O final do ano traz o peso peculiar do “quase” – esse conceito tão encantador quanto implacável. Quando recordamos os projetos que quase alcançámos e os objetivos que ficaram perto da concretização, o “quase” ganha peso porque toca diretamente naquilo que mais valorizamos – o esforço, o desejo e a expectativa.
Vivemos numa sociedade que distorce a vitória, associando sucesso e prazer a aplausos e reconhecimento imediato. Estamos tão habituados a valorizar o tangível e o material, que o valor emocional das nossas conquistas passa despercebido. Tornamo-nos obcecados pelo “conseguir”, como se a verdadeira vitória estivesse apenas no fim do caminho. A diferença entre o “quase” e o “consegui” pode ser mínima, mas o impacto emocional é profundo. A nossa mente, condicionada a alcançar resultados absolutos, vê o “quase” como fracasso. Se estivermos atentos, a vida ensina-nos que o verdadeiro valor não está no fim, mas no percurso – na coragem de tentar, na persistência e nas lições que aprendemos ao longo do caminho.
Na maioria dos “quase”, há vitórias silenciosas que não vemos, mas que nos transformam profundamente.
O nosso cérebro está programado para resultados concretos. Quando traçamos objetivos, ativamos o sistema de recompensa, que nos dá pequenas doses de dopamina – o químico da felicidade – sempre que sentimos progresso. Mas, quando falhamos ou paramos a meio, o cérebro regista isso como um fracasso, o que pode desencadear stress e uma sensação de insatisfação crónica.
O que fazer com o peso do quase?
- Quem disse que “quase” é falhar? “Quase” é aprender, crescer e ajustar. Cada tentativa traz ferramentas que ajudam a construir algo maior no futuro.
- Ajuste as expectativas. Não se defina por números ou metas inalcançáveis. Pergunte-se: O que este objetivo realmente representa para mim? Ele está alinhado com os meus valores e possibilidades atuais?
- O caminho não é uma linha reta. O simples facto de tentar já é uma conquista. O progresso não é linear e cada passo merece ser reconhecido.
- Seja mais gentil nas promessas. Em vez de resoluções baseadas no que deve fazer, crie metas alinhadas com o que lhe traz bem-estar. Comprometa-se com mais tempo, mais descanso e mais espaço para se encontrar.
O valor do quase é o que nos humaniza. É no processo, nos ajustes e nas tentativas que encontramos o nosso verdadeiro crescimento. Não precisamos de um ano novo para começar de novo – precisamos apenas da coragem para nos aceitar como somos, com tudo o que fizemos e o que ficou por fazer.
Que o próximo ano seja menos sobre fazer tudo e mais sobre ser mais.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.