Passada a Páscoa, e o natural alívio de uma semana invulgar, tudo vai acabar, outra vez, na incapacidade de se controlar a Covid, nos parâmetros agora definidos pelo Governo, sem uma de duas condições: ou os grupos etários mais frágeis, a partir dos 60, estão todos vacinados, ou os confinamentos vão alternando com frágeis aberturas que duram pouco. Não há, para nós, e para toda a Europa da União, uma saída fácil, limpa, eficaz e sustentável. Nem estamos vacinados, nem podemos desconfinar. É nesta impossibilidade que vivemos.
O pequeno passo da primeira fase do desconfinamento já está a fazer subir a transmissibilidade – em alguns dias ultrapassou o 1 – e tirando esta semana especial, os números diários de contagiados já bateram no fundo e estão, de novo, numa escalada, ainda lenta, mas consistente. Vamos entrar na segunda fase justamente quando deveríamos estar parados. A terceira fase também vai coincidir com um novo pulo na pandemia. Sem vacinas não há volta a dar. Não há forma de lá chegar. Só uma condição resolve a outra.
É evidente que o Governo e as autoridades de Saúde estão a tentar gerir uma impossibilidade, uma improbabilidade, uma implausibilidade. Cada passo no sentido da abertura resultará no drama que já conhecemos, e os únicos que estão a ter sucesso são, obviamente, os países que já atingiram a imunidade de grupo, ou estão muito próximos, ou já vacinaram as faixas etárias mais perigosas. Nada disso acontece em Portugal, e nos nossos parceiros europeus. Contrariando o exemplo dos outros, há entre nós uma grande vontade de autoflagelação, e de fatalismo.
É suposto sairmos da Páscoa com um grande cabaz de vacinas, sejam elas quais forem: 1,8 milhões só em abril. Sim, porque de maio ainda não sabemos, nem de junho, e por aí adiante. Fé não nos falta, mas 1.8 milhões de doses darão para 900 mil portugueses, a que se juntarão mais os 500 mil que já estão totalmente vacinados. Só 1.4 milhões de portugueses imunizados até maio. 14 por cento! O problema, real e imparável, é que o vírus ainda tem 8.4 milhões para se distrair e destruir. E desses, ainda não temos hoje, sequer, um único grupo etário totalmente vacinado. O que mostra bem o quanto estamos no fundo do poço.
Por muito que o Governo goste daquela matriz colorida, a verdade é que se meteu num sarilho: o Rt e a Incidência estão a perder o verde, em apenas 15 dias, e cada um avaliará, sem necessidade de grandes estudos e explicações científicas, se abrimos ou confinamos. Isto gera um desalento inaceitável: nosso e de mais 430 milhões de pessoas. Como foi possível enganar tanta gente, ao mesmo tempo? Somos 440 milhões pasmados, calados e sem saídas.