A rádio é uma invenção incrível, mas o que é isso da rádio? Como é que a música e as vozes atravessam o ar até chegarem ao carro dos teus pais ou ao aparelho que tens em casa? Bom, esses sons chegam até ti graças às ondas de rádio, que são um tipo de energia que transporta sinais elétricos através do ar.

A grande aventura da rádio, que é um dos meios de comunicação mais populares do mundo, começou graças a um cientista e inventor italiano chamado Guglielmo Marconi. Foi ele quem criou o primeiro telégrafo sem fio, ou seja, um telégrafo que mandava mensagens através do ar.

Guglielmo Marconi junto dos aparelho que usou nas suas primeiras transmissões, na década de 1890 Foto: Wikicommons

Muitos não acreditavam que se conseguisse tal proeza sem fios à mistura, já que as mensagens dos telégrafos, até essa altura, eram transmitida através de fiação. Mas Marconi provou a todos que estava certo e, em 1901, enviou pela primeira vez sinais de rádio pelo ar que atravessaram o oceano Atlântico.

A mensagem, em código Morse, partiu da Cornualha, em Inglaterra, e chegou à Terra Nova, no Canadá. E que mensagem foi essa? O sinal “S”, que viajou mais de 3 mil quilómetros através do oceano Atlântico! Só mais tarde, graças ao trabalho de outros cientista, se conseguiram enviar sons, como vozes e música.

A rádio em Portugal

Em Portugal, as primeiras experiências em rádio aconteceram em 1914, com a Rádio Hertz. Mas só em 1925 começaram as primeiras emissões regulares de rádio, numa estação chamada CTI AA.

Uma década depois, em 1935, foi criada a Emissora Nacional, que contava com duas emissões diárias, uma à hora de almoço e outra depois da hora do jantar. Nessa altura, poucas pessoas tinham aparelhos de rádio em casa, por isso, juntavam-se em locais públicos para ouvir a rádio.

Na década de 1950, tudo era diferente. A rádio era o meio de comunicação por excelência, e as famílias reuniam-se em redor dos aparelhos que tinham em casa para ouvirem os programas mais populares. Havia muita música e teatro radiofónico. As pessoas que trabalhavam na rádio eram verdadeiras estrelas.

A situação mudou com a chegada da televisão a Portugal. A RTP iniciou as suas emissões regulares em 1957. Foi uma verdadeira loucura. Uns anos depois, em vez da rádio, as família juntavam-se em frente ao aparelho de televisão. Ter uma televisão era um luxo, mas repara: só havia um canal e a imagem era a preto e branco.

O papel da rádio na revolução de 25 de Abril


Na madrugada de 25 de Abril de 1974, os militares saíram dos quartéis e levaram a cabo um golpe de Estado, para deitar abaixo o Governo. A rádio teve um papel preponderante. Duas emissoras – primeiro os Emissores Associados de Lisboa, depois a Rádio Renascença – colaboraram com os militares, acordando transmitir a senha que daria aos vários quartéis a indicação de que a Revolução estava em curso. As senhas eram duas músicas: E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, e Grândola Vila Morena, de José Afonso.

D.R.


Poucas horas depois, outra emissora seria ocupada pelo Movimento das Forças Armadas – o Rádio Clube Português. Na antena, comunicaram o que estava a acontecer e pediram aos habitantes de Lisboa que se mantivessem em casa, receando que a Revolução provocasse incidentes. Mas, claro, tal não aconteceu e o povo saiu à rua para participar na Revolução dos Cravos.

Uma rádio para ti

Sabias que há em Portugal uma rádio feita por crianças e jovens? Se és leitor da VISÃO Júnior, provavelmente, já percebeste que falamos da Rádio Miúdos, a rádio parceira da tua revista na iniciativa “Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?”. É nesta rádio que são emitidos os podcasts realizados pelos alunos que participam nos “Miúdos a Votos” durante a campanha eleitoral.

A Rádio Miúdos é a primeira rádio portuguesa para crianças que iniciou as emissões experimentais em Novembro de 2015. É uma rádio exclusivamente on-line, com emissão 24 horas/7 dias por semana.

Destina-se a todas as crianças, pais e educadores, portugueses, luso-descendentes ou falantes de português que vivem em Portugal, no estrangeiro e nos países angolanos de lingua oficial portuguesa (PALOP).

O objetivo desta rádio, que desde este ano tem novos estúdios em Torres Vedras, é dar às crianças portuguesas uma rádio à sua medida, com conteúdos, música, linguagem e informação adaptados às suas idades e onde possam ter voz.

Se nunca ouviste a Rádio Miúdos, clica neste link e descobre-a. Ah! E há mais boas notícias: é que todos os anos, a rádio lança um desafio aos ouvintes que queiram trabalhar ali, e como é uma rádio online, podes participar, independentemente da região de Portugal onde vives!

Mesmo antes do início do seu mandato, a 20 de janeiro, Donald Trump deixou bem clara a sua intenção de comprar a Gronelândia, território autónomo da Dinamarca. Em resposta à proposta do líder dos Estados Unidos, foi criada uma falsa petição dinamarquesa que pretende angariar um bilião de dólares para ajudar o país nórdico a comprar o estado norte-americano da Califórnia. “Alguma vez olhaste para um mapa e pensaste: “Sabes do que a Dinamarca precisa? Mais sol, palmeiras e patins. Bem, temos uma oportunidade perfeita para tornar esse sonho realidade. Vamos comprar a Califórnia a Donald Trump!”, pode ler-se na página da petição satírica, que já conta com mais de 200 mil assinaturas.

Na petição “Måke Califørnia Great Ægain” – numa referência ao slogan de Trump “Make America Great Again” – consta uma lista de benefícios para a Dinamarca com a possível compra do estado, incluindo um fornecimento de abacates, o domínio da tecnologia e até a mudança da designação “Disneyland” para “Hans Christian Andersenland”. “O Rato Mickey com um capacete viking? Sim, por favor”, lê-se.

“Vamos trazer o hygge [palavra dinamarquesa para descrever bem-estar] para Hollywood, as ciclovias para Beverly Hills e o smørrebrød orgânico [prato dinamarquês] para todas as esquinas. O Estado de direito, os cuidados de saúde universais e a política baseada em factos podem aplicar-se”, acrescentam os criadores da petição. Tudo isto através de um financiamento coletivo (crowdfunding ) no valor de 1 bilião de dólares.

A petição dirige-se ainda a Donald Trump referindo que poderá constar no acordo “uma oferta vitalícia de pastelaria dinamarquesa” caso o Presidente aceite as negociações, para as quais a Dinamarca enviará os seus “melhores negociadores”, entre os quais executivos da Lego. “Sejamos honestos – Trump não é o maior fã da Califórnia. Ele chamou-lhe ‘o estado mais arruinado’ e tem-se desentendido com os seus líderes durante anos. Temos quase a certeza que ele estaria disposto a separar-se dele pelo preço certo”, conclui.

O Alfa Romeo Junior é o primeiro carro elétrico do fabricante italiano e marca o início da aposta deste fabricante em modelos globais. O que explica um design pensado para atrair um público diversificado. Ainda assim, considerando o que ouvimos, o visual pode gerar opiniões divididas, com faróis em “C” modernos e uma grelha marcante, mas com um estilo mais elaborado do que os clássicos designs simples da Alfa. Consideramos que se destaca pela postura agressiva e identidade distinta face aos concorrentes, onde se incluem modelos como Kia EV3, Jeep Avenger, Fiat 600e, Peugeot E-2008, VW ID.3, MG4 e Hyundai Kauai Electric. De destacar que alguns concorrentes do Junior utilizam a mesma plataforma tecnológica do grupo (Stellantis).

O Junior está disponível em três versões: a Elettrica e a Elettrica Speciale (versão ensaiada) contam com um motor de 154 cavalos, enquanto a versão desportiva Elettrica 280 Veloce, com 278 cv, recebe melhorias na suspensão e direção.

Bateria q.b.

As três versões recorrem a uma bateria com cerca de 51 kWh de capacidade útil (54 kWh totais), permitindo até 400 km de autonomia combinada WLTP nas versões menos potentes e cerca de 345 km no Veloce. No nosso teste, com a versão Speciale, conseguimos cerca de 350 km em condições reais.

O carregamento rápido chega a 100 kW, permitindo carregar de 10 a 80% em 35-40 minutos. Numa tomada doméstica de 7 kW, a carga completa demora cerca de nove horas. O modelo inclui uma bomba de calor de série, o que ajuda a melhorar a eficiência em dias de frio. Ainda assim, a autonomia é inferior à de alguns rivais, o que penaliza este Alfa.

A bagageira de 400 litros é espaçosa para um SUV compacto e conta com um fundo ajustável para guardar cabos. E pode crescer bastante com o rebatimento dos bancos traseiros (60/49). Até existe ainda um frunk… Mas é o mais pequeno que já vimos, feito à medida do cabo Type 2 – nem cabo o cabo de carregamento doméstico.

A mala é generosa para o segmento, embora um pouco à custa do espaço para os passageiros no banco de trás

Há um frunk… Ou melhor, um género de estojo para o cabo Type 2, já que não cabe mesmo mais nada

O espaço atrás não é o melhor para passageiros altos ou cadeiras volumosas. Além disso, não há apoio de braço traseiro. De outro modo, o Junior está longe de ser a melhor opção do segmento para famílias.

O habitáculo tem um ambiente desportivo, com estofos parcialmente em Alcantara e detalhes vermelhos. O volante fino e revestido a Alcantara destaca-se pelo toque premium.

O sistema multimédia, um nosso já ‘velho conhecido’ de outros carros o grupo Stellantis, inclui Apple CarPlay e Android Auto sem fios, navegação com sugestões de carregamento e atualizações remotas. Mas a interface gráfica tem um look algo antiquado e nem sempre responde rapidamente aos nossos comandos. E não gostámos da posição relativamente baixa do ecrã central, que obriga a desviar muito os olhos da estrada. Por outro lado, esta posição facilita a interação tátil. Por baixo do ecrã há vários botões físicos para controlo direto das funcionalidades mais utilizadas, nomeadamente na climatização, o que é uma mais-valia ergonómica. O mesmo podemos dizer dos controlos ao volante.

O interior tem um look muito bem conseguido, com vários elementos de design típicos da Alfa Romeo, com destaque para o volante desportivo de três raios e posição do botão Start/Stop. Mas não gostámos da posição demasiada baixa do ecrã central

A travagem regenerativa pode ser ajustada: desligada no modo Dynamic, moderada nos modos Natural e Active Efficiency, e forte no modo “B” para condução urbana.

A condução é envolvente e divertida, mantendo-se prática para o dia a dia. Gostámos particularmente dos travões, muito reativos e precisos. Neste aspeto, nota-se que estamos perante um Alfa Romeo.

Veredicto

O Alfa Junior não tem a maior autonomia nem o preço mais acessível, mas compensa com um design distinto, condução divertida e um bom nível de equipamento. Se valoriza emoção ao volante mais do que números frios e valências familiares, este Alfa pode ser a escolha certa.

Tome Nota
Alfa Romeo Junior Elettrica – Desde €38.500

alfaromeo.pt

Autonomia Satisfatório
Infoentretenimento Bom
Comunicações Satisfatório
Apoio à condução Bom

Características Potência e binário 115 kW, 260 Nm ○ Acel. 0-100 km/h: 9 s ○ Vel. máx. 150 km/h ○ Bateria: 54 kWh (50.8 kWh usáveis) ○ Autonomia WLTP 410 km ○ Potência de carregamento: 11 kW em AC e 100 kW em DC (10-80%: 30 min) ○ 1,981×1,532×4,173 m (LxAxC)

Desempenho: 4
Características: 3,5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 3,7

É um dos truques obrigatórios na afirmação das forças populistas que têm ganhado força um pouco por todo o mundo: propor soluções aparentemente muito simples para problemas muito complexos (quase sempre sem explicar minimamente a estratégia e as ações para cumprir os objetivos). É o “limpar Portugal”, do Chega, ou a insistência de Bolsonaro em prender e matar “a bandidagem” para salvar as pessoas de bem. Donald Trump, que parece assumir que foi eleito para ser o rei do mundo, sem que nenhuma ordem lhe possa fazer frente, é o grande especialista na matéria.

Uma das suas promessas quando concorria a presidente dos EUA estava, obviamente, condenada ao fracasso. Dizia ele que logo no primeiro dia na Casa Branca acabaria com a guerra na Ucrânia. Não acabou, claro. Mas esse é um dossier em que está a…mmmhh… “trabalhar”.

Há três anos, em fevereiro de 2022, o mundo assistia com estupefacção a uma invasão militar às portas da Europa, com filas de blindados russos a avançarem sobre Kiev. Os argumentos de Putin para aquilo a que chamava, simplesmente, “operação militar” pareciam (e continuam a parecer) absurdos: desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia para “defender as pessoas que há oito anos sofrem perseguição e genocídio pelo regime de Kiev”.

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1. “Um Governo recém-criado tem de deslumbrar e espantar”, disse Napoleão Bonaparte a um dos seus colaboradores, nos dias seguintes a ter sido eleito primeiro-cônsul de França. “Quando não o fizer, terá falhado.” Nos mais de dois séculos seguintes, muitos governantes levaram à prática este princípio. Em 2024, em Portugal, o candidato e depois primeiro-ministro Luís Montenegro anunciou um programa de emergência para o SNS, para começar a ser aplicado decorridos os primeiros dois meses de governação. Ao mesmo tempo, desdobrou-se em iniciativas para satisfazer diversos setores da administração pública, entre os quais se destacavam os professores e as forças de segurança, no sentido de pacificar a sociedade e obter ganhos reputacionais, relacionados com a eficácia governativa na resolução de problemas bicudos. Parecia deslumbrar. Ambicionava espantar. Teimosamente, porém, as sondagens não disparavam. Nas europeias, até perdeu.

Sabemos o que se passou depois: a seguir a professores e polícias, vieram bombeiros, médicos, enfermeiros e toda a extensa legião de corporações, fazendo o Executivo submergir debaixo de uma bola de neve que não para de crescer. Quanto ao SNS, tendo falhado estrondosamente o tal plano de emergência, acabou por ser objeto de uma gestão errática que deu prioridade à dança de cadeiras, exonerações, demissões e uma instabilidade permanente que já vai no terceiro diretor-executivo, enquanto serviços de obstetrícia e urgências dos principais hospitais encerravam à vez. Provavelmente, poucos fariam melhor do que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins. Mas a criação de expetativas, na ânsia de “deslumbrar” e de “espantar”, foi um feitiço que rapidamente se virou contra o feiticeiro. Na semana passada, atacada de todos os lados, a “pior ministra do Governo” – na expressão da deputada bloquista Joana Mortágua – defendeu-se galhardamente, com base, se não tanto na competência própria à frente do ministério, ao menos no argumentário político, nada mau para uma principiante. Combativa, a ministra procura reagir aos rumores que a dão como remodelável e espera, agora, que Luís Montenegro se lembre de outro ensinamento de Napoleão: “A arte de nomear homens [e mulheres, acrescentamos nós] não está sequer próxima de ser tão difícil como a arte de permitir aos que foram nomeados mostrar a sua plena valia.” Dar tempo ao tempo, portanto. Tempo, que é coisa que a ministra não terá.

2. Perdido no seu labirinto, pelo menos no momento em que fecha esta edição, resta ao PS colocar um anúncio nos classificados dos jornais com o seguinte texto: “Admite-se candidato à Presidência da República, nas eleições de 2026. Requer-se experiência política, idoneidade pessoal, serviço militar regularizado, cartão de militante do PS e altura mínima de 1,60m (1,55m se for mulher). Ordenado compatível. Resposta ao Largo do Rato.” Na verdade, os socialistas têm um candidato “de chave na mão”, que quer muito sê-lo e que, em termos de currículo, nada deve, por exemplo, à personalidade apoiada pelo PSD, Luís Marques Mendes. António José Seguro também já foi líder de um grande partido, foi deputado, foi ministro, foi conselheiro de Estado e até eurodeputado (coisa que Mendes não foi), e até presidente de um importante organismo do Estado (CNJ), cargo que também falta a Marques Mendes. No entanto, meio PS retorce-se na cadeira. O homem que (quase) renegou a herança “socrática” e declarou, em entrevista à VISÃO, que António Costa representava “o PS dos interesses”, comprou – se calhar, por isso… – ódios perpétuos no seio do seu próprio partido. Além do mais, o seu perfil algo cinzento e o discurso redondo não empolgam nem entusiasmam – aspetos, porém, em que Marques Mendes não lhe leva vantagem. O PS parece ainda esperar pelo eterno D. Sebastião, António Vitorino, a tal “D. Constança” que tem lugar em tudo quanto é “festa e festança” – e que, depois de muito solicitada, nunca aparece. Por estes dias, Seguro, quando acorda de manhã, deve verificar os sites informativos a ver se, durante a noite, algum socialista avançou. A sua calma aparente – ou nervoso miudinho?… – encerra uma dose de paciência que se mistura com calculismo, antes de dar o golpe de mestre. O tempo esgota-se. Seguro tardou em avançar, para que ninguém o acusasse de não ter dado todas as oportunidades à concorrência interna – e à liderança do partido. Ou de irromper com uma candidatura divisiva. No final, sobrará como o nome óbvio, o único nome, o senador que vai tirar o PS de uma enrascada. Pode estar há muito tempo retirado da política, mas ainda a sabe toda.

Golpe de Vista

Armas em vez de pensões

A pressão de Donald Trump e a crise existencial da NATO está a deixar os líderes europeus à beira de um ataque de nervos. Neste momento, a opinião pública está a ser preparada para prescindir de uma boa fatia do Estado Social a favor do rearmamento. É uma armadilha que deve ser contornada com criatividade. E se declararmos que vamos comprar armamento à China, a América fica-se?…

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Se Fernanda Torres ganhar o Oscar pelo seu papel em Ainda Estou Aqui (estamos na torcida, Nanda!), em grande medida, a uma cena do filme o deve. Rubens Paiva, engenheiro civil e antigo deputado do Partido Trabalhista, foi detido para interrogatório pelos “capangas” da polícia militar brasileira. Não há notícias dele e os indícios não auguram nada de bom. A movida do Rio de Janeiro dos anos 70 continua a acontecer na cidade e Eunice, mulher e mãe dedicada, está agora na geladaria com os filhos. É um exercício de contenção de que só os grandes são capazes: apenas diálogos de um quotidiano banal, tudo se pressente no olhar e, sobretudo, no que não é dito, nos silêncios.

A incerteza dominava desde a prisão, mas, até ali, para Eunice, o sorriso havia sido uma arma. “Nós vamos sorrir. Sorriam!”, ordenou aos filhos, quando os jornalistas lhe disseram que o editor pedira uma fotografia mais triste. Pode até ser inusitado, mas é na tranquilidade aparente da geladaria que a morte de Ruben Paiva se torna evidente. O pai ficou nos calabouços da ditadura, já não vai voltar para a sua família feliz. Até àquele momento, os dias giravam em torno da praia, da música, dos filmes Super 8, das festas, dos amigos reunidos à volta de um soufflé. Nunca a célebre frase de Tolstoi se aplicou tão bem: “Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras.” Dali em diante, porém, a vida não será mais a mesma. A ditadura interrompeu o dia a dia, invadiu a intimidade daquela casa e, agora, a inquietação é esta: apesar da tragédia, ainda estamos aqui?

Ainda Estou Aqui – o filme de Walter Salles, baseado no livro homónimo de Marcelo Rubens Paiva que também acaba de ser publicado em Portugal pela Dom Quixote – pode até não ser um filme perfeito. O que não o impede, já lá vamos, de ser um filme oportuno. Tal como também não impede que Fernanda Torres nele brilhe em todo o seu esplendor. Ao dar voz e corpo à mulher que se tornou ativista dos direitos humanos e não sossegou até repor a verdade acerca da morte do marido, a atriz eleva-se ao Olimpo. Mesmo que no próximo dia 2 de março não ganhe o Oscar, Fernanda Torres tem aqui um dos papéis da sua vida – e isso já ninguém lhe tira. 

Em boa verdade, é à interpretação de Fernanda Torres que se deve grande parte do segredo da empatia que Ainda Estou Aqui tem gerado junto do público. No Brasil, é já um dos filmes mais rentáveis de sempre (e não se imagina o que poderá vir a acontecer nas próximas semanas, com a cerimónia dos Oscars a decorrer mesmo no meio da loucura do Carnaval…). Também há notícias que dão conta do facto de, em São Paulo, o túmulo de Eunice Paiva, que morreu em 2018, aos 89 anos, estar transformado em local de romaria. Em Portugal, as primeiras sessões esgotaram e, após um mês da estreia, o filme mantém a liderança, com 214 mil espetadores e 1,402 milhões de euros de receita. O fenómeno é tão ao mais digno de nota se tivermos em conta que não se trata de um blockbuster com inúmeros efeitos especiais e – nada contra – muita Inteligência Artificial. 

Ainda outro elemento digno de nota: o êxito do filme acontece numa altura em que, para a indústria, não é nada fácil convencer o público a sair, ir além do conforto do streaming e do sofá lá de casa. Steven Spielberg falava nisso em Os Fabelmans (2022): pode parecer demasiado idílico, mas há uma certa ideia de esperança quando um grupo de pessoas prefere ver um filme numa sala de cinema. Não se conhecem, mas escolhem partilhar algo em conjunto. Como se, em coro, gritassem: anda meio mundo a olhar para o seu próprio ecrã, ninguém nos liga, mas nós ainda estamos aqui.

E eis-nos chegados à questão de Ainda Estou Aqui ser um filme oportuno. A transposição da história da família de Eunice e de Rubens Paiva para a atualidade, em certa medida, reflete o l’air du temps. À luz das canções de Os Mutantes opõe-se a escuridão das prisões do regime. Ao sol de Ipanema opõe-se a sombra da ditadura. Às operações da polícia militar opõem-se os mergulhos no mar – são refrescantes quando se entra pelo oceano adentro, mas no regresso à tona da água existe uma calma perturbadora. 

Ainda Estou Aqui torna-se um filme necessário nos dias de hoje, quando tantos, em tantos sítios do mundo, revelam uma estranha nostalgia das ditaduras e do tempo que passou. Chegámos ao lugar da História em que uma parte dos nossos concidadãos desvaloriza o facto de poder viver a vida em liberdade, preferindo figuras autoritárias e retóricas securitárias. Nas entrevistas que têm dado, Walter Salles e Fernanda Torres têm falado no espírito do tempo (zeitgeist), nos perigos do Alzheimer político e na importância de preservar a memória. Não é para isso que ainda estamos aqui?

Breviário

Ser antirracista é ser woke?

Uma das medidas recentes de Donald Trump – a de a Administração norte-americana poder vir a denunciar contratos com parceiros que adotem políticas de diversidade, equidade e inclusão – gerou uma reação em cadeia por parte da maioria das grandes empresas (Google, Amazon, Meta, McDonald’s, Walmart, Ford, Deloitte, Accenture…). Imperam as guerras culturais, Trump legitima o estilo errático na ação e, assim de repente, varrem-se de uma ponta à outra valores e princípios: tudo é woke, tudo é exagero, tudo é extremismo. Incluindo o antirracismo, a defesa dos direitos humanos e o respeito pelas minorias?  

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Palavras-chave:

Em 2017, na sequência do caso BPN, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) arquivava uma investigação a Dias Loureiro. Nesse despacho, para resumir a história, os procuradores diziam que o investigado (e outros) tinha promovido o “enriquecimento ilícito de terceiros à custa do prejuízo do grupo BPN sob a forma de pagamento de comissões”. Havia, porém, um problema: não havia provas e, não as havendo, não podia haver acusação.

Na altura, a condenação através da comunicação social já tinha barbas. Aquela em que algumas autoridades judiciais ofertam aos média uma espetacular manchete sobre um sinistro e sem remissão político ou “poderoso” que terá (ou não) um desmentido em letra pequenina na penúltima página. Não há fumo sem fogo, não é? Os procuradores sabem que há marosca, mas pronto, não há meios e os advogados desses malandros são uns espertalhões. Assim fica tudo bem, os pasquins ganham dinheiro e os malandros que não se pode provar que o são ao menos ficam com o seu nome pela lama e com uma condenação eterna.

Houve quem achasse que isto não bastava. Para dar ainda mais ênfase e força à condenação, é o próprio Ministério Público que sela definitivamente a questão. Além do auto-de-fé nos média, o despacho onde não se acusa, ou seja, onde se diz que não há provas para acusar o arguido, que serve para mostrar à comunidade que aquele cidadão foi erradamente investigado e que os indícios eram afinal infundados, serve para dizer que, no fundo, ele é criminoso.

E assim se condena um inocente para todo o sempre.

Qualquer semelhança deste caso com o Tutti-Frutti não é uma coincidência. Aliás, há outra não coincidência: o responsável pelo DCIAP era Amadeu Guerra, o atual procurador-geral da República.

Desde essa altura, nada melhorou, pelo contrário. Há cada vez mais meios de comunicação que embarcam na promoção de julgamentos na praça pública e os antigos especialistas dessas iniquidades foram promovidos a cargos de direção em importantes grupos de média.

O caso Tutti Frutti é um bom exemplo disso.

Lembro-me de notícias em que se relatava a apreensão do computador de Fernando Medina onde constariam centenas de indícios de crimes e um nunca acabar de histórias que curiosamente eram difundidas em época de eleições. Digamos só que era uma altura estranha para haver fugas de informação.

Convém não esquecer também a quantidade de fugas ao segredo de justiça convertidas em notícias que fizeram com que os acusados do Tutti-Frutti estivessem a ser cozinhados em lume brando durante quase dez anos. E é este cozinhado que traz uma outra condenação: pessoas que são inocentes por imposição constitucional a aceitarem uma condenação antes de serem julgadas. Não só as próprias a aceitam como os partidos de que fazem parte as promovem.

Se alguém não se sente confortável a continuar a exercer funções públicas sob acusação, é legítimo e de sua consciência que peça a suspensão do seu mandato, mas é bom que saiba que está a cooperar com uma perversão do sistema de justiça e a promover quem faz julgamentos na praça pública.

Pior são os partidos que retiram a confiança política a acusados em processos do género do Tutti-Frutti. Estão assim, como pilares do regime, a perverter as funções do Ministério Público, e isso é o fundamental, mas esquecem também o que tem sido o resultado destes processos. Basta lembrar Rui Moreira e Miguel Alves.

O Tutti-Frutti é só mais um processo em que o Ministério Público confunde moral e ética com ação penal, em que se investigam pessoas durante dez anos enquanto se divulgam suspeitas em que se destrói a honra e o bom nome das mesmas sem que possam defender-se; em que não se é acusado, mas condenado sem prova devidamente feita; em que se constrói mais um megaprocesso impossível de julgar e que apenas vai servir para o costume: dar a ideia de que o sistema político está podre e de que os únicos impolutos são os santos magistrados. E importa lembrar, nada como um processo onde se misturam factos com suposições, crimes com falhas comuns, práticas normais com imaginárias irregularidades para que os corruptos e prevaricadores se safem.

Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa estão contentes com este estado de coisas (alguém lhes ouviu, aliás, uma palavra sobre esta pouca-vergonha?) ou então não teriam nomeado o atual procurador-geral da República.

Amadeu Guerra é o símbolo deste sistema, foi figura central do Ministério Público estes anos todos. Fossem megaprocessos, fossem coisas como o despacho acima referido acerca de Dias Loureiro. Quem o escolheu não pode esperar que alguma coisa se altere.

O maior problema institucional da democracia portuguesa é a Justiça e há muito que é uma questão política. Já não dá mais para responsabilizar os agentes da Justiça, a culpa toda é dos nossos representantes, daqueles que elegemos.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Foi recentemente notícia nalgumas das maiores publicações mundiais como a Business Insider, o New York Post ou o Daily Mail: o portal de viagens Fodor elaborou a sua lista de 15 locais a não visitar em 2025 e Lisboa faz parte dela.

Chama-se “No List” e inclui os destinos nos quais a pressão turística se tornou insustentável. São grupos atrás de grupos a encontrar nos mesmos pontos de interesse outros turistas, locais que se esvaziaram de vida para existir apenas no mundo dos monumentos históricos ou das paisagens, sem já pitada da alma que foi o que, em primeiro lugar, despertou o interesse dos visitantes.

Diz a Fodor que não quer com isto promover nenhum tipo de boicote, apenas alerta para o seguinte: “A No List serve para destacar destinos onde o turismo está a colocar uma pressão insustentável sobre o lugar e sobre as comunidades locais. E esta pressão precisa de ser abordada.” Precisa mesmo.

Além de Lisboa, a lista inclui Barcelona, Veneza, Maiorca, Canárias, Bali, Koh Samui (Tailândia), o monte Evereste, Agrigento (Sicília), Kerala (Índia), as ilhas virgens britânicas, Quioto e Tóquio, Oaxaca (México) e a Costa Norte 500 na Escócia. Temos destinos mais clássicos e outros movidos pela moda do momento.

Esta forma de fazer turismo, consumindo outras culturas como quem consome uma pizza, um turismo de likes no Facebook e no Instagram, é só um sintoma da “modernidade líquida” (termo de Zygmunt Bauman) que vivemos. Aqui do centro histórico da capital, vejo esta Lisboa a ser sorvida à pressa, na ânsia de se levar para casa mais uma experiência. Acumulação de momentos breves, superficiais e sem aprendizagem.

Já para as comunidades, o impacto é bastante profundo. Esta semana, a Câmara Municipal de Lisboa publicou uma lista de 337 arruamentos onde os tuk-tuks passam a ser proibidos, muitos deles no centro histórico. Interdita também o seu estacionamento em certos locais, como miradouros, alguns dos quais estão tão pejados de tuk-tuks que há muito não se consegue ouvir o restante barulho da cidade.

Claro que as associações do setor vão contestar. E quem sabe ganhar esta guerra inglória do negócio contra os habitantes. Aconteceu no Porto, onde 12 empresas de transporte de turistas ganharam em tribunal o direito de circular livremente no centro histórico.

O braço de ferro com os tuk-tuks, embora relevante para quem vive e trabalha no centro das duas maiores cidades portuguesas, é, no entanto, apenas a ponta de um imenso icebergue. Sabemos, há décadas, que o nosso destino é o de país turístico, de serviços. Sem dimensão para agricultura de relevo e com a indústria em perda, temos aquilo que nos foi dado de bandeja – sol, praia, História.

Como lidamos com este fado sem o tornar uma maldição depende, em larga medida, do poder político. Se Carlos Moedas “compra” uma guerra com as empresas de tuk-tuks, terá visão de longo prazo para o setor imobiliário e hoteleiro? Do antigo Hospital da Marinha ao edifício do Quartel da Graça, os projetos para o centro histórico são de grandes unidades hoteleiras.

Os tuk-tuks enervam-nos o dia a dia; já os mini T2 de 60 metros quadrados com renda de 1 500 euros impossibilitam-nos a vida na cidade. Não há very typical que aguente.qw

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Desde que tomou posse, Donald Trump tem estado ocupado a assinar ordens executivas, a maioria a revogar ou alterar completamente medidas da administração Biden. Algumas parecem comezinhas, como alterar o nome do golfo do México, e outras são megalómanas, como avançar com uma Cúpula de Ferro idêntica à de Israel. Das seis dezenas assinadas entre 20 de janeiro e 12 de fevereiro, estas são talvez as mais controversas.

Estabelecimento do Gabinete de Fé da Casa Branca

Não é um gabinete novo, mas uma reformulação com um propósito definido: elevar a religião cristã acima das outras. O novo Gabinete de Fé substitui o anterior Gabinete de Iniciativas Comunitárias e Baseadas na Fé da Casa Branca e tem o propósito de escolher e dialogar com líderes religiosos que, entre outras coisas, promovam “o fortalecimento do casamento e da família” e combatam “o preconceito antissemita e anticristão”. Vai ser liderado pela televangelista Paula White.

Imposição de sanções ao Tribunal Penal Internacional

“Eu, DONALD J. TRUMP, Presidente dos Estados Unidos da América, considero que o Tribunal Penal Internacional (TPI), tal como estabelecido pelo Estatuto de Roma, se envolveu em ações ilegítimas e infundadas contra os Estados Unidos e o nosso aliado próximo Israel.” Assim arranca esta ordem executiva, que impõe sanções económicas e de deslocação a qualquer indivíduo que trabalhe em investigações do TPI sobre cidadãos dos EUA e dos seus aliados. O TPI emitiu, em novembro, um mandado de captura sobre Benjamin Netanyahu, aliado de Trump, o que pode ajudar a explicar esta decisão.

Erradicar o preconceito anticristão

Acusando a anterior administração de se ter envolvido “num padrão flagrante de perseguição aos cristãos pacíficos, ignorando ao mesmo tempo as ofensas violentas e anticristãs” e de ter perseguido judicialmemte “cristãos pró-vida pacíficos por rezarem e se manifestarem à porta das clínicas de aborto”, Trump decidiu criar uma “task force para erradicar o preconceito anticristão”. O objetivo da equipa é identificar e eliminar “quaisquer políticas, práticas ou condutas anticristãs ilegais” por parte de agências federais.

Manter os homens fora dos desportos femininos

Atendendo a que, nos últimos anos, “muitas instituições de ensino e associações desportivas permitiram que os homens competissem em desportos femininos”, o que “é humilhante, injusto e perigoso para as mulheres e raparigas”, Trump tenta assim impedir atletas transgénero de participar nas categorias femininas de desporto. Além de dar instruções ao Secretário de Estado para pressionar o Comité Olímpico a aderir a esta regra, exige ainda a revogação do “apoio e a participação em intercâmbios desportivos interpessoais ou outros programas desportivos em que a categoria desportiva feminina relevante se baseie na identidade e não no sexo”.

A Cúpula de Ferro para a América

Dado que “a ameaça de ataque por mísseis balísticos, hipersónicos e de cruzeiro, além de outros ataques aéreos avançados, continua a ser a ameaça mais catastrófica enfrentada pelos Estados Unidos”, Trump ordena o planeamento de uma Iron Dome para proteger o país. Apesar de o conceito e o nome serem obviamente copiados do sistema de defesa israelita, Israel não é referido, de todo, no documento. Especialistas já avisaram que, dado o tamanho dos EUA, o projeto é extraordinariamente dispendioso, demoraria décadas a ser implementado e implicaria sistemas de mísseis no espaço, em órbita.

Restaurar a força de combate da América

Trump acusa os programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nas Forças Armadas de prejudicar “a liderança, o mérito e a coesão da unidade, diminuindo assim a letalidade e a prontidão da força”. Nesse sentido, ordena o encerramento de todos os departamentos relacionados com DEI e acaba com os programas de discriminação positiva nas Forças Armadas dos EUA.

Restaurar nomes que honram a grandeza americana

“É do interesse nacional promover a extraordinária herança da nossa Nação e garantir que as futuras gerações de cidadãos americanos celebrem o legado dos nossos heróis”, pelo que Trump decide que o golfo do México se passe a chamar “golfo da América” e que o monte Denali (nome pelo qual os nativos daquela região do Alasca sempre o conheceram) volte ao nome dado em 1917, “monte McKinley”, que Obama revogou.

Colocar a América em primeiro lugar nos acordos ambientais internacionais

Com a justificação de que os interesses dos EUA e dos americanos se devem sobrepor ao “desenvolvimento e negociação de quaisquer acordos internacionais com potencial para prejudicar ou sufocar a economia americana”, os EUA abandonam o Acordo de Paris, que tenta limitar a emissão de gases com efeito de estufa. Cessa também imediatamente qualquer compromisso financeiro feito pelos EUA ao abrigo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Esta medida pode ser catastrófica para países mais pobres, que contam com o apoio americano em projetos de adaptação às alterações climáticas.

Retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde

Donald Trump já tinha iniciado, no final do seu primeiro mandato, a retirada dos EUA da OMS, processo que Biden reverteu. Agora, volta à carga, citando “a má gestão da pandemia da COVID-19 por parte da organização, que surgiu em Wuhan, na China, e de outras crises sanitárias globais, a sua incapacidade de adotar reformas urgentemente necessárias e a sua incapacidade de demonstrar independência da influência política inapropriada dos estados-membros da OMS”.

Defender as mulheres do extremismo da ideologia de género e restaurar a verdade biológica ao governo federal

Com esta ordem executiva, os EUA deixam de reconhecer géneros fluidos e passam a considerar apenas dois sexos, o masculino e o feminino. “Estes sexos não são mutáveis ​​e estão baseados numa realidade fundamental e incontestável. Sob a minha direção, o Poder Executivo aplicará todas as leis de proteção sexual para promover esta realidade.” A palavra “género” desaparece de todos os documentos e programas federais.

Proteger as crianças da mutilação química e cirúrgica

“Profissionais médicos estão a mutilar e a esterilizar um número crescente de crianças impressionáveis ​​sob a alegação radical e falsa de que os adultos podem mudar o sexo de uma criança através de uma série de intervenções médicas irreversíveis. Esta tendência perigosa será uma mancha na história da nossa nação e deverá acabar”, justifica o documento. É assim proibida a cirurgia ou a utilização de bloqueadores da puberdade, de androgénio, estrogénio ou testosterona, “para alinhar a aparência física de um indivíduo com uma identidade diferente do seu sexo” em todas as “crianças” – até aos 19 anos.

Palavras-chave:

Hoje fez-se história em alguns países, com mais um dia do Período Revolucionário em Curso nos Estados Unidos. Trump e Putin decidiram, em apenas uma hora e meia, o futuro da Ucrânia. O secretário da Defesa já retirou a NATO do barulho e, a este ritmo, qualquer dia até sai de cena. Entretanto, o secretário do Tesouro americano já aterrou em Kiev para escolher e mandar recolher as Terras Raras e outros minerais estratégicos.

Trump foi convidado a ir a Moscovo, e, na sua fúria inventiva, essa visita pode até acontecer de repente. Zelensky aguarda o telefonema da Casa Branca, para ficar a conhecer o destino do seu país. «Kiev pode vir a ser russa», profetizou o presidente americano antes de falar com Putin.

Mas há mais: o rei da Jordânia foi emboscado na Sala Oval, onde ouviu — sem tugir — todos os detalhes do grandioso plano imobiliário para a Faixa de Gaza. Ficou também a saber que terá de alojar centenas de milhares de palestinianos, se quiser continuar a receber os biliões dos EUA. O mesmo destino aguarda o presidente egípcio. A tudo isto soma-se o ultimato ao Hamas: libertar todos os reféns até às 12 horas de sábado ou o Inferno!

Por fim, não esquecer o apetite de Trump pela Gronelândia. Num gesto excecionalmente bem conseguido, os dinamarqueses estão a fazer um crowdfunding para comprar a Califórnia, enquanto alguns comentadores russos ligados ao Kremlin já perguntaram pelo preço de Lisboa. Estão todos doidos? Há, em tudo isto, uma dose maximalista de surrealismo político, onde domina a fantasia e a loucura.

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