Pode-se dizer que há um conjunto de condições convenientes para se vir a ser ministro e ter sucesso nessa tarefa. Desde logo é necessário evidenciar qualidades pessoais como honestidade, seriedade e integridade de modo a evitar situações de corrupção e crimes análogos.
Convém, igualmente, dominar os dossiers e entender da área em que se tem funções políticas. A história da democracia portuguesa revela um exemplo flagrante: o caso de Salgado Zenha enquanto ministro das Finanças de um governo de Mário Soares. A justificação dada na altura, de que se tratava da direção política do ministério, não seria aceite hoje.
Por outro lado, há que saber lidar com os jornalistas e gerir a sua presença na comunicação social, em particular saber quando dar entrevistas ou conferências de imprensa. Podemos incluir aqui a capacidade de expressão pessoal e sobretudo de comunicação política, sem a qual a imagem do governante sai sempre enfraquecida.
É claro que convém evitar as famosas gaffes. Ainda nos lembramos da piada do ministro Carlos Borrego sobre a hemodiálise e o alumínio, que o obrigou a apresentar a demissão a Cavaco Silva, ou o gesto dos corninhos que Manuel Pinho endereçou a um deputado em plena sessão parlamentar e que levou José Sócrates a dispensá-lo prontamente do governo.
Convirá também dispor de peso político no partido do governo, maior ou menor de acordo com a importância da tutela sob sua gestão, seja ele militante ou independente, caso contrário a sua vida pode transformar-se num inferno. Já agora será bom saber estar com os militantes do partido e mover-se bem nas campanhas eleitorais e outros eventos políticos.
Outra condição básica é ser solidário com o primeiro-ministro e os colegas do governo, sob pena de enfraquecer o gabinete e dar munições à oposição.
Não esqueçamos que um bom ministro estará sempre disposto a deslocar-se à Assembleia da República para prestar declarações quando solicitado e a mostrar humildade democrática perante os deputados integrantes da comissão parlamentar que o convocou. As tentativas de adiamento caem sempre mal e dão a ideia de que tem algo a esconder. De igual modo estará disponível para acompanhar o primeiro-ministro nas sessões plenárias quinzenais e a falar quando para tal for solicitado.
Finalmente, há que apresentar resultados concretos da gestão política imprimida à tutela.
Depois de escrever tudo isto fiquei a pensar por que razão ainda há tanta gente interessada em ser ministro ou secretário de estado. É preciso ter paciência, capacidade de encaixe e resiliência, além de saber que vai prejudicar inevitavelmente a sua vida pessoal, familiar e profissional enquanto estiver em funções.
Mas o “caso Cabrita” conduz a outra dimensão menos especializada mas não menos importante. Para ser um bom ministro é necessário ser humano e demonstrá-lo. Não necessariamente com abraços, selfies, imersão em eventos populares, ou presença na imprensa cor-de-rosa, já que tudo isso tem mais a ver com a personalidade de cada pessoa, mas sim no evidenciar disponibilidade para com as necessidades das pessoas e a sua condição de vida.
Não vamos discutir aqui as questões legais, processuais e mesmo políticas relativas ao atropelamento mortal provocado pela viatura ao serviço do ministério da Administração Interna em que seguia Eduardo Cabrita, mas sim na postura indigna que evidenciou na época e ao longo de todos estes longos meses até à sua demissão do governo.
Conseguiu passar todo este tempo sem pedir desculpa à família enlutada, em nome do governo, sem apresentar as suas condolências pessoais e sem se preocupar com a subsistência daquela família que tinha perdido a sua única fonte de rendimento, o salário do acidentado. Que se saiba não desenvolveu qualquer esforço no sentido de garantir uma condição económica de subsistência à viúva e filhas, deixando o assunto nas mãos da Justiça, à boa maneira de Pilatos, a qual, como se sabe, é demasiado lenta. Já não se trata de política mas sim de humanidade.
Talvez não seja bom esquecer todos os requisitos para um bom desempenho como ministro de um governo, acima descritos do ponto de vista do cidadão comum e que certamente não esgotam a matéria, mas por favor ponham este em primeiro lugar: ser humano e demonstrá-lo. Sem este nem vale a pena pensar em mais nenhum.
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