de 4% do PIB em defesae segurança

O mote da presidência rotativa da UE pela Polónia já traduz as prioridades e as ambições de liderança do país: “Segurança, Europa!” A 24, 25 e 26 de junho, em Haia, nos Países Baixos, durante a próxima cimeira da NATO, Donald Tusk será o único dirigente europeu com argumentos sólidos para bater o pé a Donald Trump, caso o Presidente dos EUA faça a prometida rábula mercantilista de exigir que os aliados passem a gastar 5% do PIB em defesa. Explicação: a Polónia é o único dos 32 Estados-membros da organização que, no presente ano, tem esse valor orçamentado – ainda que de forma provisória. Mas não só. Nenhum outro governo está a despender tanto em armas como o país de Donald Tusk. E este pode muito bem atirar à cara do seu homónimo americano que os EUA, em 2024, só gastaram 3,4%, o mesmo que a Estónia e só mais duas décimas do que a Letónia. Em contrapartida, os dois supostos melhores amigos do inquilino da Casa Branca nesse encontro, o húngaro Viktor Orbán e a italiana Giorgia Meloni, apresentam, respetivamente, 2,1% e 1,5% e nenhum deles tem previsto fazer grandes encomendas de material bélico a Washington. Já Varsóvia pretende gastar mais 93 mil milhões de euros nas suas Forças Armadas de modo a que o exército polaco se torne o maior e o mais bem equipado exército da Europa (excluindo destas contas os arsenais nucleares britânicos e franceses).  

Se tudo lhe correr de feição, no final de junho, Tusk, de 67 anos, oriundo de uma minoria etno-linguística do Norte da Polónia – os cassúbios – será um homem feliz. O seu programa de reformas – nomeadamente a despolitização da justiça e a descriminalização do aborto – pode finalmente avançar sem o bloqueio e os vetos do ainda chefe de Estado Andrzej Duda, o conservador que não pode recandidatar-se às presidenciais de maio e que defende o legado do Partido Lei e Justiça (PIS, formação ultranacionalista que governou entre 2015 e 2023). Se assim for, no início de julho, Tusk pode ir de férias descansado e dizer que escapou ao ditado que Honoré de Balzac e Milan Kundera retrataram nos seus livros: “Onde houver um precipício, haverá um polaco pronto a atirar-se.”

7620 Dólares
Rendimento per capita, em paridade de poder de compra (ppp), da Polónia em 1994, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI)

16410 Dólares
Rendimento per capita, em ppp, de Portugal em 1994, de acordo com o FMI

14390 Dólares
Rendimento per capita, em ppp, da Polónia em 2004, ano em que aderiu à União Europeia

24430 Dólares
Rendimento per capita, em ppp, de Portugal em 2004

25540 Dólares
Rendimento per capita, em ppp, da Polónia em 2014

29355 Dólares
Rendimento per capita, em ppp, de Portugal em 2014

51260 Dólares
Estimativa do rendimento per capita, em ppp, de Portugal para 2025

54500 Dólares
Estimativa do rendimento per capita, em ppp, da Polónia para 2025

Os 86 mil milhões de neurónios do cérebro, multiplicados por conexões ainda inexploradas e inexplicáveis para os cientistas, faziam acreditar numa velocidade impressionante de processamento do pensamento humano. Pela primeira vez, uma equipa de investigadores, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, procurou responder a essa pergunta: quão rápidos são os nossos pensamentos?

De acordo com os cálculos apresentados em dezembro, na revista científica Neuron, os resultados foram dececionantes: “correm” a uma média de dez bits (unidade básica de informação na computação) por segundo, ou seja, numa pista incrivelmente lenta. Pelo menos, se estabelecermos como termo de comparação alguns dispositivos tecnológicos: uma ligação wifi média (nos Estados Unidos) tem uma velocidade de download de 260 milhões de bits por segundo; já uma chamada telefónica ocupa cerca de 64 mil bits por segundo. “É um pouco como um contrapeso à hipérbole sem fim sobre o quão incrivelmente complexo e poderoso é o cérebro humano”, afirmou um dos coautores do estudo, Markus Meister, ao New York Times. Afinal, o que aprendemos ao longo da vida caberia facilmente numa pen drive.

A ideia da investigação surgiu quando o neurocientista da Caltech procurava dar alguns dados básicos sobre o cérebro aos seus alunos caloiros. Contudo, a forma como a informação acelera pelo sistema nervoso estava por determinar.

Para estimar esse fluxo, Meister resolveu então recorrer à medição de uma tarefa concreta e lembrou-se de um estudo feito em 2018, na Finlândia, que registava os toques digitados. A média dos 168 mil voluntários conseguia digitar 51 palavras por minuto e uma pequena fração chegava a martelar no teclado 120 palavras. Mesmo com base nesta taxa mais elevada de destreza, e recorrendo a um ramo da matemática denominado teoria da informação, o neurocientista, em conjunto com Jieyu Zheng (sua aluna de pós-graduação), chegou à conclusão do tal limitado fluxo neural de dez bits por segundo.

Decidiram testar o resultado com outras tarefas, exercícios mentais em que as limitações físicas dos nossos corpos não prejudicassem o fluir do pensamento humano. Lembraram-se de medir o blind speedcubing, em cujas competições os jogadores têm de olhar para um cubo mágico, colocar de seguida uma venda e resolvê-lo o mais rapidamente possível, recorrendo apenas à memória visual. Com base nos recordes alcançados pelo speedcuber norte-americano Tommy Cherry – demorou 5,5 segundos a inspecionar o cubo e 7,5 segundos a encontrar a solução –, os números não melhoraram substancialmente: uns míseros 11,8 bits por segundo.

A “ilusão de Musk”

Para os neurocientistas, o contraste gritante entre a imensidão da coleta de dados pelos sistemas sensoriais e a lentidão da taxa de transferência de informações de um ser humano permanece um enigma. No artigo, com o título A Insuportável Lentidão do Ser: Porque Vivemos a Dez Bits/s?, Meister e Zheng levantam questões fundamentais: “Porque o cérebro precisa de bilhões de neurónios para processar dez bits por segundo? Porque só conseguimos pensar numa coisa de cada vez?”

Os neurocientistas sustentam que “o cérebro parece operar em dois modos distintos: o cérebro ‘externo’ lida com sinais sensoriais e motores rápidos de alta dimensão [num segundo, carregam dez mil milhões de bits de dados], enquanto o cérebro ‘interno’ processa os reduzidos bits necessários para controlar o comportamento”. Os sistemas sensoriais (a visão, o olfato, a audição) funcionam cerca de 100 milhões de vezes mais rápido do que a cognição.

Aliás, este contraste biológico contribui para a falsa sensação de que a nossa mente poderia lidar simultaneamente com diferentes pensamentos – “a ilusão de Musk”, como descrevem os autores. Referem-se às frustrações do milionário norte-americano com “o problema de largura de banda” desta nossa máquina complexa e à sua vontade de criar uma interface (fundou a empresa de neurotecnologia Neuralink) que permita ao cérebro humano comunicar diretamente com um computador, sem ser limitado pela velocidade lenta de falar ou escrever.

Se for bem-sucedido, Musk irá constatar que “o cérebro humano é muito menos impressionante do que podemos pensar”, pois “é incrivelmente lento quando se trata de tomar decisões, e é ridiculamente mais lento do que qualquer um dos dispositivos com os quais interagimos”, declarou Meister à revista Scientific American. Mesmo ligado a um computador, a comunicação não seria mais rápida do que se usasse um telefone.

Os neurocientistas da Caltech esboçam uma explicação para este paradoxo, que já tinha sido comprovado por outros estudos, mas ainda não tinha sido medido quantitativamente.

“A Natureza, ao que parece, construiu um limite de velocidade aos nossos pensamentos conscientes, e nenhuma quantidade de engenharia neural pode ser capaz de o contornar” declarou Tony Zador à Scientific American, um neurocientista do Laboratório Cold Spring Harbor, que não esteve envolvido no artigo, mas é mencionado no mesmo. “É provável que seja o resultado da nossa história evolutiva”, aponta. Criados numa era mais lenta, os nossos ancestrais sobreviveram com essa velocidade intelectual.

As primeiras criaturas com um sistema nervoso usavam os seus cérebros principalmente para uma navegação simples, em direção à comida ou para longe de predadores. E a evolução cerebral manteve um “caminho” de pensamento único. “Os nossos ancestrais escolheram um nicho ecológico onde o mundo é lento o suficiente para tornar a sobrevivência possível”, escrevem Zheng e Meister. “Na verdade, os dez bits por segundo são necessários apenas nas piores situações, e na maioria das vezes o nosso ambiente muda a um ritmo muito mais vagaroso.”

Os cenários futuristas de ficção científica sobre a exploração da mente humana parece que terão de repensar as suas ambições.

Olha o robot

Grandes empresas tecnológicas estão na corrida para o aperfeiçoamento dos robots humanoides

O investimento em robótica feito no último ano pela OpenAI já indiciava este passo. Segundo o site The Information divulgou no final de 2024, duas fontes internas da empresa tecnológica norte-americana afirmam que está a ser ponderado o desenvolvimento de um robot humanoide.

Recorde-se que, em 2021, a OpenAI tinha encerrado a sua divisão de robótica e concentrado esforços no desenvolvimento dos grandes modelos de linguagem natural, como o ChatGPT (lançado em novembro de 2022). A robótica continuará a não ser a prioridade do consórcio liderado por Sam Altman. A nova era de assistentes inteligentes e chatbots, com uma melhoria significativa das capacidades, levou o CEO a afirmar, esta semana, que “funcionários virtuais”, programados com Inteligência Artificial (IA) e capazes de executar tarefas de forma autónoma, podem começar a entrar no mercado de trabalho este ano.

A corrida para o aperfeiçoamento dos robots humanoides tem acelerado. Elon Musk investiu fortemente, tendo apresentado os Optimus, com o selo Tesla, em outubro de 2024, programados para interagir com humanos e ajudar nas tarefas do quotidiano (tanto servem bebidas como levam o cão a passear), com um preço estimado de 28 mil euros. Os primeiros exemplares deverão ser lançados em 2026.

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Notícias Relatamos-te alguns factos e novidades relativas a Portugal e ao resto do mundo. Por exemplo, sabias que um grupo de investigadores conseguiu fazer a reconstituição do rosto de D. Dinis? Agora já temos uma ideia de como era a sua aparência.

Miúdos a votos A campanha de ‘Miúdos a Votos: Quais os livros mais fixes?’ está a decorrer até 10 de março. Damos-te algumas ideias para pores em prática com os teus colegas.

Consultores Já temos equipa formada! Os nossos leitores aceitaram o desafio e candidataram-se ao cargo de consultor Júnior. Fica a conhecer o grupo que nos vai ajudar a fazer a VISÃO Júnior nos próximos meses.

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Animais o tema de capa dá-te a conhecer sete bichos que, pelas suas características excecionais, até parecem ter superpoderes. Do pinguim ao rinoceronte, descobre estes animais todo-o-terreno.

Invenções Todos os anos, a revista americana TIME faz uma lista com as 100 invenções mais fantásticas do ano que terminou. Nós fizemos o nosso top 10!

Corpo humano No inverno, quando a temperatura desce, o nosso corpo reage de várias formas à perda de calor. Queres ver o que te acontece por estes dias?

Escola Os alunos da turma Asas Gigantes, da escola Ideia Outeiro, em São Domingos de Rana, propuseram à professora cada um fazer a sua própria VISÃO Júnior. O resultado são 25 edições muito especiais que fomos conhecer e te mostramos nesta edição.

Escola Estudas, estudas, e quando chegas ao teste… não te lembras? Mas sabias que o que comes pode ajudar-te? Com a ajuda da nutricionista Ana Luísa Guimarães, vais descobrir os superaliados da tua memória.

Ideias Mostramos-te, passo a passo, como fazer um divertido sapo-marcador em origami, para saberes sempre em que página vais nos teus livros ou manuais escolares.

Livros Fernando Carvalho sugere-te sete títulos que acabaram de chegar às livrarias. Qual vais ler a seguir?

Jogos Diverte-te com as charadas, os puzzles e as diferenças

Vamos rir Anedotas e adivinhas enviadas pelos nossos leitores