E eis que é chegada a época de balanço do ano que termina.
Para muitos é também a altura de se tomarem resoluções para o ano que desponta, sabendo de antemão que serão esquecidas ainda antes da chegada dos Reis. Coisas de gente republicana, pois então.
Olhando para os últimos 360 dias, o futuro não se vislumbra auspicioso e 2024 pode muito bem vir a ser o ano mais horribilis desde a Ii Grande Guerra, caso não sejam tomadas medidas robustas que protejam a democracia e o Estado de Direito que tanto custou a alcançar.
Com duas guerras em curso, das quais não se vê o fim, a comunidade internacional começa a dar-se conta de que não possui nem a força nem os instrumentos para controlar os conflitos que ameaçam o equilíbrio mundial.
A ONU faz apelos desesperados a cessar fogos, a ações diplomáticas com vista a alcançar a paz, mas quer no caso do conflito russo/ucraniano, quer no que opõe Israel à Palestina (a questão da eliminação do Hamas parece cada vez menos um argumento válido perante os quase 20 mil mortos em apenas dois meses) revela a sua total impotência.
As Nações Unidas já nada podem, manietadas como estão a um Conselho de Segurança cuja composição e atuação estão há muito ultrapassadas. A não existência de representatividade de regiões tão importantes como a África ou a América Latina torna a Organização num clube que já nem sequer é de elite. Mas mesmo que fosse alterada a composição do Conselho e revogada a necessária unanimidade para a tomada de decisão, que mecanismos dispõe para fazer valer as suas posições?
A força de manutenção da paz, vulgo Capacetes Azuis, não é suficiente e, por mais politicamente incorreto que seja e por maior coragem que exija, o mundo e a geopolítica empurram-nos inexoravelmente para a solução duma força de intervenção mais musculada em situações de clara violação dos direitos humanos
A cada dia e a cada conflito que sucede, mais se comprova a necessidade dum exército mundial sob a supervisão duma estrutura internacional mais abrangente. A força de manutenção da paz, vulgo Capacetes Azuis, não é suficiente e, por mais politicamente incorreto que seja e por maior coragem que exija, o mundo e a geopolítica empurram-nos inexoravelmente para a solução duma força de intervenção mais musculada em situações de clara violação dos direitos humanos.
Internacionalmente, entramos pois em 2024 em clima de guerra declarada e em real conflito latente, no que diz respeito à mobilidade forçada, quer pelas condições económicas, quer políticas quer ambientais, com países a levantar verdadeiras barricadas contra um êxodo que não para de crescer. Esta é também uma “guerra” que provoca baixas, que desgasta e da qual não vemos fim.
Por cá, o novo ano também não se afigura auspicioso.
Depois da dissolução duma maioria sufragada pelo voto do povo com base em suspeitas visando meia dúzia de políticos, o País vai de novo às urnas.
Naturalmente que o governo teria que cair. Naturalmente que, perante o divulgado, o primeiro-ministro só podia demitir-se. Mas, ao não existir uma eleição nominal para o cargo, a Assembleia da República deveria ter sido mantida de acordo com o voto do povo.
Não foi, e para a opinião pública passou a ideia dum Estado que faz lembrar o célebre 1984, de George Orwell, onde todos somos suspeitos até provarmos a nossa inocência.
2023 termina num clima de suspeição, de medo perante a nossa justiça.
E um país que teme a sua justiça não é um país livre!
Termina também com uma anunciada machadada na liberdade de imprensa, com meios de comunicação que nos habituámos a considerar essenciais para a informação e formação de opinião ameaçados de fecho.
Na madrugada de Natal, a TSF não divulgou notícias apenas porque o funcionário escalado para tal não viu o seu contrato renovado. Ficámos em casa fechados entre quatro paredes pois ninguém foi “ao fim do mundo, ao fim da rua” para nos trazer uma história.
E um país sem uma comunicação social forte e isenta, não é um país livre.
O próximo ano marcará o meio século do 25 de Abril.
Mas será que comemorá os 50 anos de liberdade?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.