Até o mais perigoso fatalismo pode ter uma luz ao fundo do túnel. Na Polónia, apesar de ter sido o partido mais votado, os nacionalistas do PiS, em parceria com outros partidos, não conseguiram renovar a maioria nas duas câmaras do Parlamento, nem sequer com um possível acordo pós-eleitoral com a extrema-direita anti-Ucrânia. Esta já seria uma boa notícia, não fosse acompanhada de uma taxa de participação recorde na História democrática polaca (74%), mobilizada em redor de uma oposição tripartida, que conquistou, no conjunto, a maioria dos assentos parlamentares. Os resultados afastaram impasses institucionais, geraram uma solução governativa evidente, suficientemente sólida na normalização europeia que preconiza, aparentemente coesa para lidar com as teias judiciais, políticas, económicas e sociais, deixadas por oito anos de governo nacionalista. A retoma não será fácil nem desprovida de obstáculos entranhados no sistema, mas pelo menos escolheu-se um caminho oposto ao calvário dos últimos anos.
Há ainda outro fatalismo contrariado pelas eleições polacas, que não é mais do que uma bela lição para outras democracias: a histórica mobilização dos jovens (71%), grande plataforma da oposição mais progressista, quando há quatro anos apenas 46% votaram. Ao contrário do que assumimos, eles não estão alienados da vida pública, do destino coletivo dos países nem dos valores comunitários. Precisam é de motivações atualizadas, de mensagens renovadas, de um caminho aspiracional. No resto, o fosso polarizador pode até funcionar, no limite, como uma dicotomia entre a salvação e o abismo, a reversão e o fatalismo, a esperança e o choque frontal. E quando assim é, como aconteceu em 2020 nos EUA, os jovens tendem a apoiar o lado certo da História.