Existe um país do qual há vinte anos se dizia que o nível de vida caía constantemente; que a inflação (2000) era de 45,7%; que o desemprego (2002) afetava 10,2% da população e que 40% vivia abaixo do limiar da pobreza. Em 1947, esse país viu o Partido Comunista tomar o poder e a exercê-lo de forma autoritária e cruel. O regime caiu em 1989, quando o seu tresloucado líder foi executado. Sem julgamento. No dia de Natal. Com a sua esposa.
As primeiras eleições livres nesse país aconteceram em 1990, saindo vencedor alguém que já era presidente interino desde a morte do ditador. Nessa altura, o 25 de Abril em Portugal tinha ocorrido há dezasseis anos; o 25 de Novembro há quinze; a revisão constitucional que extinguiu o Conselho da Revolução há oito. E a nossa entrada na União Europeia já contava quatro anos. E enquanto Portugal se enchia (e esvaziava) de subsídios europeus, esse povo não sabia o que fazer com a democracia que havia conquistado, mergulhado em constante instabilidade política.
O país de que estou a falar é uma república da Europa Oriental. A região começou por se chamar Dácia. Hoje é conhecida por Roménia.
Na passada semana, tivemos todos conhecimento de uma triste previsão da União Europeia: a Roménia vai ultrapassar Portugal (em 2024) no PIB per capita. Esta mesma Roménia – que há vinte anos tinha uma inflação de 45,7%; um desemprego de 10,2% e em que 40% vivia abaixo do limiar da pobreza – daqui a um ano vai superar Portugal no PIB per capita.
Como estava o nosso PIB per capita há duas décadas? Em 2000, Portugal estava a 15% do PIB per capita médio da União Europeia. Agora estamos a 22%. Ou seja, em vez de subirmos, ainda caímos mais 7%.
Segundo um trabalho da jornalista Joana Mateus, ao longo deste século, Portugal já foi ultrapassado por Eslovénia, Eslováquia, Malta, Estónia, Polónia, Chéquia, Lituânia e Hungria. E só não está mais na cauda da Europa porque alguns países voltaram atrás, como a Grécia e a Eslováquia. Ora, “ao longo deste século”, qual foi o Partido que mais tempo governou em Portugal?
Desde o fim do chamado “cavaquismo”, outubro de 1995, o Partido Socialista já vem governando Portugal por vinte anos. E, estando em pleno tempo de Mundial de Futebol, permitam a analogia: não se vê nas governações socialistas qualquer fio de jogo.
Em vinte anos, com apenas duas interrupções de governos PSD/CDS-PP, o Partido Socialista soube apenas governar o país para o dia-a-dia. De lápis atrás da orelha, os primeiros-ministros do PS tiveram sempre mais atenção com a gestão interna do partido do que com o futuro de Portugal e com as novas gerações.
Nunca, por sua própria estratégia, se viu o Partido Socialista pedir superação aos portugueses, visando a regeneração futura do país. Pelo contrário, apenas se viu o Partido Socialista gastar, criar dependentes e encontrar culpados.
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