Faz hoje três semanas que começou a guerra na Ucrânia. E não há guerras sem dor. Mais de 3 milhões de ucranianos já fugiram do país, naquela que é maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Em Portugal foram acolhidos mais de 10 mil. A ONU fala em mais de 700 mortos, mas as autoridades ucranianas estimam muitos mais: acima de 2,5 mil pessoas perderam a vida.
“Para lá das perdas humanas e das vítimas da guerra, que são sempre os danos maiores, há também enormes danos patrimoniais e económicos. E uma coisa é certa: Qualquer que seja a duração do conflito, vamos sentir os seus efeitos durante muito tempo. Esta guerra vai também definir novas linhas políticas na Europa para os próximos anos e, provavelmente, décadas. Putin enterrou uma era – a era da paz na Europa – e fez nascer uma nova ordem mundial”, diz Mafalda Anjos, diretora da VISÃO.
“Ninguém sabe como esta guerra vai acabar, mas sabemos que a Europa não voltará a ser a mesma depois dela”, considerou Rui Tavares Guedes, diretor executivo da Visão. “A resposta à invasão da Ucrânia e aos desafios que se seguem, vai exigir uma Europa mais unida, a nível político, com uma estratégia comum de defesa e de energia. Só uma Europa mais unida poderá manter-se com uma posição de destaque no mundo, e valorizada pelo que a distingue: os seus valores”, acrescentou.
Para Rui Tavares Guedes podemos estar a assistir ao início do desenho de uma nova ordem mundial, que já não será apenas dividida entre a China e os EUA, como se pensava antes da invasão russa da Ucrânia. Agora, há muitos outros atores a posicionarem-se para ganharem novas vantagens estratégicas.
Nos próximos tempos, na sua opinião, vamos assistir a algo que poucos esperavam: países como o Irão e a Venezuela podem passar para o grupo dos “bons”, devido à necessidade de procurar novos fornecedores de energia, após o bloqueio à Rússia.
Além das perdas humanas, os economistas e responsáveis políticos tentam fazer as contas ao preço económico desta guerra para o resto da Europa. Isso é relevante não apenas pela dor que incidirá sobre as populações, mas também para se avaliar quão agressivas podem ser as sanções a Moscovo. “A resposta curta é que vai ser bastante mau”, diz o jornalista Nuno Aguiar.
No entanto, pede que se relativize este efeito. “Durante a pandemia, aí sim, tivemos quebras históricas de atividade económica”, lembra. “Além disso, esta é uma crise mais convencional. Sabemos as receitas económicas que podemos utilizar para a combater. No início da Covid-10 andámos às apalpadelas a pensar ausi seriam as políticas mais indicadas.”
Com ou sem embargo energético à Rússia, as famílias e as empresas vão pagar mais pela energia e por outras matérias-primas. Aliviar essa suvida deve ser a área de atuação dos Governos. “Fala-se muito de baixar impostos sobre a energia, mas essa não a única possibilidade. Aliás, embora politicamente seja complicado não dar esse sinal, do ponto de vista económico, poderia argumentar-se esta é uma má altura para descer impostos”, acrescenta Nuno Aguiar.
No médio-longo prazo, a carga fiscal sobre os combustíveis fósseis terá de ser elevada. Baixá-la agora poderá comprometer esse objetivo e subsidiar produtores, com benefício limitado para os consumidores. “Os governos podem utilizar transferências para famílias e empresas para compensar as despesas adicionais que terão nos próximos meses.”
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