Salvador da Bahia, cidade orgulhosa da sua identidade e das suas heranças, do Samba de Roda, dos primeiros Terreiros organizados, do Carnaval único e do Axé, é uma cidade marcada pela presença de uma largamente maioritária população negra.

Pelo Censos de 2022, 79,5% da população do estado da Bahia se autodeclarada como negra, marcando a afirmação que diz que Salvador é a cidade mais negra do mundo fora da África.

Mas o caminho da afirmação desta identidade não tem sido um caminho fácil, em que as heranças coloniais se prolongaram num Brasil independente que manteve o funcionamento de cariz senhorial, a que se juntou um regime e uma economia escravocrata que perdurou até 1888, tendo sido o último país do chamado Ocidente a abolir a escravatura.

As religiões afro-brasileiras, Candomblé e Umbanda, são as que mais sofrem com ataques à sua liberdade religiosa, imagem consolidada de uma sociedade que ao longo do século XX sempre remeteu estas tradições para as margens da sociedade, apesar de todo um esforço imenso de muitos artistas e músicos na desconstrução dos preconceitos.

Neste contexto, à cor da pele não corresponde uma presença social e cultural que tenha no espaço público uma correspondência proporcional. O Brasil vive hoje, fruto de políticas, por exemplo, de fomento da entrada de jovens negros nas universidades, um tempo de valorização das heranças pré-coloniais e africanas. As artes e a literatura são talvez os campos mais dinâmicos e mais inovadores neste processo de resgate de uma identidade que durante séculos foi roubada e, por quem a tinha, teve de ser escondida, adulterada, ajustada para ser minimamente tolerada.

Na música, já muito foi feito com o uso de muitos ritmos, especialmente, no samba, que são oriundos do Candomblé. Na literatura, há um fortíssimo grupo de autores que que reflete sobre a identidade negra, hoje, cruzando-a com todas as marcas e máculas que socialmente são irreparáveis, como, por exemplo, Conceição Evaristo (Veja-se: “Os “Becos da Memória” que nos traz Conceição Evaristo”).

Nas artes, no campo do visual, joga-se, talvez, a partida mais desafiante, uma vez que nos transporta para o nível da pele, o centro mais forte das identidades individuais, naquilo em que elas se cruzam com o coletivo.

Vestir uma roupa é vestir uma pele. É assumir, no quotidiano, na imagem que outros têm de nós, e na imagem que construímos de nós mesmos, um grupo, uma coesão, uma identidade e, no limite, uma luta. Uma roupa é, queiramos, ou não, quase uma farda. Vestir, é gritar, é afirmar.

Goya Lopes, artista baiana consagrada na área do têxtil, é o rosto mais sólido do trabalho lento que procura cerzir a investigação com a criatividade, dando material contemporâneo a quem queira beber no leite materno da cultura africana que construiu o Brasil.

É uma carreira de mais de meio século, que é homenageada no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) com a exposição “Okòtò: Espiral da Evolução”. Esta mostra individual apresenta obras variadas (pinturas e gravuras), mas é nos tecidos que especialmente nos transmite o espantoso trabalho de Goya como referência no design e na arte têxtil brasileira.

Segundo o Museu de Arte Moderna da Bahia, “o conceito de Okòtò, termo iorubá que representa a espiral da evolução, conduz a narrativa da exposição: A ideia de um movimento contínuo, que une passado, presente e futuro, que revela tanto a potência criativa da artista quanto o impacto de sua obra no imaginário coletivo.”

Goya Lopes tem um trabalho que é verdadeiramente de laboratório, nesse cruzar o tempo, o passado e o presente, construindo novas formas das gerações sentirem a sua ancestralidade. E, essa relação, não apenas com o passado, mas com aquilo que nos é anterior, e do qual vimos, a dita ancestralidade, é o caminho que hoje cada vez mais pessoas fazem no Brasil, procurando as suas raízes, sem perder o seu lugar no presente.

Não é uma equação fácil, tanto mais que, além do preconceito e do racismo, há ciclos inquebráveis de pobreza que não encontram, numa sociedade quase de castas, formas eficazes de criar ascensores sociais.

Mas Goya faz um dos trabalhos mais difíceis e mais complexos deste processo. Ela cria os tais materiais para a pele. Veste, inspirando muitos mais artistas, uma população cada vez mais vasta de gente que ostenta orgulhosamente, através da roupa, a sua identidade. É orgulho, sim. E é beleza.

Obrigado, Goya.

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De acordo com dados do Instituto de Registos e Notariado (IRN), enviados à agência Lusa, o número de casamentos em Portugal em que uma das pessoas é menor – entre os 16 e 18 anos – aumentou quase 190% desde 2020. Desde 2023, foram registados 470 casamentos com menores. Já no primeiro trimestre de 2025, ocorreram 65 casamentos.

Desde 2020 que o número de casamentos com menores tem aumentado consecutivamente, passando de 130 em 2021, para 158 em 2022, 178 em 2023 e 227 em 2024 – o que representa um aumento de quase 30% entre os dois últimos anos. Segundo os dados, os casamentos em que um dos elementos é menor, representam cerca de 74,3% das 940 pessoas envolvidas nos casamentos entre 2023 e os primeiros três meses de 2025.

A maioria (65%) dos menores envolvidos neste fenómeno era do género feminino, tendo-se verificado o casamento de 317 raparigas com 16 anos, 127 com 17 anos e mais 15 com 18 anos de idade.

Os dados revelam ainda que em 25 casamentos uma das pessoas tinha 25 ou mais anos e que seis adultos com 30 anos ou mais casaram com jovens com 16 ou 17 anos. A maioria dos adultos que casaram com menores é de nacionalidade portuguesa, mas há também registo de outras nacionalidades, incluindo um cidadão marroquino, um argelino e dois brasileiros.

Os casamentos com menores de 18 anos estão proibidos desde o passado dia 2 de abril, de acordo com um decreto da Assembleia da República, promulgado pelo Presidente da República.

O Espaço sempre fascinou a humanidade, quer pela vastidão, quer pelos desafios que a sua exploração impõe. A construção do primeiro veículo espacial tripulado, o Vostok 1, teve início em 1958 e ficou concluída em 1961, quando Yuri Gagarin, da antiga União Soviética, se tornou o primeiro humano a viajar para o Espaço, a 12 de abril desse ano. Mais de 60 anos depois, com a Estação Espacial Internacional (ISS) em operação e o avanço recente dos veículos espaciais, sobretudo da SpaceX, o acesso ao Espaço tornou-se mais viável, ainda que limitado e restrito.

No entanto, como escreveu o poeta português António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, “o sonho comanda a vida”. E é precisamente esse sonho que move Pedro Rosado, licenciado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico (IST) e, atualmente, a concluir o mestrado no Instituto Superior de Aeronáutica e do Espaço (ISAE-SUPAERO), em Toulouse, França, com especialização em Sistemas Espaciais. Com a ambição de se tornar astronauta, está prestes a dar o primeiro passo ao participar numa missão espacial análoga.

Pedro Rosado vai integrar a missão entre 20 de julho e 6 de agosto, em Sasso San Gottardo, nos Alpes Suíços

O que é uma missão análoga?

As missões análogas são simulações de missões espaciais, mas realizadas em ambiente controlado na Terra. O objetivo é testar equipamentos, tecnologias, protocolos médicos e psicológicos que poderão ser aplicados em futuras missões à Lua ou a Marte. Durante o tempo de confinamento, os participantes recriam a vida no Espaço, enfrentando condições semelhantes às das missões espaciais, como o isolamento, a escassez de recursos e a convivência num ambiente fechado com uma equipa reduzida.

Embora o sonho de ser astronauta seja um objetivo difícil de alcançar, “as missões análogas representam uma oportunidade única de se aproximar desse mundo e permitem-nos testar tecnologias, experimentar novos equipamentos e realizar experiências científicas. Além disso, proporcionam um treino que nos aproxima de uma missão espacial real”, explica Pedro Rosado, em entrevista à Exame Informática.

A missão que o aluno português irá integrar decorrerá entre 20 de julho e 6 de agosto, em Sasso San Gottardo, nos Alpes Suíços, recriará o ambiente do Polo Sul da Lua. O habitat será idêntico a cavernas lunares, com temperaturas extremamente baixas e num ambiente sem acesso à luz solar, semelhante à experiência que um astronauta encontraria na Lua. Durante 16 dias, Pedro Rosado e a restante equipa estarão em confinamento, com tarefas e horários rigorosamente definidos, de modo a replicar a rotina de uma missão espacial real. O projeto, liderado por estudantes, conta com o apoio da Universidade de Lausanne, na Suíça, e representa uma oportunidade valiosa para experienciar o isolamento e enfrentar desafios físicos e psicológicos.

“Vamos testar equipamentos, incluindo um rover desenvolvido por uma empresa norte-americana e umas luvas que nos permitem sentir o toque sem o risco de contacto direto com materiais potencialmente perigosos”, explica Pedro Rosado.

Preparação rigorosa para a missão

A preparação para a missão envolve diversos aspetos, desde o treino físico e psicológico até a aprendizagem sobre os equipamentos a utilizar. Os astronautas análogos não realizam apenas treinos técnicos específicos – precisam também de estar preparados para enfrentar desafios médicos e ambientais em condições extremas, como dormir em temperaturas que rondam -15° C.

Veja imagens da preparação para a missão em Evian-les-Bains, França:

“Passámos três dias na neve em ambientes extremos e fizémos exercícios de mergulho num lago com temperatura negativa”, detalha Pedro Rosado sobre o Extreme Environment Training, que decorreu no final de março, ao longo de três dias em Evian-les-Bains, França. “Teremos ainda treinos médicos com oxigénio, testes psicológicos e formação em liderança. Depois de todas estas experiências científicas, chegamos à missão já bastante preparados”, conclui o aluno português.

Além do treino físico, há uma grande ênfase na componente psicológica. O isolamento total e a convivência constante em espaços reduzidos exigem que os astronautas análogos saibam lidar com o stress e com a pressão. Não são permitidos telemóveis na missão, a alimentação é idêntica à que acontece no Espaço e a higiene é também feita de forma controlada e adaptada ao contexto espacial.

A seleção para a missão foi exigente, envolvendo várias fases, e apenas nove candidatos foram escolhidos entre mais de 200 inscrições. Pedro Rosado, que no ano passado integrou a equipa de Mission Control, a equipa de contacto com a missão, candidatou-se para ser astronauta análogo em 2024. O processo de seleção durou cerca de oito meses e incluiu testes de motivação, conhecimento técnico e demonstração de capacidades de resolução de problemas.

O sonho de ser astronauta real

Embora o foco imediato de Pedro Rosado seja a missão análoga deste verão, o sonho de um dia viajar para o Espaço continua bem presente. “Claro que é um sonho. Mas também sei que é uma possibilidade remota, porque há muitos requisitos e a concorrência é enorme”, admite. No entanto, acredita que, com o crescente interesse de empresas privadas no setor espacial, as oportunidades para missões tripuladas venham a aumentar e, quem sabe, um dia poderá estar a bordo de uma missão real.

Para o jovem engenheiro aeroespacial, a missão Asclepios V pode ser uma excelente rampa de lançamento para quem deseja seguir uma carreira no Espaço. “Estas missões permitem-nos testar as nossas capacidades, não só a nível técnico, mas também psicológico, e dão-nos uma perspetiva real do que significa estar isolado num ambiente tão desafiante”, finaliza.

Não interessa se gostamos muito, pouco ou nada da Ilha do Unicórnio planeada pela conhecida arquiteta e designer iraquiana-britânica Zaha Hadid, se a achamos fascinante ou assustadora, se vemos este vídeo e pensamos “maravilha!” ou “credo, nunca viveria ou trabalharia num sítio destes!”

O que interessa aqui é que a Ilha do Unicórnio existe no mundo real e não apenas numa página do Instagram recheada de vídeos sobre “lugares subestimados” e “joias escondidas na Ásia”.

Os primeiros edifícios ficaram prontos em janeiro de 2020 e, desde então, nem durante a pandemia a obra parou nem a equipa de arquitetos alguma vez desistiu de concretizar o ambicioso plano diretor naqueles 67 hectares em Chengdu, na China.

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Nestes debates que ninguém queria, que antecedem as eleições legislativas que ninguém pediu, o encontro entre Rui Tavares e André Ventura é um confronto de mundivisões e estilos completamente diferentes, incompatíveis em praticamente tudo. O que também significa que é um daqueles debates em que não é minimamente expectável que alguém mais inclinado para concordar com um dos candidatos seja convencido a (re)considerar as qualidades do outro. Ou seja: se servir para convencer indecisos, estes não serão eleitores que não sabem se vão votar Livre ou Chega, uma grande improbabilidade estatística.

E sabendo que a última campanha eleitoral para legislativas foi há tão pouco tempo, há pouco mais de um ano, este debate não começou aqui. Tem um antecedente: o confronto, em 2024, que começou com Rui Tavares a acusar membros do Chega de divulgarem fotografias tiradas à socapa à sua filha na escola, para o acusarem de defender o ensino público ao mesmo tempo que opta pelo ensino privado.

E hoje? Tudo foi, apesar de tudo, mais sereno, sem exibição documentos ou fotografias (apesar de Rui Tavares insistir várias vezes que tinha ali um enorme dossier organizado por tipo de delitos de membros do Chega – mas nunca o mostrou, uma espécie de “agarrem-me senão eu abro o dossier!”).

Mais uma vez se comprovou que Ventura é um adversário difícil neste modelo de debates rápidos. As suas especialidades? Escolher aquilo de que quer falar independentemente das perguntas, como fez logo de início: questionado sobre o tema da saúde, começou imediatamente a falar das notícias do dia sobre imigração. E dirigir muitas perguntas e acusações ao adversário, deixando-o na posição desconfortável que Rui Tavares resumiu assim: “Se eu for a identificar e a desmontar cada mentira de André Ventura em todos estes debates, não fazia outra coisa e não teria tempo para passar as minhas próprias ideias e soluções para o país.” Essa técnica do líder do Chega deve mais à espertice matreira do que à inteligência séria, mas em vários momentos é eficaz. Quando Ventura repetiu a pergunta, em modo metralhadora, sobre a posição do Livre em relação à pertença de Portugal à NATO, Tavares não fica bem na fotografia ao não responder de forma muito direta. Noutros casos, o líder do Chega resvala para uma demagogia extrema e falsa que engana facilmente os mais desatentos: por incrível que pareça, uma das palavras mais repetidas por André Ventura neste debate foi “Venezuela”, tentando encostar o adversário a esse modelo. Ora, Rui Tavares já se distanciou várias vezes do regime de Nicolás Maduro e questionou mesmo frontalmente a seriedade das eleições venezuelanas de 2024, mas, fiel à estratégia de não responder às provocações de Ventura para ter tempo de falar das ideias do Livre, nada disse sobre isso. Será eficaz? A verdade é que Ventura coloca facilmente o adversário nessa posição de “preso por ter cão e preso por não ter”: se responde vai atrás da agenda e do espetáculo de performer Ventura, se não responde parece que está a fugir à questão e até mesmo a querer esconder algo…

Mas nessa batalha de atirar referências internacionais à cara do adversário, Tavares marcou pontos citando a corrupção de Orban na Hungria, a condenação de Marine Le Pen e os desvarios de Trump. A esta última provocação, André Ventura respondeu diretamente, confirmando que também ele pretende tornar “Portugal grande outra vez” e embarcando na defesa do regresso ao protecionismo, sugerindo que também Portugal e a Europa deve defender “o seu mercado” como os EUA estão a fazer neste momento.

Um momento atípico neste tipo de debates foi aquele em que Rui Tavares decidiu olhar diretamente para a câmara dirigindo-se a quem votou Chega nas últimas eleições e perguntando para que serviram os 50 deputados do partido de Ventura no Parlamento e no que contribuíram para a qualidade da democracia portuguesa. André Ventura quis aproveitar os 15 minutos do debate com o Livre para atingir também o Partido Socialista de Pedro Nuno Santos, o Bloco de Esquerda e o PCP, como se essa fosse uma aliança praticamente homogénea que quer combater.

Voltando ao que aqui disse no início, é difícil classificar com simplismo de Totobola o embate entre dois registos tão distintos, mas sabendo que ninguém conquistou votos ao adversário e que cada um fez o suficiente para entusiasmar as suas hostes, não será disparatado falar de um empate.

As frases
“Temos que nos preservar contra os vigaristas na política. As vigarices pagam-se caro. Vigaristas como Orban, Le Pen, Trump e Bolsonaro estão a fazer o mundo passar por uma mau bocado”, Rui Tavares

“Quero mesmo fazer Portugal grande outra vez (…). O Trump está a fazer nos Estados Unidos o que nós temos que fazer na Europa”, André Ventura


A picardia
André Ventura – O Livre pode vir falar dos casos que quiser, porque estou certo que o Livre tem um camião de casos muito maior do que o do Chega…
Rui Tavares – Isso é só para rir, só para rir…


Importa-se de repetir?

“Eu sou candidato a primeiro-ministro!”
André Ventura

Os Estados Unidos vão passar a taxar a 104% as importações chinesas já a partir desta quarta-feira, anunciou hoje a Casa Branca. A decisão surge na sequência das tarifas retaliatórias – na ordem dos 34% – que Pequim vai impor sobre produtos norte-americanos.

“Se a China não retirar o aumento de 34% sobre os abusos comerciais já de longa data até 8 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão tarifas adicionais à China de 50%, a partir de 9 de abril”, pode ler-se numa publicação de Trump na rede social Truth Social.

Inicialmente, as taxas alfandegárias, anunciadas por Donald Trump há cerca de uma semana, chegavam aos 54%. No entanto, o líder norte-americano já tinha ameaçado taxar a China em mais 50 pontos, caso o país retaliasse.

Começou a avalanche de debates políticos para as eleições de 18 de maio. São muitos e difíceis de acompanhar. Há, por agora, uma constatação e uma surpresa: Luís Montenegro venceu o debate com o líder do PCP, mas Raimundo surpreendeu pela positiva — e muito bem — o seu espetro político de eleitores.

Montenegro está na sua zona de conforto. A experiência de ter sido líder do grupo parlamentar do PSD é visível nestes debates, tal como aconteceu nos anteriores. O primeiro-ministro está em boa forma política, virado para os eleitores e não para as suas atividades empresariais privadas quando era «civil» — que, por acaso, até tiveram sucesso.

Sendo o primeiro-ministro, e percebendo a tentação dos líderes que irão debater com ele em não largar o tema, diria, desde logo, que estava ali para apresentar propostas e soluções, reformas e crescimento. Tudo o resto está no sítio certo. Na verdade, serão os portugueses, com a sua sabedoria ancestral, a decidir se querem que Montenegro continue como primeiro-ministro e que a AD forme o novo Governo. Tudo o resto é tempo perdido.

Paulo Raimundo foi a grande e boa surpresa no seu primeiro debate. Está cada vez mais solto, mais eficaz e mais empenhado em reconquistar lugares na Assembleia da República. Curiosamente, é talvez o partido que, à sua escala, melhor se poderá sair desta embrulhada e emboscada: tem um Bloco fragilizado, um PAN abaixo do expectável e muitos socialistas desencantados. Não entrará no Livre, em princípio e decisivo poderá ser o debate entre os dois líderes.

(A propósito: sou dos dos poucos, em extinção, que acredita que o jogo eleitoral já está fechado; a quase totalidade dos eleitores já decidiu o seu voto, que castigará fortemente a Direita populista — exceto a IL — e não dará à Esquerda qualquer hipótese de novas geringonças ou engenhosas soluções políticas.)

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Trump é um ZERO em inteligência prática e acha que, impondo tarifas a todo o mundo, vai beneficiar os EUA. O senhor é idiota, e tanto Elon Musk como a Presidente da Comissão Europeia já vieram pedir o óbvio: as taxas alfandegárias deveriam ser ZERO. Nada. Inexistentes. Três razões — testadas e comprovadas — explicam o tamanho patetice americana:

Eliminar tarifas aduaneiras reduz o custo de importação/exportação. As empresas podem comprar matérias-primas ou componentes a preços mais baixos, o que aumenta a competitividade das indústrias locais e promover o crescimento económico. É o ZERO aposta no comércio global.

Sem tarifas — que não são impostos — os preços para os consumidores baixariam significativamente. Terão à sua disposição uma maior diversidade de produtos, desde automóveis a bilhetes de avião (cujo preço do combustível também desce). O ZERO ajuda e faz crescer.

Por fim, qual é o maior e melhor efeito da Tarifa ZERO? Fortalece as relações entre países, incentiva a especialização, fomenta a inovação e, com tudo isto, aumenta a produtividade mundial. Será necessário um QI de 140 para perceber isto?

O ZERO é um número mágico? Longe disso. Tem um reverso, claro, mas, pesando o bom, o mau, e o assim-assim, valeria a pena arriscar. afeta as empresas menos competitivas, obriga a uma seleção mais criteriosa dos produtos a trocar e há sempre a possibilidade de ocorrer dumping — produtos vendidos a preços desleais. Mas o ZERO atenua e acaba com essas tentações.

Está à vista que tudo é o contrário do que o senhor Trump pensa e executa. Há caos nos mercados americanos e mundiais, a inflação tende a subir e, paradoxalmente, as tarifas podem até prejudicar as cadeias de produção americanas, que dependem de peças e componentes estrangeiros. Alguém terá coragem de explicar que este modelo existe e está a funcionar muito bem? Envolvendo 27 países — e mais alguns que desejam aderir? Trump e a sua administração que olhem e pensem, por uma vez, que a União Europeia é o maior sucesso económico mundial.

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Uma colisão entre um autocarro e um pesado de mercadorias, na Estrada Nacional 3, provocou pelo menos 39 feridos. O acidente ocorreu pelas 14:23 desta terça-feira, na zona de Vale da Pedra, no concelho do Cartaxo.

Segundo uma fonte da Proteção Civil à agência Lusa, o acidente terá resultado em dois feridos grave, mas nenhum em risco de vida. Duas das vítimas tiveram de ser desencarceradas e alguns dos feridos tiveram de ser transportados para o Hospital de Santarém. De acordo com a Proteção Civil, estão no terreno 101 operacionais, apoiados por 46 viaturas e um helicóptero do INEM.

O autocarro de passageiros pertencia ao grupo Jerónimo Martins e fazia o percurso entre o Cartaxo e o centro de distribuição logísticon na Azambuja. A EN3 encontra-se cortada ao trânsito. Numa nota enviada à Sic Notícias, o grupo adianta que estiveram envolvidos 41 colaboradores. “Lamentamos profundamente o acidente ocorrido esta tarde com o serviço de transporte, que temos contratado externamente”, escreve.

A EN3 entre o Cartaxo e a Azambuja foi cortada ao trânsito.

(Notícia atualizada às 17h24)

Pela primeira vez, um sistema de Inteligência Artificial (IA) conseguiu completar uma tarefa complexa no Minecraft sem ter tido ajuda ou explicações prévias por parte de humanos. O Dreamer, desenvolvido pela DeepMind, conseguiu recolher diamantes, uma tarefa que exige vários passos, sem que um humano tenha explicado antes como fazê-lo. Este passo representa um avanço na forma como as máquinas vão poder generalizar a aprendizagem em novas situações e em cenários complexos.

Danijar Hafner, que fez parte da equipa da DeepMind que desenvolveu a solução, explica que “permite à IA perceber o ambiente físico que a rodeia e também como auto-melhorar com o passar do tempo, sem ter um humano a fornecer instruções exatas do que tem de fazer”, cita a Nature.

O caráter aleatório do Minecraft, um jogo de simulação de um mundo 3D com uma variedade de terrenos e objetos, torna-o um ambiente útil para desafiar sistemas de IA onde os investigadores pretendam que seja possível generalizar de uma situação para outra. “Tens mesmo de entender o que está à tua frente, não podes apenas memorizar uma estratégia específica”, afirma Hafner.

O progresso conseguido na recolha de diamantes no jogo é reconhecido pelos pares: Jeff Clune, que não fez parte da equipa, mas já treinou um programa para fazer esta tarefa com recurso a vídeos de jogadores humanos em ação, afirma que “é inquestionável que isto representa um grande passo em frente neste campo”.

O foco da equipa da DeepMind foi a recolha de diamantes pela complexidade e múltiplos passos envolvidos, desde encontrar árvores, transformá-las em madeira, construir uma mesa, criar uma picareta e a partir daí escavar até encontrar o diamante. Em iniciativas anteriores, os investigadores usaram vídeos de jogadores humanos em ação ou lideraram o caminho passo a passo para o sistema encontrar as gemas. No Dreamer, o sistema explora o jogo por si mesmo, usando técnicas de tentativa e erro e de aprendizagem por reforço.

A chave do sucesso desta experiência passa pela construção de um modelo do ambiente envolvente e a utilização deste mundo para o sistema imaginar cenários futuros e guiar as suas decisões. O agente Dreamer consegue testar coisas assim e prever as recompensas potenciais para as diferentes ações, usando menos poder de computação do que se tivesse de o fazer no jogo Minecraft. A abordagem pode ser usada, por exemplo, para treinar robôs a agir no mundo real.