Num momento em que somos intensamente bombardeados com os fenómenos ensejados pela inteligência Artificial (IA), é premente não nos deixarmos robotizar. A IA está a mudar drasticamente a vida das pessoas e a influenciar os domínios sociais, económicos, de saúde, de educação. Não há que negar os seus e-feitos de melhoria no quotidiano, que vão desde os produtos associados ao cartão do supermercado ao assistente (e.g., Alexa) que põe a tocar a música que queremos ouvir. A Hume AI, uma voz com Inteligência Emocional (IE) que pode gerar conversas que contribuem para o bem-estar emocional dos utilizadores, levando à compreensão das suas emoções através de uma conversação empática, eleva a fasquia da interação e das inter-relações humanas.
Estará o ser humano a agir também de forma artificial? Se, por um lado, podemos assumir que o corpo humano é uma máquina perfeita – composto por um conjunto complexo de sistemas, por outro, serão, ainda, as emoções o seu motor?!
A IE é muito mais do que ser simpático e manter a calma para não explodir ante uma situação frustrante. Ser emocionalmente inteligente significa ser capaz de identificar os chamados “gatilhos” emocionais, de modo a gerir positivamente as emoções, a saber relacionar-se com os outros, a ser capaz de enfrentar sentimentos desconfortáveis. A IE é composta por um conjunto de competências emocionais e sociais que influenciam as habilidades individuais, nomeadamente no que diz respeito à capacidade de reconhecer, perceber, regular e utilizar informações emocionais para orientar as ações e interagir com o ambiente.
Daniel Goleman destaca a autoconsciência (self-awareness, capacidade de reconhecer, criticamente, as próprias emoções e os efeitos no comportamento), a autorregulação (self-management, capacidade de lidar e manter as emoções sob controlo), a consciência social (social awareness, capacidade de compreender e cor-responder às emoções de outras pessoas – ser empático) e a gestão de relacionamentos interpessoais (relationship management, capacidade de lidar com as emoções de outras pessoas, i.e., gestão de conflitos, trabalho em equipa) como fatores chave da IE. Estes quatro pilares, que se desdobram em doze competências, quando aplicados, por exemplo, no local de trabalho permitem a um líder compreender os seus impulsos, as suas frustrações e fraquezas e de que forma é que isso pode afetar o seu trabalho, a si mesmo e às suas relações de pares. Neste sentido, um índice elevado de inteligência emocional proporciona diferentes benefícios, como melhor desempenho académico, bem-estar e sucesso profissional, assim como melhor discernimento na hora de tomar decisões.
Uma visão mais ampla e integradora da inteligência permite compreender o importante e positivo papel que as emoções desempenham na vida individual, profissional e social. Competências humanas como a IE são um fator diferenciador num futuro cada vez mais dominado pelos robots. A relação entre IE e IA pode ser fascinante, já que pode contribuir para uma sociedade mais eficiente e emocionalmente conectada, complementando-se de forma holística, eficiente e até humanizada – através de assistentes virtuais sensíveis às emoções e necessidades do utilizador. Cabe ressalvar, todavia, que desenvolver a capacidade de ser emocionalmente inteligente é uma necessidade, num mundo em que a IA, apesar dos seus irrefutáveis avanços, é, ainda, uma preocupação.
“Emotional intelligence refers to a different way of being smart”. D. Goleman
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.