Bono, o vocalista dos U2, na altura, desdobrou-se em talk shows e podcasts, com o intuito de desafiar as autoridades de Washington a retomarem alguns desses projetos cancelados, citando uma estimativa que apontava para a morte de 300.000 pessoas em decorrência dos cortes orçamentais da USAID.
A ala política mais conservadora reagiu mal. Elon Musk insultou Bono, chamando-o “mentiroso” e “idiota”, e Marco Rubio defendeu que nenhuma pessoa morreu por causa dos cortes. Porém, o New York Times refutou a afirmação de Rubio publicando documentos fotográficos de crianças que morreram depois de terem perdido o acesso a medicamentos, em razão da redução brutal de 83% nos programas da USAID.
Segundo Bono, citado pelo escritor Philip Yancey: “Como ativista, testemunhei pessoas morrerem pelos motivos mais idiotas, tais como fome quando a comida estava fora de alcance, doenças quando tratamentos simples não estavam disponíveis. Também testemunhei quando a América se envolveu na luta contra a sida salvando 26 milhões de vidas. Mas nunca tinha testemunhado medicamentos já pagos serem mantidos longe dos doentes ou moribundos, suprimentos de alimentos de emergência deixados a apodrecer em armazéns, pão mantido longe de crianças cronicamente desnutridas no Sudão, em Gaza e em tantos pontos problemáticos, tudo para marcar uma posição política. Mesmo em tempos de divisão, há coisas com as quais todos podemos concordar.”
De facto, conservadores e progressistas concordaram, em tempos, em apoiar populações africanas devastadas pela sida, mas também contribuíram para salvar outros 65 milhões de vidas dos flagelos da tuberculose e da malária. Yancey avança três argumentos para que o governo Trump faça marcha atrás nos cortes da USAID. O primeiro é o argumento moral. Nestas coisas um pequeno investimento pode salvar muitas vidas. “A ajuda humanitária dos EUA representou meio por cento do orçamento total. No entanto, os medicamentos fornecidos pelo PEPFAR protegeram quase 8 milhões de bebés da infeção pelo VIH, a um custo de 12 centavos por dia e por criança.”
O segundo argumento é de natureza estratégica. Desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos lideraram sempre a resposta às grandes crises, fornecendo comida, água, tendas, hospitais de campanha, em casos de tufões, secas ou terramotos. Se os EUA deixarem de assegurar esse auxílio, a China avançará com gosto e criará ligações políticas um pouco por todo o mundo.
O terceiro é factual: as organizações religiosas revelam-se mais eficazes do que o governo. “O governo Clinton começou a promover agências religiosas porque viu os resultados de grupos como a Prison Fellowship, o Exército da Salvação e o Teen Challenge no combate à criminalidade, ao alcoolismo e à toxicodependência. Programas que incluem uma dimensão espiritual tendem a ter uma taxa de sucesso maior do que os equivalentes seculares. Como resultado, a USAID começou a contratar organizações como a World Vision e a Samaritan’s Purse para fornecer assistência médica no exterior, a mesma assistência que foi agora reduzida pelos cortes de Elon Musk.”
Yancey diz que há mais de mil hospitais cristãos a operar em áreas remotas e de difícil acesso na Índia. E embora dos mais de um bilião de habitantes do país menos de três por cento se identifiquem como cristãos, essa minoria é responsável por cerca de vinte por cento dos cuidados de saúde do país. Se um camponês indiano dessas regiões do interior ouvir alguém proferir a palavra “cristão” em conversa com ele, sem nunca ter sido evangelizado, a primeira imagem que lhe vem à mente pode ser a de uma pequena clínica ou de uma carrinha médica que visita a aldeia uma vez por mês para oferecer atendimento gratuito e personalizado em nome de Cristo.
Se existe uma área na qual governos e organizações não-governamentais (ONGs) podem trabalhar de braço dado é a Saúde. Atualmente existem missões cristãs a prestar assistência médica às populações da África Subsaariana que variam entre 25% e 50%. O Gana possui 245 hospitais pertencentes e dirigidos por igrejas ou agências missionárias, e os Camarões dependem de ONGs para 40% da sua assistência médica às populações.
Um governo e um país que se afirmam cristãos não podem esquecer as palavras de Jesus: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me. Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste-me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:35-40).
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