É hoje que conheceremos o novo Governo. Como não tenho a mais pequena dúvida de que Luís Montenegro quer o melhor para o País, espero que ele tenha conseguido recrutar as pessoas que realmente quis. Numa palavra: os mais competentes e os que melhor queiram servir a causa pública. Estou certo de que o novo primeiro-ministro se riu com vontade ao ouvir a conversa da treta do governo mais ou menos político. Como se a política não fosse a atividade em que se tenta fazer o melhor pelo bem comum e em que não há combate político que mereça esse nome se não tiver por base o interesse da comunidade. Não deve ter sido tarefa nada fácil. Nas presentes circunstâncias, há uma grande probabilidade de que quem quer muito ir para o Governo não ser o mais competente e de que os mais capazes e competentes fujam de cargos públicos como o diabo foge da cruz. Resta-nos pouco mais do que confiar na genuína vontade de servir a causa pública do maior número possível de pessoas e no pecado favorito do diabo: a vaidade. 

É, de facto, precisa muita coragem, muita indiferença ou nada ter a perder para aguentar o que já se tornou rotina para detentores de importantes cargos públicos. Tentar fazer o melhor pelo bem comum é agora também estar disponível para ser injuriado, difamado e ver a vida pessoal e dos seus próximos completamente devassada. Exercer um cargo público é, na prática, prescindir da presunção de inocência e dar ao mais impreparado magistrado ou a um pouco sério jornalista o poder de inverter o ónus da prova.

Mas ser ministro ou secretário de Estado, além de já não ser algo que se possa incluir com orgulho no curriculum, passou a ser uma espécie de cadastro. A lista de incompatibilidades que alguém que tenha exercido um cargo no governo é tal que torna muito difícil o regresso à vida no setor privado. O exercício do poder político é cada vez mais apenas possível aos ricos que podem passar longos períodos sem exercer as suas profissões, aos professores, aos políticos profissionais e pouco mais. O que antes já era muito discutível – a velha história de se ficar com a “vida feita” por se ter sido ministro – agora tornou-se uma clara mentira. E, claro, vale sempre a pena lembrar que os salários de ministro e de secretário de Estado são um insulto, não só para quem os recebe, mas sobretudo para a imagem que se dá da importância dos cargos desempenhados. Há algo de muito errado quando um homem ou uma mulher com a responsabilidade política pela Saúde ou Educação de uma comunidade é remunerado como um qualquer diretor de segunda linha de uma multinacional. 

O maior obstáculo a ter pessoas competentes a trabalhar para o bem comum é a vontade de que alguns setores da Justiça têm em usurpar as funções de quem é eleito para as exercer. Já não são só os espetaculares e rotineiros processos que não dão em nada e só servem para destruir carreiras e cimentar a ideia de que os políticos são todos uns ladrões. Diga-se de passagem, e repetindo pela enésima vez o que aqui tenho escrito: uma parte importante do Ministério Público (MP) é uma das grandes responsáveis pela má imagem que a classe política tem junto dos cidadãos, pelo declínio do prestígio das instituições e pela fuga dos nossos melhores da mais nobre atividade. E não valia a pena referir: é fundamental o escrutínio da Justiça, mas os resultados têm sido pouco menos do que discutíveis. 

Agora estamos noutro patamar. O MP dá-se ao luxo de não concordar com decisões de outros órgãos de soberania e lança processos sobre quem as toma dentro da lei. Acontece com sentenças de juízes, com decisões de organismos do Estado e, claro, do Governo. A Operação Influencer é um caso claro. Põem-se em causa contrapartidas a autarquias para a execução de obras públicas e investimentos relevantes, discutem-se decisões apenas sujeitas ao poder discricionário do executivo. Somado a isto temos agora um novo caso em que o MP impugna a decisão legal e legítima da Agência Portuguesa do Ambiente em autorizar a construção da maior central solar da Europa. A razão é pura e simplesmente achar que quem a contesta e quem deu pareceres não vinculativos tem razão… A isto chama-se subversão dos poderes em democracia ou querer mandar num país sem eleições. 

A governação de Luís Montenegro não será fácil visto o reduzido apoio que tem no Parlamento – e não só. Mas seria bom que os opositores fossem forças políticas e sociais e que fôssemos nós depois a avaliar o seu trabalho, não quem tem outras funções. Desejo ainda que não faltem homens e mulheres competentes e com vontade de servir que corajosamente consigam ultrapassar todas as barreiras normais e as que infelizmente se estão a tornar normais.

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Na televisão destacava-se a figura flamejante de Donald Trump, dirigindo-se a uma multidão de seguidores, todos eles com a cabeça coberta por bonés vermelhos, nos quais se podia ler a frase “Make America Great Again”.

‒ Há línguas entrando no nosso país! ‒ alertava Trump, agitando no ar as delicadas mãozinhas de veludo. ‒ E não temos um único especialista, em toda a nossa poderosa nação, que possa falar essas línguas. São idiomas… É a coisa mais louca… Eles têm idiomas que ninguém neste país nunca ouviu falar. É uma coisa muitíssimo horrível mesmo. São línguas verdadeiramente estrangeiras.

Samuel, terminou de beber o café, atordoado, agoniado, horrorizado, enquanto, a milhares de quilómetros de distância, a multidão aplaudia o extraordinário discurso do ex-Presidente norte-americano. Um empregado aproximou-se, solícito, da sua mesa:

‒ Então, meu jovem, hoje não vai querer um pastelzinho de nata?

Samuel disse-lhe que não. Pediu a conta e saiu do café pensando naquelas línguas verdadeiramente estrangeiras, línguas inominadas, que cruzavam furtivamente a fronteira para atacarem, talvez durante o sono, à traição, os infelizes norte-americanos monoglotas.

Ele, Samuel, desprezava (discretamente) os monoglotas. Nascera em Estocolmo, filho de uma sueca e de um imigrante português, e estudara numa escola francesa. Assim, falava com fluência o sueco, o português, o francês e ainda, como toda a gente hoje em dia, o inglês. Além disso, estudara russo e chinês na faculdade.

Passara um ano em Pequim, aperfeiçoando o idioma, e depois, aos 23 anos, decidira radicar-se em Lisboa, onde a família mantinha um apartamento. Gostava de sol, de surf e de pastéis de nata.

Conseguira emprego numa empresa de recrutamento e seleção, onde poliglotas como ele eram valorizados. O trabalho de Samuel consistia em entrevistar candidatos a determinados empregos, de forma a comprovar a fluência dos mesmos em sueco. Um outro colega, Pablo, de nacionalidade argentina, mas que falava um português perfeito, fazia um primeiro contacto com os candidatos e, se entendesse que estes cumpriam todos os restantes requisitos, passava-lhes a chamada.

Naquela manhã, Pablo encontrou um candidato que parecia ideal. Era brasileiro, carioca, residia em Lisboa, e não se horrorizou com o ordenado proposto (todos os suecos se horrorizavam). Além disso, segundo contou, vivera muitos anos na Suécia, saltando de cidade em cidade, de maneira que conhecia bem o país, falando o sueco quase com a mesma segurança com que falava português.

‒ Em princípio, o senhor cumpre todos os requisitos ‒ disse-lhe Pablo. ‒ Vou agora passar a um colega meu, apenas para que confirme a sua fluência no idioma. Pode ser?

O candidato não pareceu nem um pouco intimidado:

‒ Com certeza, amigo. Pode passar.

Samuel cumprimentou-o em sueco. Ninguém lhe respondeu. O jovem refez a pergunta, e de novo não obteve resposta alguma. Ensaiou outras, e todas foram acolhidas da mesma forma ‒ por um vasto silêncio. Finalmente, escutou um atordoado, OK! OK! OK! Desistiu, sacudindo a cabeça, ao mesmo tempo que passava o telefone a Pablo:

‒ Lamento, Pablo, o gajo não fala sueco…

Pablo esforçou-se por ser delicado:

‒ Sinto muito. O senhor não falou nada com o meu colega. Deduzo que não fale sueco…

O homem tossiu. Depois, baixando a voz, quis saber se o colega supostamente sueco ‒ ele disse “supostamente sueco” ‒ estava escutando a conversa. Não, elucidou Pablo, não estava.

‒ Vou ter de ser franco com você ‒ disse o candidato com uma voz firme. ‒ Não conversei com o seu colega porque ele não estava falando sueco comigo. Ele não fala uma palavra de sueco, entendeu?! Está sacaneando todo o mundo aí.

‒ Como?!

‒ É um mentiroso, esse cara! Nem uma palavra!

Pablo desligou o telefone. Voltou-se para Samuel:

‒ Ele diz que tu não falas sueco.

‒ Não falo sueco, eu?!

‒ Nem uma palavra!

Riram-se ambos, às gargalhadas. Nessa noite, já em casa, saboreando um pastel de nata enquanto voltava a ver, no telejornal, Donald Trump insurgindo-se contra os idiomas muitíssimo estrangeiros que ameaçam a grandeza da América, Samuel voltou a lembrar-se do episódio com o candidato carioca. Pensando melhor, parecia-lhe que Pablo hesitara ao informá-lo da suspeita do outro. Talvez durante aquele brevíssimo instante tivesse acreditado no candidato; agora, também a gargalhada do colega lhe parecia falsa.

No dia seguinte, no trabalho, reparou, ou julgou reparar, que os colegas lhe lançavam olhares suspeitosos. Calavam-se de repente quando ele surgia. Dia após dia, Samuel foi perdendo a fé nele próprio. O sueco começou a parecer-lhe uma língua verdadeiramente estrangeira. Começou a sentir-se ele próprio verdadeiramente estrangeiro.

O candidato carioca tinha de sobra aquilo que a ele lhe faltava ‒ convicção. Um aldrabão convicto é capaz de tudo, inclusive de desacreditar a realidade. Pensou de novo em Trump e, dessa vez, não se riu.

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Viva, bom-dia

A descrição do que se passou na “bolha” político-mediática nacional nas últimas 36 horas podia prolongar-se pelos dez cantos d’Os Lusíadas adentro sem engenho nem arte. Mas, no meu modesto entender, a cena explica-se, de forma curta e simples, através da linguagem desportiva. O jogo teve três partes e, no final, ganharam os moderados.

Em primeiro lugar, os factos. Ontem à tarde, o deputado José Pedro Aguiar Branco foi eleito presidente da Assembleia da República, com 160 votos a favor e 18 votos brancos. Depois de, na terça-feira, 26, a eleição ter falhado três vezes, os líderes do PSD e do PS chegaram a acordo para resolver o impasse no Parlamento e comprometeram-se a assumir uma presidência rotativa (lembrete: a política é a arte da negociação e do compromisso). O antigo ministro do PSD assume o mandato nos próximos dois anos, até setembro de 2026, e o socialista Francisco Assis sucede-lhe nos dois anos seguintes, até ao final da legislatura. Depois de frustrado o acordo entre o PSD e o Chega, resolveu-se assim o impasse para eleger a segunda figura do Estado português. Posteriormente, também foram eleitos os quatro vice-presidentes propostos: Teresa Morais (PSD), Marcos Perestrello (PS), Rodrigo Saraiva (IL) e Diogo Pacheco de Amorim (Chega).

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Lisboa e sul

CONVERSAS

  • As portas que Amália abriu | Fado e Liberdade

Ciclo de conversas gratuito em torno do legado de liberdade e de independência artística de Amália Rodrigues, com conceção e moderação de Miguel Carvalho, ex-jornalista da VISÃO e autor do livro Amália, Ditadura e Revolução. As sessões, sempre à quinta-feira, às 19h, têm como convidados Luís Cília e Mitó Mendes (9 mai), Carlos Tê e João Gobern (23 mai), Luís Varatojo e Gaspar Varela (6 jun), Napoleão Mira e Sam The Kid (20 jun), Aldina Duarte e Maria do Rosário Pedreira (27 jun). I.B. Museu do Fado, Lisboa > até 27 jun, qui 19h > grátis

OFICINAS

  • Passatempos de Abril

Nesta atividade, através de desafios matemáticos, enigmas e sopas de letras, testa-se os conhecimentos dos visitantes a respeito do 25 de Abril. Pavilhão do Conhecimento, Lisboa > até 14 mai > grátis (na compra do bilhete de entrada)

MÚSICA

  • Canções Heróicas – 50 Anos em Liberdade

O primeiro concerto do Coro em Liberdade teve lugar um mês depois do 25 de Abril de 1974. 50 anos depois o Coro Lopes-Graça da Academia de Amadores de Música promove este concerto de celebração. Voz do Operário, Lisboa > 25 mai, sáb 17h

TEATRO

  • A Revolução que me ensinaram

Com texto de Joana Cotrim, esta produção de O Clube parte da história de família da autora que segue para o Brasil durante o PREC. DeVIR CAPa, Faro > 25 mai, sáb > Clube Estefância – Escola de Mulheres, Lisboa > 19-22 set, qui-dom > Teatro Virgínia, Torres Novas > 29 nov, sex

EXPOSIÇÕES

  • A Revolução em Marcha: os cartazes do PREC, 1974-1975

Poucos dias após o 25 de Abril, uma explosão de graffitis/pichagens, murais e cartazes inundou o espaço público. Esta exposição pretende mapear uma série de acontecimentos, assuntos, debates políticos e expectativas do PREC através de fotografias da época. Biblioteca Nacional de Portugal > até 21 set, seg-sex 9h30-19h30, sáb 9h30-17h30 > grátis

  • Os 10 Dias que Abalaram Portugal

Do imenso Arquivo Ephemera de José Pacheco Pereira nasce esta exposição inserida nas Festas de Abril em Lisboa, que testemunha o início da democracia após a Revolução dos Cravos. No Mercado do Forno do Tijolo, Os 10 Dias que Abalaram Portugal devolve-nos a passagem dos partidos clandestinos à legalidade, a construção de novos partidos e o compromisso de fazer eleições livres através de documentos e objetos únicos reunidos pelo historiador. I.B. Mercado do Forno do Tijolo, Lisboa > até 26 mai, ter-dom 11h-19h > grátis

  • 25 de Abril, Sempre!

Lugar simbólico de resistência, o Museu do Aljube inaugura a exposição 25 de Abril, Sempre!, que propõe uma viagem pelas resistências desde o 25 de Abril de 74 até aos nossos dias. I.B. Museu do Aljube, Lisboa > até 31 jan 2025, ter-dom 10h-18h > €3

  • Museu Grândola, Vila Morena

Já abriu o Museu Grândola, Vila Morena que conta a história da canção, senha do 25 de Abril, desde o primeiro encontro entre José Afonso e a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, em 1964, até aos dias de hoje. O núcleo museológico conta com várias áreas de exposição, filmes e atividades interativas, um estúdio de gravação e um auditório. Paços do Concelho > Pç. D. Jorge, Grândola

  • Portugal Livre – 1974

Editado dois meses depois do 25 de Abril, o livro Portugal Livre reúne registos fotográficos deste dia produzidos por 20 fotojornalistas e acompanhados de textos de Adelino Gomes e Fernando Assis Pacheco. É a partir desta obra que se produz esta exposição com fotografias de António Xavier, Inácio Ludgero, João Ribeiro, Alfredo Cunha, Eduardo Gageiro, entre outros fotojornalistas, feita em parceria com a associação CC11. Casa da Imprensa, Lisboa > até 17 mai, seg-sex 10h-18h > grátis

  • Portais do Tempo

No antigo estaleiro de Lisnave, em Cacilhas, sete artistas contemporâneos reinterpretam fotografias de Alfredo Cunha,. A exposição, com a curadoria da plataforma Underdogs, contempla uma visita encenada, workshops e uma maratona fotográfica. Lisnave, Cacilhas, Almada > até 13 jul > grátis

  • 25 de Abril de 1974, Quinta-feira

Exposição de 50 outdoors com fotografias de Alfredo Cunha com projeção multimédia e música de Rodrigo Leão. Galeria Municipal Artur Bual | Casa Aprígio Gomes, Amadora > até 23 jun, ter-sáb, feriados 10h-13h, 14h-18h, dom 14h30-18h > grátis > Museu de Almada – Casa da Cidade, Almada > até 27 set, ter-sáb 10h-13h, 14h-18h > €1,68

  • Ventos de Liberdade

A visão do fotojornalista britânico Peter Collis e da fotojornalista alemã Ingeborg Lippmann sobre a Revolução de Abril, numa exposição comissariada por Fátima Lopes Cardoso e Pedro Marques Gomes que parte dos arquivos depositados na Fundação Mário Soares e Maria Barroso. Museu do Oriente, Lisboa > até 19 mai, ter-dom 10h-18h, sex 10h-20h > grátis

  • Manifesto

Obras de Paula Rego que desafiaram a ditadura. Casa das Histórias Paula Rego, Cascais > até 6 out, ter-dom 10h-18h > €5

  • Alfredo Cunha – Photographo

Na mostra Photoprapho, toda a preto e branco, fica-se com uma boa retrospetiva do que é e tem sido Portugal – e um pouco do mundo – nas últimas cinco décadas. Há retratos, pedaços de reportagem, dentro e fora de portas, mas destacamos a parede destinada ao dia da Revolução dos Cravos, já que Alfredo Cunha esteve na linha da frente, a fazer a cobertura deste dia tão especial para O Século. L.O. Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira > até 12 mai, ter-sex, dom 10h-18h, sáb 10h-19h > grátis

  • Liberdade – Portugal, lugar de encontros

Nomes consagrados das artes plásticas nacionais, como Graça Morais, Joana Vasconcelos e José de Guimarães, estão presentes nesta exposição que junta artistas de várias origens – no universo dos países de língua portuguesa – e épocas, celebrando a liberdade como ca(u)sa comum. P.D.A. UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, Lisboa > até 10 mai, seg-sex 10h-18h

  • Uma pequena luz vermelha – Cravo, a flor da liberdade

Mostra em espaço público de cartazes da Associação Cultural Ephemera – Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira. Portas de Mértola, Beja > até 10 jun

  • O MFA e o 25 de Abril

Com recurso a materiais iconográficos, audiovisuais e sonoros esta mostra aborda o papel do Movimento das Forças Armadas no derrube da ditadura e na construção da Democracia, o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento. Gare Marítima de Alcântara, Lisboa > até 26 jun, qua-dom 14h-20h > grátis

Porto e norte

EXPOSIÇÕES

  • Pré/Pós – Declinações Visuais do 25 de Abril

O Museu de Serralves expõe mais de 300 obras do período entre 1970 e 1977, para mostrar como a realidade política e social contaminou as artes visuais, aqui complementadas com materiais documentais vindos dos arquivos, entre outros, da Fundação Mário Soares, Associação 25 de Abril e do Partido Comunista Português. I.B. Museu de Serralves, Porto > até 31 out, seg-sex 10h-19h, sáb-dom até 20h > €12

  • Esta máquina, esta objetiva, estas fotografias: 25 de abril 1974, quinta-feira

Com fotografias de Alfredo Cunha e gravuras de Vhils (Alexandre Farto). F.A. Centro Português de Fotografia, Lg. Amor de Perdição, Porto > até 28 jul, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 15h-19h > grátis

  • Quem canta o MAL espanta | A cantiga é uma ARMA

Exposição que junta o arquivo Ephemera, de Pacheco Pereira, e o Mira Fórum. Com a curadoria de Manuela Matos Monteiro e João Lafuente, a mostra dá a conhecer o papel da revista Mundo da Canção na história da Revolução de Abril, bem como a importância do Arquivo Ephemera que permite contar realidades que escapam às fontes formais de registo da História ou das narrativas estabelecidas. F.A. Mira Fórum, R. de Miraflor, Porto > até 8 jun, qua-sáb 15h-19h

  • Exposição de Cartazes

A Cooperativa Árvore (fundada em 1963) expõe dezenas de cartazes alusivos ao 25 de Abril de 1974, com dois núcleos: Resistência (1960-1970, provenientes da coleção particular de uma família portuense) e Revolução (do mesmo acervo e da própria Árvore). F.A. Cooperativa Árvore, Porto > até 11 mai, seg 10h-13h, 14h-18h, ter-sex-10h-18h30, sáb 14h-19h > grátis

  • 25 de Abril: 50 anos/50 artistas/50 obras

Coletiva de 50 obras de autores de referência na pintura portuguesa que marcaram o modernismo, o neo-realismo e a arte contemporânea, e que viveram a Revolução dos Cravos na primeira pessoa: Álvaro Lapa, Albuquerque Mendes, Ângelo de Sousa, Cruzeiro Seixas, Graça Morais, Julião Sarmento, Júlio Resende, Lourdes Castro, Mário Cesariny, Paula Rego, entre muitos outros. Mosteiro de Ancede Centro Cultural, Baião > até 30 set, seg-dom 10h-18h > €5

  • Abril Vermelho

Coletiva de vários artistas (Ângela Ferreiera, António Olaio, João Tabarra, Luísa Jacinto, Miguel Palma, Pedro Medeiros, entre outros) no Centro de Artes Visuais, em Coimbra, com obras desde o início dos anos 90 até aos dias de hoje. “Os artistas aqui apresentados pensam o mundo visualmente, interrogando-o. Do humor à crítica iconoclasta, do exercício rememorativo à desestruturação do real”, escreve o curador Miguel von Hafe Pérez. F.A. Centro de Artes Visuais, Pátio da Inquisição, 10, Coimbra > até 16 jun, ter-dom 14h-19h > grátis

Marlene Vieira é chefe de cozinha dos restaurantes Zunzum Gastrobar e Marlene, em Lisboa. No programa de televisão Cozinha de Chef, no canal Casa e Cozinha, apresenta receitas, com o seu toque, de todas as regiões do País. Eis cinco ideias para fazer nesta Páscoa.

1. Folar transmontano reinventado

Ingredientes

Orelha fumada

Alheira

Entremeada

Bacon

Chouriço de carne

Chouriço mouro

300 g de farinha

43 g de gema de ovo

113 g de leite

5 g de sal

18 g de fermento de padeiro fresco

113 g de manteiga 

Preparação

Começar pelas carnes, que podem ser aproveitamentos de carnes do cozido, cortando-as em pequenos cubos e reservar.

A massa será a principal alteração à receita original. Numa batedeira, juntar a farinha, o sal, o fermento, as gemas e o leite. Bater todos os ingredientes e, quando tiverem alguma espessura, juntar cubos de manteiga fria. Deixar a massa a levedar.

Quando a massa já tiver duplicado de tamanho, moldá-la em rolos e encher cada um com as carnes.

Pincelar um tabuleiro com manteiga derretida e dispor os rolos do folar. Levar ao forno a 180ºC durante 20 a 30 minutos.

Com o folar já cozido, retirar do forno e desenformar.

2. Bacalhau à Braga

Foto: DR

Ingredientes

Bacalhau

Cebola

Alho

Batatas

Água

Sal

Ovo

Água com gás

Farinha

Agrião

Fermento em pó

Colorau

Louro

Manteiga

Azeite

Pimenta

Amido de milho

Óleo

Preparação

Começar por trabalhar o bacalhau. Retirar as espinhas e preparar os filetes. Depois, temperar o bacalhau com colorau, alho e um fio de azeite. Envolver tudo e reservar.

Com as aparas e as espinhas do bacalhau, fazer um caldo numa panela com água.

A receita inclui uma cebolada feita sobre a forma de uma sopa de cebola. Num tacho, pôr ao lume: cebola, alho laminado, louro, manteiga e azeite. Deixar cerca de 20 a 30 minutos ao lume até caramelizar. Acrescentar depois sal, pimenta e o caldo de bacalhau.

Cortar as batatas na mandolina.

Quando a cebolada estiver finalizada, dispô-la numa travessa onde acrescentamos depois uma camada de batatas. Pincelar as batatas com manteiga e levar o preparado ao forno a 200ºC durante cerca de 30 minutos. As batatas devem alourar.

Para a polme, vai precisar de farinha, amido de milho, fermento em pó, sal fino, um ovo e, por fim, água com gás. Depois de ter todos os elementos, envolver. Aquecer o óleo numa frigideira. Quando estiver quente, envolver os filetes de bacalhau na polme e fritar.

Com todos os elementos prontos, é hora de servir. O prato pode acompanhar com uma salada fresca de agrião.

3. Arroz de polvo

Ingredientes

Polvo congelado

Cebolas

Dentes de alho

Folha de louro

Vinho tinto

Água

Cravinhos

Pimento vermelho

Tomate

Azeite

Arroz carolino

Sal grosso

Pimenta em grão

Salsa

Chouriço de sangue

Preparação

Colocar o polvo na panela com a cebola cortada ao meio com os cravinhos espetados. Juntar ainda louro, vinho tinto, alho e água. Deixar cozer durante 30 minutos. Retirar do lume e deixar na panela mais 15 minutos para que fique no ponto.

Preparar uma base de legumes para o arroz. Para isso, picar cebola, alho, pimento, tomate e chouriço. Colocar num tacho em lume baixo e adicionar azeite. Refogar tudo e deixar cozinhar.

Com o polvo já cozido,retirá-lo do tacho e deixar arrefecer. Coar o caldo da cozedura e reservar para a cozedura do arroz.

Pré-aquecer o forno a 220ºC. Retirar o tacho do refogado do lume e acrescentar o arroz e o caldo. Retificar os temperos (sal e pimenta). Mexer ligeiramente e levar o arroz ao forno por 20 minutos até estar cozido.

Enquanto o arroz cozinha, separar os tentáculos do polvo, colocar numa assadeira e molhar com azeite. Adicionar alho laminado e levar também ao forno durante 10 minutos.

Retirar o arroz do forno e acrescentar os tentáculos, finalizando com salsa.

4. Aletria

Foto: DR

Ingredientes

300 g de açúcar

1,5 litro de água

Sal grosso

Pau de canela

Limão

250 g de aletria

20 g de manteiga

4 gemas de ovo

100 ml leite

Canela em pó

Framboesas

Preparação

O primeiro passo é desfiar a aletria. Num tacho, colocar ao lume a água, o açúcar, sal, pau de canela e casca de limão, fazendo uma infusão até levantar fervura.

Adicionar a aletria e a manteiga e mexer. Cozinhar durante 10 a 15 minutos. Depois misturar as gemas com o leite e adicionar à aletria, deixando cozinhar mais cinco minutos.

Empratar a aletria e finalizar com canela em pó e framboesas.

5. Pão de ló

Ingredientes

8 ovos

6 gemas de ovo

350 g de açúcar

350 g de farinha

Groselhas

Preparação

Bater os ovos, as gemas e o açúcar. Este é o segredo do pão de ló, por isso, deve bater-se durante pelo menos 12 minutos.

Depois envolver lentamente a farinha. Nesta fase, pode também incluir as groselhas. Mas, caso prefira, pode manter simplesmente a massa.

Humedecer a forma e forrar com papel vegetal.  Verter o preparado na forma e levar ao forno a 220ºC entre 20 e 30 minutos.

O pão de ló está pronto a servir. Boa Páscoa!

A sonda japonesa SLIM sobreviveu às temperaturas geladas da sua segunda noite lunar, que dura duas semanas terrestres, e transmitiu novas imagens, anunciou hoje a agência espacial japonesa Jaxa.

“Recebemos uma resposta da SLIM ontem [quarta-feira] à noite e confirmámos ter completado com êxito a sua segunda noite na Lua”, declarou a Jaxa, no perfil na rede social X (antigo Twitter) dedicado ao módulo, que aterrou na Lua no final de janeiro.

“A câmara de navegação apressou-se a tirar as habituais fotografias de paisagens durante um curto período”, acrescentou a Jaxa, que também publicou uma fotografia a preto e branco da superfície rochosa de uma cratera lunar tirada pela sonda.

A agência indicou que os dados recolhidos mostram também que alguns dos sensores de temperatura e células de bateria da SLIM estão a começar a falhar, mas que as funções principais parecem estar a aguentar-se.

Este é o terceiro despertar da SLIM (Smart Lander for Investigating Moon), que completou com êxito uma aterragem lunar de precisão a 20 de janeiro, tornando o Japão o quinto país a aterrar no satélite natural da Terra, depois dos Estados Unidos, da antiga União Soviética, da China e da Índia.

No entanto, devido a um problema no motor nas últimas dezenas de metros da descida, a SLIM aterrou num ângulo que privou as células fotovoltaicas, viradas para oeste, de luz solar.

Depois de um período inicial de inatividade de cerca de dez dias e um primeiro despertar, a sonda foi colocada em hibernação e sobreviveu à primeira noite lunar, antes de voltar a dormir no início de março.

A SLIM aterrou numa pequena cratera, com menos de 300 metros de diâmetro, chamada Shioli. Antes de ser desligada, a nave pôde descarregar dois mini-rovers (veículos de exploração lunar), que deviam efetuar análises de rochas da estrutura interna da Lua (o manto lunar), sobre as quais ainda se sabe muito pouco.

Uma outra sonda, a Odysseus, enviada pela empresa privada norte-americana Intuitive Machines, também conseguiu aterrar na Lua no final de fevereiro. No entanto, a empresa, que inicialmente esperava reativá-la após a noite lunar, anunciou no sábado o encerramento definitivo da sonda.

A Odysseus foi a sonda que aterrou mais a sul na Lua, uma zona de particular interesse para as grandes potências porque contém água sob a forma de gelo.

A agência espacial norte-americana NASA espera retomar os voos tripulados à Lua no âmbito do programa Artemis.

EJ // VQ

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O navio cargueiro responsável pelo desabamento de uma ponte em Baltimore, nos Estados Unidos, transportava 56 contentores com materiais químicos perigosos, sendo que alguns caíram à água depois do impacto, disseram investigadores.

A presidente do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes norte-americano disse que os 56 contentores continham 764 toneladas de materiais corrosivos e inflamáveis, incluindo baterias de lítio.

Jennifer Homendy acrescentou, em conferência de imprensa, que alguns dos contentores se partiram com o embate contra a ponte Francis Scott Key na terça-feira e caíram ao rio Patapsco, no estado de Maryland, no leste dos Estados Unidos.

Homendy disse que a área neste momento “é perigosa” devido à quantidade de detritos e ao mau tempo, o que tem impedido as equipas de mergulhadores de verificar o estado dos contentores que caíram do navio MV Dali, com bandeira de Singapura desde 2016.

O governador de Maryland, Wes Moore, disse que os mergulhadores estavam “lá em baixo, na escuridão, onde podem literalmente ver cerca de 30 centímetros à frente deles”, e rodeados por metal mutilado.

Jennifer Homendy previu que a investigação sobre o acidente e o desabamento da infraestrutura, que causou a morte de seis trabalhadores que tapavam buracos na ponte, vai demorar entre um e dois anos.

As autoridades norte-americanas recuperaram na quarta-feira os corpos de dois dos seis trabalhadores dados como mortos.

Na quarta-feira à noite, a agência de investigação de acidentes de transporte de Singapura anunciou, em comunicado, o início de uma segunda investigação ao navio, para “identificar lições para prevenir futuros acidentes e vítimas” e não apontar responsabilidades.

Horas antes, a Autoridade Marítima e Portuária de Singapura tinha anunciado que ia também abrir uma investigação própria sobre o acidente, além de prometer estar em contacto com a Guarda Costeira dos EUA para “prestar a assistência necessária”.

Isto apesar da autoridade sublinhar que o navio tinha a documentação em ordem, com certificados válidos que cobriam “a integridade estrutural do navio e a funcionalidade do seu equipamento”, e que passou duas inspeções em junho e setembro.

Também na quarta-feira, a Guarda Costeira norte-americana disse que o Dali tinha passado por “manutenção de rotina do motor” no porto de Baltimore antes do acidente.

“No que diz respeito ao motor, não fomos informados de nenhum problema com o navio”, disse o contra-almirante da Guarda Costeira dos EUA, Shannon Gilreath, numa conferência de imprensa.

As autoridades também alertaram para as consequências económicas do desabamento da ponte, utilizada por mais de 11 milhões de veículos por ano, e do bloqueio do porto de Baltimore, o nono maior dos EUA.

VQ (EJ/DMC) // EJ

A Colômbia ordenou a expulsão de diplomatas da Embaixada da Argentina em Bogotá, depois de o Presidente argentino, Javier Milei, ter apelidado o homólogo colombiano Gustavo Petro de “terrorista assassino” numa entrevista à CNN.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros colombiano anunciou num comunicado que o Governo “ordenou a expulsão de diplomatas da Embaixada argentina na Colômbia”, sem especificar o número de pessoas afetadas, e acrescentou: “O alcance desta decisão será comunicado à embaixada argentina através dos canais institucionais diplomáticos”.

Milei referiu-se a Petro como um “assassino e terrorista” numa entrevista, na quarta-feira, ao canal em castelhano de televisão norte-americana CNN, na qual também chamou “ignorante” ao homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador.

A entrevista vai ser transmitida no domingo, mas o canal divulgou excertos já na quarta-feira.

A diplomacia colombiana disse que, “em nome do Governo da Colômbia, repudia as declarações feitas por Javier Milei”.

“Não é a primeira vez que Milei ofende o Presidente colombiano, afetando as relações históricas de fraternidade entre a Colômbia e a Argentina”, lembrou o ministério, na mesma nota.

Essas e outras expressões do Presidente argentino “prejudicaram a confiança da nação, além de ofender a dignidade” de Petro, “eleito democraticamente”, destacou.

Este não é o primeiro confronto entre o ultraliberal Milei e o líder de esquerda Petro, ideologicamente opostos, no entanto a expulsão de pessoal diplomático é uma medida raramente utilizada por Bogotá.

O caso mais recente ocorreu em dezembro de 2020, quando dois diplomatas da Embaixada da Rússia foram expulsos depois de serem acusados de “atividades incompatíveis” com o posto, por alegadamente realizarem operações de inteligência militar.

Em 26 de janeiro, o Governo da Colômbia chamou o embaixador na Argentina, Camilo Romero, para consultas, depois de Milei ter afirmado que Petro “é um comunista assassino que está a afundar” o país.

Em resposta, a diplomacia colombiana afirmou que as declarações, proferidas numa entrevista, “violam os profundos laços de amizade, compreensão e cooperação que historicamente unem” os dois países, tendo por isso solicitado “consultas imediatas” com Romero.

Um mês mais tarde, a 24 de fevereiro, o Governo da Colômbia voltou a repudiar “declarações irresponsáveis” de Milei, que se referiu a Petro como “uma praga”.

Nessa ocasião, o canal de televisão colombiano NTN24 entrevistou Milei, à saída da convenção anual da direita norte-americana, em National Harbor (Maryland), onde esteve o ex-presidente dos EUA Donald Trump.

Questionado sobre o que pensava de Petro, Milei disse: “Está a afundar os colombianos, ou seja, é uma praga letal para os próprios colombianos”.

Quando Milei ainda era candidato à presidência da Argentina, foi criticado por Petro por comentários depreciativos sobre os socialistas, cujas ideias comparou às de Adolf Hitler.

Durante a última campanha eleitoral argentina, Petro apoiou abertamente o rival de Milei, Sergio Massa, e descreveu a vitória do ultraliberal como “triste para a América Latina”.

O chefe de Estado da Colômbia foi também criticado por ter comparado Milei com os ditadores Jorge Videla, da Argentina, e Augusto Pinochet, do Chile.

EJ // VQ

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