Nunca se falou tanto em saúde mental. Redes sociais, media, organizações – tudo cheio de mensagens sobre bem-estar, autocuidado, equilíbrio. Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental, uma data importante, mas que, muitas vezes, acaba por ser só mais uma ocasião para posts bonitos ou discursos formais. Entre o que se diz e o que se faz, há sempre uma distância. E é para essa distância que vale a pena olhar.
Vivemos tempos em que a imagem pesa. Muitas vezes mostramos versões de nós que parecem perfeitas, enquanto os medos e fragilidades são silenciados, fingindo que está tudo bem. Quando nos concentramos apenas em projetar uma imagem ideal, acabamos por perder contacto com nós próprios e com o que se passa à nossa volta – um dos fatores que mais prejudica a saúde mental.
É aí que a relação humana faz diferença. Não basta ter workshops, protocolos ou serviços especializados. A saúde mental surge quando prestamos atenção aos outros, quando temos coragem de nos mostrar como realmente somos e conseguimos estar atentos ao que está à nossa volta. Pequenos gestos – um “estás bem?” sincero, disponível e não automático, um gesto que mostra cuidado, uma pausa para perceber o outro – podem fortalecer todo um grupo.
Falar de saúde mental é falar de coragem, de presença, de disponibilidade. Todos temos vulnerabilidades, e isso não é uma fraqueza, é humanidade. Cuidar de nós passa também por cuidar dos outros – e deixar que nos cuidem. Saúde mental não é algo que se mantém parado; é um equilíbrio que se constrói todos os dias, nos encontros, nos gestos pequenos, nas coisas que às vezes parecem insignificantes.
Hoje, o mais importante é lembrar: nenhuma iniciativa, por mais bem desenhada que seja, substitui a atenção real. Cuidar de verdade é termos as palavras e as ações alinhadas. É olhar para quem está à nossa volta e ter a coragem de nos mostrarmos, mesmo que tenhamos medo ou desconforto.
Entre egos e atenção genuína, a escolha é nossa. Podemos optar por investir nas nossas relações, estar realmente com os outros e permitir que a saúde mental cresça de facto – não como discurso, mas como prática diária.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.