Considerando a histórica ligação de Portugal com África (de expressão portuguesa), é importante celebrar mais uma vez, no dia 25 de maio, o Dia Mundial da África. A União Africana, responsável pela criação e organização da efeméride, foi fundada a 25 de Maio de 1963. O objetivo, na altura, era unir todos os países já independentes e, ao mesmo tempo, libertar os que ainda estavam subjugados pelas potências coloniais europeias.
Nesta data comemorativa, é importante lembrar e reconhecer o papel que os grandes líderes e pensadores pan-africanistas – como Amílcar Cabral, Kwame Nkrumah, Agostinho Neto, Léopold Sedar Senghor, Samora Moisés Machel, Nelson Mandela, Eduardo Mondlane, Cheikh Anta Diop, Thomas Sankara e tantos outros – tiveram no processo de independência e de reconstrução de África.
Na Europa (ex-)colonialista, Portugal, em particular, África é um tema recorrente: pelos políticos, governos (em sessões solenes), organizações não governamentais, ativistas, académicos e outros. Portanto, não faltam debates, ideias e soluções. Mas são apenas reflexões teóricas, sem pouca ou nenhuma ação concreta para resolver os graves problemas que afligem o povo africano.
Portanto, é necessário manter a luta pela emancipação política, democracia, pela garantia dos Direitos Humanos e melhoria das péssimas condições sociais e económicas da grande maioria dos países africanos. Estas sociedades ainda hoje continuam subjugadas por uma elite política nacional – na sua generalidade cleptocrática (corrupta) – que defende os interesses económicos (seus e dos aliados) sem se preocupar com quem realmente interessa: o sofrido povo africano. Por isso, cabe a todos, africanos e não africanos, assumirem a sua responsabilidade e lutar por uma África realmente livre (politicamente) e próspera (economicamente).
Nessa discussão, há dois aspetos que merecem ser destacados:
a) Por um lado, é preciso resgatar o muñtu, um conceito Bantu que, na sua forma mais restrita, significa ‘pessoa’ (matéria e espírito), mas pode também ser aplicado a todas as pessoas residentes no planeta e que preservam o respeito pela dignidade humana. Perante os grandes desafios que a África enfrenta, mais do que nunca, é necessário aplicar o muñtu, ou seja, defender a dignidade e os direitos humanos de todos os cidadãos africanos.
b) Por outro lado, é fundamental defender os direitos das mulheres e valorizar a liderança feminina. Como nos ensina a Antropologia, em todas sociedades do mundo, a mulher, desprovida de poder, desempenha um papel crucial na garantia da subsistência da família. Em África, felizmente, há dois recentes bons exemplos que merecem ser destacados: a Samia Suluhu Hassan (Mama Samia, como é tratada carinhosamente), primeira mulher a assumir a Presidência da Tanzânia (já era vice). Outro exemplo é que, pela primeira vez, uma mulher e africana, a economista nigeriana Ngozi Okonjo Iweala, assumiu a chefia da poderosa Organização Mundial do Comércio.
Para finalizar, é urgente reforçar o espírito muñtu em cada um de nós – pessoas dotadas de memória e consciência – e ajudar o sofrido povo africano a construir um futuro melhor.
Nota importante: este texto foi escrito a partir de uma instigante reflexão do guineense Mamadu Alimo Djaló, aluno do mestrado em Sociologia na Universidade da Beira Interior e idealizador do “Projeto Muntu: contrariar o machismo”.