A noite desta terça-feira marcou a despedida de um ícone do desporto mundial: Rafael Nadal, o homem que diz querer ser recordado, apenas, como “uma boa pessoa de uma pequena vila de Maiorca, que teve a sorte de poder cumprir todos os seus sonhos”. Sorte? Sorte a nossa, sobretudo!
A derrota da Espanha frente aos Países Baixos, em partida a contar para a Taça Davis, marcou a emocionante despedida do tenista espanhol, momento vivido intensamente com a presença de família, amigos e milhares de fãs presentes na arena de Málaga. Muitos mais milhões acompanharam o momento pela televisão.
A carreira de Rafa Nadal dispensa apresentações. É o jogador masculino com mais semanas seguidas dentro do top-10 mundial, 209 delas como n.º 1. Aos 38 anos, “pendura as sapatilhas” com 92 títulos ATP conquistados, 22 dos quais Grand Slams.
Ao lado de Roger Federer e Novak Djokovic, Nadal dominou a modalidade, ao longo dos últimos 20 anos, alcançando feitos absolutamente inesquecíveis. De tantos, destaco um: as 14 vitórias em Roland Garros, entre 2005 e 2022. Nem no mais caseiro torneio de cartas é possível ganhar 14 em 18 vezes (até porque o tio batoteiro não o permite). Agora, imagine-se fazê-lo numa das maiores provas de ténis do mundo.
E, por falar em batota, é justo dizer que a carreira do campeão espanhol destaca-se, exatamente, pelo contrário. Nadal sempre foi o expoente máximo do desportivismo e do respeito e é quase impossível alguém lembrar-se de uma atitude reprovável sua dentro do campo. Provas disso? A Babolat – que acompanha o espanhol há quase 30 anos – revelou que Rafael Nadal usou 1 250 raquetes da marca… e nunca partiu nenhuma.
Por mérito próprio, Rafa Nadal tornou-se sinónimo de garra e perseverança no mundo do desporto. Com a Nike, conquistou o direito ao seu próprio logótipo: o touro. Mas, dentro do court, o espanhol foi o verdadeiro toureiro. “Olé!”.
Rafa será recordado, para sempre, pela capacidade de fazer pontos que faziam qualquer um saltar do sofá (e não, não era para ir buscar mais um pacote de bolachas). Por jogar todos os pontos como se fossem o último da carreira – e, ontem, efetivamente foi. Deixa um legado eterno e recordes que mesmo que todos os astros se alinhem, como ele alinhava as suas garrafas, vão ser quase impossíveis de bater.
Não só conseguiu mudar a forma de jogar ténis, como também de o comentar. Durante todos estes anos, nenhum comentador se atreveu a dar o jogo como “perdido” quando Nadal estava no court, mesmo quando as coisas pareciam perdidas para o espanhol… Perdido estava o comentador que arriscasse dizer tal coisa!
As saudades já se fazem sentir. Nadal é um ídolo que, durante centenas de horas frente à TV, vi correr de um lado para o outro, atrás de todas as bolas. Hoje, sinto que corri com ele. Joguei com ele vários pontos e festejei outros tantos. Celebrei vitórias nos maiores torneios do mundo, como se fossem conquistas minhas. Resta-me, neste momento, agradecer-lhe por tudo. Gracias, Rafa!
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