Depois de um pacote de medidas para o setor da Habitação que revelou ser um sem abrigo da política portuguesa, o Governo acaba de lançar mais um punhado de ideias indigentes: o “pacote juventude”.
António Costa não consegue já disfarçar o seu desconforto. Não tem Governo, não tem ideias, não tem reformas, não tem o amparo presidencial, não tem paciência para governar. No fundo, António Costa só tem duas coisas: clara consciência de oito anos vazios e imensa vontade de bater com a porta na cara do Presidente da República. Só que nem isso pode fazer, porque não tem delfim que conseguisse ganhar a Pedro Nuno Santos a subsequente disputa pela liderança socialista.
Podemos dizer que é um nem-nem: nem governa, nem larga a pasta. Tal como podemos considerar nem-nem o seu pacote de medidas para a juventude: nem resolve, nem dá para fingir que resolve.
O verbo fingir é aqui aplicado com muita propriedade, porque Costa fez do fingimento a sua forma de comunicar medidas. Vejamos: nestes oito anos, António Costa foi conseguindo compensar a incapacidade de apresentar soluções usando o truque das “leis cartaz”. Como as definiria o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, “leis muito bonitas, mas que não têm aplicação”. Porém, apesar de fracas em aplicabilidade, as leis cartaz do Primeiro-Ministro tinham o condão de pôr a sociedade a discutir durante semanas a bondade da ideia. E enquanto o pau ia e vinha, folgava o Costa.
Foi assim com o Pacote Mais Habitação: Costa e a Ministra da Habitação – que se eu não escrever aqui o nome, ninguém se lembrará – conseguiram aguentar a ideia durante várias semanas. Até terem de mexer nela.
Contudo, e aqui começa uma vergonha alheia generalizada, mesmo tendo mexido na ideia original para calar as críticas, os socialistas estão ainda assim sozinhos na sua defesa.
A vergonha alheia cresce quando o tal pacote da Juventude nos fez perceber que se esfumou a magia de António Costa de empurrar com a barriga. O tal efeito mágico de fingimento da bondade das medidas já não cola. Já não houve sequer um “day after” de estado de graça da ideia, quanto mais uma semana de benefício da dúvida.
Não era para menos: o secretário-geral do PS esticou mesmo a corda. Prometer quatro noites numa pousada ou devolver propinas que mal chegam para pagar dois meses de renda foi mesmo atirar o barro à parede. Só que, desta vez, a parede enxotou o barro.
Ninguém acreditou que era a sério e Costa voltou a sentir o gosto amargo de estar sozinho a defender uma ideia. Quem não pode estar sozinho é o jovem de hoje. A nossa geração.
Se não queremos estar reduzidos a escolher entre a casa dos pais, dividir apartamento com desconhecidos e a emigração, então não podemos estar calados. Se não estamos satisfeitos com uma remuneração média inferior a mil euros, nem com o facto de sermos a geração da Europa que mais tarde sai de casa dos pais, então temos de nos mexer por uma alternativa.
Se não estamos satisfeitos com uma governação que nos faz ser a primeira geração com pior vida face à geração anterior, então temos de exigir uma nova governação. Se não estamos satisfeitos com uma ideologia reinante que passa mais tempo a discutir casas de banho mistas do que a investir na modernização da educação, então de levantar a voz.
Se não estamos satisfeitos com um Governo que acha que quatro bilhetes de comboio nos salva da emigração, então temos de construir a mudança.
Essa mudança só se faz com mobilização. As causas e os valores sempre foram bons motores de mobilização, mas nada mobiliza mais do que as dificuldades, a ausência de esperança e o sentimento de injustiça social que nos tem invadido.
Precisamos de uma juventude que acorda, que se levanta e se mobiliza.
Se o Primeiro-Ministro quiser continuar o seu silêncio, isso é com ele. Esta geração não se vai calar. Vai levantar-se, fazer-se ouvir e agir. Se não o fizermos por nós, ninguém o fará.
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