No calendário chinês, 2024 marca o ano do Dragão. Dizem trazer execução de planos. Oxalá tivesse sido o ano do Dragão durante a maioria absoluta, talvez tivéssemos visto as inúmeras promessas do Governo do PS cumpridas. Talvez tivessem os jovens deslocados a oportunidade de efetuarem as suas matrículas por saberem que poderiam contar com as 12, agora 26 mil, camas nas residências públicas prometidas. Mas não é com o ano do Dragão ou com uma vitória da direita que vamos conquistar os nossos direitos.
O ano vai no seu início e ainda ouvimos piadas próprias desta altura. Eu tenho também uma: os jovens não conseguem sair da casa dos pais desde o ano passado. Mas não tem piada nenhuma, admito. Não tem por ser verdade, não tem por não ser apenas desde o ano passado. Esta “piada” a que já nos habituamos perpetua-se nas nossas vidas até mesmo depois de deixarmos de ser jovens.
As resoluções que os jovens fazem para os próximos 12 meses são de fazer o que nunca foi feito, e não coadunam com a arrogante solidão do PS nas tomadas de decisão ou com a retaliação social da direita. Com o ressentimento de ter visto adotadas pela maioria absoluta do PS as principais bandeiras: restrição orçamental e proteção dos especuladores e dos lucros extraordinários da banca. Não deve predominar sobre nós o medo, ainda assim, mas sim a vontade de sair dessa inação, calmaria e descrença que nos é imposta e exigir o que é nosso por direito – uma vida boa, um futuro que não este incerto. Acreditar que é possível fazer mais que estes governos sucessivos de manutenção do status quo fizeram.
A luta pela paz já não passa despercebida, todas as semanas são milhares os jovens que saem à rua pela libertação da Palestina da agressão do Estado de Israel e contra o projeto sionista de genocídio. O projeto de saneamento através do subfinanciamento dos serviços públicos, da saúde à educação, gera um descontentamento eminente. Agora na véspera do seu cinquentenário, revive a memória da Revolução de Abril, que nos mostrou que é possível ter o destino e a sua definição nas nossas mãos, que nos prometeu o direito à igualdade e participação democrática, à habitação, educação e saúde, que só faltam cumprir. Os salários insuficientes tolhem a nossa qualidade de vida; a precariedade que se perpetua nos contratos ou na falta dos mesmo, os errantes e persistentes falsos recibos verdes já não passam como um sacrifício em prol da economia nacional e despertam um sentimento de injustiça. Tudo isto culmina na esperança de este ano não ser apenas mais um. Deste réveillon não ter sido apenas uma ilusão da mudança dos tempos e troca de agenda – mas uma oportunidade de este ser o tempo de recuperar o futuro.
Os filhos e filhas do 25 de Abril, vangloriados por serem a “geração mais qualificada de sempre” não aceitam de bom grado ordens de saída, sejam elas mais ou menos vocais que as de Passos Coelho. Sabemos que não é o país que não tem espaço para nós, mas antes a insistência na política de “atração de investimento” que o empobrece. Este empobrecimento que no último ano expulsou 75 mil jovens portugueses do seu país, das nossas casas e cidades, para longe dos nossos amigos e famílias. Que nos impede de retribuir à sociedade portuguesa o que a escola pública nos possibilitou conquistar e que o SNS permitiu. Existe a recusa e a resistência geracional à narrativa neoliberal de que o Estado Social é um peso nas nossas vidas. E, ainda, ao mito de que os impostos são os culpados pela inacessibilidade àquilo a que o elevado custo de vida, a subserviência aos especuladores e os baixos salários nos privam.
Este desejo de vermos os nossos direitos cumpridos não cessa nos primeiros 70 dias do ano, a 10 de março, mas encontra nesse compromisso marcado com as urnas o seu teste de fogo. Nesse teste em que se expressará a força de uma geração, que é constantemente diminuída e menosprezada, apelidada de geração despolitizada e desinteressada. Esta multidão que procura tudo aquilo que lhe negam em detrimento de “contas certas”, estes jovens que têm na lista de resoluções para 2024 recuperar o seu futuro!
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