Não se demite nem é demitido. “Obviamente”, Pedro Nuno Santos decidiu ficar, e o País ficou, obviamente, estupefacto.
Depois de o dia ter começado com cheiro a napalm pela manhã, só havia uma coisa expectável: ou Pedro Nuno Santos saía, ou seria colocado junto à porta da rua pelo Primeiro-Ministro. Não havia infra-estrutura que resistisse a este terramoto político. Só que não. Pedro Nuno Santos pediu desculpa, admite “falha de comunicação e articulação”, mas aponta para o futuro ao lado de António Costa. Os alicerces abalaram com o sismo, as paredes estão bastante rachadas, mas a infra-estrutura aparentemente resistiu. Por quanto tempo, não sabemos.
Ficou, claro, a poeirada dos estilhaços e do entulho no ar. É que a declaração de hoje de Pedro Nuno Santos, depois da sua decisão ter sido publicamente revogada pelo Primeiro-Ministro, não apazigua as coisas. Deixa todos em muito maus lençóis.
Em primeiro lugar, o Pedro Nuno Santos, o enfant terrible da ala esquerda do PS e candidato a líder. Não teve de engolir um sapo vivo, teve de engolir um elefante a espernear. Foi obrigado a fazer um ato público de contrição, provavelmente o mais doloroso que já assistimos feito por um político, numa humilhação pública muito difícil de gerir. Vai ficar-lhe incrustada na pele. E a sua imagem vai ficar fortemente abalada. Daqui para a frente, quando falar ou anunciar algo, é legítimo que se questione se é para acreditar.
Depois, António Costa. Mais uma vez, faltou-lhe algo – coragem, força? – para demitir um ministro em cima de um acontecimento grave, que o desautorizou e desautorizou também o Presidente da República e desrespeitou a oposição. Se à primeira vista foi o elo mais forte, sai, obviamente, fragilizado. Mostrou que existe uma descoordenação enorme no seu governo, e deixou que um Ministro avançasse sozinho num fundamental para o País. “A orientação do governo está restabelecida”, assunto arrumado, “é seguir em frente”. Há também outra ministra em cheque: Mariana Vieira da Silva. Para que serve a Ministra com a pasta da coordenação do governo? E já agora, para que serve o coordenador de comunicação João Cepêda que já teve tempo de se ambientar?
Depois de décadas à espera de uma decisão sobre o novo aeroporto, o País merecia melhor. Sobretudo de um governo de maioria absoluta.