Tem atualmente 36 anos e assumiu o cargo de primeira-ministra da Finlândia não tinha sequer passado um mês após fazer 34 anos. É a mais jovem chefe de Governo do primeiro país na Europa a garantir o sufrágio universal e o primeiro no mundo a permitir que todos os cidadãos se candidatassem a um cargo público. Atualmente, é a terceira líder mais jovem do mundo, apenas atrás de Dritan Abazović do Montenegro e Gabriel Boric do Chile. Chama-se Sanna Marin e também gosta, como qualquer pessoa, de dançar e de se divertir.
Sanna foi educada por uma mãe sozinha, numa família com dificuldades financeiras. Começou a trabalhar numa loja aos 15 anos e durante o secundário, distribuía jornais para ter mais algum dinheiro enquanto estudava. Foi a primeira da família a concluir o ensino secundário e a ir para a universidade. Representa uma nova geração de políticos que, contrariamente ao que ainda acontece com uma parte significativa dos líderes atuais nascidos entre os anos 40 e 70 do século XX, costumam ser oriundos ou de família abastadas ou de castas políticas de várias gerações com presença nas elites políticas e económicas dos seus países. Pensemos em Marcelo Rebelo de Sousa ou António Costa, por exemplo.
Sanna Marin nasceu e cresceu num mundo em fase de transição acelerada, menos ideológico (quando o muro de Berlim caiu tinha 3 anos), menos preso às convenções e tradições sociais. A sua adolescência acontece durante a explosão da internet, dos novos media e dos media alternativos, a emergência do hip hop, a expansão da TV por cabo, o avanço da globalização e chegou à idade adulta num mundo cada vez mais digital, mais virtual nas relações, com um leque de escolhas culturais, formativas – mas também de estilos de vida – muito maior, um mundo dos updates e de consumos mais rápidos, em que o lazer é uma parte com mais importância na vida.
Nos próximos anos, em cada vez mais países teremos provavelmente líderes e decisores políticos da mesma geração de Sanna Marin, millenials, cujo comportamento e postura são naturalmente diferentes dos líderes das gerações anteriores. Uma política que usa as redes sociais, ora para divulgar política ora para partilhar momentos descontraídos da sua vida, num equilíbrio entre o quotidiano normal e a liderança do país. Uma política do século XXI, com o tudo o que isso significa.
Uma das críticas mais recorrentes que Sanna tem tido ao longo dos quase três anos enquanto primeira-ministra é o facto de ser presença habitual em festivais ou discotecas e de gostar de se divertir com amigos em ambientes descontraídos.
Durante a pandemia, a sua gestão sanitária, que foi considerada um sucesso quando comparada com outros países europeus (até hoje, morreram 5 467 pessoas de Covid na Finlândia, cinco vezes menos mortes do que em Portugal, num país que tem metade da nossa população), teve alguns revezes, como a sua ida a uma discoteca depois de um contacto positivo com um ministro seu e por ter organizado festas na sua residência oficial.
Recentemente, um vídeo privado tornado público mostra Sanna a fazer algo normal com amigos, a dançar, a divertir-se numa festa e, que após as críticas, motivou uma justificação e um teste de despistagem de drogas por parte de Sanna. Se o conteúdo do vídeo é banal (claro que motiva curiosidade ver um líder político a dançar), parece-me que estas duas reações são exageradas, mas entendíveis para quem está debaixo de fogo idiota. Sanna Marin, de 36 anos, tem todo o direito a divertir-se e a tentar, apesar das funções que desempenha, preservar uma vida privada nos moldes que entender.
Se os números da pandemia foram positivos, não nos esqueçamos também que enquanto Sanna dança com um ar divertido com amigos, está em fase de ratificação pelos aliados (incluindo Portugal), um processo histórico liderado por si e pelo Presidente finlandês, de adesão à NATO, apesar das ameaças e chantagens de Putin, pondo fim à política de neutralidade finlandesa dos anos 50. Enquanto Sanna dança com um ar divertido com amigos, prepara-se para concretizar e liderar a mudança mais importante da política internacional finlandesa desde o pós-guerra. A dança de Sanna fará História no mundo e não apenas em festivais ou discotecas.
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