Dia 85
Portugal foi o bom aluno da Europa quando foi a hora de confinar e achatar a curva. Conseguimos travar a evolução da pandemia quando ela estava a crescer, aplanámos a dita, e enfiámo-nos num planalto de novos contágios. Que na maior parte do País está controlado, à exceção da região da grande Lisboa, onde a situação está claramente difícil de dominar.
Hoje, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde, registámos mais 382 novos casos, 345 só na região de Lisboa e Vale do Tejo. Há quatro dias que os aumentos andam acima dos 330 casos, voltámos pois aos níveis de há um mês.
O governo não quer alarmar as populações, mas vai enviando as mensagens necessárias, ara quem as quiser ir lendo. “Estamos aqui numa situação persistente numa região específica. Temos de continuar a manter-nos atentos”, disse hoje Marta Temido. “Tínhamos um problema do país, passámos a ter um problema concentrado numa região, em cinco concelhos”, acrescenta. São eles Lisboa, Loures, Amadora, Odivelas e Sintra, todos eles com grande aumento de novos casos. A ministra diz que este número deverá manter-se alto nos próximos dias, e que as causas prováveis são o atraso na curva epidémica na região, a estratégia intensiva de rastreio na região, que deteta muitos assintomáticos, e a especificidades associadas aos novos casos, que são jovens na idade ativa e, lá está, sem sintomas.
E é aqui que está o problema. São sobretudo os jovens, todos eles assintomáticos, na casa entre os 20 e os 40 anos, com muita interação social, os mais afetados e precisamente aqueles que são mais difíceis de controlar. António Costa dizia que “não precisamos de medidas de cercas nem de grande contenção, mas simplesmente de uma grande disciplina individual”. Precisamente aquilo que estes jovens, que perderam o medo à Covid-19 e estão cansados de estar em casa, não têm. É compreensível, mas é preocupante.
Com tudo isto, o R0 nacional está hoje em 1,01, e não nos desejáveis 0,7 que se pretendia alcançar. O valor de Lisboa não foi revelado, mas estará bastante acima disso.
E é evidente que ajuntamentos como os de hoje, nas manifestações que reuniram centenas de pessoas em Lisboa – por mais meritória e urgente que seja a sua causa, da qual sou fervorosa defensora – não ajudam, sobretudo quando não são cumpridas as regras elementares de distanciamento e segurança. E é bom lembrar que vem aí a semana dos Santos Populares.
O grande sinal de que a coisa está séria é o facto de o Governo ter mandado suspender de novo as cirurgias e consultas não urgentes em todos os hospitais dos concelhos de Lisboa, Amadora, Sintra, Loures e Odivelas, precisamente devido ao aumento de novos casos de infeção por Covid-19 na Região de Lisboa e Vale do Tejo. Começam, claramente, a preparar-se para o pior.
Não podemos facilitar, nem cair no alarmismo, é um facto. Mas é caso para estarmos apreensivos. É preciso não deixar avançar, testar ao máximo, controlar os focos, vigiar e dar condições às pessoas doentes e aos seus familiares para se manterem isolados em casa e assim protegerem os outros. E, todos nós, temos mesmo de não descurar nos cuidados recomendados. Isto se não quisermos que a situação fique completamente fora de controlo, e obrigue a medidas mais graves.